sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Por que os militares se submetem a tanta humilhação?

Por Fernando Castilho


Foto: Alan Santos / Agência O Globo


Como se sentem esses militares de alta patente sendo relegados a um segundo plano por Bolsonaro e seu filho? Tendo que ficar em pé porque Carlos se sentou ao lado do pai?


Na época da ditadura as Forças Armadas do Brasil se impunham pela força, aparência agressiva e ações violentas contra os direitos humanos, prendendo, torturando e matando quem lutava contra o regime.

No imaginário popular ficou a imagem, que perdura até hoje em muitas mentes, de um exército firme em suas convicções e incorruptível. Sabemos, pela História que não é bem assim. Há inúmeras evidências de corrupção não investigada nem punida, já que a imprensa era impedida de investigar e noticiar e os órgãos de controle estavam submetidos ao regime.

Mas uma coisa é certa: para a grande maioria da população as Forças Armadas se destacam pela rígida disciplina e hierarquia, além dos valores de defesa da Pátria e da soberania.

Mas então, por que se humilham quase que diariamente perante um capitão pateta que está presidente, mas que pode ser defenestrado pelas urnas nos próximos meses?

Dois casos. Vamos ao primeiro.

Quando Bolsonaro empreendeu a patética visita à Rússia, levou com ele não só os ministros-generais Ramos, Heleno e Braga Netto, mas também seu filho Carlos, uma espécie de vereador federal, caso único no mundo.

Sentados à mesa numa das reuniões com escalões inferiores do governo russo, estavam Bolsonaro e Carlos lado a lado e, mais afastado, Braga Netto. Em pé, o general Ramos e ao fundo, o general Heleno.

Como se sentem esses militares de alta patente sendo relegados a um segundo plano por Bolsonaro e seu filho? Tendo que ficar em pé porque Carlos se sentou ao lado do pai?

Agora vamos ao segundo.

O capitão viajou para São José do Rio Preto para inaugurar uma obra e fazer campanha eleitoral antecipada promovendo uma motociata, algo que lhe enche de prazer e, segundo ele, atesta sua popularidade. Se comporta como um estudante que cabula aula escapando da agenda presidencial, algo muito entediante para ele.

Em seu lugar ficou o vice-presidente, general Mourão.

Perguntado por jornalistas sobre a situação na Ucrânia, o militar condenou a invasão daquele país por parte da Rússia e comparou Vladimir Putin a Adolph Hitler. Não vou entrar no mérito da comparação descabida feita por quem revela não ter o mínimo conhecimento de geopolítica.

Mas, como sempre acontece quando Mourão dá uma declaração à imprensa, Bolsonaro ficou incomodado e, em sua live tradicional das quintas-feiras não se conteve e espinafrou seu vice novamente.

"O artigo 84 da Constituição diz que quem fala sobre este assunto é o presidente. E o presidente se chama Jair Messias Bolsonaro. E ponto final. Então, com todo respeito a esta pessoa que falou isso, e eu vi as imagens, falou mesmo, está falando algo que não deve, que não é de competência dela”, disse ele.

O que mais chama a atenção é a covardia do capitão ao não citar o nome de Mourão, dando uma indireta pra lá de direta. Mas além disso, se afirma como um ser terrivelmente autoritário que não permite que seu vice emita sua opinião.

Mas o mais grave nem é isso.

Onde estão as rígidas disciplina e hierarquia? Onde foi parar a altivez de um general perante um capitão, mesmo ele sendo presidente?

Para que serve aquele grande número de medalhas obtidas nas batalhas das quais nunca participou e em que em ocasiões solenes Mourão costuma ostentar no peito?

Para que serve um vice-presidente sempre humilhado pelo titular?

Mourão deveria pegar seu boné e renunciar. Mas, e o salário?

Os militares que participam do governo acumulam vencimentos das Forças Armadas com o que recebem em seus cargos e o salário do general Mourão é de cerca de 65 mil reais na vice-presidência! Pra não fazer quase nada.

Isso significa que, se Bolsonaro ordenar que qualquer um de seus generais passe a lhe servir o cafezinho, eles o farão.

Quando esse governo terminar os maiores prejudicados, além do capitão, que terá que responder a inúmeros processos, serão os militares, os que dele participam e os que não.

Qual será a imagem que ficará dessa aventura a que nossas Forças Armadas decidiram participar?

De gente incompetente, ávida por dinheiro, picanha, atum, uísque e vinho.

E disposta a se humilhar diante de seu dono para garantir sua mamata.

  

 

 

 

 


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Cadê as doações dos ricos?

Por Fernando Castilho


Foto: Fernando Frazão /Agência Brasil


Tudo isso demonstra que, em tragédias como essa, é o pobre que prática solidariedade. Mas parece que é só

Deu no G1: "Petrópolis, na Região Serrana, confirmou nesta segunda-feira (21) 178 mortes causadas pelas chuvas que devastaram a cidade no último dia 15. Com isso, a tragédia igualou em números de óbitos o pior desastre já registrado pela Defesa Civil no município".

As imagens das TVs mostraram pessoas que perderam, além da casa e dos móveis, vários familiares. A um homem, que perdeu esposa grávida e uma criança de apenas cinco anos, restou somente um filho de onze anos. Como vai recomeçar a vida?

O que vemos todas as noites nos noticiários são batalhões de pessoas, homens e mulheres, trabalhando junto à Defesa Civil e os bombeiros, nas escavações pela busca de corpos.

O fluxo de motos por terrenos acidentados carregando alimentos e água é incessante. Trabalho sem nenhuma paga.

Pequenos restaurantes, bares e microempresários preparam quentinhas para serem distribuídas aos que tudo perderam e aos que trabalham nas escavações.

Organizações não governamentais, como a CUFA, Central Única das Favelas, composta por voluntários, coleta e distribui doações.

Tudo isso demonstra que, em tragédias como essa, é o pobre que prática solidariedade. Mas parece que é só.

Foto: CNN

Nossos valorosos soldados aparecem às vezes, mas não se sujam de lama para colaborar nos resgates.

Posso estar sendo injusto por desconhecimento, mas não é visto nenhum caminhão de distribuição de alimentos, vestuário ou móveis com logos de grandes redes de supermercados, atacadistas, lojas de roupas ou de móveis e eletrodomésticos. Esse é um triste e perverso reflexo da desigualdade social do país.

Pode estar havendo doações de empresas ou ricos anônimos, quem sabe? Mas quem doa mesmo é pobre.

A TV mostrou um grande caminhão da Igreja Adventista fazendo doações e uma mulher disse que do poder público não recebeu nada, somente de um pastor.

Costumo generalizar que pastores existem somente para ludibriar a fé dos pobres e tirar-lhes o pouco dinheiro que têm, mas devo reconhecer que algumas igrejas estão se mobilizando também.

O presidente Bolsonaro foi para a região e, desta vez guardou para si a opinião que expressou na tragédia de São Paulo de que pobre mora em área de risco porque escolhe mal.

Estamos assistindo a uma histórica mudança climática que se manifesta de maneira acelerada, embora negacionistas adeptos desse governo de morte, ainda insistam em negá-la.

As tragédias de Minas Gerais, Bahia, São Paulo e agora, Rio de Janeiro, foram enormes, mas ainda, apesar da população pobre estar enfrentando dificuldades como desemprego, alta de alimentos, gasolina, luz e gás, é possível ver a mobilização e a solidariedade.

Mas, até quando?

É hora do poder público se movimentar e traçar um planejamento de ações visando minimizar ou mitigar estragos e mortes futuros e criar fundos de recursos captados de grandes empresas que se esquivam de fazer doações nas horas em que as pessoas mais precisam. E é preciso exigir que essas empresas ofereçam emprego a quem perdeu tudo para que possam com seu trabalho tentar recuperar seus bens.

E basta de dizer que ninguém poderia prever que a chuva iria ser tão volumosa. 

Isso é indigno para qualquer governante.

 

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil


Publicado também em Piauí Hoje
https://piauihoje.com/blogs/e-o-que-eu-acho/cade-as-doacoes-dos-ricos-392619.html

O PT e um projeto para além do de governo

Por Carlos Fernandes



Após reunião com Lula, Márcio França desiste de candidatura e afirma que estará junto na campanha de Haddad.

O interior conservador de São Paulo, ninguém nega, é um fator a ser superado por qualquer chapa progressista de esquerda.

Justamente por isso, o apoio de Alckmin e Márcio França a Haddad são suportes que ajudam e muito a superar esse direitismo e antipetismo tão enraizados.

Ainda que outras variáveis como a influência - via poder econômico, inclusive - que o atual governo do estado irá exercer na campanha devam ser incluídos nessa complexa conta, é impossível negar que estamos construindo a mais sólida e provável oportunidade de vitória do campo da esquerda de todos os tempos no maior colégio eleitoral do país e estado mais importante da federação.

O PT parece ter aprendido, a duras penas, que não basta apenas um projeto de governo, mas também, e principalmente, de um projeto de poder.

E São Paulo é parte fundamental para esse segundo projeto.

Lutar pontualmente ao lado de inimigos históricos, num contexto político envolto a uma série de derrotas, visando a construção de algo muito maior e mais duradouro é exemplo típico da mais tática, estratégica e responsável luta política, dada as atuais circunstâncias.

Para além de livrarmos o estado de São Paulo de mais de 3 décadas de hegemonia tucana e liberal, pavimentamos a estrada para uma verdadeira revolução de curto, médio e longo prazo jamais vista nesse país.

E os primeiros tijolos a serem assentados via análise concreta da realidade é a deposição de Jair Bolsonaro e João Dória da vida pública brasileira.

A isso chamamos política. Todo o resto é brincadeira juvenil de pseudos-revolucionários.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Augusto Aras, um PGR terrivelmente prevaricador

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


Como pode uma pessoa sacrificar todo um país de 213 milhões de habitantes para satisfazer sua ambição pessoal em conseguir um cargo vitalício de excelente remuneração e prestígio? A pergunta já é uma resposta


Geraldo Brindeiro exerceu o cargo de Procurador Geral da República (PGR) nos governos Fernando Henrique Cardoso.

Por não dar andamento às denúncias de corrupção no governo, teve que conviver com o apelido de engavetador geral da República e poderia ser chamado também de Geraldo Blindeiro (com L) porque blindava FHC de tudo quanto era acusação.

Foto: Alan Marques - Folhapress

Os tempos avançaram e agora temos mais um engavetador, o senhor Augusto Aras, que poderia ser chamado de Augusto Oras porque a cada denúncia de possíveis crimes contra o presidente Jair Bolsonaro, é como se ele dissesse: oras, pra que investigar isso? Oras, deixa pra lá.

 Quando Aras completou seu primeiro mandato de dois anos e estava blindando o capitão de quaisquer acusações, imaginava-se que o motivo seria o pleito que fazia junto ao presidente para que fosse ele o indicado à vaga do ministro do STF, Marco Aurélio Mello. Mas a indicação recaiu sobre André Mendonça, o mais terrivelmente evangélico. Bolsonaro já havia indicado Nunes Marques anteriormente, outro terrivelmente evangélico, para o lugar de Celso de Mello, preterindo Aras.

Como já havia perdido a vaga, o PGR passou a lutar para ser aprovado na sabatina feita pelo Senado para um segundo mandato à frente do órgão.

Lá, naquela casa, para alguns senadores oposicionistas, Aras mostrou-se disposto a mudar de postura. Não mais pediria para arquivar tudo contra o presidente porque já não mais poderia contar com a vaga no STF. Para outros, favoráveis ao presidente, entretanto,  prometeu continuar como era antes, afinal, muitos têm o rabo preso também.

E para a PGR voltou Augusto Aras.

A esperança voltou depois que o Capitão Morte anunciou que, se reeleito, indicará mais duas pessoas ao STF para as vagas de Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, que se aposentarão em 2023. Por que não ele?

É por isso que Aras cumpre seu papel como cãozinho obediente todos os dias.

Como pode uma pessoa sacrificar todo um país de 213 milhões de habitantes para satisfazer sua ambição pessoal em conseguir um cargo vitalício de excelente remuneração e prestígio? A pergunta já é uma resposta.

Os ministros do STF têm, por norma e costume, submeter quaisquer pedidos de investigação ou notícias-crime ao PGR para ele se manifeste e, só depois, de acordo com o retorno, levar adiante os processos ou não.

Ultimamente, principalmente Alexandre de Moraes e Rosa Weber, têm manifestado contrariedade com os pedidos de arquivamento de Aras. Moraes, inclusive, já driblou um desses pedidos.

Mas, em nome da Constituição que todos os ministros juraram defender, as opiniões de Augusto Aras têm que começar a ser ignoradas, se quisermos que Bolsonaro comece já a responder por seus crimes.

Até os resultados da CPI da Covid-19 que foram enviados à PGR ainda não foram levados adiante, num total desrespeito aos senadores.

É por isso que o senador Randolfe Rodrigues, da Rede, está reunindo assinaturas para abertura de processo de impeachment contra Aras.

Dará certo?

Não sabemos, mas servirá, ao menos, para dar uma sacudida no STF e escancarar a prevaricação que o PGR comete quase todos os dias.


Foto: Pedro França - Agência Senado



 


sábado, 19 de fevereiro de 2022

O xadrez de Lula, o grande mestre

Por Fernando Castilho





Diz a lenda que um dos maiores enxadristas de todos os tempos, o grande mestre americano Bob Fischer, conseguia prever até 70 lances futuros. Se o adversário fosse realmente forte, não teria como escapar das jogadas previstas por ele.


O xadrez se caracteriza, entre outras coisas, por ser um dos poucos jogos em que, para vencer, é preciso prever alguns lances adiante.

Diz a lenda que um dos maiores enxadristas de todos os tempos, o grande mestre americano Bob Fischer, conseguia prever até 70 lances futuros. Se o adversário fosse realmente forte, não teria como escapar das jogadas previstas por ele.

Guardem isso porque voltarei depois a esse tema.

Gente, a diferença nas intenções de voto para presidente, entre Lula e Bolsonaro baixou. Dependendo da pesquisa, isso é mais ou menos evidente.

Na verdade, a campanha pra valer ainda não começou, mas, para quem deseja ver esse governo pelas costas e inaugurar um novo ciclo civilizatório, um sinalzinho amarelo começou a piscar.

Alguns fatores podem ter influenciado essa redução da diferença, como o efeito Auxílio Brasil e a visita de Bolsonaro, um pária mundial, a Putin, não importa qual o assunto tratado.

O maior fator que conduz o Brasil a um atraso em seu desenvolvimento, apesar de todas nossas riquezas é, sem dúvida, a terrivelmente perversa má distribuição de renda, o que causa um abismo entre as classes mais favorecidas e os excluídos.

Quer gostem ou não dele, foi com os dois governos Lula que esse abismo foi reconhecidamente reduzido. Lula havia prometido durante sua campanha em 2002 que o pobre iria comer três refeições por dia se ele foi eleito. E ele cumpriu.

Foi com Lula que cerca de 35 milhões de pessoas saíram da linha da miséria e da pobreza, podendo comer mais e melhor e, por isso, movimentando a economia.

Foi também com ele e com Dilma que vários outros programas sociais levaram aos mais vulneráveis um estado de bem-estar social com empregos, renda, alimentação, ensino técnico, saúde e moradia, principalmente.

Hoje temos um país parcialmente destruído onde nada mais funciona. Se Bolsonaro não tivesse parado o Minha Casa Minha Vida, por exemplo, poderíamos ter mitigado as tragédias das inundações na Bahia, Minas Gerais, São Paulo e, agora, Petrópolis no Rio de Janeiro.

Não é preciso aqui fazer uma lista dos maufeitos do Capitão Morte, pois quem acompanhou esses três anos, sabe de cor e salteado.

Para encurtar, é fundamental que esse governo tenha fim este ano e que o próximo presidente inicie um processo de recuperação do país e o coloque de novo nos trilhos do desenvolvimento e do processo civilizatório, levando bem-estar aos menos favorecidos.

No momento, o único capaz de conduzir o país a isso é Lula, até porque já fez isso anteriormente. Não precisa ser testado.

Agora, voltando ao xadrez.

Ainda no final do ano, Lula surpreendeu a todos propondo Geraldo Alckmin na vice-presidência. Uns compreenderam e outros torceram o nariz.

Sabemos o que Alckmin fez no verão passado e não nos esqueceremos. Mas o que se passou pela cabeça de Lula?

Ele sabe que a boa vantagem que ele ainda tem pode ser ilusória porque Bolsonaro, apesar de tudo o que fez de mal ao país, mantém cerca de 30% de um eleitorado fiel e, com a máquina do governo nas mãos, pode ampliar esse índice.

Lula sabe desde o ano passado que não ganha as eleições se compor uma chapa puro-sangue, só com a esquerda. É fundamental que amplie o espectro político. E é aí que entra Alckmin.

Além disso, como grande mestre do xadrez político, Lula, ao mesmo tempo que utiliza Alckmin para ganhar mais votos, o tira da disputa pelo governo de São Paulo, em que é favorito.

Desta forma, Fernando Haddad tem grandes chances de se eleger governador de São Paulo!

Mas, e os lances futuros? Lula previu?

Ele tem plena consciência de que não viverá para sempre. Aliás, ele só está entrando nessa disputa por amor ao país porque, talvez, por sua vontade, iria curtir o descanso acompanhado de sua esposa.

Lula aposta na capacidade de Haddad em fazer um excelente governo em São Paulo para se cacifar em 2026 para sua sucessão na presidência. Aí, talvez, com uma chapa completa de esquerda.

Então, gente, é imprescindível que todos da esquerda esqueçam suas opiniões sobre Alckmin e ajudem Lula em seu árduo trabalho de buscar composições aqui e ali para que vença já no primeiro turno sem dar tempo para que o Capitão Morte obtenha apoiadores de última hora, como Doria, Eduardo Leite ou Moro. Ciro, mais uma vez, dificilmente apoiaria Lula no segundo turno, preferindo ir novamente para Paris.

As peças estão sobre o tabuleiro e o grande mestre Lula raciocina para prever os lances futuros.

Não fiquemos só na torcida ou alimentando sonhos ingênuos.

Vamos ajudá-lo!


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A morte do amigo negacionista

Por Moisés Mendes


Foto: Andreas Fickl/Pexels


Morreu o amigo de adolescência de um grupo que se reúne há um ano e meio no WhatsApp. Esse é o resumo da história verdadeira de um sujeito brincalhão, alegre, falante, o cara aquele que se encaixava em qualquer turma com qualquer assunto e com qualquer tipo de risada, das contidas, compridas ou gargalhadas.

Um colega legal, daqueles que não colocava ninguém a correr se chegasse atrasado numa rodinha de conversa. Isso na segunda metade dos anos 70, no 2º grau, quando a escolha do que se quer ser na vida é uma pela manhã e duas outras à tarde.

O amigo não vacilou muito quando adulto e virou empresário. Quando se reuniam, muito tempo depois, já com famílias, filhos e agregados, ele aparecia.

Eram encontros raros, mas lá estava ele com o mesmo perfil. Outros mudaram um pouco ou muito os jeitos e temperamentos. Ele não. Era sempre o mesmo. Expansivo, assertivo, sempre divertido e agora um homem próspero.

Quando o grupo foi criado no Whats, no começo do ano passado, os colegas se reagruparam. Democratas com ideias progressistas e humanistas e atuando nas mais diversas áreas. E então o amigo aquele apresentou-se ali como se fosse outra pessoa.

O colega sempre leve depois de homem maduro, já com mais de 60 anos, incorporou no Whats um sujeito pesado. Não era mais o tucano que poucos sabiam que havia sido. Era um ativista bolsonarista e negacionista.

O grupo se abateu. O colega passou a pregar contra o isolamento e a vacina e em defesa do kit covid, como se fosse um modelo para cursinho de extremista de direita. Virou uma caricatura absolutista.

O grupo se sentiu constrangido, a maioria debandou em poucos meses, e o colega também foi embora. O adolescente interativo, agregador, divertido, não existia mais.

Mas, quando ele saiu, outros voltaram, sob um clima muito mais de desconforto do que de repulsa e condenação. A turma se reagrupou de novo quando o amigo aquele não estava mais por perto.

Há pouco mais de um mês ficaram sabendo que ele havia sido infectado. Depois, foram informados de que estava na UTI e entubado. E esta semana alguém deu a notícia de que havia morrido.

Pouco antes de morrer, reafirmou nas redes sociais (porque alguém espiava suas postagens) o que pensava da vacina e dos remédios milagrosos de Bolsonaro.

Sei, porque me contaram, que o sentimento de perda foi intenso e dolorido. O grupo agarrou-se à memória do guri divertido, para despedir-se dele, e não do sessentão que havia se apropriado do adolescente do colégio.

A morte nos reapresenta o dilema que, quanto mais a pandemia se espicha, mais fica irresolvido. O que teria virado esse amigo, aos 60 anos, se Bolsonaro não tivesse chegado ao poder e dividido famílias, colegas, vizinhos?

Os amigos que perdemos para a extrema direita em meio à ascensão do bolsonarismo são uma invenção de Bolsonaro, ou Bolsonaro só existe porque esses nossos amigos estavam à espera de um sujeito que incorporasse todas as crueldades e todos os ódios, ressentimentos e preconceitos?

Foi mesmo Bolsonaro quem fez aflorar a índole do amigo que se afastou da turma, ou esse e outros amigos criaram o Bolsonaro poderoso, eleito pelo voto, para que assim pudessem ser representados e se expressar como de fato são ou eram?

A morte de cada amigo da adolescência vai nos tirando aos poucos o que construímos naqueles tempos na direção da eternidade. A morte de um amigo que virou bolsonarista também pode ser devastadora.

Um adulto bolsonarista não deveria ter o direito de dar fim prematuro ao que ele mesmo foi no nosso tempo de colégio. O bolsonarismo tenta destruir até o nosso passado e as nossas melhores memórias.


Fachin, um cordeiro. Bolsonaro, um lobo.

Por Fernando Castilho




Fachin se comporta como um cordeiro indefeso e dele se aproveita o lobo Bolsonaro


“Cibersegurança é um elemento imprescindível. As ameaças são credíveis. Por isso, estamos atentos desde já. E como desde antes, sempre estaremos atentos e preparados”.

Inacreditável? Não, diria ESTARRECEDOR!

Sim. Após dois anos de Luís Roberto Barroso à frente do TSE, enfrentando quase todos os dias as insinuações, afirmações, bravatas e ameaças do presidente Jair Bolsonaro, tendo que convidar hackers para tentarem invadir o sistema e as urnas eletrônicas para provar sua inviolabilidade, e fazendo até campanha na TV sobre a segurança delas, vai o novo presidente do tribunal, Luiz Edson Fachin e faz uma afirmação dessas?

Quer dizer que há ameaças? E se uma delas vingar?

É claro que sempre vai haver quem se aventure numa tentativa de burlar o sistema, mas como as urnas não são conectadas a Internet, a invasão só poderia ocorrer no servidor, mas este está sob várias camadas de proteção, o que o torna inviolável.

Outra coisa que causa pavor na fala de Fachin é que “a preocupação com o ciberespaço se avolumou imensamente nos últimos meses, e eu posso dizer a vocês que a Justiça Eleitoral já pode estar sob ataque de hackers, não apenas de atividades de criminosos, mas também de países, tal como a Rússia, que não têm legislação adequada de controle”.

Isso não assusta? Não intranquiliza o eleitor? Não o induz a pensar que talvez Bolsonaro tenha razão?

Será que não se enganou, misturando tudo? O TSE já pode estar sob ataque?

Todos sabem que o aplicativo de mensagens Telegram tem sua sede na Rússia, mas isso é muito diferente de ataques hackers. Será através dele que Bolsonaro, Carluxo e o pessoal do gabinete do ódio espalharão as fake news durante a campanha. É preciso que se bloqueie de alguma forma o sinal aqui no Brasil, já que os executivos do Telegram não respondem à nenhuma mensagem do TSE, e o problema estará resolvido.

Mas Fachin deveria seguir a cartilha de Barroso e não tocar no assunto, até porque o capitão já havia parado de fazer suas acusações sem provas há meses.

Mas, como o cordeiro Fachin piscou, o lobo Bolsonaro aproveitou e deu seu bote mostrando os dentes, manifestando-se desde a Rússia, desta forma:

“O próprio ministro Fachin acaba de comprovar, no meu entender, que ele não tem confiança no sistema eleitoral. […] Eu não sei por que esse desespero gratuito a um país – no qual o chefe de Estado brasileiro está presente –, como se aqui fosse um país que viesse a participar de forma criminosa em eleições no Brasil. Se o sistema eleitoral é inviolável, por que isso é preocupação? Acabaram de comprovar que existe a possibilidade de [a urna] ser violada”.

Pronto, era o que o Capitão Morte queria. Agora vai voltar a acusar as urnas eletrônicas de passíveis de fraude até outubro.

Com a 10 a 15% de desvantagem nas pesquisas em relação ao ex-presidente Lula, Bolsonaro parece tranquilo, não parece? Teria uma carta na manga, caso perca as eleições?

Já escrevi aqui que a tranquilidade aparente pode ser devido a uma escolha já feita de concorrer ao Senado na última hora, o que lhe garantiria segurança de não ser preso, mas pode ser também que o plano seja outro.

Como Fachin lhe deu munição, Bolsonaro talvez esteja pensando em reeditar aqui em terras tupiniquins, a tentativa de golpe que Donald Trump fez no ano passado nos EUA, quando não aceitou sua derrota para Joe Biden.

A tentativa foi frustrada, mas a invasão do capitólio rendeu cinco mortes.

Mas aqui a coisa pode evolui de maneira diferente, afinal, diferentemente dos EUA, temos as Forças Armadas que costumam interferir nas eleições e atuam politicamente. E pode dar certo.

Desde que Fachin assumiu, tenho um pé atrás com seu desempenho. É fraco e destoa dos outros ministros da Corte.

E agora vemos que quando se porta como cordeiro, atrai lobos ferozes.

Como na fábula O Lobo e o Cordeiro, de Jean de La Fontaine





quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Barroso confessa que prevaricou!

Por Fernando Castilho


Charge: Estadão


Poderíamos ser muito brandos com ele, chamando-o de leniente. Amentando o tom, ele seria tolerante. Subindo um pouco mais, omisso. Mas podemos afirmar, de acordo com sua entrevista, que está prevaricando.


O ministro do STF e que está de saída do TSE, Luís Roberto Barroso é odiado por 11 entre 10 bolsonaristas-raiz e consegue a façanha de não agradar também grande parte da esquerda também.

Lavajatista de carteirinha, ignorou a parcialidade com que o ex-juiz Sergio Moro condenou o presidente Lula sem nenhuma prova de corrupção.

Barroso, neste período em que esteve à frente do TSE, enfrentou poucas e boas, desde as ameaças do presidente de que teria provas de que a urna eletrônica é fraudável, passando pelos seus xingamentos e o quase golpe de 7 de setembro último. A vida não lhe tem sido fácil.

Mas a verdade é que o ministro polemiza. Anda doidinho pra isso. 

Há algumas semanas atrás declarou que o impeachment da ex-presidenta Dilma não se deu por crime de responsabilidade, mas sim de incapacidade política.

Leia artigo completo do blog em https://bloganaliseeopiniao.blogspot.com/2022/02/o-golpe-com-o-supremo-com-barroso-com.html

Ora, se ele tinha na época essa percepção, por que ficou calado e só agora emitiu sua opinião? Omisso.

Bem, hoje Barroso deu entrevista à Folha em que, entre outras perguntas, respondeu a esta, que reproduzo pela atenção que me chamou.

Folha: O presidente deve ser responsabilizado por esses ataques, na sua visão? 

Barroso: Eu optei por não entrar com ação penal, queixa-crime [contra o presidente], por muitas razões, mas a principal é que eu não trato isso como uma questão pessoal. A democracia foi a causa da minha geração e eu me mobilizo para defendê-la, mas eu não paro para bater boca. Acho que algumas pessoas são espiritualmente desencontradas, mas eu não dou a elas o poder de me tirar do meu centro.

Poderíamos ser muito brandos com ele, chamando-o de leniente. Amentando o tom, ele seria tolerante. Subindo um pouco mais, omisso. Mas podemos afirmar, de acordo com sua entrevista, que está prevaricando.

Ele optou por não entrar com ação penal contra o presidente por não tratar isso como questão pessoal! Vejam só!

Não se trata de questão pessoal. Acontece que Bolsonaro está cometendo muitos crimes livremente sem que ninguém o responsabilize de fato.

E não é só Barroso. É todo o STF, inclusive Alexandre de Moraes.

Inúmeras ações já foram protocoladas no Tribunal e enviadas ao PGR, Augusto Aras que, ou pede arquivamento ou segura. E fica por isso mesmo.

O governo federal não fez, ao contrário anos anteriores, nenhuma campanha de vacinação! A vacinação no Brasil tem tradição e é eficiente devido à conscientização da população através das campanhas na televisão e outros veículos de imprensa, mas agora só os infectologistas orientam a população a se imunizar.

Como se não bastasse, o próprio presidente boicotou as vacinas e inclusive defendeu que nenhum pai deveria vacinar seus filhos!

Pergunto, quantas crianças contraíram Covid e morreram diante dessa irresponsabilidade?

Acaso, os ministros, incluindo Barroso, não são corresponsáveis por isso?

Quem paga essa conta?

O que estão esperando? Que chegue o dia das eleições e o Capitão Morte seja derrotado nas urnas e todos se esqueçam dos mau-feitos e voltem a ser felizes para sempre?

E se Bolsonaro vencer nas urnas?

E se ele imitar Trump se recusando a aceitar o resultado da eleição e comande uma invasão no STF e no congresso?

Vão continuar a se omitir criminosamente, esquecendo-se de sua função constitucional de defender as leis, porque não querem bater boca com o capitão?

Além de Bolsonaro, nosso judiciário também terá que no futuro prestar contas à sociedade.

 

 


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

A galhofa mundial a que Bolsonaro nos expõe

Por Fernando Castilho


Túmulo do soldado desconhecido, em Moscou. (Foto: Vladvictoria/Pixabay)


Os assessores do capitão sempre temeram muito que ele cometesse alguma gafe, tipo cachorrinho quando levanta a patinha e faz xixi na perna do anfitrião

O presidente Jair Bolsonaro, aquele que em visita aos Estados Unidos de Donald Trump, bateu continência à bandeira norte-americana, seguindo à risca as orientações do filho Carluxo e do ex-chanceler Ernesto Araújo, originárias das “aulas” do astrólogo Olavo de Carvalho, queria ver o diabo, mas não a Rússia e a China, tidas como nações comunistas.

Mantendo a coerência, jamais pisaria por aquelas terras vermelhas que impregnariam seus sapatos capitalistas.

Mas bastou um convite, um apenas, de Vladimir Putin, e para lá foi célere o capitão.

Lógico que, para quem não gosta de trabalhar, visitar a Rússia acompanhado daquele séquito de sempre que inclui o ministro do turismo (ou ministro que só faz turismo), o filho Dudu e o deputado Hélio Negão e, poder passear, tirar fotos para a campanha irregular e torrar dinheiro do cartão corporativo secreto em compras milionárias, era muito tentador. Quem sabe, encontrar algum frango com farofa pra comer na Praça Vermelha?

Mas Putin mandou (a palavra é essa mesmo) reduzir a comitiva e incluir militares, aqueles mesmos que ainda defendem que a ditadura foi uma revolução popular e nos defendem do perigo comunista que nos espreita.

E para lá foram Bolsonaro, generais Ramos, Heleno e Braga Netto, acompanhados dos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

O Capitão Morte, que se recusa a mostrar o comprovante de vacinação, teve que se sujeitar a usar máscara ao desembarcar e permanecer por 24 horas confinado a um quarto de hotel. Nem Macron, nem Scholz precisaram passar por isso.

No dia seguinte teve que se deslocar pela Praça Vermelha (Praça Vermelha, gente!) e comparecer ao monumento onde jazem alguns heróis comunistas da Segunda Guerra e visitar o túmulo do soldado desconhecido onde há uma pira sempre acesa sobre uma estrela. Ao fundo há um capacete de um soldado com a estrela, símbolo do regime comunista da União Soviética e ao lado, uma foice e um martelo, o ícone histórico máximo do comunismo no mundo inteiro. O protocolo exigia que prestasse uma homenagem ao monumento. E ele o fez. Olha o simbolismo disso!

Alan Santos/PR

O que terá se passado nas cabeças do Capitão Morte e de seus generais nesse momento? Será que não pensaram que estavam no lugar errado? Será que não sentiram que estavam dentro de um inferno no qual nunca imaginaram entrar? Sentiram-se humilhados?

Confesso que eu, anti-Bolsonaro praticante, consegui sentir a humilhação.

Mas, por incrível que pareça, seus seguidores, não. Pelo menos não confessaram.

Expus essa indignação na página do Planalto no Facebook, mas fui chamado de burro porque não consegui entender a genialidade do presidente que teria dado um nó político e estratégico em Putin. Imaginem.

Mais tarde, Bolsonaro e Putin se reuniram por poucos minutos para a foto e o vídeo tradicionais que iriam para a imprensa.

Os assessores do capitão sempre temeram muito que ele cometesse alguma gafe, tipo cachorrinho quando levanta a patinha e faz xixi na perna do anfitrião.

Ele não decepcionou. Afirmou, sem que Putin solicitasse, que o Brasil é solidário a Rússia.

Solidário em quê, cara-pálida?

Por acaso a Rússia está enfrentando a fome, o desemprego, a alta dos combustíveis, a carestia em geral e o desgoverno, como o Brasil?

Ou será que se referiu ao impasse com a Ucrânia, o que seria mais grave?

Colocou o Brasil como apoiador da Rússia? Tomamos lado no conflito?

Na reunião marcada a acontecer com cada um dos presidentes sentando-se às extremidades daquela mesa gigante, outro enorme simbolismo, Bolsonaro só se fará acompanhar de um intérprete. Os assessores ficarão de fora cruzando os dedos para que ele não fale nenhuma bobagem costumeira, como piadinhas de mau gosto. Mas ele, novamente, não se conterá.

Imagino o seguinte diálogo:

Bolsonaro: ô Putin! Por acaso sua filha é chamada de filha do Putin? Hahahaha! Sacou? Filha do Putin!

O intérprete permanece calado e Putin pergunta o que o capitão falou. Ele só o cumprimentou, presidente. Esse é um costume brasileiro, diz ele.

Por mais que se especule, ainda é uma incógnita o motivo do convite de Putin a Bolsonaro.

Mas, se ele tencionava expor um líder fascista ao ridículo e à humilhação, já conseguiu, embora ainda haja mais acontecimentos por vir.

Que Bolsonaro e seus generais se exponham dessa forma à galhofa por parte de um dos maiores líderes mundiais, é problema deles.

Mas, arrastar também todos nós, o povo brasileiro, a nação brasileira, é inaceitável.

Imagem: Evaristo Sá/AFP



Publicado também em Piauí Hoje
https://piauihoje.com/blogs/e-o-que-eu-acho/a-galhofa-mundial-a-que-bolsonaro-nos-expoe-391765.html

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Brasileiro valoriza mais a religião do que ter carro ou filhos

Por Fernando Castilho



Rezar se tornou atividade mais frequente que ouvir música, assistir filmes ou séries ou trabalhar à distância! Isso significa que as igrejas podem ter crescido mais que streamings como Netflix


O que você mais valoriza na vida?

Esta foi a pergunta da pesquisa Datafolha em parceria com a startup imobiliária, quinto Andar.

A pergunta poderia ser confundida com os sonhos que o brasileiro tem.

Diferentemente das pesquisas comuns, esta atribuiu notas aos resultados obtidos. Desta forma, ter uma casa própria e uma profissão receberam a nota 9,7.

Num país onde faltam moradias, não é de surpreender que o brasileiro queira um lugar próprio para morar. Mas, e a profissão?

Sabemos que grande parte das pessoas, senão a maioria, trabalha com aquilo que originariamente não escolheu, mas as circunstâncias as obrigaram. Os recém-formados nas faculdades sabem muito bem o que é isso. Portanto, deve haver muita frustração, por isso, a nota 9,7.

Em seguida veio: ter estabilidade financeira – 9,6. Quem não gostaria? Vejam quanta gente se submete a concursos públicos hoje em dia;

Ter uma família – 9,4. Interessante que esse item vem em 4º lugar, enquanto ter filhos aparece em 9º e casar, em 10º lugar;

Ter plano de saúde – 9,2. Acho surpreendente que tanta gente dê importância a planos de saúde depois do escândalo da Prevent Senior e do golpe que a Amil está aplicando a seus segurados.

Além disso, planos de saúde submetem seus associados a uma espera de meses para procedimentos. Durante a pandemia muita gente descobriu o SUS e passou a se tratar por ele porque em muitos casos acaba sendo mais ágil;

Ter uma religião – 9,0. Surpreendente! Vem bem antes de ter filhos.

Durante a pandemia a eterna disputa entre ciência e religião foi espetacularmente vencida pela primeira. Foi a ciência que descobriu e mapeou geneticamente o coronavírus e, em tempo muito curto, produziu as vacinas para combatê-lo. Além disso, nos mostrou como podemos evitar o contágio através de distanciamento social e uso de álcool em gel e máscaras.

Pode ser que neste momento de desemprego e fome, os brasileiros sem perspectivas estejam se refugiando na religião que exerce o papel de manter as esperanças;

Depois vem, pela ordem, ter um negócio próprio – 8,8, ter um carro – 8,5, ter filhos – 7,9 e casar – 6,9. Este último, o menos valorizado.

A pesquisa avança para esmiuçar qualitativamente, principalmente a questão da casa própria, mas é interessante destacar  as atividades que o brasileiro passou a fazer com mais frequência em casa, durante a pandemia, em %. Neste casos é melhor reproduzir o gráfico do Datafolha.

Rezar se tornou atividade mais frequente que ouvir música, assistir filmes ou séries ou trabalhar à distância! Isso significa que as igrejas podem ter crescido mais que streamings como Netflix. Quando a pandemia acabar, as igrejas poderão lotar novamente e crescer ainda mais. Isso, mesmo depois que, repito, a ciência foi mais importante para a preservação da vida que a religião.

Não há como saber se essa  pesquisa refletiria mais ou menos o que ocorre no resto do mundo, mas, podemos dizer que o brasileiro é um povo que sempre surpreende e dá dor de cabeça a antropólogos e cientistas sociais que tentam estudá-lo.

Para acesso à pesquisa completa, clique em https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/02/brasileiro-valoriza-mais-casa-propria-do-que-filhos-religiao-e-estabilidade.shtml


 

 

 

 

 


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Por que odiamos a Rússia?

Por Fernando Castilho


Foto: Sputnik/Kremlin via Reuters


"Se a Ucrânia se juntar à OTAN e tentar recuperar a Crimeia por meios militares, os países europeus serão arrastados para uma guerra contra a Rússia, na qual não haverá vencedores.”


A Rússia está a um passo de invadir a Ucrânia! É o que as agências ocidentais de notícias, replicadas pela nossa imprensa, divulgam todos os dias.

O país remanescente da comunista União Soviética estaria sedento por invadir outros países e anexá-los porque... bem, porque Vladimir Putin, seu presidente, é um homem mau.

Vejam o que afirmou a porta-voz do governo Joe Biden: “a Rússia é um país conhecido por invadir outros”. Não, na verdade, são os Estados Unidos que são conhecidos por invadir outros. A lista é enorme.

Mas para tentar entender o que está acontecendo é preciso voltar aos tempos da Guerra Fria.

Para combater o comunismo, os Estados Unidos, junto com outros países da Europa, criaram a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, enquanto a União Soviética, que compreendia muitos países comunistas, se organizaram no Pacto de Varsóvia.

De lá pra cá muita coisa mudou. O muro de Berlim foi derrubado e as duas Alemanhas se juntaram numa só; A União Soviética se fragmentou em vários países independentes e ela própria deixou de ser comunista, passando a ser uma democracia federal, baseada num sistema de Estado de Direito sob a forma de República.

Com o tempo, alguns outros países fronteiriços, como Polônia, República Tcheca, Hungria, foram aderindo à OTAN, fazendo com que ela se aproximasse cada vez mais da Rússia, acendendo um alerta amarelo.

Seria perfeitamente natural que esses países aderissem e passassem a desfrutar do comércio com a União Europeia, mas o que está acontecendo é uma união de caráter militar.

O risco colocado por Putin é o da aproximação e cerco militar cada vez maior a seu país. Ele ilustra muito bem ao perguntar se os Estados Unidos aceitariam de bom grado que a Rússia colocasse armas na Venezuela ou em Cuba, países muito próximos dos americanos.

No dia 7 de fevereiro Putin recebeu o presidente da França, Emmanuel Macron e durante a coletiva para a imprensa francesa, falou o mais francamente possível.

"Se a Ucrânia se juntar à OTAN e tentar recuperar a Crimeia por meios militares, os países europeus serão arrastados para uma guerra contra a Rússia, na qual não haverá vencedores.”

Embora tenha afirmado que o potencial militar da OTAN não possa ser comparado com o da Rússia, Putin lembrou que seu país é uma das maiores potências nucleares.

"Perguntem a seus leitores se eles querem combater a Rússia.

Não haverá vencedores.

Vocês serão arrastados para esse conflito contra sua vontade.

Vocês nem terão tempo de piscar antes de começarem a cumprir o artigo 5º do Tratado de Roma."

O que diz esse artigo?

Artigo 5º Crimes da Competência do Tribunal 1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para julgar os seguintes crimes:

a) O crime de genocídio;

b) Crimes contra a humanidade;

c) Crimes de guerra;

d) O crime de agressão.

2. O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de agressão desde que, nos termos dos artigos 121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina o crime e se enunciem as condições em que o Tribunal terá competência relativamente a este crime. Tal disposição deve ser compatível com as disposições pertinentes da Carta das Nações Unidas.

Não se trata aqui de defender Putin, um homem homofóbico e autoritário, uma espécie de Bolsonaro inteligente, porém, verdadeiramente patriota. Trata-se de tentar compreender os acontecimentos à luz do outro lado, ou seja, o da Rússia.

Na semana passada um submarino norte-americano foi interceptado pela marinha russa em águas daquele país, uma provocação de Biden.

O presidente norte-americano diz que não quer guerra e que procura negociar, mas, na verdade, usando Macron como escudo, tem interesse no conflito e trabalha nos bastidores para isso, já que uma guerra agora, com o poder de fogo que a OTAN ostenta, teria o poder de dar uma alavancada na supremacia americana no mundo, ameaçada pela China.

Faltou só combinar com os chineses que estão propensos a se aliar com a Rússia.

Se isso acontecer, Biden recuará por medo de ser o responsável histórico pelo maior conflito mundial de todos os tempos.

É sempre muito salutar pesquisar em várias fontes para poder entender o mínimo da geopolítica na região e se definir por um lado num possível conflito.

Além disso, uma dose de empatia sempre ajuda.

 

imagem:Thibault Canus/pool via Reuters