segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Por que odiamos a Rússia?

Por Fernando Castilho


Foto: Sputnik/Kremlin via Reuters


"Se a Ucrânia se juntar à OTAN e tentar recuperar a Crimeia por meios militares, os países europeus serão arrastados para uma guerra contra a Rússia, na qual não haverá vencedores.”


A Rússia está a um passo de invadir a Ucrânia! É o que as agências ocidentais de notícias, replicadas pela nossa imprensa, divulgam todos os dias.

O país remanescente da comunista União Soviética estaria sedento por invadir outros países e anexá-los porque... bem, porque Vladimir Putin, seu presidente, é um homem mau.

Vejam o que afirmou a porta-voz do governo Joe Biden: “a Rússia é um país conhecido por invadir outros”. Não, na verdade, são os Estados Unidos que são conhecidos por invadir outros. A lista é enorme.

Mas para tentar entender o que está acontecendo é preciso voltar aos tempos da Guerra Fria.

Para combater o comunismo, os Estados Unidos, junto com outros países da Europa, criaram a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, enquanto a União Soviética, que compreendia muitos países comunistas, se organizaram no Pacto de Varsóvia.

De lá pra cá muita coisa mudou. O muro de Berlim foi derrubado e as duas Alemanhas se juntaram numa só; A União Soviética se fragmentou em vários países independentes e ela própria deixou de ser comunista, passando a ser uma democracia federal, baseada num sistema de Estado de Direito sob a forma de República.

Com o tempo, alguns outros países fronteiriços, como Polônia, República Tcheca, Hungria, foram aderindo à OTAN, fazendo com que ela se aproximasse cada vez mais da Rússia, acendendo um alerta amarelo.

Seria perfeitamente natural que esses países aderissem e passassem a desfrutar do comércio com a União Europeia, mas o que está acontecendo é uma união de caráter militar.

O risco colocado por Putin é o da aproximação e cerco militar cada vez maior a seu país. Ele ilustra muito bem ao perguntar se os Estados Unidos aceitariam de bom grado que a Rússia colocasse armas na Venezuela ou em Cuba, países muito próximos dos americanos.

No dia 7 de fevereiro Putin recebeu o presidente da França, Emmanuel Macron e durante a coletiva para a imprensa francesa, falou o mais francamente possível.

"Se a Ucrânia se juntar à OTAN e tentar recuperar a Crimeia por meios militares, os países europeus serão arrastados para uma guerra contra a Rússia, na qual não haverá vencedores.”

Embora tenha afirmado que o potencial militar da OTAN não possa ser comparado com o da Rússia, Putin lembrou que seu país é uma das maiores potências nucleares.

"Perguntem a seus leitores se eles querem combater a Rússia.

Não haverá vencedores.

Vocês serão arrastados para esse conflito contra sua vontade.

Vocês nem terão tempo de piscar antes de começarem a cumprir o artigo 5º do Tratado de Roma."

O que diz esse artigo?

Artigo 5º Crimes da Competência do Tribunal 1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para julgar os seguintes crimes:

a) O crime de genocídio;

b) Crimes contra a humanidade;

c) Crimes de guerra;

d) O crime de agressão.

2. O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de agressão desde que, nos termos dos artigos 121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina o crime e se enunciem as condições em que o Tribunal terá competência relativamente a este crime. Tal disposição deve ser compatível com as disposições pertinentes da Carta das Nações Unidas.

Não se trata aqui de defender Putin, um homem homofóbico e autoritário, uma espécie de Bolsonaro inteligente, porém, verdadeiramente patriota. Trata-se de tentar compreender os acontecimentos à luz do outro lado, ou seja, o da Rússia.

Na semana passada um submarino norte-americano foi interceptado pela marinha russa em águas daquele país, uma provocação de Biden.

O presidente norte-americano diz que não quer guerra e que procura negociar, mas, na verdade, usando Macron como escudo, tem interesse no conflito e trabalha nos bastidores para isso, já que uma guerra agora, com o poder de fogo que a OTAN ostenta, teria o poder de dar uma alavancada na supremacia americana no mundo, ameaçada pela China.

Faltou só combinar com os chineses que estão propensos a se aliar com a Rússia.

Se isso acontecer, Biden recuará por medo de ser o responsável histórico pelo maior conflito mundial de todos os tempos.

É sempre muito salutar pesquisar em várias fontes para poder entender o mínimo da geopolítica na região e se definir por um lado num possível conflito.

Além disso, uma dose de empatia sempre ajuda.

 

imagem:Thibault Canus/pool via Reuters

 

 

 

 


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