Por Fernando Castilho
O caso da prisão preventiva de Jair Bolsonaro é tão cheio de
camadas que mais parece uma cebola, porém com caroço. Para não me perder no
labirinto, vamos à cronologia, porque sem ela, ninguém entende essa ópera bufa.
SEXTA-FEIRA, 21
Flávio Bolsonaro grava um vídeo convocando apoiadores para
uma “vigília religiosa” no sábado, em frente ao condomínio de luxo onde o pai
cumpria prisão domiciliar. Vigília religiosa, claro. Porque nada combina mais
com oração do que um ex-presidente tentando serrar uma tornozeleira com ferro
de soldar.
O discurso de Flávio vinha recheado de códigos: “busca ao
Senhor dos Exércitos” (tradução simultânea: apoio dos militares golpistas) e
“luta para resgatar a democracia” (tradução simultânea: resgatar o papai). Era
praticamente um tutorial de conspiração em vídeo.
ENQUANTO ISSO…
Na mesma tarde, Bolsonaro já estava entretido com seu novo
passatempo: romper a tornozeleira. Tentou de tudo, até que apelou para um
aparelho de solda. Sim, solda, dentro da casa alugada pelo PL às custas do
contribuinte. O processo durou horas, até que, às 0h08, a Polícia Militar
recebeu o alerta: tornozeleira danificada.
A MADRUGADA DE MORAES
A PF acorda Alexandre de Moraes: “Ministro, seu Jair está
tentando fugir”. Moraes toma um copo d’água, liga para o PGR Paulo Gonet,
recebe o aval e determina a prisão preventiva. Só poderia ocorrer a partir das
6h. Enquanto isso, sem a toga, de pijama, Moraes redige um documento de 17
páginas fundamentando a decisão.
No texto, determina prisão discreta, sem algemas. Afinal,
nada de espetáculo. Só o suficiente para virar manchete.
SÁBADO, 22
Às 7h, a imprensa divulga. Bolsonaristas correm às redes:
“Perseguição religiosa! Era só uma vigília de oração!”. Senhorinhas com Bíblia
na mão, claro. O detalhe da tornozeleira fritada foi convenientemente omitido.
Nos bastidores, aliados admitem: não há defesa possível. O
vídeo é autoexplicativo e será usado por Lula em 2026. Até vai virar meme. A
candidatura de Flávio, com sua genialidade estratégica, subiu no telhado.
O PLANO MIRABOLANTE
O PÓS-PRISÃO
Bolsonaro passa por exame de corpo de delito e pode alegar
problemas de saúde. Se uma junta médica confirmar, Moraes decide se volta para
prisão domiciliar. Também terá audiência de custódia para verificar condições
da prisão.
Enquanto isso, o prazo para embargos de declaração termina
na segunda, 24. Se não houver novidade, Moraes pode, no jargão jurídico, não
conhecer dos embargos e declarar trânsito em julgado já na terça ou quarta. A
Papuda o aguarda, mesmo que por pouco tempo.
O LEMBRETE
Se eu dissesse que alguém estacionaria um caminhão-tanque carregado
de combustível em frente ao Aeroporto de Brasília para explodir e matar dezenas
de pessoas, você acreditaria? Pois é, isso aconteceu. E só não deu certo porque
o tal “George Washington” errou a mão.
CONCLUSÃO
A prisão preventiva de Jair Bolsonaro não é um detalhe
burocrático, nem um capítulo qualquer da novela política brasileira. É um
alerta vermelho: essa turma já tentou explodir caminhão-tanque em aeroporto, já
tentou invadir a sede da PF, já tentou golpe em praça pública. E não há limite
para quem acredita que democracia é apenas um obstáculo inconveniente.
Se hoje o “curioso da solda” está atrás das grades, amanhã
seus fiéis podem muito bem tentar transformar a sede da PF em palco de resgate
cinematográfico. Portanto, nada de negligenciar. Segurança reforçada!
A diferença é que, desta vez, não haverá “festa da Selma”
para disfarçar. Haverá apenas o registro histórico de que o pior presidente
pós-ditadura militar terminou onde sempre deveria ter estado: sob vigilância,
cercado, e finalmente impedido de brincar de golpista com o destino do país.