segunda-feira, 10 de novembro de 2025

O intruso interestelar e a fragilidade das certezas

Por Fernando Castilho



Tenho uma convicção racionalista e cética sobre quase tudo, e, ao longo dos anos, venho comprovando o acerto nessa postura.

Porém, artigos como os do amigo Walter Falceta (A SOPA DO MISTÉRIO: A GENTE AINDA NÃO SABE NADA SOBRE TUDO, https://www.facebook.com/profile.php?id=1598311744) às vezes têm o poder de me “corromper”, fazendo-me sentir tentado a trair minhas convicções, tamanha a força de seus argumentos.

Um dos assuntos do momento é o aparecimento do cometa 3I/ATLAS em nosso sistema solar, vindo de uma região distante da galáxia.

Nosso planeta tem cerca de 4,5 bilhões de anos, mas cientistas, por meio de métodos rigorosamente científicos, estimam que esse intruso interestelar esteja viajando há inacreditáveis 7 bilhões de anos. Ou seja, quando a nuvem de poeira e gás que daria origem ao nosso Sol ainda estava em formação, ele já vagava pelo Universo, talvez expelido por uma estrela muito mais antiga.

O 3I/ATLAS é o terceiro objeto identificado como vindo de fora do sistema solar. Antes dele, tivemos o 1I/Oumuamua, em 2017, detectado tardiamente, e o 2I/Borisov, em 2019.

Esses, no entanto, não foram os únicos “invasores”. Foram apenas os primeiros que conseguimos identificar, graças ao avanço recente da nossa tecnologia.

Assim como no caso do Oumuamua, o renomado cientista e professor de Harvard, Avi Loeb, sugeriu que o 3I/ATLAS poderia ser um objeto artificial, talvez uma sonda enviada por uma civilização extraterrestre para explorar mundos com potencial para abrigar vida.

O comportamento anômalo do cometa alimentou essa especulação. Ele acelerou, desacelerou e até mudou de trajetória ao longo dos meses em que cruzou nosso quintal cósmico, contrariando a Primeira Lei de Newton, que afirma que todo corpo tende a permanecer em repouso ou em movimento retilíneo uniforme, a menos que uma força externa atue sobre ele.

Como, então, poderia apresentar tais variações sem uma força atuante?

Já escrevi, mais de uma vez, que, com base nas gigantescas distâncias entre os planetas fora do sistema solar e na Teoria da Relatividade Geral de Einstein, seria impossível que civilizações extraterrestres viajassem até aqui em curto espaço de tempo.

Para se ter uma ideia, os planetas mais próximos da Terra, localizados em Alpha Centauri, estão a cerca de 4 anos-luz de distância. Isso significa que a luz leva 4 anos para chegar até nós.

Nossas naves mais modernas levariam cerca de 17 mil anos para alcançar esse destino. Imagine, então, distâncias ainda maiores.

Se o 3I/ATLAS seja mesmo uma sonda alienígena, a civilização que o construiu teria realizado uma obra sem sentido prático, pois não viveria para acompanhar os resultados. Provavelmente, já estaria extinta.

Felizmente, as observações começaram a trazer respostas.

A explicação para sua aceleração, desaceleração e mudança de direção é simples: física pura.

À medida que o cometa se aproximava do Sol, a enorme atração gravitacional o acelerou. Após o periélio, o Sol continuou a puxá-lo, mas agora em sentido contrário, desacelerando-o e alterando sua trajetória.

Além disso, os gases aprisionados em seu interior, ao serem aquecidos pela proximidade solar, foram liberados em forma de jatos, contribuindo para mudanças de direção.

Temos a tendência de interpretar o desconhecido com base no que conhecemos.
Estamos acostumados ao comportamento dos cometas oriundos da Nuvem de Oort, resquícios da formação do sistema solar, compostos pelos mesmos elementos que formaram o Sol.

Mas um cometa vindo de fora pode ter se formado a partir de gases e poeira de outra estrela, com composição distinta.

Essas distinções fazem toda a diferença em relação ao comportamento dos nossos cometas.

Contudo, talvez seja a hora de procurar uma atitude mais humilde e dar uma pausa na rigidez do conhecimento científico cristalizado, pois, o telescópio espacial James Webb tem revelado inconsistências nas teorias consolidadas sobre a origem do Universo, enxergando muito além do que julgávamos possível.

À luz do artigo de Walter Falceta, precisamos voltar a fazer o que sempre fizemos: sermos curiosos e dar asas à imaginação. Ou, como queiram, baixar um pouco a bola.

Foi isso que permitiu o avanço da ciência ao longo dos últimos quatro séculos.

Embora as viagens espaciais a distâncias gigantescas sejam tecnicamente impossíveis hoje, a história humana está repleta de impossibilidades vencidas.
O avião, por exemplo, um objeto mais pesado que o ar, conseguiu alçar voo.

Por isso, não devemos desprezar as hipóteses de Avi Loeb. Ele não é um especulador qualquer.

Sua formação sólida lhe permite desconfiar que o 3I/ATLAS possa ser, sim, uma sonda de outro planeta muito distante, talvez enviada por uma civilização que sonhou como nós, ao lançarmos duas sondas ao espaço em 1977, que hoje estão a mais de 25 bilhões de quilômetros da Terra: as Voyager I e II.

Apesar disso, tudo, ainda creio que o 3I/ATLAS seja mesmo um cometa. Diferente dos nosso, mas, ainda assim, um cometa.

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