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terça-feira, 11 de novembro de 2025

Lula voando em céu de brigadeiro

Por Fernando Castilho



Durante a COP 30, em Belém, o ministro do Turismo, Celso Sabino, prestes a ser expulso do União Brasil por cometer o grave pecado de permanecer no governo, declarou, com ar messiânico: “Nenhum partido político, nenhum cargo ou ambição pessoal vai me afastar desse povo que eu amo.” E, num gesto digno de novela das seis, olhou nos olhos de Lula e disse: “Conte comigo, onde quer que eu esteja, para lhe apoiar, para segurar na sua mão.” Faltou só a trilha sonora e os créditos finais.

Outro que resolveu dar uma guinada retórica foi o deputado Otoni de Paula. Sim, ele mesmo, um dos mais fervorosos defensores de Jair Bolsonaro, agora faz críticas públicas a Silas Malafaia e à gestão desastrosa (eufemismo generoso) de Cláudio Castro no Rio de Janeiro. Aos poucos, o pastor Otoni vai se aproximando de Lula como quem muda de banco na igreja, discretamente, mas com fé renovada.

E tem mais: o senador Cleitinho, conhecido por suas falas inflamadas contra o presidente, declarou recentemente que votará a favor de todos os projetos do governo que beneficiem o povo, como a isenção do Imposto de Renda. Um gesto nobre, claro, mas que também soa como quem já está ensaiando o discurso para o novo palanque.

Já o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (também do União Brasil), resolveu mirar em Eduardo Bolsonaro. Criticou duramente o deputado por ter atuado junto a Donald Trump para impor tarifas de 50% ao Brasil. Aparentemente, o nacionalismo econômico bolsonarista tem seus limites, especialmente quando ameaça o agronegócio.

Cito esses quatro, todos da ala mais à direita do espectro político, para ilustrar uma tese simples: se até bolsonaristas já ensaiam passos de dança em direção a Lula, imagine o que os deputados do centrão não farão para garantir um espacinho no palanque presidencial em 2026.

É pura lógica de sobrevivência: os indicadores econômicos vão bem, Lula lidera todas as pesquisas, e, a partir do ano que vem, trabalhadores que ganham até R$ 5 mil mensais verão sua renda aumentar com o fim da mordida do Imposto de Renda. Subir no palanque com Caiado, Ratinho Jr., Zema ou até mesmo Tarcísio, nesse cenário, seria um ato de suicídio político, e sem bilhete de despedida.

Outro fator que acelera a debandada é a iminente prisão de Bolsonaro. Não deve acontecer logo após o julgamento dos embargos de declaração, pois Alexandre de Moraes — sempre adepto do xadrez em vez do pôquer — pode conceder mais um prazo. Curto. Mas, se a defesa não trouxer nada de novo, os embargos nem serão recepcionados, e o ex-presidente, alguns dias depois, será transferido para a Papuda. Hoje, em prisão domiciliar, Bolsonaro já caiu no esquecimento e, quando for para o regime fechado na Papuda, poucos darão falta. Nem os pombos da Praça dos Três Poderes.

Como disse Lula: rei morto, rei posto. E o novo rei, ao que tudo indica, está com a coroa bem ajustada.

Enquanto isso, a extrema-direita, órfã e desorientada, começa a disputar as roupas do defunto. Em Santa Catarina, a briga é de foice no escuro. A deputada Carol de Toni tinha a promessa do governador Jorginho Melo de que seria candidata ao Senado, ao lado de Espiridião Amin. Mas Jorginho, num gesto clássico do bolsonarismo raiz, rasgou o acordo para atender à exigência de Bolsonaro: emplacar Carluxo. Sim, ele mesmo, com seu inconfundível sotaque carioca, como candidato. Como a decisão não pode ser salomônica, Carol de Toni ameaça deixar o PL. Afinal, Jorginho jamais ousaria contrariar o clã.

Com o sucesso da COP 30 ofuscando a narrativa golpista que tentava colar em Lula o rótulo de “defensor de bandido”, restou à extrema-direita o desespero. Após o enterro do projeto de anistia, agora tentam aprovar uma aberração legislativa: obrigar meninas estupradas a levar a gravidez adiante.

Outro sintoma de desespero foi o relator do PL da Segurança Pública restringir a atuação da Polícia Federal no combate ao crime organizado, com o claro intuito de preservar seus líderes. Na cabeça desse pessoal, as polícias militares dos estados devem continuar a sacrificar rapazes de bermuda e chinelo, enquanto a diretoria segue intocada em mansões com garagens abarrotadas de carrões esportivos. Porém, há alguns meses, o povo saiu às ruas e conseguiu derrubar a PEC da Bandidagem. Talvez agora tenha que fazer o mesmo contra esse projeto absurdo.

Vencida mais essa tentativa de golpe no governo (e será), a menos que algo absolutamente imponderável aconteça, Lula seguirá até 2026 em céu de brigadeiro. E, pelo visto, com cada vez mais gente pedindo carona na cabine.