sexta-feira, 2 de junho de 2017

50 anos (and counting) de Sgt. Pepper's

Por Fernando Castilho


Imagem: EMI



50 anos de um álbum que revolucionou o rock definitivamente!

Ontem comemoramos 50 anos do lançamento nos Estados Unidos do icônico álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles.

É interessante constatar que, apesar de toda a imprensa falar sobre isso e de vários artigos terem sido escritos para lembrar o evento, para os jovens atuais, o significado passa desapercebido.

Ontem mesmo, saí com meu sobrinho em seu carro. O rádio estava ligado e foi inevitável ouvir as músicas que ele mais ou menos curtia.

Mais ou menos por que?

Porque até ele mesmo não gosta, ou melhor, não ama as músicas que ouve.

John Lennon diria: The sound you hear is muzak to my ears.

Essa é a diferença. Nós, da minha geração e da posterior, amávamos e ainda amamos as músicas dos Beatles. E queremos sempre ouvi-las.

Não se trata de saudosismo. As músicas que os jovens de hoje ouvem não têm nem de longe as letras bem trabalhadas dos Beatles, isso quando não são grosseiras recorrendo a palavrões de forma gratuita.

As harmonias praticamente não existem e a melodia é extremamente simplória, recorrendo a vários lugares-comuns.

Os Beatles entraram no estúdio para gravar Sgt. Pepper's em novembro de 1966 e só concluíram o disco quase 7 meses depois!

Que gravadora hoje em dia disporia um estúdio para uma banda gravar um disco durante 7 meses?

Nesse período os Beatles, após terem encerrado a fase de turnês, decidiram aprofundar o experimentalismo iniciado em Rubber Soul e Revolver.

Lembremos como:

Entraram instrumentos inusitados para o rock como cítaras e cravos.

As harmonias passaram a ser trabalhadas de forma complexa e original.

Os Beatles aprenderam a tocar piano.

As letras passaram a ser menos bobinhas e agora passavam a testemunhar o dia a dia na vida das pessoas retratado pelas notícias de jornal, além de reminiscências de um passado ainda não longínquo vivido por eles em sua infância.

George Martin percebeu que poderia dar uma chance à criatividade da banda que desabrochava e decidiu que era hora de dar vazão a arranjos de maior qualidade.

George Harrison aprimorou sua técnica na guitarra.

Paul e John nunca tinham cantado tão bem antes.

E Ringo dá um verdadeiro show em A Day in The Life.

Já não eram mais os antigos e puros rapazes de Liverpool. Tinham amadurecido musicalmente.

As inovações não pararam por aí.

Pela primeira vez os membros de uma banda não apareciam sozinhos na capa de um disco. Na foto há, além deles e de seus clones em cera, fotos das mais variadas personalidades, desde Karl Marx até Edgar Allan Poe, passando por Bob Dylan e Mick Jagger.

Não contentes com isso, publicaram na contra capa as letras das músicas.

O disco veio num encarte onde era possível recortar bigodes e colocá-los onde se quisesse.

Uma verdadeira revolução, enfim.

Meu sobrinho e os jovens que ouvem as músicas de hoje sequer imaginam a mágica que sentíamos acontecer cada vez que olhávamos aquela capa e ouvíamos o disco. Eles perdem.

E não adianta dizer: ei, ouça isto! Você vai gostar!

Beatles não é para se ouvir uma vez e sair gostando. Afinal, os ouvidos de hoje estão desabituados ao que é bom. É preciso paciência e ouvir várias vezes para reeducá-los.

Foi assim com um ex-aluno meu que aos 15 anos foi fisgado pelos Beatles.

À primeira vista aquele som não impressionou muito mas como ele tinha conhecimento da importância histórica da banda, concluiu que, se todo mundo até hoje ainda fala de Beatles é porque deveria ser bom.

Não levou muito tempo para que ele, ao contrário de seus amigos, se tornasse um tardio beatlemaníaco que sabe hoje mais que eu sobre o conjunto.

Os Beatles são assim. 46 anos após a extinção do grupo, ainda são capazes de fisgar as novas gerações.

I read the news today, oh boy: "Sgt. Pepper's forever!"




Nenhum comentário:

Postar um comentário