Por Fernando Castilho
Pedi para o Gemini criar um diálogo sobre meu livro "Um Humano Num Pálido Ponto Azul", e o resultado foi este:
Sofia:
Terminei o livro do Castilho. É denso, mas fascinante. Fiquei presa na forma
como ele costura as memórias de infância com a história da evolução. Aquele
capítulo sobre o Homo Familiaris me fez pensar: a família mudou mais por
causa da geladeira Consul e do micro-ondas do que por qualquer filosofia.
Artur:
Exatamente. Ele usa a geladeira e o micro-ondas como marcos da
"modernidade líquida" do Bauman. A crítica dele é que a tecnologia,
que deveria nos unir, acabou nos isolando, transformando o jantar familiar em
um encontro silencioso. O contraponto com a avó dele, Dona Ana, fanática por
novelas, é genial para mostrar essa ruptura.
Sofia:
Sim, e a parte sobre o pai, Éros — forte e calado — que chora depois de bater
no filho. Ele transforma uma palmada em uma lição de ética, não pela dor, mas
pela vulnerabilidade que revela. O autor insiste: a ética é aprendida em casa,
não na escola.
Artur:
Esse é o ponto nevrálgico. O livro inteiro é um apelo à responsabilidade
individual. O autor não perdoa. O capítulo Homo Religiosus é o mais
corajoso. A forma como ele desconstrói o medo e o conceito de Paraíso é quase
nietzschiana.
Sofia:
E a crítica à hipocrisia — tanto do padre que expulsa o mendigo quanto dos
pastores da Teologia da Prosperidade... Ele questiona se a fé não está mais a
serviço do poder do que da espiritualidade. A ideia de que a Bíblia é, em
parte, um reflexo das guerras contra assírios e babilônios, criando o
monoteísmo, me fez ver a religião como uma estratégia de sobrevivência.
Artur:
E não se esqueça da parte sobre o aborto. Ele mostra como o tema foi distorcido
pela Igreja, mas, no fundo, a questão é científica: quando a alma se instala no
corpo. O autor nos força a sair do dogma e ir para a razão.
Sofia:
Já o Homo Potens me assustou de verdade. A história da Ford com o modelo
Pinto — o cálculo frio de que era mais barato pagar indenizações pelas mortes
do que consertar o carro. É o cúmulo da ética utilitarista a serviço do lucro.
Aquele memorando é a prova de que o capitalismo, sem controle ético, tem um
lado destrutivo.
Artur:
E a experiência dele na ditadura, quase sendo preso e vendo os falsos
"operários" no camburão... Ele sentiu na pele o que é o Estado se
tornar um Leviatã que, em vez de proteger, te caça. Por isso, a esperança dele
é o salto para o Homo Conscious.
Sofia:
Sim! É a única saída, segundo ele. Ele não acredita em um Deus salvador, mas
numa mutação evolutiva que nos leve para além da razão, rumo à consciência
plena. Se não mudarmos, o fim virá em 20 ou 40 anos — profetizado pelo
desmatamento e pelo crescimento exponencial da população.
Artur:
O pessimismo dele é científico, mas a solução é quase poética. É o Übermensch
de Nietzsche adaptado à biologia. O fim do livro é um chamado à ação: para que
o ser humano use sua inteligência não para acumular e guerrear, mas para salvar
a si mesmo — e o "pálido ponto azul".
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