Foto: André Lucas Almeida |
Reprimir uma torcida de futebol na quinta-feira por abrir uma faixa criticando a Rede Globo pelo horário absurdo dos jogos foi a pior política adotada por Alckmin.
Controlar sua pulsão repressora no domingo, quando uma faixa contra ele também foi aberta, foi a mais sensata.
O
falecido narrador esportivo, Fiori Gigliotti tinha vários bordões.
Um
dos mais conhecidos ele pronunciava no início dos jogos de futebol:
''abrem-se as cortinas e começa o espetáculo!''
Quinta-feira,
21 de fevereiro, jogo Corínthians X Capivariano.
Torcedores
do alvinegro abriram uma faixa de protesto em que se lia: ''Rede
Globo, o Corinthians não é seu quintal''. Outra com a frase: ''Jogo
às 22h também merece punição'' , a respeito da programação de
jogos de futebol às 22:00, após o Jornal Nacional e a novela.
A
Polícia Militar de Geraldo Alckmin rapidamente entrou em campo.
Ocorreram os costumeiros empurrões e sopapos e as faixas foram
retiradas com base no Estatuto do Torcedor, art. 13-A parágrafo IV,
que proíbe portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou
outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista
ou xenófobo.
Convenhamos,
não era então o caso.
A
PM só tomou aquela atitude ao cumprir ordens do governador que não
quer que se proteste contra a Rede Globo, mídia que o protege e que
lhe poderá ser bem útil caso seja indicado por seu partido a
disputar a presidência da República em 2018. Toma lá, dá cá.
Como fazem as empreiteiras ao fazer doações para campanhas.
Domingo,
14 de fevereiro, jogo Corínthians X São Paulo.
Torcedores
do alvinegro abriram novamente suas faixas. Desta vez os dizeres eram
outros:
''Futebol
refém da Rede Globo''.
''Ingresso
mais barato''.
''CBF,
FPF, vergonha nacional''.
E
a cereja do bolo, claro recado à Alckmin:
''Quem
vai punir o ladrão de merenda?''
Meu
pai me ensinou a ser corinthiano. Era no tempo do Rivelino.
O
timão era o preferido das pessoas de origem humilde. Dos operários,
dos pedreiros, dos ambulantes. Dos gambás, dos mal cheirosos, como
as torcidas adversárias carinhosamente nos chamam.
E
por isso, dos que mais precisavam reivindicar para melhorar suas
vidas.
É
daí que surgem o Dr. Sócrates, Casagrande, Wladimir, Zenon e a
Democracia Corinthiana.
O
diretor de futebol era Adilson Monteiro Alves, um sociólogo, vejam
só, em plena ditadura militar, ou melhor, já no seu declínio.
Durou
pouco, mas foram anos politizados aqueles que culminaram com a
campanha pelas Diretas Já, com a participação de Sócrates.
A
Gaviões tem razão ao protestar contra jogos às 22:00. Como encarar
uma volta à casa depois da meia noite? E ter que trabalhar no dia
seguinte? Desumano.
A
ditadura da Rede Globo é cruel. Ela não quer faturar com novela ou
futebol. Ela quer faturar com os dois. E que se dane o torcedor.
Os
preços dos ingressos são realmente abusivos. Variaram de 100 a 180
reais no jogo da quinta-feira. Merecem protesto.
E
sobre o desvio da merenda escolar, o governador tem mesmo muito a
explicar.
A
repressão, método utilizado por Alckmin para calar e abafar
protestos contra ele, parece um tiro saindo pela culatra.
Foi
assim quando a PM reprimiu violentamente os estudantes da rede
pública estadual que protestavam contra o fechamento e reorganização
de escolas. Vimos meninos e meninas, a princípio despolitizados,
dando uma lição de cidadania ao ocupar as instituições de ensino,
fazendo faxina e até consertos e pinturas. Deles e de suas famílias
vai ser difícil arrancar votos para 2018.
Não
se pode incorrer no erro de superestimar a torcida corinthiana
imaginando que ela agora partirá em peso contra o autoritarismo do
governador.
Mas
é bom que Alckmin coloque as barbas de molho pois o protesto que
começa de forma tímida, pode, de acordo com a reação, crescer e
se tornar incontrolável.
Pior
se as torcidas de outros clubes aderirem.