terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Marx sempre atual (com comentários)

Por Mauro Gouvêa

[..] Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade - a epidemia da superprodução. Subitamente, a sociedade vê-se, reconduzida a um estado de barbaria momentânea, dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio cortaram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem aniquilados. E por quê? Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas de quê dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo contrário, tornaram-se por demais poderosas para essas condições, que passam a entravá-las; e todas as vezes que as forças produtivas sociais se libertam desses entraves, precipitam na desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa. O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las. [...]

Manifesto Comunista

Marx&Engels

O que mudou em 200 anos? É atual ou não é? Marx está falando das crises cíclicas ou eu estou imaginando coisas?

O trecho: do que exatamente Marx e Engels estão falando?

Esse fragmento do Manifesto Comunista (1848) descreve as crises cíclicas do capitalismo com uma precisão que assusta ainda hoje. Eles estão afirmando, em síntese, que:

O capitalismo produz mais do que a sociedade consegue absorver.

Essa contradição não gera abundância social, mas crise, desemprego, falência, miséria.

As crises não são acidentes: são estruturais, periódicas, inerentes ao sistema.

Para sair delas, a burguesia:

destrói forças produtivas (fechamento de fábricas, guerras, recessões),

busca novos mercados,

explora mais intensamente os antigos.

Só que isso prepara crises ainda maiores depois.

A imagem mais brutal é esta:

“a epidemia da superprodução”

Ou seja: não falta mercadoria, ao contrário sobra, mas sobra concentrada, inacessível, encalhada, enquanto falta o básico para milhões.

Isso é a definição clássica de crise de superprodução no capitalismo.

Marx está falando de crises cíclicas?

Sim, exatamente. E isso é ponto pacífico na teoria marxista.

Ele está antecipando o que depois a história confirmou repetidas vezes:

1873 – Grande Depressão do século XIX

1929 – Quebra da Bolsa de Nova York

1973 – Crise do petróleo

2008 – Crise do subprime

2020 – Colapso global com a pandemia

2022–2024 – inflação global, crise logística, crise de energia, guerra, endividamento em massa

Todas seguem o mesmo roteiro estrutural:

expansão → saturação → colapso → concentração de riqueza → nova expansão → novo colapso.

Ou seja:

Marx descreveu o motor interno dessas crises com 200 anos de antecedência.

Exercício de adivinhação? Profecia? Nada disso, apenas análise pura e simples.

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