Por Mauro Gouvêa
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Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam
cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Cada crise destrói
regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma
grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que
em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade -
a epidemia da superprodução. Subitamente, a sociedade vê-se, reconduzida a um
estado de barbaria momentânea, dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio
cortaram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem
aniquilados. E por quê? Porque a sociedade possui demasiada civilização,
demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio. As
forças produtivas de quê dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das
relações de propriedade burguesa; pelo contrário, tornaram-se por demais
poderosas para essas condições, que passam a entravá-las; e todas as vezes que
as forças produtivas sociais se libertam desses entraves, precipitam na
desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa. O
sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em
seu seio. De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado,
pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro
lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos
antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras
e à diminuição dos meios de evitá-las. [...]
Manifesto
Comunista
Marx&Engels
O
que mudou em 200 anos? É atual ou não é? Marx está falando das crises cíclicas
ou eu estou imaginando coisas?
O
trecho: do que exatamente Marx e Engels estão falando?
Esse
fragmento do Manifesto Comunista (1848) descreve as crises cíclicas do
capitalismo com uma precisão que assusta ainda hoje. Eles estão afirmando, em
síntese, que:
O
capitalismo produz mais do que a sociedade consegue absorver.
Essa
contradição não gera abundância social, mas crise, desemprego, falência,
miséria.
As
crises não são acidentes: são estruturais, periódicas, inerentes ao sistema.
Para
sair delas, a burguesia:
destrói
forças produtivas (fechamento de fábricas, guerras, recessões),
busca
novos mercados,
explora
mais intensamente os antigos.
Só
que isso prepara crises ainda maiores depois.
A
imagem mais brutal é esta:
“a
epidemia da superprodução”
Ou
seja: não falta mercadoria, ao contrário sobra, mas sobra concentrada,
inacessível, encalhada, enquanto falta o básico para milhões.
Isso
é a definição clássica de crise de superprodução no capitalismo.
Marx
está falando de crises cíclicas?
Sim,
exatamente. E isso é ponto pacífico na teoria marxista.
Ele
está antecipando o que depois a história confirmou repetidas vezes:
1873
– Grande Depressão do século XIX
1929
– Quebra da Bolsa de Nova York
1973
– Crise do petróleo
2008
– Crise do subprime
2020
– Colapso global com a pandemia
2022–2024
– inflação global, crise logística, crise de energia, guerra, endividamento em
massa
Todas
seguem o mesmo roteiro estrutural:
expansão
→ saturação → colapso → concentração de riqueza → nova expansão → novo colapso.
Ou
seja:
Marx
descreveu o motor interno dessas crises com 200 anos de antecedência.
Exercício
de adivinhação? Profecia? Nada disso, apenas análise pura e simples.
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