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sábado, 13 de dezembro de 2025

Tentativa de Golpe de Estado: A Mãe de Todos os Crimes

Por Fernando Castilho



A desproporção penal brasileira


A pena para homicídio qualificado no Brasil varia de 6 a 30 anos de reclusão. Trata-se de um crime grave, que atinge diretamente uma vítima individual. No entanto, quando se observa a legislação referente à tentativa de golpe de Estado, a desproporção salta aos olhos: a sanção prevista é de apenas 4 a 12 anos. Essa discrepância revela uma falha estrutural do sistema penal brasileiro, pois o golpe de Estado não é um crime comum. Ele ameaça toda a coletividade, suprime direitos fundamentais, destrói instituições e coloca em risco a vida de milhares de pessoas.

Recentemente, Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos de reclusão por diversos crimes, pena que pode ser reduzida a 20 anos caso o chamado “PL da Dosimetria” seja aprovado. A ironia é que, se fosse apenas pela tentativa de golpe, a punição seria inferior à de um homicídio isolado. Ora, o golpe de Estado, se concretizado, inaugura um regime de exceção em que opositores são perseguidos, presos e torturados, assassinatos políticos são cometidos com ocultação de cadáveres, a imprensa é censurada e a população privada de informação. Os livros de história, reescritos sob a ótica do regime, registram apenas uma “mudança necessária” para preservar a democracia e as instituições. Não há eleições livres, e o ditador governa pelo tempo que desejar, podendo transferir o poder a alguém de confiança, como um filho. O regime se perpetua até que uma revolução o derrube, e como a repressão é violenta, o resultado costuma ser uma conflagração nacional com milhares de mortes.

Em diversos países, a tentativa de golpe é tratada como crime gravíssimo. A Constituição alemã prevê penas severas para atentados contra a ordem democrática, podendo chegar à prisão perpétua. Na Espanha, a tentativa de subverter o Estado é punida com até 30 anos de reclusão. Chile e Argentina, após suas ditaduras, endureceram suas legislações contra conspirações golpistas, reconhecendo o caráter coletivo e devastador desse tipo de crime. O Brasil, ao manter penas brandas, transmite a mensagem de que atentar contra a democracia é menos grave do que ceifar uma vida individual.

A tentativa de golpe de Estado deveria ser considerada a mãe de todos os crimes. Mais grave que o homicídio, porque ameaça milhões de vidas e destrói o pacto social. A pena mínima deveria ser multiplicada, chegando a 50 anos de reclusão, para que o golpista tenha tempo de refletir atrás das grades e, sobretudo, para desestimular futuros aventureiros. A democracia não pode ser tratada como bem de menor valor. Se o homicídio qualificado merece até 30 anos de prisão, a tentativa de golpe de Estado deveria ser punida com muito mais rigor. Só assim o Brasil deixará claro que não tolera ataques à sua ordem constitucional e que a liberdade coletiva vale mais do que qualquer ambição autoritária.