Fomos surpreendidos com uma gravação em que o senador Delcídio do Amaral explicava para o filho de Nestor Cerveró, Bernardo, sua estratégia ou plano para livrar o ex-diretor da Petrobras da cadeia.
Muito se falou e se comentou sobre a gravação da conversa do senador Delcídio do Amaral com o filho de Nestor Cerveró. Tentarei aqui uma visão mais abrangente do caso.
O Senador Delcídio do Amaral é o que se pode chamar de um petista pirata: parece petista mas foi construído como tucano.
O Senador Delcídio do Amaral é o que se pode chamar de um petista pirata: parece petista mas foi construído como tucano.
Não é exagero nem forçação de barra para defender petista.
Registra
a História que Delcídio foi diretor de Gás e Energia da Petrobrás,
entre 2000 e 2001, quando trabalhou com Nestor Cerveró e Paulo
Roberto Costa, dois dos delatores da Operação Lava Jato. Portanto,
a quadrilha começou a ser montada no governo FHC, o que deveria
obrigar o juiz Sérgio Moro, por dever de ofício, estender as
investigações àquela época pois veem ao caso.
Em
2002 Delcídio elegeu-se senador já pelo PT. Mais tarde, já no
governo Dilma, passou a ser líder do governo no Senado e no
Congresso.
Um
grande erro.
Delcídio
já sofria muitas restrições dentro do partido uma vez que suas
ligações com José Serra o posicionavam como uma espécie de quinta
coluna destinada a cravar uma mudança na legislação do pré-sal
para beneficiar a Chevron americana.
A
gravação divulgada em 26 de novembro revelou uma outra face de
Delcídio. Uma face secreta. Uma face corrupta. Uma face habituada a
se fazer valer pelo seu cargo num país em que todos os outros são
trouxas. Uma face soturna que se reúne com pessoas na calada da noite
para tramar atos inomináveis.
Delcídio
teve a ousadia de se reunir com Bernardo Cerveró, filho de Nestor,
para oferecer seus serviços de senador para livrar o ex-diretor da
Petrobras da cadeia de Moro.
Afirmou
com extrema naturalidade que falaria com os ministros do STF, Teori
Zavascki, Dias Toffoli e Edson Fachin a fim de obter um habeas corpus
para Cerveró. Os escalados para conversar com Gilmar Mendes seriam
Michel Temer e Renan Calheiros. Pelo tom da conversa, isso seria
muito tranquilo, sem problemas.
A
intenção era a de soltar Cerveró para que este fugisse para a
Espanha a bordo de um avião Falcon de propriedade do banqueiro André
Esteves, do banco BTG Pactual.
O
áudio da conversa teria sido gravado por Bernardo Cerveró, que não
o entregou imediatamente ao STF. Alguns dias se passaram até que os
ministros se manifestassem pela prisão de Delcídio e de Esteves.
Aí
sobram algumas indagações ainda sem resposta:
Delcídio,
Temer e Renan conversaram com os ministros?
O
que aconteceu durante esses dias? A ''fita'' ficou na gaveta?
Houve
negociação de algum tipo?
Existem
outros áudios?
O áudio foi editado para suprimir outras falas inconvenientes ou está
no original?
O
que será feito dos senadores Romário e José Serra, também citados
no áudio?
Quem é o japonês bonzinho que faz os vazamentos? Essa é fácil.
Quem é o japonês bonzinho que faz os vazamentos? Essa é fácil.
Após
esse hiato de alguns dias, alguns sites divulgaram que Teori convocou
às pressas todos os ministros para uma reunião. Especulava-se uma
bomba.
E
ela explodiu.
Delcídio
e Esteves foram presos em flagrante. Flagrante que não existiu pois
já se haviam passado mais de 24 horas após a gravação.
Outro
erro foi avalizar a gravação como autêntica sem passar antes pela
perícia.
Consultado
por este blogueiro, Pedro Estevam Serrano, professor de Direito
Constitucional da PUC-SP, afirmou que as prisões foram
inconstitucionais pois flagrante permanente de crime de organização
criminosa e perturbação do processo [da Lava Jato] é forçar muito
a barra.
Além
das considerações de ordem jurídica que apontam para o desrespeito
à Constituição por parte dos ministros do STF que deveriam zelar
pelo seu cumprimento, para nós, leigos, fica a imensa estranheza da
prisão ultra-rápida de um senador enquanto o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha se mantém solto há já um mês.
Causa
estranheza também o fato de André Esteves ter obtido cópia dos
autos para que seus advogados pudessem fazer sua defesa, já que até
o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo em meses passados fez
pedido formal para leitura de processos sem lograr êxito.
Mais
estranheza causa ainda a reação de indignação dos ministros do
STF ao tomarem conhecimento do vazamento, coisa que ocorre
corriqueiramente à mídia quando se trata de algum petista
envolvido.
De
qualquer forma foi ótimo que todo esse imbróglio tenha acontecido e
divulgado.
Sabemos
que Delcídio do Amaral, mas muito provavelmente também outros
congressistas, se valem de conversas secretas em hotéis que podem
estar sendo gravadas ou não, para que se obtenham vantagens.
A
corrupção não descansa. Ela não dorme à noite como nós, simples mortais, e às vezes, para tentar consertar um erro,
cria-se outro.
Delcídio
temia que seu nome fosse delatado por Nestor Cerveró. Acabou metendo
os pés pelas mãos. A emenda foi pior que o soneto.
Sabemos
também que os ministros do Supremo não são incólumes ao jogo
político como querem nos fazer acreditar.
Delcídio
está prestes a bater um recorde no que tange à sua cassação pelo
Conselho de Ética, aquele mesmo que poupará Eduardo Cunha.
Cunha
está até agora livre porque ameaçou carregar mais gente com ele e
provavelmente não está blefando.
Dizem
que antes ou depois da cassação, Delcídio poderá entregar alguns
outros nomes, mas duvido pois o conluio é de grande extensão e
vozes mais altas haverão de calá-lo. Não sairá atirando, não é
Cunha, penso eu.
O
momento de passar o Brasil a limpo deveria ser este, mas perderemos o
bonde da oportunidade pois tanto o juiz Sérgio Moro de Curitiba,
quanto o STF continuarão na sua tarefa hercúlea de punir
seletivamente os corruptos deste país.
E
estejamos certos de que, se Dilma não for derrubada agora e se não
fizer seu sucessor, as quadrilhas voltarão com força total. Todo
mundo que não seja político do PT será solto e todos os processos
serão engavetados.
Se
já não se pode confiar no Supremo Tribunal Federal que deveria ser
o órgão máximo de defesa da Constituição, quem poderá nos
salvar?