quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Lula

Por Luiz Marques


Comentário sobre a biografia recém-lançada por Fernando Moraes do líder político brasileiro

Em um conto de Jorge Luis Borges, O imortal, o autor observa: “Com exceção do homem, todas as criaturas são imortais, pois ignoram a morte. Tudo, dentre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do perigoso. Dentre os imortais, de outro lado, nada é preciosamente precário”. A imortalidade não estaria ao alcance dos seres humanos. Para os solipsistas só o que existe é o eu e suas sensações imediatas. Se o eu morre, o que era sólido desmancha no ar e se mistura ao pó. Adeus imortalidade.

No entanto, existem causas que conferem uma aura transcendental aos indivíduos por expressar uma vontade de emancipação coletiva. A luta contra o patriarcado (sexismo), o colonialismo (racismo) e as desigualdades sociais rompe os grilhões do individualismo. A luta que articula esse conjunto de ideias é o que alça Lula à imortalidade, no panteão da humanidade. Tem sentido filosófico o desabafo: “Eles tentaram matar uma ideia, e ideia não se mata”. Vero.

Fernando Morais tem o carisma da prosa (Olga, Chatô, O Mago), que descreve os fatos enquanto comove os corações. O volume 1 da “primeira biografia de vulto” sobre Lula é de leitura fácil e atraente. Lê-se como um romance, ansiando pelo segundo volume. Gramsci dizia que é impossível escrever a história de um partido, sem ao mesmo tempo escrever a história do país. Parafraseando-o, podemos dizer que se debruçar sobre a personagem encarnada por Lula é redescobrir a história do Brasil nas últimas cinco décadas. Fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Lula se singularizou como um “intelectual (não-convencional) orgânico” das classes laboriosas. Construiu uma “nova visão” teórico-organizativa sobre as relações do capital e do trabalho, com uma excepcional e apurada “intuição programática”, na acepção gramsciana .

A obra começa com a narrativa sobre a injusta prisão do líder popular. Menciona a vergonhosa sentença condenatória de Sérgio Moro, com mais de duzentas páginas e sem uma mísera prova contra Lula no affaire do Triplex, o conluio com a força tarefa da Lava Jato chefiada por Deltan Dallagnol e o tempo recorde da confirmação da penalidade pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4), sediado em Porto Alegre. O calhamaço fazia crer uma coleção de “provas robustas”. A mise-en-scène provinciana maculou o Judiciário e o Ministério Público (MP). As revelações da Vaza Jato, sim, reuniram um cabedal de provas contrárias a urdidura que sequestrou a soberania do eleitorado nas eleições de 2018. Para fechar a encenação sórdida, o ex-juiz integrou o ministério de Jair Bolsonaro. Que a figura repulsiva, julgada incompetente e suspeita pelo Superior Tribunal Federal (STF), tenha o desplante de candidatar-se agora afronta a decência mínima.

Na sequência, a obra mostra a semelhança das estratégias eleitorais ancoradas em fake news, distribuídas a milhões de incautos em segmentos sociais específicos. A regra era não ter escrúpulos em espalhar mentiras. A intenção não era divulgar um programa, mas manipular o medo dos setores conservadores frente aos vetores civilizatórios da modernidade: respeito às diferenças e aos direitos das mulheres, dos negros e negras, dos grupos LGBTQIA+, dos povos originários e da biodiversidade. Fica-se conhecendo o papel do marqueteiro, Steve Bannon, na campanha de Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil. Bannon “dirigia o site Breitbart News de extrema-direita financiado e difundido por supremacistas brancos, neonazistas, antissemitas, nacionalistas radicais” (p. 132).

Quando o ex-presidente saiu do cárcere injusto, foi até à Vigília instalada defronte o prédio da Polícia Federal, em Curitiba. “Todo santo dia vocês eram o alimento da democracia que eu precisava para resistir à safadeza e à canalhice que o lado podre do Estado brasileiro fez comigo e com a sociedade brasileira”. Para não dizer que não falou do amor, emendou: “Quero lhes apresentar minha futura companheira. Vocês sabem, consegui a proeza de – preso – arrumar uma namorada e ainda ela aceitar casar comigo”. Aos apelos “beija, beija”, retrucou com “um beijo cinematográfico em Janja” (p. 165).

Morais não segue a ordem cronológica dos eventos, uma opção literária que conferiu dinâmica para acontecimentos, sob vários aspectos, já conhecidos. Ao recordar a primeira prisão de Lula, quando encabeçava massivas greves (1978-79-80) no centro industrial mais avançado do país, o ABC paulista, pinça um episódio que mostra a maturidade do dirigente sindical em uma região conflagrada, que fazia assembleias com cem mil participantes. Lula e membros da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, durante os movimentos paredistas, eram seguidos de forma ostensiva por agentes a mando do comandante do II Exército/SP. “Um dia apareceram uns companheiros propondo um grupo de quarenta peões. Eles pegariam um balde de gasolina, viriam por trás da viatura, despejariam o combustível sobre ela e meteriam fogo, com os tiras dentro. Eu achei que era uma loucura e não deixei fazerem isso” (p. 169). Uma forte eletricidade pairava na conjuntura.

O movimento recebeu auxílio do exterior. “No auge da greve, dois jovens interioranos, um baixinho paranaense e um gaúcho, metalúrgicos ligados à Pastoral Operária, faziam um giro pela Europa, destacados pela Igreja para participarem de cursos e estágios em sindicatos e organizações sociais. O objetivo era aprender como consolidar as comissões de fábrica, uma extensão do sindicato dentro do local de trabalho. Em Paris, foram incumbidos de uma tarefa política. Entregar à Diocese de Santo André um envelope pardo e razoavelmente gordo, com dólares (cerca de R$ 340 mil em 2021) doados pela Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT).

O dinheiro chegou intacto às mãos de d. Cláudio Hummes (hoje um dos principais assessores do Papa Francisco). A inesperada contribuição era tão generosa que o bispo chamou Lula à matriz para receber pessoalmente a valiosa ajuda. Trêmulos ao ver o ídolo de perto, nenhum poderia imaginar que seria ministro daquele barbudo descabelado. D. Cláudio anunciou: Lula, este garoto é o Miguel Rossetto, de São Leopoldo, e o colega dele é o Gilberto Carvalho, de Londrina” (p. 178). Igrejas de diversos países e inclusive dos EUA recolhiam os donativos.

Tendo um irmão, Frei Chico, que pertencia ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), e fora torturado nos porões do Doi-Codi, Lula sentiu um temor no momento em que foi feito prisioneiro, cercado por policiais armados. Barrington Moore, em Moral purity and persecution in history (Princeton), comparou os modos de perseguição – incluindo os que levavam à tortura e à morte – por motivos religiosos, políticos ou econômicos daqueles que eram considerados uma fonte ameaçadora de impureza ou poluição, a partir do Antigo Testamento, guerras de religião em França na segunda metade do século XVI, Revolução Francesa, impuros na Índia. A perseguição foi a norma sob as truculentas ditaduras militares na América Latina, no período. Todos tinham ciência das covardias cometidas. O temor decorria da intolerância e brutalidade do regime de caserna.

O cardeal d. Paulo Evaristo Arns, acusado de instigar a célebre greve, propôs três pontos para resolver o conflito: (a) reabertura do estádio de Vila Euclides; (b) libertação dos presos e; (c) um encontro entre representantes dos trabalhadores e dos empresários. “O que queremos é um diálogo com dignidade, para que os operários voltem com alegria e não humilhados sobre as máquinas tão duras” (p. 189-90). O arauto religioso, que abrigou o levantamento sobre as sevícias oficiais aos opositores, em Brasil: Nunca Mais (Vozes), estimulado pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Arquidiocese de São Paulo, ao sublinhar a relevância da dignidade exprimia a dimensão moral da saga dos oprimidos.

As pesquisas de E. P. Thompson, “A história vista de baixo”, em As peculiaridades dos ingleses e outros artigos (Unicamp), e de Jessé Souza, em Como o racismo criou o Brasil (Estação Brasil), revelam que “o sentimento cotidiano de ausência de dignidade e a sensação de não ser tratado como ‘gente’ têm um papel central na compreensão da experiência subjetiva da humilhação social entre os marginalizados e excluídos”. Por esta via, aqueles são interpeláveis nos hemisférios Norte e Sul.

Morais aborda a infância de Lula repleta de enormes dificuldades materiais. Proveniente de uma família desestruturada, em que o pai mantinha uma relação de “crueldade com os filhos”, teve na mãe dona Lindu a constituinte ética na formação dos valores morais do futuro mandatário da República. “Eu sei o que é morar no fundo de um bar, tendo que usar banheiro em que um bêbado tinha acabado de vomitar na pia, cagar num pedaço de jornal. Era aquele banheiro que a gente utilizava… No quarto dormiam minha mãe, duas irmãs e eu, que era o caçulinha e podia dormir junto com as mulheres. Na cozinha, em caminhas de abrir, dormiam sete ou oito” (p. 210). Triste vida de retirante.

Dona Lindu esbanjava empatia. “Se alguém batesse palmas no portão pedindo comida, ela convidava a pessoa, por mais maltrapilha que estivesse, a entrar em casa, sentar-se à mesa e comer com os demais. Sentar significava acomodar-se num caixote ou banquinho” (p. 211). Coisas do tipo forneceram lições de solidariedade ao menino que crescia na pobreza. As precárias condições levaram a que mudassem de endereço.

Os ganhos dos Silva iam para um caixa comum, controlado pela matriarca. “Muitos anos depois, Lula diria – candidamente – que o Orçamento adotado no seu governo para tentar diminuir as iniquidades sociais não viera de nenhum compêndio de pós-doutores ou PhDs em Economia, mas da forma como sua mãe (que nunca soube ler ou escrever) administrava a receita e as despesas de uma família pobre. Os reembolsos não eram proporcionais à contribuição, mas às necessidade de cada um”. Traduziam em essência o lema socialista: “De cada um segundo sua capacidade, a cada qual segundo as suas necessidades” (p. 228). Inteligente é quem sabe aprender com a experiência.

As tentações à honestidade – uma prosaica maçã. “Uma vez por semana, no caminho entre a escola e a casa, ele passava em frente a barraca de um feirante que vendia maçãs argentinas – embaladas uma a uma em papel de seda azulado, onde se podia ler, impressa, a origem da fruta (o Brasil só se tornaria produtor dez anos depois). Lula sabia que bastava esticar a mão para pegar uma sem que o dono visse. O risco era que fosse obrigado a devolver a fruta. Mas na hora do bote o espectro de dona Lindu baixava em sua consciência e ele desistia” (p. 214). Nas vezes em que o tio Odorico pedia-lhe para tomar conta do balcão do bar, Lula tinha comichões diante do pote cheio de chicletes Ping-Pong. “O estoicismo que impedia o adolescente de surrupiar um, apenas um chiclete, não era por receio de ser flagrado, era pela vergonha de um dia a mãe saber que ele houvesse se apropriado de algo que não lhe pertencia” (idem). A genitora assumira a função de superego.

Entende-se que, com extração social nas classes subalternizadas, reputasse a aprovação no teste para o Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai), instituição mantida por uma fatia de 2,5% das folhas de pagamento das indústrias para trabalhadores técnicos como o paraíso. “O Senai foi a melhor coisa que aconteceu. Eu fui o primeiro filho da minha mãe a ganhar mais que o salário mínimo, o primeiro a ter uma casa, o primeiro a ter um carro, o primeiro a ter uma televisão, o primeiro a ter uma geladeira. Tudo por conta dessa profissão. Acho que foi a primeira vez que eu tive contato com a cidadania”. Mais tarde, no Palácio do Planalto, interpretaria: “Nós não éramos simples torneiros mecânicos. Éramos artistas que transformavam um pedaço de ferro em obra de arte” (p. 217).

Lula então não tinha muita informação sobre o que sucedia no continente latino-americano. No jornal Diário da Noite escavava notícias sobre o Corinthians. “Sua alienação podia ser medida pelo fato de, mesmo apoiando os militares, alimentar silenciosa admiração pelos nomes dos ex-governadores Leonel Brizola e Miguel Arraes, inimigos jurados do novo regime, que despachara ambos para o exílio” (p. 225). A consciência de classe surgiria com a participação ativa nas lutas e greves do operariado brasileiro.

A época era de aparente cisão nas Forças Armadas entre as linhas branda de Ernesto Geisel e, dura, de Sílvio Frota e Ednardo D’Ávila Melo. Com a repressão fora de controle foram assassinados o metalúrgico Manuel Fiel Filhao e o jornalista Vladimir Herzog. Posteriormente, documentos mostraram não haver diferença de natureza entre as alas “moderada” e a “tigrada” ultradireitista, como se supôs nos anos de chumbo. De forma gradativa e definitiva, o economicismo cedia à dialética do classismo.

No sindicato, Lula bancou as mobilizações pela reposição de 34,1%. Os dados sobre a inflação tinham sido manipulados, graças a uma artimanha sob a batuta do ministro da Fazenda, Delfim Neto. O prejuízo precisava ser reparado. “Não vamos entrar com processo (jurídico). Vamos recuperar as perdas ao longo do tempo, com campanhas salariais” (p. 270). Se a batalha foi perdida, a organização sindical amplificou-se em empresas como a Volks, a Scania, a Ford. Despontava o “novo sindicalismo”, dito “autêntico”. O 1° de Maio comemorado com quermesses e atividades recreativas passou a ser preparado com um mês de antecedência, “com sessões de cinema e peças de teatro, tudo seguido de debates e discussões sobre a temática exibida” (p. 294). Ideias afloravam.

Os ganhos não eram computados apenas com a régua dos reajustes econômicos. Interessava o saldo político-organizacional. “Fomos ganhando força, conquistando liberdade de atuação dentro das empresas. Daquele jeito, em um ano estaríamos controlando as fábricas. ‘Lugar de diretor não é no sindicato, mas na fábrica’, virou um refrão. Desde as greves de 1968 em Contagem/MG e em Osasco/SP, esta liderada pelo jovem metalúrgico de vinte anos José Ibrahim, ligado à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), ocasião em que quatrocentos trabalhadores foram presos, não se viam agitações tamanhas nas portas de fábricas” (p. 311). O Sudeste desenvolvido se convertia num barril de pólvora.

Sintomaticamente, o capítulo 13 tem como chamada: “Após passar anos excomungando a classe política, Lula começa a preparar o caminho para criar o PT”. O cap. 14 se ocupa da abertura política e dos estertores da ditadura. O cap. 15 da fundação do PT. Para uns, Sérgio Buarque de Holanda foi o primeiro intelectual a se colocar favoravelmente à iniciativa petista. Para Morais, contudo, “o número um do mundo acadêmico a aderir ao partido do Lula foi o crítico de arte (e trotskista) Mário Pedrosa” (p. 348). A ficha um do PT foi assinada por um revolucionário histórico, o velho Apolônio de Carvalho, herói da Resistência Francesa e das Brigadas Internacionalistas que lutaram contra o fascismo na Guerra Civil Espanhola. Homenagem merecida à práxis política, em qualquer quadrante.

O derradeiro cap. 17 remete à injeção de ânimo que Fidel deu em Lula depois da sua derrota nas eleições para governador de São Paulo, em 1982. Lula obteve 1, 2 milhão de votos, uma proeza. Um apêndice sobre “o comportamento dos grandes veículos de comunicação na guerra contra Lula e seu partido” é anexado ao final. É um privilégio ser contemporâneo de um expoente público tão singular da história nacional e internacional, que caminha a passos largos para governar pela terceira vez o Brasil. Valeu, Fernando.


Luiz Marques é professor de ciência política na UFRGS. Foi secretário estadual de cultura do Rio Grande do Sul no governo Olívio Dutra.



 


quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Este planeta azul

Por Fernando Castilho


Em setembro de 1977, a Agência Espacial norte-americana, NASA, lançou uma espaçonave não tripulada chamada Voyager 1, irmã da Voyager 2, com a missão de estudar o Sistema Solar exterior e, caso tudo desse certo, numa ousadia sem precedentes, deixar nosso sistema e se lançar ao espaço desconhecido. Embora desprovida da tecnologia digital atual, a Voyager 1 foi a primeira sonda espacial a fornecer imagens detalhadas de Júpiter, Saturno e suas principais luas.

Os cientistas inicialmente esperavam somente que a Voyager 1 alcançasse Saturno, mas Carl Sagan, uma das mentes mais brilhantes de nosso planeta, sugeriu que a nave voltasse suas câmeras para a distante Terra e a fotografasse, num lance de ousadia que deixou os astrônomos da NASA surpresos e, ao mesmo tempo, curiosos.

Logicamente, tanto os cientistas quanto Carl Sagan sabiam que o tamanho com o qual a Terra apareceria na foto seria praticamente insignificante, mas mesmo assim, prosseguiram no feito, pois nós humanos poderíamos ter uma ideia das dimensões dos planetas e de nossa pequenez diante do nosso sistema solar.

Havia o risco de que, ao assestar suas câmeras para trás, todo o sistema da nave fosse comprometido, por isso a decisão demorou a ser tomada.

Mas somos humanos e nossa curiosidade vence nossa prudência muitas vezes, por isso, a autorização foi dada e pudemos ver, enfim, uma das grandes obras da humanidade e de Carl Sagan que batizou a foto de Pálido Ponto Azul.

Quando olhamos para aquele pequeníssimo pixel solto no espaço negro não conseguimos enxergar que dentro dele cabem impérios que cometeram inúmeros genocídios, duas guerras mundiais que mataram milhões de pessoas, duas bombas atômicas que destruíram duas cidades, a luta incessante pelo poder, milhões de pessoas morrendo de fome, a desigualdade social, a discriminação entre os seres humanos, uma imensa floresta sendo desmatada, o clima sendo alterado pela ação de uma espécie...

Nesse pontinho azulado cabem também uma flora e uma fauna exuberantes com toda sua diversidade, culturas ricas de povos diferentes, invenções humanas como a matemática e a poesia, a arte em todas as suas formas, o amor, a paixão, a curiosidade que impulsiona uma espécie para sua evolução e a Ciência.

Sem perspectivas imediatas para prosseguir na construção da saga humana em outro planeta que não seja o nosso, esse pequenino pálido ponto azul é nossa morada e dele devemos cuidar. Essa é a responsabilidade que a evolução nos delegou.



                                                                                                                                          



                                                                                                                                           








Caserna volver!

Por Fernando Castilho


A aventura das Forças Armadas que deu o golpe militar em 1964 com o pretexto de combater o comunismo que nunca havia ameaçado a nação, durou 21 anos.

Embora durante aquele período o bolo tenha crescido, nunca foi dividido como fora prometido. Mas a parte deles eles souberam como levar.

Após a crise do petróleo de 1973 os militares se viram diante de um problema insolúvel. A situação econômica iria se agravar, a insatisfação popular crescia cada vez mais e previa-se mais à frente um confronto de proporções muito perigosas.

Foi por isso que Geisel propôs a abertura lenta e gradual para tentar distender essas tensões.

Como a situação econômica piorava cada vez mais e a inflação saiu do controle o poder foi entregue a um civil, Tancredo Neves, que morreu um mês depois, vindo a assumir a presidência um deputado alinhado de primeira hora do regime militar, José Sarney.

Passados 33 anos os militares ao perceberem que o país estava em boa situação econômica, que havia grandes reservas e que o fantasma da dívida para com o FMI ficou para trás, decidiram que estava na hora de um novo butim.

E a oportunidade que se descortinava era das melhores, afinal, um capitão do exército assumiria a presidência e poderia ser facilmente tutelado pelos generais que o viam com desprezo.

A segurança que os militares tinham para comer o bolo antes de crescer mais ainda vinha de Paulo Guedes, o posto Ipiranga que conduziria as reformas para extrair do povo brasileiro o dinheiro que fazia cócegas em suas mãos. Guedes falava em economizar um trilhão de reais em 10 anos, algo muito tentador.

Mas veio o coronavírus e assoprou para longe esse sonho.

O dinheiro com o qual Guedes sonhava está sendo utilizado para o socorro às pessoas e às empresas.

O general Braga Neto, percebendo no que a coisa iria dar resolveu anunciar uma espécie de PAC na contramão do neoliberalismo. A tendência é mais estatizante.

Nos próximos dias Paulo Guedes, o posto Ipiranga com seus tanques esvaziados, pedirá demissão em mais uma crise do governo Bolsonaro. Está insustentável para ele.

Se havia dois pilares a sustentar esse governo, Moro e Guedes, Bolsonaro fica sem apoio. 

Nas análises de conjuntura feitas pelos comandos militares, principalmente da Aeronáutica, após a saída tumultuada de Moro e do fracasso da política econômica de Guedes, é hora de pegar o capacete e sair de mansinho. A nova crise do petróleo é o coronavírus, algo não imaginável quando os milicos se assanharam a sair da caserna.

O problema é que há cerca de 2500 militares ocupando cargos no governo e estes ainda se apegam com todas as forças à mamata.

Mas não se descarta de maneira nenhuma o chamado à razão e a ordem de Caserna volver!




terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Uma menina

Por Virgílio Almansur


DILMA resistiu estoicamente. Sofreu muito! Pense numa menina aos 23 anos. Pense em suas filhas chegando a essa idade e submetida à barbárie! Pense no algoz, naquele assassino homenageado em 17/04/16 por ninguém menos que um vagabundo de estribeira, do baixíssimo clero, aclamado como mito, nada mais que um palmito... Pense em suas meninas, em suas namoradinhas... Pense numa sobrinha; pense numa neta. Pense tão somente na garota que você amou ou ama. Pense na filha do vizinho que você viu nascer, na prima distante que você vê nos albuns de família. Pense na gata da praia que você olha até ela desaparecer e voltar deixando-o atônito pela curvilínea expressão de um corpo a atrair os deuses da beleza enquanto você boquiaberto perde o senso da razão e exprime aquele “meu deusxxx!!!” Pense! Pense em todas as meninas... Pense na menina frentista balouçando seus seios enquanto limpa seu vidro dianteiro. Pense! Pense ainda nessa menina que você imagina pura, desinibida, galhofeira, alegre, festiva e colega, colega de sua filha ou sobrinha, sobrinha de sua melhor amiga, neta de seu grande companheiro... Pense!!! Não deixe de pensar na mais incrível emoção em ver uma menina desabrochando para a vida, conquistando a universidade, fazendo seus estágios, começando a trabalhar e contando novas a cada dia de suas conquistas. Pense na aventura que essa menina terá pela frente, nas histórias que comporá e nas promessas que cumprirá ou não... Pense na menina... Pense agora que essa menina terá o Estado contra ela; ela que imaginou resistir em entregar esse mesmo Estado à mãos criminosas, estúpidos plantonistas que se sentem ainda hoje donos desse pedaço alviverde. Pense nessa menina sendo surrada, espancada, chutada e seviciada. É a sua filha, lembra? Sua sobrinha! Sua vizinha que você viu nascer. A netinha de sua melhor amiga... Sua namoradinha desde os 14 e que agora conta com 23 anos e o presidente de seu país, a tal pátria amada, quer lhe dar algumas lições. Pense na sua menina sendo açoitada; pense agora que essa menina resiste, pouco chora mesmo apanhando. Pense! Pense na sua capacidade de resistir, mesmo solitária, numa solitária, sendo coberta por fezes e urina. Pense agora, que o terror, aclamado e venerado, será parte das brincadeiras de um monstro representante das chamadas forças armadas; um herói! Aquele coronel venerado pelo inominável e seu vice burlesco, homenageado como um herói brilhante; um ustra... Este convidará expectadores, voyeurs quase profissionais para um espetáculo que irá se repetir por dias, meses e anos... Pense na menina exposta, amarrada pelos pés num batente... Pense agora naquela gata de outrora rindo mas sob abuso, acuada, tendo suas partes íntimas exploradas por um cacetete emborrachado. Pense! Tapas e mais tapas nas orelhas... Sim! Você ouviu e viu... Tapas e mordidas... Mordidas de um, dois, três... A satisfação é garantida. E há quem pague, vindo correndo de uma das avenidas mais famosas do Brasil varonil... O coronel é banbanban... Laureado como herói do inglório exército cumprirá com o que seu aluno esperou com muita certeza ao tê-lo invocado. Pense na menina sendo penetrada inúmeras vezes; primeiro frontalmente promovendo dor e depois sob aviso de empalamento e o sangue jorrando pelas costas com muito mais dor. Pense naquela garota. Pense na menina graciosa sob espancamento, com as pernas abertas e sua intimidade não só exposta mas quase dilacerada. Pense! Observe que há eletrodos em seus grandes lábios já arroxeados quase necrosados. Sim!!! É isso mesmo! Você está vendo um coronel do exército brasileiro praticando seu esporte preferido: subjugar aquela menina de suas lembranças para que ela confesse o inconfessável ou o já sabido. Um dia ele confessará: “...Era preciso! Era necessário!”. Pense então que a sua namoradinha de antanho agora não reagirá mais com naturalidade. Ela requererá uma atenção especial por muito tempo, eis que mutilada na carne e no espírito. A sua menina está com escoriações. Um caminhão a atropelou. As maçãs do rosto estão esmagadas e a mandíbula não mais se encaixa... Pense na garotinha que você gerou, viu nascer, cuidou, criou, ensinou e agora balança num pau-de-arara e recebe palmadas. Está como um franguinho pronto pra ser assado. Pense naquelas lindas mãos que o afagava. Já estão sem unhas, extraídas com um alicate. O coronel, o terror da menina, ainda usa um alfinete: aplica-o sob o que resta da faixa ungueal para prender a carne exposta. A menina grita e recebe um safanão. Aquela menina novinha está irreconhecível, quase cadavérica. Pense na gata que você babava quando via... Pense! Pense nessa menina levando choques e mais choques e depois jogada às jaulas fétidas com companheiras já trucidadas. Continue pensando! Você, nós, lamentavelmente, contribuímos para o escarnecimento, para que essa gentalha voltasse. Foram se insinuando, deram pitacos irresponsáveis, ousaram desafiar a própria instituição, vestiram-se de maçons ilibados e contribuíram para um massacre durante dois anos pandêmicos. Ficamos calados! Nós sabíamos quem eram!!! O “terror de Dilma” foi bem recebido, não foi repudiado; todo congresso admitiu... Nenhuma sanção, nenhuma representação, nada de ética... Fomos e continuamos covardes!


Meu comentário: uma menina que jamais iria para o BBB

Existe racismo reverso?

Por Lia Vainer Schucman

 

Essa semana alguns veículos de noticias me procuraram para perguntar sobre o BBB21 e o tal de “racismo reverso”. Eu havia jurado não comentar sobre o BBB21, mas como acredito que a produção acadêmica deve estar no debate público, aqui estou eu para tentar responder um pouco o porquê não existe racismo reverso contra branco no Brasil contemporâneo.

Vou partir daqui do exemplo que me perguntaram, se uma pessoa negra trata mal uma pessoa branca apenas por ela ser branca isso não é racismo? Não, isso não é racismo pode até ser preconceito e discriminação! Ops, mais qual a diferença Lia? Preconceito e discriminação estão sempre ligados às relações entre indivíduos, já o racismo à estrutura social de dominação.

E Racismo, Lia o que é? Racismo pode ser pensado como uma dominação baseada em uma doutrina que acredita que há uma raça superior e a partir desta doutrina há uma política em que pessoas desta raça têm privilégios e acessos no poder econômico, político, jurídico, ou seja, na estrutura social. Em geral para que haja racismo contra um grupo é preciso que haja uma história de longa duração de dominação de um grupo contra o outro, baseado na ideia de raças superiores e raças inferiores.

Quer dizer então que branco nunca pode sofrer racismo? Pode. Para que um branco possa sofrer racismo é preciso que historicamente os brancos sejam considerados inferiores aos negros, ou indígenas ou asiáticos ou qualquer outro grupo humano que se disser superior e a partir daí escravizar, matar, dominar, discriminar e diferenciar fazendo que todos os brancos ocupem lugares de subalternidade na estrutura social. Isso já aconteceu na humanidade? Não. E porque não? Porque até agora, na história da humanidade quem usou o poder da ciência para inventar a ideia de superioridade racial foram os brancos.

Ou seja, existiu em nossa história um momento em que brancos tornaram os africanos e os indígenas em mercadorias, venderam, escravizaram, coisificaram, criminalizaram, subjugaram, classificaram, nomearam, mataram, fetichizaram, roubaram terras em nome da raça superior. Essa é a nossa história e o resultado disso é o que temos agora. Nunca houve na história da humanidade um grupo que fez algo próximo a isto com pessoas classificadas como brancas.

Preconceito e discriminação são componentes individuais que funcionam para legitimar o racismo, mas não são o racismo. Assim pessoas de qualquer grupo social podem discriminar, ter preconceito, ser escrota, humilhar e etc. qualquer pessoa de outro grupo. Infelizmente isso é possível de ser feito por qualquer ser humano. Mas racismo, hoje, no Brasil contemporâneo só existe contra negros e indígenas.

Racismo então é só contra negros e indígenas Lia? Não, judeus, por exemplo, foram racializados (naquela época judeus não eram classificados como brancos), assassinados e mortos na segunda guerra por serem judeus. Se durante o nazismo um judeu chamasse um alemão de escroto e o humilhasse isso seria o que? Racismo? O alemão iria para câmera de gás? Teria um país inteiro preparado para mata-lo? Não.

Assim como hoje no Brasil uma pessoa negra xingando uma pessoa branca por ela ser branca não caracteriza racismo, caracteriza apenas um xingamento. Não move as estruturas. Já um xingamento contra um negro, remete a todo o processo histórico descrito anteriormente. Ou seja, racismo pode acontecer contra qualquer grupo que passar por um processo de racialização e a partir daí ser subjugado a outro grupo. Isso vai depender da história social.

Resumindo: racismo é uma forma de legitimar as estruturas sociais de poder. Se um grupo não tem poder na estrutura o sujeito deste grupo não consegue praticar racismo. Portanto, no Brasil de hoje onde os negros são os que ocupam os piores índices sociais. NÃO HÁ RACISMO REVERSO".

Lia Vainer Schucman é doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (2012) com estagio de Doutoramento no Centro de Novos Estudos Raciais na Universidade da Califórnia, Santa Barbara. Em 2014 publicou o livro Entre o Encardido o Branco e o Branquissimo: Branquitude Hierarquia e Poder na Cidade de São Paulo, fruto de sua tese.

Realizou sua pesquisa de pós-doutoramento pela USP/FAPESP e como resultado irá lançar em 2018 seu novo livro: Familias Interraciais: Tensões entre cor e amor (EDUFBA).

 




Apenas uma desconfiança, quiçá uma hipótese

Por Fernando Castilho


Quando escrevi meu livro Um Humano Num Pálido Ponto Azul, no capítulo Homo Extinctus que trata da extinção não só do ser humano, mas também dos outros seres vivos, pensei em incluir esta desconfiança, mas como não consegui nenhum material que pudesse embasá-la, decidi omiti-la.

Desde os tempos de Homo Erectus e mais tarde de Homo Sapiens a humanidade tem se deparado com bactérias e vírus. Isso sempre foi comum.

Dois milhões de anos tornaram os seres humanos aos poucos resistentes à maioria dessas bactérias e vírus. Porém, esses últimos também foram evoluindo no tempo e se tornando cada vez mais agressivos porque precisavam romper a barreira formada pelo nosso sistema imunológico.

Assim é que, por exemplo, na Idade Média os europeus não conseguiram que seus anticorpos tivessem a força necessária para resistir à peste negra causada pela bactéria Yersinia pestis que dizimou quase 200 milhões de pessoas.

A descoberta da penicilina em 1928 veio dar uma mão para nossos anticorpos para que pudéssemos combater as várias bactérias perigosas que vinham surgindo e matando pessoas. 

Tivemos em nossa história inúmeros surtos de bactérias como a malária e de vírus como a varíola e a gripe espanhola (Influenza ou H1N1),que dizimou mais de 50 milhões de pessoas em 1918 e 1919.

Esses ataques aos seres humanos parece que vêm cada vez mais aumentando e se tornando frequentes.

Os antibióticos estão cada vez mais fortes e já há bactérias resistentes à maioria deles.

E temos agora a Covid-19.

Foi preciso grandes esforços para se criar vacinas em tempo recorde para que as pessoas pudessem se imunizar. Mas há uma corrida contra o tempo que parece que temos tudo para perder.

Se 90% da população mundial se imunizasse antes que novas variantes surgissem, teríamos uma chace de praticamente erradicar esse vírus, mas grandes contingentes de seres humanos resistem a se vacinar. Além disso, embora o secretário-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) venha há tempos alertando para a necessidade do fornecimento de vacinas aos países mais pobres isso não está acontecendo. Resultado: o vírus se mantém principalmente na África. Como resultado há uma nova variante surgida naquele continente que potencialmente pode ser resistente às vacinas conhecidas.

Mas isso todo mundo está sabendo. Não é novidade.

Se isso estiver realmente acontecendo passaremos a tomar anualmente não duas ou três vacinas, mas muito mais. E teremos que desenvolver antibióticos cada vez mais potentes cujos efeitos colaterais poderão ser danosos. Até que um dia percamos a luta.

Posso considerar uma hipótese que, a meu juízo precisa ser testada.

Como escrevi no primeiro parágrafo, não encontrei literatura que tocasse nesse assunto, portanto, se alguém conhecer gostaria muito que me indicasse. 

Caso essa hipótese se confirme, nossa extinção pode estar mais próxima do que imaginamos.




Big Brother Brasil

Por Caetano de Holanda


A Rede Globo todo ano apresenta o seu grande espetáculo para tolos: o "Big Brother Brasil". É claro que isso é batido, todo ano se fala sobre. Mas, em 20 anos de existência desse lixo, parece que as pessoas pioraram e sucumbiram ainda mais. "Ain, eu quero mesmo um pouco de alienação" ou "É possível ler Dostoiévski e assistir Big Brother", além de inúmeras outras frases para justificar o direito ao consumo dessa tolice sem fim. Mas, é preciso dizer: Não é possível ler Dostoiévski, ser tocado profundamente por sua sensibilidade aguda e se contentar com a mediocridade imposta por um programa de natureza imbecilizante como Big Brother. Não é possível ler e compreender Marx e aceitar tal "alienação" como natural. Assim como é impossível apreciar Beethoven e sertanejo universitário; apreciar Bergman e filmes toscos da Netflix. Isso é relativizar a Arte. Afinal, nem tudo é Arte, é preciso saber disso. Mas aceitar de bom grado ser absorvido por um programa como o Big Brother, um experimento psicossocial cuja finalidade é a venda massiva de mercadorias e de formas de vidas calcadas no individualismo consumista e na guerra de todos contra todos da selva capitalista, é algo muito sério que traz consequências terríveis para o conjunto da sociedade. Não se pode naturalizar os efeitos da ideologia no imaginário coletivo e na vida real das pessoas. É preciso se colocar contra, apontar as implicações destrutivas que engendra na sociabilidade. O Big Brother fomenta o fascismo de cada dia nas pessoas, despertando sentimentos de ódio, indiferença e desprezo em relação ao outro. Cria movimentos de caça e desmoralização. O "paredão" é uma metáfora clara. Quem não se enquadra, deve ser eliminado, não pode viver entre nós. Somente o "super-homem", o "seleto", aquele que tem "vontade de poder" é capaz de vencer e existir. Isso não é algo "inocente", é um processo desumanizador característico do capitalismo. Ninguém se reconhece como ser humano, muito menos os que acompanham e votam para eliminar alguém, com o sentimento primitivo de "fulano tem que morrer mesmo". Isso, com certeza passa pela cabeça de muitos. Algo que depois é transposto e reproduzido nas formas de relações sociais reais. Quem aceita participar e, pior ainda, naturaliza isso como se fosse um "entretenimento inocente", já foi absorvido e abriu mão definitivamente da crítica e da vontade de viver. Entregou os pontos. Bebeu da água da ignorância e gostou, se sentiu bem, anestesiado, "feliz", transformou-se em morto-vivo. Morreu em vida. Como constatou Guy Debord em sua obra "A sociedade do espetáculo", cada vez mais atual e permanente:

"A alienação do espectador em favor do objeto contemplado (o que resulta de sua própria atividade inconsciente) se expressa assim: quanto mais ele comtempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo".

Ou seja, quem se apresenta de forma voluntária para participar desse show de horrores, não tem moral para criticar absolutamente nada acerca da tragédia que vivemos. Está dançando com tolos, com bolsonaristas, com exploradores, assassinos e especuladores. Não pode abrir a boca para falar sobre racismo, miséria, fome, nada. Quem assiste e naturaliza, merece o mais profundo desprezo, pois, já não faz parte da luta pela libertação da humanidade.



 


segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Contra o mal sagaz – Emicida e Machado de Assis

Por Fabrício Cesar de Oliveira

O “racismo reverso” de Antônio Risério e da Folha de São Paulo

“Reconheça a sério que o mal foi sagaz”, é assim que, machadianamente, o rapper paulistano Emicida solta um verso crucial no meio da bela e aérea melodia da música “Paisagem” – do disco Amarelo (2019). Os arpejos da guitarra elétrica, ao longo de toda canção, não disfarçam a denúncia à apatia social frente ao racismo estrutural – nosso mal mais sagaz. Como ignorar tais críticas nos versos: “agora quantas árvores condecoram nossos raptores/nos arredores tudo já pertence aos roedores//é louco como adianta pouco, mas ore, talvez piore//não se iluda, pois nada muda//em um silêncio que nos permite ouvir as nuvens cruzar o céu// ver que os monstros aqui têm origem// Dizem os jornais, calma rapaz, tudo está em paz”?

Toda essa habilidade linguística e artística é típica ao rapper que ganhou notoriedade nas batalhas de rima nas periferias e centros do país, neste início de século XXI. Típica também da ironia fina e secular do Bruxo do Cosme Velho, o negro escritor, em pleno século XIX, Machado de Assis faz uso de sua “Estratégia de Caramujo” na arte da literatura para mostrar os podres da burguesia aristocrata de seu tempo. Foi assim que sobreviveu e virou gênio em uma sociedade marcada por diferenças estruturais – vide o conto “Pai contra mãe”, em que as inúmeras violências simbólicas e físicas recaem sobre uma mulher negra e escrava.

Não é exceção, é norma tanto em Machado de Assis quanto em Emicida a denúncia ao mal sagaz que nos estrutura. Não é a primeira e nem será a última vez que Emicida  – irônico – usará de versos críticos em contraste com uma melodia leve para destilar sua verve contra o sistema, nota-se isso na harmoniosa canção “Passarinhos”, em dueto com Vanessa da Mata, 2015. Lá, embora a canção faça os pássaros “voarem dispostos”, a letra não deixa brechas, pois vai insidiosamente denunciar o agronegócio, a depressão, o uso abusivo de agrotóxicos, a crise hídrica, a sociedade do desempenho, o capitaloceno – a próxima extinção em massa no planeta. Já ouviram e leram os versos: “E dá-lhe antidepressivo// em colapso o mundo vira// a babilônia é cinza e neon// cidades são aldeias mortas/ desafio non sense/ competição em vão que ninguém vence// quando pessoas viram coisas, cabeças viram degraus // água em escassez, bem na nossa vez// assim resta nem as baratas//escolha qual veneno te mata”?

Diante desses versos, o que vejo é a realidade óbvia declarada por uma camada de arte – um espelho de Perseu para enfrentar a monstruosa realidade, um jeito humano de não se desumanizar e ou petrificar. Assim é Emicida, assim fora Machado de Assis na mídia de sua época – ocupando a literatura e os jornais. Sem exceção, ambos lidam com a norma da denúncia. Só não vê quem não quer, ou quem já não ouve, mesmo tendo suas plenas capacidades ópticas, auditivas e reflexivas. Pior ainda é quando isso parte de alguém com respeitado lugar de fala em nossa sociedade: pois, não dá para tratar exceções como regra, anedotas como ciência, casos isolados como norma. Porém, tristemente, essa foi a atitude do antropólogo baiano Antônio Risério, em artigo de opinião, publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 15 de janeiro de 2022, intitulado “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo”.

Antônio Risério faz parte, neste artigo na Folha, do mal sagaz. Para mim, o artigo pode ser implodido pelo seu final, quando o autor escolhe a norma, a partir das exceções que pinça durante o artigo, para falar de uma generalização absurda: “O neorracismo identitário é exceção ou norma? Infelizmente, penso que é norma.” Aqui, neste trecho, ele mostra sua visão pessoal e anedótica e nela se fundamenta, como disse, apenas baseado em exceções. A norma, pensa ele, são as exceções que recolhe. E elas são anticientífica, absurdas, delirantes e graves. Amplamente graves em uma sociedade em que o racismo é um sistema político, social, jurídico, midiático e histórico.

Antônio Risério pinça casos isolados – anedotas – para tentar denunciar um suposto “racismo reverso”. E assim nega o que nos estrutura, para apoiar-se em pilhérias da vida de negros e negros que tiveram em suas trajetórias contradições, como a de Abdias do Nascimento com passagem pelo movimento Integralista, ou em exemplos majoritariamente estadunidenses. Falo isso por que o texto de Risério é embebido de um pensamento colonizado que vê nos EUA nosso pilar de referência. São oito exemplos de “racistas antibrancos” do hemisfério norte, sete deles nos EUA e um no Canadá. Casos isolados no metrô de Washington, falas de adolescentes no Brooklyn, brigas de gangues em Michigan.

Estes são os exemplos que viram norma para Risério. A maioria vindo dos EUA; de um lugar onde teve uma guerra civil sangrenta e declarada e há apenas 11% da população negra, hoje. Quem estuda um pouco de História das Américas, sobre Guerras de Independência ou Guerras Civis irá logo esbarrar no extermínio negro dos EUA e quais são as consequências antropológicas disso. O outro exemplo, vem do Canadá, atribuído a uma “jovem mulata sudanesa”. É com esses termos saídos do esgoto do século XIX que Risério cita uma ativista que é uma exceção dentre pessoas que valem a pena ouvir falar.

Ela não representa a luta dos negros. Ela não me representa e muitos dos meus, posso garantir. Não representa Lélia Gonzalez, nem Sueli Carneiro, nem Angela Davis, nem Silvio Almeida e Thiago Amparo. A norma para essas e esses intelectuais hoje é a luta pela igualdade de direitos e pela não violência, mesmo que suas trajetórias apresentem contradições, a regra em seus escritos é o antirracismo, pois isso é ser antissistêmico. A missão delas e deles, portanto, nossa, é de enfrentamento ao “mal sagaz”, assim como as artes de Emicida e de Machado de Assis fazem tal enfrentamento.

Risério não se vê satisfeito e diz: “Ninguém precisa ter poder para ser racista, e pretos já contam, sim, com instrumentos de poder para institucionalizar o seu racismo.” E mais, para piorar vaticina sem mostrar provas, sem comprovar com exemplos o absurdo que é o parágrafo: “O fato é que não dá para sustentar o clichê de que não existe racismo negro porque a “comunidade negra” não tem poder para exercê-lo institucionalmente. Mesmo que a tese fosse correta, o que está longe de ser o caso, existem já meios para o exercício do racismo negro.” Risério é o próprio clichê do homem branco doído.

Não, Antônio Risério! Ninguém precisa ter poder para ser racista, mas quando o sistema é estrutural e historicamente racista, os instrumentos de poder privilegiam certos grupos, fazendo com que versos de Emicida sejam, verticalmente, verdadeiros: “Existe pele alva e pele alvo”. E não precisamos aqui – eu, você e os leitores – apontarmos quem é quem entre alvos e “alvos”. O óbvio grita de dor dilacerante e fatal a cada 23 minutos no Brasil. Isso não é exceção, é a covarde regra, é a triste norma.

Não, Antônio Risério! Existe racismo no Brasil e, pior, existem alguns negros que não se libertaram ainda da opressão do sistema e que acabam reproduzindo a violência estrutural, estruturante e sistêmica; como existem mulheres machistas que não se libertaram ainda – pois é assim que o patriarcado ainda persiste. Mas esses casos são poucos, cada vez menores, mais raros, muito poucos no meio de uma multidão de negres e mulheres.

Por exemplo, Sérgio Camargo não é regra, é exceção. Nossa régua anda em outro nível. Ler mais Machado de Assis e ouvir Emicida podem ajudar-nos, a todos, a entender que exceção não é norma, mas pode, com eles no alforje dos dias, nos guiar para outras letras, outros versos, outros artigos de opinião com mais honestidade intelectual. Só para dizer ao final, que se o “mal é sagaz”, nós somos, por resistência, mais.

É preciso reconhecer a sério que o mal é sagaz. Dias antes, o Tiago Leifert, filhinho da Globo, levou uma invertida desconcertante com o texto magistral do ator negro Ícaro Silva e seu talento que a diferença. O jornal Folha de S. Paulo também meses antes já havia perdido a intelectual negra Sueli Carneiro de seu conselho editorial. Agora, vale lembrar que o Artigo de Antônio Risério na Folha de S. Paulo inaugura um ano em que “A lei de cotas” será rediscutida nos âmbitos legais e governamentais. O ano de 2022 só começou, mas logo veremos quem é mais sagaz hoje. Nossa resistência ou o conjunto de anedotas de alguns homens brancos?

Nós e nossas ancestralidades levamos a sério que o mal até aqui foi sagaz. Mas nossa resistência é mais.

*Fabrício Cesar de Oliveira, professor e poeta, é doutor em Linguística e Filosofia da Linguagem pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

O capitalismo da ausência

 

Por Eugênio Buci

 

Na pandemia tivemos mais acumulação, mais concentração e mais crescimento do valor e do poder das big techs, que se firmaram como estrelas

No dia 3 de janeiro de 2022, a Apple se tornou a primeira empresa da história a alcançar o preço de US$ 3 trilhões. A cifra equivale, em números aproximados, ao dobro do PIB brasileiro. É dinheiro – e é dinheiro que não para de crescer. Em um intervalo de 16 meses, o valor da Apple subiu 50%, passando de US$ 2 trilhões para US$ 3 trilhões. A escalada não deixa mais dúvidas sobre o fato de que o centro do capitalismo está nas chamadas big techs, as gigantes de alta tecnologia que têm uma incomparável capacidade de inovação.

Em julho do ano passado, as cinco maiores big techs (Apple, Google, Amazon, Microsoft e Facebook, que foi renomeada recentemente como Meta) bateram, juntas, o preço de US$ 9,3 trilhões. Agora, valem mais.

Durante a pandemia, com as medidas sanitárias de isolamento, as cinco foram às alturas. Eram as companhias mais preparadas para lucrar com o que se começou a chamar de “trabalho remoto”, e também com o e-commerce, com o e-governe com o home office. Suas ferramentas se tornaram imprescindíveis.

Em abril de 2020, havia 4,5 bilhões de habitantes do planeta, em 110 países, vivendo (ou tentando sobreviver) em regime de lockdown. Entrávamos numa era de virtualidades que não conhecíamos: escolas, mesmo as recalcitrantes, tiveram de se render ao expediente das aulas a distância; escritórios de advocacia de qualquer lugarejo adotaram o home office; serviços públicos começaram a ser oferecidos online e os movimentos da sociedade civil se canalizaram para as plataformas digitais – e tome abaixo-assinados eletrônicos.

Começava ali um período estranho, com trabalhadores trabalhando sem comparecer ao local de trabalho, cidadãos exercendo seus direitos sem estar lá, missas pelo YouTube e namoros pelo WhatsApp. A economia se adaptou muito bem, obrigado. Não veio catástrofe nenhuma nos ditos “mercados”. O que veio, isto sim, foi mais acumulação, mais concentração e mais crescimento do valor e do poder das big techs, que se firmaram como estrelas no capitalismo da ausência.

Estamos vivendo uma mutação social das mais intrigantes. Na Revolução Industrial do século XIX, falava-se em “força de trabalho”. Era essa “força” que o operariado vendia nas linhas de montagem. A “força de trabalho” era uma energia física que tinha como combustível o sangue humano. Com ela, os proletários moviam engrenagens, enroscavam parafusos, empurravam carcaças, pacotes e carrinhos abarrotados de carvão. Hoje, a velha “força de trabalho” parece ter ficado de escanteio. O capital não liga mais para ela, ou, ao menos, não liga tanto. Máquinas robotizadas fazem o serviço, colhem a cana, soldam peças na fuselagem dos automóveis, operam os telemarketings da vida e da morte.

Agora, o interesse do capital tem foco em outros atributos da gente. Não requisita mais a força física, mas o olhar, a imaginação, a atenção, o desejo. Esses atributos já não têm tanto a ver com o corpo, com os músculos e com o esqueleto que nos sustenta, mas com a máquina psíquica. O capitalismo da ausência – com as big techs na vanguarda – desenvolveu fórmulas para explorar as nossas mais recônditas fantasias. Eis porque, com as multidões confinadas, a economia não parou.

O modo de produção em que estamos embarcados consegue extrair valor – a distância – de corpos em estado semivegetativo, prostrados atrás de uma tela eletrônica. Só o que é convocado a entrar em atividade, nos corpos dormentes, é o olhar e as pontas dos dedos. O capitalismo se higienizou. Nunca a ausência física do explorado foi uma solução tão lucrativa.

Mas o grande trunfo das big techs não está no home office, que, aliás, já virou carne de vaca (ou, no caso brasileiro, virou osso de vaca). Hoje, todo mundo diz que trabalha remotamente, inclusive quem não trabalha. O maior diferencial dos grandes conglomerados, como Apple e suas assemelhadas, todas monopolistas globais em seus ramos (ou troncos) de atuação, foi a transformação do consumo em trabalho. No modelo de negócio das gigantes da tecnologia, consumir é trabalhar.

O tal do “usuário”, enquanto pensa usufruir de funcionalidades gratuitas, enquanto imagina se divertir, está trabalhando de graça. É o “usuário” quem “posta” os “conteúdos”, é o “usuário” que, sem saber, fornece de graça todos os seus dados pessoais (que depois serão vendidos a peso de ouro para os anunciantes), é o “usuário” que, com seu olhar, também gratuito, costura as significações e assimila os conteúdos das marcas e das mercadorias. O pobre “usuário” é ao mesmo tempo a mão de obra e a matéria-prima que saem de graça. Depois, no fim da linha, é ele, o “usuário”, que vai ser comercializado. A isso se resume o melhor negócio de toda a história da humanidade.

Se você quiser, pode tentar ser otimista. Pode falar dos prodígios curativos da telemedicina e do conforto de jogar na Mega-Sena sem sair de casa. Nada contra. Apenas leve em conta que a sua ausência vem preenchendo grandes lacunas, quer dizer, vem abarrotando de dinheiro virtual muitas burras digitais.

*Eugênio Bucci é professor titular na Escola de Comunicações e Artes da USP. Autor, entre outros livros, de A superindústria do imaginário (Autêntica).

O estranho conceito de liberdade dos bolsonaristas

 Por Fernando Castilho


A liberdade não existe.

O conceito puro de liberdade pressupõe ausência total de grilhões, de impeditivos para que a vontade, o desejo, a pulsão sejam exercidos de maneira plena.

Para Aristóteles, liberdade é o princípio para escolher entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão e ato voluntário. Desta forma, podemos tomar decisões, mas sempre haverá um limite.

Já para Nietzsche, homem de espírito livre, como ele próprio se intitulava, o homem livre é aquele que tem condições de estabelecer seus próprios valores, independente dos grilhões da moral e dos costumes. A vontade sempre deve ser saciada quando se apresentar.

Mas será que a liberdade absoluta existe?

A liberdade plena não existe. Ela acaba quando começa a prejudicar o outro. Se não fosse assim, poderíamos nos apropriar do bem alheio sem sermos incomodados pela justiça.

O livre-arbítrio também não existe, embora a religião pregue que Deus nos concedeu esse bem. Quando Moisés apresentou ao povo os sete mandamentos da lei de Deus, ficou claro que o homem não pode matar, roubar ou adulterar, Por exemplo.

Mas há uma grande contradição, se não um paradoxo acontecendo.

Temos um presidente saudoso da ditadura, do AI-5, da tortura e da censura. Uma boa parcela da população, aquela que ainda lhe dá apoio nas pesquisas eleitorais, comunga dessa mesma postura.

A ditadura militar, principalmente depois do AI-5, prendeu, torturou e matou, não só aqueles que ousaram se rebelar contra o regime, mas também aqueles que somente manifestaram seu descontentamento.

As artes em geral, expressão máxima da cultura de um povo foram amordaçadas e silenciadas; a grande imprensa precisava muitas vezes recorrer à receitas de bolo para substituir uma notícia que não passou pelo crivo dos censores; as televisões tinham que nos impor noticiários e programas favoráveis ao regime. A falta de liberdade era geral.

Agora temos uma legião de bolsonaristas exigindo liberdade para propagar fake news nas redes sociais.

Mas a liberdade não é um atributo absoluto. Ela é sempre relativa e, por isso, exige responsabilidade.

Desta forma, a propagação de fake news prejudica a coletividade induzindo-a a acreditar em mentiras que certamente irão causar muito mal, como quando foi amplamente divulgado que hidroxicloroquina e ivermectina seriam remédios eficazes contra a Covid-19. Quantas pessoas, iludidas por essas fake news, contraíram a doença e morreram? Quantas tiveram sérios efeitos colaterais advindos da ingestão desses medicamentos comprovadamente ineficazes contra o vírus?

Essa mesma parcela bolsonarista, somente porque seu presidente assim o quer, difama a vacina inventando notícias falsas contra ela. A liberdade de fazer isso tem que ser cerceada pelo bem da coletividade que precisa se vacinar para que menos pessoas adoeçam ou morram pela Covid-19.

E a alegação é sempre a mesma: direito à liberdade de expressão. Direito a não se vacinar. Direito a não vacinar os filhos.

Portanto, falar em liberdade em certos casos e não em outros trata-se da mais pura hipocrisia, marca desse governo.

É como ter um ministro do meio ambiente que desmata e promove o garimpo ilegal, um ministro da saúde que protela a compra de vacinas e ainda por cima afirmar que não há comprovação científica ainda da eficácia dos imunizantes ou uma ministra dos direitos humanos, da mulher e dos indígenas que abomina os direitos humanos, trabalha para não fornecer absorventes para as jovens estudantes pobres e não se importa com o avanço do garimpo ilegal em terras indígenas.

É o negacionismo funcionando em todas as frentes possíveis cujo único intuito é a destruição de todo o arcabouço civilizatório construído ao longo de décadas e locupletação financeira com essa destruição.




sábado, 15 de janeiro de 2022

As capas de IstoÉ e de Veja

 Por Fernando Castilho


Como venho afirmando aqui, Bolsonaro vem perdendo todos seus pilares de sustentação.

A grande mídia antes vinha timidamente se afastando dele ao mesmo tempo em que busca inflar Sergio Moro para que este possa se cacifar como uma terceira via durante o primeiro turno das eleições presidenciais e poder ir com Lula para o segundo turno. 

Como o ex-juiz não levanta voo, é preciso agora começar a rebaixar o capitão para que este diminua sua diferença para ele. As matérias dos colunistas e as manchetes se tornam cada vez mais agressivas. Não surtirá efeito, pois a diferença de Moro, 9%, para Bolsonaro, 25%, ainda é muito grande.

Mas comecemos a nos acostumar com capas de revistas como estas que estão saindo esta semana.

Uma ataca Bolsonaro e outra levanta a bola de Moro.