segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

O estranho conceito de liberdade dos bolsonaristas

 Por Fernando Castilho


A liberdade não existe.

O conceito puro de liberdade pressupõe ausência total de grilhões, de impeditivos para que a vontade, o desejo, a pulsão sejam exercidos de maneira plena.

Para Aristóteles, liberdade é o princípio para escolher entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão e ato voluntário. Desta forma, podemos tomar decisões, mas sempre haverá um limite.

Já para Nietzsche, homem de espírito livre, como ele próprio se intitulava, o homem livre é aquele que tem condições de estabelecer seus próprios valores, independente dos grilhões da moral e dos costumes. A vontade sempre deve ser saciada quando se apresentar.

Mas será que a liberdade absoluta existe?

A liberdade plena não existe. Ela acaba quando começa a prejudicar o outro. Se não fosse assim, poderíamos nos apropriar do bem alheio sem sermos incomodados pela justiça.

O livre-arbítrio também não existe, embora a religião pregue que Deus nos concedeu esse bem. Quando Moisés apresentou ao povo os sete mandamentos da lei de Deus, ficou claro que o homem não pode matar, roubar ou adulterar, Por exemplo.

Mas há uma grande contradição, se não um paradoxo acontecendo.

Temos um presidente saudoso da ditadura, do AI-5, da tortura e da censura. Uma boa parcela da população, aquela que ainda lhe dá apoio nas pesquisas eleitorais, comunga dessa mesma postura.

A ditadura militar, principalmente depois do AI-5, prendeu, torturou e matou, não só aqueles que ousaram se rebelar contra o regime, mas também aqueles que somente manifestaram seu descontentamento.

As artes em geral, expressão máxima da cultura de um povo foram amordaçadas e silenciadas; a grande imprensa precisava muitas vezes recorrer à receitas de bolo para substituir uma notícia que não passou pelo crivo dos censores; as televisões tinham que nos impor noticiários e programas favoráveis ao regime. A falta de liberdade era geral.

Agora temos uma legião de bolsonaristas exigindo liberdade para propagar fake news nas redes sociais.

Mas a liberdade não é um atributo absoluto. Ela é sempre relativa e, por isso, exige responsabilidade.

Desta forma, a propagação de fake news prejudica a coletividade induzindo-a a acreditar em mentiras que certamente irão causar muito mal, como quando foi amplamente divulgado que hidroxicloroquina e ivermectina seriam remédios eficazes contra a Covid-19. Quantas pessoas, iludidas por essas fake news, contraíram a doença e morreram? Quantas tiveram sérios efeitos colaterais advindos da ingestão desses medicamentos comprovadamente ineficazes contra o vírus?

Essa mesma parcela bolsonarista, somente porque seu presidente assim o quer, difama a vacina inventando notícias falsas contra ela. A liberdade de fazer isso tem que ser cerceada pelo bem da coletividade que precisa se vacinar para que menos pessoas adoeçam ou morram pela Covid-19.

E a alegação é sempre a mesma: direito à liberdade de expressão. Direito a não se vacinar. Direito a não vacinar os filhos.

Portanto, falar em liberdade em certos casos e não em outros trata-se da mais pura hipocrisia, marca desse governo.

É como ter um ministro do meio ambiente que desmata e promove o garimpo ilegal, um ministro da saúde que protela a compra de vacinas e ainda por cima afirmar que não há comprovação científica ainda da eficácia dos imunizantes ou uma ministra dos direitos humanos, da mulher e dos indígenas que abomina os direitos humanos, trabalha para não fornecer absorventes para as jovens estudantes pobres e não se importa com o avanço do garimpo ilegal em terras indígenas.

É o negacionismo funcionando em todas as frentes possíveis cujo único intuito é a destruição de todo o arcabouço civilizatório construído ao longo de décadas e locupletação financeira com essa destruição.




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