Por Fernando Castilho
Blog Análise e Opinião
Por Fernando Castilho
terça-feira, 21 de outubro de 2025
No Kings
segunda-feira, 20 de outubro de 2025
Centrão: o grande camaleão da politica brasileira
Por Fernando Castilho
Nos últimos tempos, o Centrão, essa entidade política que
sempre sabe onde fica a cozinha, esteve confortavelmente abraçado à extrema
direita bolsonarista. A parceria, claro, não foi por afinidade ideológica, mas
por conveniência. Prova disso foram os mimos trocados, como a PEC da Blindagem,
uma tentativa quase poética de escapar das investigações sobre o destino das
emendas parlamentares. Afinal, ninguém quer acabar atrás das grades por falta
de zelo orçamentário.
Outro ponto de união foi a resistência à taxação dos
super-ricos. Nada mais natural: muitos dos parlamentares do Centrão fazem parte
desse seleto grupo e, como bons representantes (deles mesmos), defenderam com
unhas e dentes seus próprios bolsos.
Mas eis que o roteiro saiu do controle. O povo, elemento
imprevisível da democracia, resolveu sair às ruas contra os abusos. A
mobilização popular pegou os parlamentares de surpresa. Com as eleições se
aproximando, a má fama do Centrão começou a ameaçar a reeleição de seus
membros, que até então acreditavam que bastava distribuir emendas e selfies
para garantir votos.
A onda de protestos também deu um empurrãozinho nas
pesquisas para o presidente. Lula foi beneficiado por episódios dignos de
série. Eduardo Bolsonaro, ao agir contra os interesses nacionais, acabou
presenteando Lula com o papel de defensor da soberania. É preciso lembrar que,
uma vez iniciadas as campanhas eleitorais na TV, os vídeos em que Eduardo pede que
os Estados Unidos imponham sanções ao Brasil, joguem uma bomba atômica ou enviem
um porta-aviões para cá, serão enormemente explorados. Quem do Centrão, em
juízo perfeito, vai querer ter seu nome ligado a alguém tão tóxico ao país?
Além do tiro no pé que Eduardo deu, Donald Trump, num giro
inesperado, buscou diálogo com Lula para tentar consertar os estragos do
tarifaço. Sim, até Trump percebeu que talvez seja melhor conversar com quem
manda de verdade e não com dois patetas.
Outro dado importante é o destino de Jair Bolsonaro. Preso,
ele iniciará uma nova trajetória rumo ao... ostracismo. Rei morto, rei posto.
Adeus.
Enquanto o cenário se inverte, dois ministros de Lula, mesmo
sob ameaças de expulsão partidária, ignoraram os caciques e permaneceram no
governo. Um gesto raro de convicção política, ou talvez apenas de cálculo mais
refinado.
Diante desse novo cenário, o Centrão, sempre com o dedo no
vento, começa a recalibrar sua bússola. Alguns membros já se aproximam do
governo, conscientes de que dividir o palanque com Lula, favorito em todos os
cenários eleitorais, e não com um possível Tarcísio ou Ratinho Jr., pode render
bons frutos. Afinal, quem quer ficar do lado que só oferece desgaste e memes
ruins?
A debandada tem uma consequência direta: o isolamento dos
bolsonaristas, agora desmascarados por seu apoio explícito aos bilionários, às
casas de apostas e aos bancos. Nada como defender esse povo... rico. E há
vídeos mais que suficientes de Sóstenes e outros, que serão explorados durante
a campanha.
A aproximação do Centrão com Lula pode redesenhar
completamente o jogo político. Governadores e prefeitos ligados ao grupo já
ensaiam passos rumo ao governo federal, em busca de apoio, recursos e, claro,
emendas. A dança das cadeiras começou, e os palanques bolsonaristas em
estados-chave correm o risco de ficarem vazios ou, pior, com plateia hostil.
No Nordeste, onde Lula nada de braçada, a migração
partidária deve ser ainda mais intensa. Não será surpresa se deputados e
senadores trocarem de sigla como quem troca de gravata, buscando abrigo em
partidos mais alinhados ao governo, como PSB, MDB ou até o próprio PT. Afinal,
a coerência para eles é ditada pelo momento.
Essa disputa por espaço no campo governista pode gerar
tensões internas. Partidos que sempre estiveram com Lula vão exigir
contrapartidas: mais ministérios, mais apoio, mais tudo. E o bolsonarismo? Deve
se restringir aos núcleos ideológicos mais radicais, com menos capilaridade
eleitoral e orçamento digno de vaquinha online.
Com o Centrão recalculando sua rota, a dinâmica legislativa
também muda. Lula pode conquistar uma base mais ampla e estável, suficiente
para aprovar projetos estratégicos, especialmente nas áreas de economia,
justiça tributária e reformas sociais e ambientais. O isolamento dos
bolsonaristas, por sua vez, tende a reduzir a obstrução nas votações. O
plenário, palco de gritaria e memes, pode finalmente virar espaço de debate (ou
pelo menos de silêncio constrangedor). A negociação com o Centrão, embora pragmática
e baseada em cargos e verbas, pode garantir avanços em pautas populares.
Afinal, até o fisiologismo tem seu lado útil.
O Centrão, como sempre, não decepciona. Atento à direção dos
ventos, recalculou sua rota com a precisão de um GPS político. A combinação
entre pressão popular, desgaste bolsonarista e ascensão de Lula criou um novo
campo gravitacional no Congresso. E como bons satélites da sobrevivência
eleitoral, os parlamentares estão sendo atraídos para o lado do governo.
Se isso vai redefinir os rumos do país? Provavelmente. Se
vai ser por convicção? Pouco provável. Mas no Brasil, até a conveniência pode
ser revolucionária, desde que venha com cargo, verba e uma boa foto no
palanque.
domingo, 19 de outubro de 2025
3I/ATLAS: Um estranho no sistema solar
Por Fernando Castilho
O cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar já
registrado em nosso sistema solar, tem despertado grande curiosidade entre os
astrônomos. Recentemente, ele passou a cerca de 30 milhões de quilômetros de
Marte e foi observado por sondas como a Mars Express, ExoMars TGO
e até pelo rover Perseverance. Mas o que mais chama atenção não é sua
rota, mas seu comportamento.
Procurando o procurador Gonet. Cadê você?
Por Fernando Castilho
O
Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, foi impecável ao oferecer denúncia
contra Jair Bolsonaro no caso da tentativa de golpe de Estado. Palmas.
Aplausos. Medalha de mérito jurídico. Mas agora, parece que resolveu dar uma
pausa estratégica, e está deixando Alexandre de Moraes com um abacaxi
institucional para descascar.
Bolsonaro
está em prisão domiciliar desde 18 de julho, no inquérito que investiga seu
filho Eduardo e o sempre performático e traidor da pátria Paulo Figueiredo, por
obstrução da ação penal relacionada ao golpe. Entre os motivos da prisão
preventiva está o risco de fuga e, convenhamos, não seria exatamente
surpreendente se o ex-presidente fugisse.
Só
que os advogados de Bolsonaro, percebendo que Gonet sumiu da cena, pediram a
revogação das medidas cautelares. Moraes, claro, negou. Mas, ironicamente, os
advogados têm um ponto: sem denúncia formal, a prisão preventiva começa a
parecer uma peça de teatro jurídico sem roteiro. E isso coloca Moraes numa
sinuca de bico: se revogar, Bolsonaro pode fugir e o caos estará armado. Se
mantiver, será acusado de manter uma prisão ilegal. E lá vem o discurso de
perseguição política.
A
situação de Bolsonaro hoje é bem diferente daquela de três meses atrás, quando
muita gente estourou champanhe acreditando que ele iria direto para a Papuda.
Hoje, essa certeza evaporou. Além dos problemas de saúde alegados (com boletins
médicos dignos de novela), há uma tendência crescente e preocupante de
normalizar a ideia de que ele cumpra pena em prisão domiciliar. Afinal, já está
lá.
Essa
normalização vem sendo empurrada por setores da grande imprensa e por políticos
de vários naipes. É claro que Bolsonaro não vai cumprir pena pelo genocídio
durante a pandemia, nem pelo desfile de joias desviadas. Mas, para quem
acompanhou a trajetória do traste por quatro longos anos, a condenação de 27
anos soa como uma espécie de acerto simbólico, uma tentativa de justiça
acumulada.
Agora,
se essa pena virar prisão domiciliar num condomínio de luxo em Brasília, com
aluguel bancado pelo Fundo Partidário do PL, ou seja, com o nosso dinheiro,
então não é punição, é prêmio. E ainda há o projeto que reduz a dosimetria da
pena, podendo colocar Bolsonaro de volta à sociedade em cerca de três anos.
Três curtos anos. Depois voltará a sua habitual sandice provocando nossa
sanidade mental.
Não.
Paulo Gonet precisa oferecer a denúncia ao STF, para que Bolsonaro se torne réu
também por obstrução de justiça. Isso aliviaria a pressão que os advogados
estão jogando sobre Moraes e, quem sabe, evitaria mais uma reviravolta digna de
série política.
Vamos
lá, Gonet. É pra ontem. Antes que a Papuda vire só mais uma miragem
institucional.
quarta-feira, 15 de outubro de 2025
Apresento o Zé Ninguém para a vaga de Barroso no STF
Por Fernando Castilho
Com a saída de Luís Roberto Barroso do STF, Lula tem agora a
chance de corrigir alguns erros do passado.
Comecemos por Barroso. Em 2021, ele declarou à Folha
que Dilma Rousseff não caiu por crime de responsabilidade, mas por não saber
fazer política. Traduzindo: foi deposta por falta de traquejo parlamentar, não
por pedaladas. E Barroso, indicado por ela, diante dessa “injustiça”, fez o
quê? Nada. Omitiu-se. Um silêncio que grita. Dilma errou ao escolhê-lo, e Lula,
agora, pode consertar isso.
Aliás, Dilma também nos presenteou com Luiz Fux, grande
professor e autor de importantes livros sobre direito processual que,
vergonhosamente os rasgou para defender um golpista. Mais, sobre ele, prefiro
não falar para poupar meus dedos e sua paciência.
Lula, por sua vez, teve seu momento de arrependimento com
Dias Toffoli. Quando estava preso, foi impedido por Toffoli de comparecer ao
velório do irmão. Só autorizou a ida quando faltavam 20 minutos para o enterro,
e ainda sugeriu que o corpo fosse levado a um quartel para um velório
improvisado. Lula, com razão, recusou. E essa mágoa, dizem, ainda ecoa no
Planalto.
Agora, Lula tem uma nova lista de possíveis indicados: Jorge
Messias, Rodrigo Pacheco, Bruno Dantas, Carol Proner... Nomes fortes. Mas vamos
aos poréns.
Rodrigo Pacheco? Um político de direita que, de repente,
virou um doce de pessoa, justo quando a vaga apareceu. Coincidência, claro. Já
Bruno Dantas é cria de Gilmar Mendes. Precisa dizer mais?
— “Ah, Fernando, então você quer um ministro que diga amém a
tudo que Lula fizer, como Nunes Marques e André Mendonça fazem com Bolsonaro?”
Não. A questão não é alinhamento cego. A verdadeira
polarização não é entre esquerda e direita, mas entre quem defende a democracia
e quem flerta com o autoritarismo; entre quem luta pelos vulneráveis e quem
serve aos privilegiados; entre quem busca justiça e quem a transforma em
privilégio.
Outros nomes correm por fora: Kakay, Lenio Streck, Pedro
Serrano... Todos bons. Mas o que define um bom ministro do STF?
Além do tal “notório saber jurídico”, que, convenhamos,
virou bordão, é preciso que o ministro saiba para que lado pender a balança: o
lado dos que mais precisam de justiça. Hoje, ela pende para os patrões, os
latifundiários, o INSS contra os aposentados. Gilmar, Toffoli, Fux, Barroso,
Nunes Marques, Mendonça, Cármen Lúcia... todos muito comprometidos com a
minoria abastada.
Por isso, minha aposta é Jorge Messias. Tem preparo, tem
trajetória, tem compromisso. E Carol Proner, porque o STF precisa de mais
mulheres, e porque ela é muito competente.
Mas, correndo totalmente por fora, e com chances
rigorosamente nulas, apresento a candidatura do Zé Ninguém.
Sim, ele tem notório saber jurídico. Não no sentido
tradicional, claro. Seu saber é notório justamente por ser... escasso. Mas ele conhece
bem a lei da vida e da sobrevivência. E tem algo que falta a muitos togados:
senso de justiça. Aquele impulso quase infantil de querer proteger os mais
vulneráveis e punir quem os explora.
Portanto, se você acha que o mais importante para o STF é
alguém que conheça leis, talvez o Zé Ninguém não seja o nome ideal. Mas se
acredita que o essencial é ter compromisso com quem realmente precisa de
justiça, então, quem sabe, ele mereça ao menos um voto de confiança. Ou um
cafezinho no gabinete.
Mas, afinal, quem é o Zé Ninguém?
São milhões espalhados pelo Brasil. Gente que possui muito
mais senso de justiça que a maioria dos ministros. Gente que não faz negócios
com empresas por meio de escritórios de fachada. Gente que não organiza
regabofes em Portugal. Gente que não acha que indígenas e aposentados sejam
fardos para o país. Gente, enfim, que carrega nas costas, dia após dia, o peso
de uma desigualdade de mais de quinhentos anos.
Lula, o Dom Juan da política brasileira
Depois
que ouvi Lula falar na então Rádio Bandeirantes, no programa O Trabuco
do saudoso Vicente Leporace, acho que ainda nos anos 70, senti uma inquietação:
quem era esse líder metalúrgico que ousava desafiar a ditadura em nome dos
direitos de sua categoria? A curiosidade me levou à histórica assembleia no
Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. E ali, no meio da massa
operária, comecei a entender que aquele homem não era só barulho, mas também
pura estratégia.
Mais
tarde, estive por duas vezes em reuniões na casa emprestada pelo advogado
Roberto Teixeira a Lula, no bairro de Ferrazópolis. Ainda estudante, me vi
hipnotizado ao ouvi-lo falar sobre economia com uma lógica tão simples e
intuitiva que faria muito doutor engasgar com a própria tese.
O
tempo passou, e Lula foi colecionando aliados como quem coleciona figurinhas
raras. Seu poder de sedução política é digno de estudo, ou de uma tese de
doutorado com direito a banca rendida.
Por
mais improvável que parecesse, lá estava ele como presidente, trocando
confidências com George W. Bush e recebendo elogios rasgados de Barack Obama,
que não economizou: “Esse é o cara!” Pois é. O cara.
Com
Emmanuel Macron, presidente da França e da ala direita, não foi diferente.
Foram filmados de mãos dadas na Floresta Amazônica, em Belém, como dois
adolescentes em passeio escolar. Faltou só o piquenique e a trilha sonora.
O
senador Ciro Nogueira, bolsonarista de carteirinha, chegou a declarar: “Ele é
capaz de me seduzir em 15 minutos. É macio e jeitoso.” Um elogio que até hoje
causa urticária na ala mais radical do Congresso.
Em
2022, Lula fez o impossível parecer trivial. Bastaram algumas conversas para
transformar Geraldo Alckmin, aquele mesmo, seu adversário em outras épocas, em
seu vice. A conciliação, afinal, é uma das marcas registradas do Barba. E ele
assina com estilo.
E
quem não lembra da prisão em Curitiba? Lula, enclausurado na sede da Polícia
Federal, acabou conquistando justamente o carcereiro. Horas e horas de conversa
e, no fim, mais um fã. Se tivesse mais tempo, talvez saíssem de lá com um
podcast.
A
mais recente conquista do Dom Juan da política parece ser ninguém menos que o
presidente norte-americano Donald Trump. Em uma conversa telefônica de 30
minutos, Trump saiu encantado: “Gostei da ligação. Nossos países vão se sair
muito bem juntos!” Prometeu mais encontros, tanto no Brasil quanto nos Estados
Unidos. Se isso não é charme, o que é então?
Nas
entrevistas, seja com a imprensa progressista ou com os grandes veículos da
mídia corporativa, o resultado é sempre o mesmo: entrevistadores saem
satisfeitos, convencidos, quase convertidos. Lembro bem da entrevista com
Reinaldo Azevedo durante a campanha de 2022. Justamente o cara que cunhou a
expressão “petralha”. Tio Rei saiu de lá praticamente com uma estrela no peito.
Mas
afinal, qual é o segredo desse poder de agregar?
Digo
que é a verdade. A sinceridade no olhar. E uma biografia marcada pela coerência
ou, no mínimo, pela habilidade de parecer coerente em qualquer cenário.
O
poder do diálogo com Lula é tão surpreendente que os bolsonaristas evitam
qualquer conversa com ele. E fazem bem. Porque se conversarem... é capaz que se
apaixonem.
Pode
ser até que Trump o traia. Afinal, isso não se descarta em nenhuma relação.
Mas, por enquanto, parece que a coisa vai às mil maravilhas.
sábado, 11 de outubro de 2025
O grão-vizir e o ex-sultão manipulável – uma fábula da verdade
Por Fernando Castilho
A Polícia Federal, em um raro momento de dramaturgia
institucional, revelou o áudio de uma conversa nada republicana entre o
empresário da fé, Silas Malafaia, e o ex-presidente que muitos já chamam de Deve
Jair Preso. O conteúdo, digno de um conto oriental, evoca imediatamente a
fábula de O Rei Yunan e o Médico Ruyán — onde a gratidão é vencida pela
intriga, e a razão, pela manipulação.
Yunan Bolsonaro, ex-sultão de uma terra outrora próspera, sofre de uma doença incurável – talvez erisipela, talvez ego inflamado. Os generais-médicos do reino, com suas fardas engomadas e diagnósticos patrióticos, são convocados para resolver o problema. Fracassam, claro.
Surge então Duduh Também Deve Ser Preso, o filho estrangeiro, que propõe uma cura sem bisturis nem poções – apenas conversas ao pé de ouvido com o rei maior para tentar que ele intervenha. O ex-sultão, isolado em seu palácio, aguarda ansioso uma solução. Ela não vem.
Mas eis que o grão-vizir, tomado pela inveja e pelo instinto de sobrevivência política, sussurra ao ex-sultão:
— Majestade, quem cura com facilidade também pode matar com facilidade. E se ele estiver tramando algo contra ti?
O ex-sultão, antes grato, agora é paranoico. E como toda fábula que se preze, a ingratidão vence: o filho estrangeiro é chamado de imaturo. Este, inconformado com a traição, manda um recado para o pai, digno de um trovador moderno:
O grão-vizir Silas Mau Lafaia, então, em várias conversas, resolve conduzir Deve Jair Preso como quem leva um camelo teimoso pelo deserto: com firmeza, paciência e um chicote verbal disfarçado de elogio. Chama-o de “homem muito inteligente” — um elogio tão deslocado que nem o destinatário parece entender.
Deve Jair Preso, fiel à fama de manipulável, obedece a uma ordem de Silas Mau-Lafaia: Dá bronca no filho Duduh. Depois, perdoa. Porque o grão-vizir manda. Mau-Lafaia também ordena que o ex-sultão negue qualquer intenção de aumentar tarifas contra seu país. Ele escreve um texto, mas o grão-vizir ordena que ele grave um vídeo. É um ex-sultão sem vontade própria – governado por seu grão-vizir.
Os áudios sugerem que Malafaia talvez seja a mente por trás da tentativa de golpe. E o ministro Alexandre de Moraes, com a elegância de um gato brincando com o rato antes do bote, deixa o grão-vizir da fé à vontade para esbravejar. Cada palavra dita é uma corda a mais no laço que se aperta.
Se a fábula seguir seu curso, veremos o empresário da fé – outrora intocável – conhecer o lado menos celestial da justiça. E quando isso acontecer, não será apenas um desfecho jurídico. Será uma catarse narrativa.
Aleluia.
Já chega! Já basta!
Outro dia escrevi um artigo em que dizia que Hugo Motta e
Davi Alcolumbre eram pusilânimes paspalhos — bordão que o covarde Dr. Smith, da
série Perdidos no Espaço, usava para se referir ao Robô.
Alcolumbre, com algum esforço e alguma articulação,
conseguiu se livrar da alcunha.
Já Motta… só fez por merecê-la ainda mais.
Na cerimônia de lançamento do programa Brasil Soberano, no
Palácio do Planalto, Lula anunciou R$ 30 bilhões em crédito para empresas
brasileiras atingidas pelo tarifaço de 50% imposto por Donald Trump.
O pacote inclui linhas de crédito com juros baixos, compras
governamentais e incentivos fiscais — tudo para segurar a economia enquanto o
problema não se resolve. Ou seja, Um montante de recursos que poderia ser
aplicado em saúde, educação ou outros programas sociais. Debite-se isso na
conta de Bananinha.
Hugo Motta estava lá.
Presente, sim.
Mas discreto.
Quase tímido.
Talvez pela sua já célebre pusilanimidade paspalha.
Enquanto isso, no mesmo dia, Eduardo Bolsonaro — deputado
que ainda recebe salários pagos por nós (!) — estava em Washington, pedindo
sanções contra o Brasil.
Sim, contra o próprio país! Contra seu próprio povo!
Em vídeo, declarou que estava disposto a “sacrificar tudo e
queimar toda a floresta” para salvar seu pai golpista.
A floresta, diga-se, somos nós.
E Hugo Motta?
Do alto — ou do baixo — de sua covardia institucional, nada
fez.
Não moveu um dedo pela cassação do traidor da Pátria.
Nem uma vírgula.
Um pedido formal de cassação foi protocolado por ex-reitores
e professores universitários.
Foi endereçado a ele.
Mas até agora, silêncio.
Mesmo que o Conselho de Ética não aprove a cassação, ele
deveria ao menos tentar.
É seu dever.
Ou deveria ser.
Se a comissão não aprova, escancara-se que ela apoia
traidores.
Se Motta teme sanções contra si, vindas dos Estados Unidos —
como Dudu Bananinha prometeu — então, sim.
Faz jus à alcunha de pusilânime paspalho, ou melhor, de
paspalhão covarde.
A banalidade do mal quando se morre atirando
Por Fernando Castilho
Há muitos anos, assisti a um filme que me deixou inquieto —
não apenas pela brutalidade dos fatos históricos, mas pela revelação de uma
verdade sombria: o ser humano pode persistir na maldade mesmo quando tudo está
perdido, mesmo quando não há mais salvação possível.
O filme era Downfall (A Queda!), um drama
histórico devastador que retrata os últimos dias de Adolf Hitler em seu bunker,
em Berlim, abril de 1945.
A cidade estava em ruínas, bombardeada sem cessar. O fim do ditador era
inevitável. Mas, em vez de recuar, ele se afundou ainda mais em sua loucura.
A iminência da derrota não o fez renunciar à crueldade — a intensificou.
Um dos atos mais insanos foi o Decreto Nero (o nome é muito
apropriado) , assinado em 19 de março de 1945.
Hitler ordenou a destruição total da infraestrutura alemã — fábricas, pontes,
ferrovias, depósitos — para que nada de valor caísse nas mãos dos Aliados.
Não era uma estratégia militar. Era vingança. A Alemanha, já destruída pela
derrota, pagaria um preço ainda mais terrível.
Hitler acreditava que o povo alemão, por tê-lo “traído” ao perder a guerra, não
merecia sobreviver.
Felizmente, muitos generais ignoraram a ordem, percebendo que não havia mais
nada a salvar — nem o regime, nem o líder.
Uso esse filme como analogia para o que está acontecendo
agora com Jair Bolsonaro.
O ex-presidente está condenado e será, sem sobra de dúvidas,
preso por muitos anos. Já cumpre prisão domiciliar.
Mas, mesmo encurralado, não abandona o rancor, nem a sede de revanche.
Seu filho, com seu aval, permanece nos Estados Unidos articulando sanções
contra o Brasil.
Sanções que não atingem apenas ministros do STF — atingem o povo brasileiro.
Empregos serão perdidos. Famílias serão prejudicadas. A economia será ferida.
Então, cabe perguntar:
De que valem essas ações, se não têm o poder de salvá-lo da
prisão?
Por que insistir na maldade?
Por que Bolsonaro não ordena que seu filho pare com essa traição à Pátria?
Por que não pede a algum aliado — Malafaia, Tarcísio, Valdemar Costa Neto — que
redija um discurso pedindo a Trump que cancele as sanções contra o Brasil?
Mesmo que não surta efeito, não seria um gesto digno?
Não pareceria, aos olhos do povo, um estadista preocupado com o país?
Mas não.
Mesmo diante da ruína — e sem qualquer perspectiva de reversão — o ódio, o
rancor e o desejo de vingança são mais fortes. Seu caráter foi forjado nessas
características.
Bolsonaro é aquele que morre, mas leva muita gente inocente junto.
Que ser humano é esse?
"Larga essa turma, menino, senão você vai perder o visto!”
Por Fernando Castilho
Minha
avó era uma mulher dominada pelo medo, do mundo, do imprevisto, até da própria
sombra. Qualquer ousadia minha era prontamente recebida com uma profecia
catastrófica. Se eu subisse em uma árvore: "Desce daí, menino, senão você
vai cair." E, uma vez, eu caí. Se eu demorasse para voltar para casa:
"Vão te assaltar." E, uma vez, fui assaltado. Não era bruxaria, nem
maldição, mas pura estatística. A Lei de Murphy em uma versão caseira, com
sotaque de vó.
No
último domingo, Élio Gaspari escreveu que o ministro Luiz Fux poderia pedir
vistas ao processo contra Jair Bolsonaro. O prazo máximo para manter o processo
em banho-maria é de 90 dias, o suficiente para adiar o julgamento para
fevereiro de 2026, em pleno ano eleitoral. O timing é tão conveniente que
parece piada. Não acho que Fux faria isso. Quer dizer... até ouvir a voz da
minha avó ecoando na boca de Gaspari: "Pede vistas, menino!" E,
pronto, ele pode decidir pedir.
Fux
é, sem dúvida, o ministro mais vaidoso da corte. A vaidade não se revela apenas
em sua fala empolada, que parece ter saído de um manual de latim para
iniciantes. A peruca, um acessório para esconder o que Alexandre de Moraes
ostenta com dignidade, é a prova. Fux age como se a calvície fosse uma falha
moral e a peruca, sua armadura.
Sua
retórica, tão ornamentada quanto a do bardo Chatotorix das aventuras de
Asterix, o condena ao ostracismo. Assim como o personagem, Fux canta sozinho.
Ninguém o acompanha e poucos o suportam. Em uma audiência sobre a tentativa de
golpe, com Bolsonaro, Augusto Heleno e Braga Netto no banco dos réus da
história, Fux se dedicou obsessivamente a perguntar se havia uma assinatura na
minuta do golpe para tentar legitimá-la. Um comportamento digno de Chatotorix:
muito barulho e pouca melodia.
Mas
os tempos mudaram. Trump, em um gesto que mais parece um aceno do que um
abraço, não cancelou o visto de Fux, uma espécie de "obrigado pelos
serviços prestados." Só que agora, o nacionalismo bate mais forte no peito
dos que não se renderam ao bolsonarismo. Com todas as provas escancaradas,
qualquer voto contra a condenação será visto como um ato de sabotagem
institucional pela corte, pela imprensa e pela população.
Então,
a vaidade de Luiz Fux – aquele que já foi agraciado com o lema “In Fux We
Trust”, cunhado por um Sérgio Moro desmascarado por sua parcialidade –
resistiria ao peso de um voto solitário em defesa de Bolsonaro? Como a história
registraria esse gesto? Como um ato de coragem ou como um epitáfio da vaidade?
Fux
já fez o que pôde. Defendeu Bolsonaro até onde dava e já foi premiado por isso.
Agora, não dá mais. Ele vai acabar votando com o resto da turma. Porque, no fim
das contas, até a vaidade tem limite.
Minha
avó já avisou: "Larga essa Turma, menino, senão você vai perder o
visto!" Fux, no entanto, não sairá. Ele ainda tem alguns anos para
conviver com a Turma antes de se aposentar. Ele precisa de reconhecimento. Se
ficar isolado, sua vaidade não suportará.
Será
que mata no peito?
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
EDUARDO – MAFIOSO OU MILICIANO? OU OS DOIS?
Por Fernando Castilho
É curioso – e um tanto deprimente – como certos episódios do século 21 parecem saídos diretamente de livros ou filmes clássicos. Desta vez, minha memória foi imediatamente puxada para Os Intocáveis (1987), dirigido por Brian De Palma e estrelado por Kevin Costner e Sean Connery.
No enredo, a máfia norte-americana, ao perceber que seus
negócios estão ameaçados, parte para a retaliação brutal contra a polícia. Al
Capone, o chefão, não hesita em ameaçar e atacar familiares de seus inimigos –
inclusive tentando intimidar o agente Eliot Ness por meio de sua esposa e
filha. A tensão cresce à medida que a equipe se aproxima de provas cruciais. É
o retrato da criminalidade quando se vê acuada: ela não argumenta, ela ameaça.
E se puder, manda flores com bilhete anônimo.
Por que essa lembrança veio à tona?
Porque acabei de assistir a um vídeo de um deputado que,
atualmente, trai sua pátria diretamente dos Estados Unidos – aparentemente
entre uma visita à Disney e outra. Nele, o sujeito — com olhos lacrimejantes e
voz trêmula – ameaça o ministro do STF Alexandre de Moraes da seguinte forma:
“Eu vou provar para o Alexandre de Moraes que ele encontrou
um cara de saco roxo que vai acabar com essa brincadeirinha dele. Moraes, você,
a sua mulher, e depois dela, que quem será sancionado serão seus filhos, eu vou
atrás de cada um de vocês.”
Sim, é isso mesmo. O parlamentar, em pleno solo estrangeiro,
resolveu brincar de Al Capone versão TikTok. Só faltou o charuto e o terno
risca de giz.
A pergunta que se impõe é simples: há alguma diferença entre
ele e Al Capone?
Na verdade, nem precisamos recorrer a filmes sobre a máfia
norte-americana – esse é o exato modus operandi das milícias do Rio de Janeiro,
aquelas que a família Bolsonaro tanto admira e já homenageou oficialmente. A
diferença? Capone ao menos tinha um senso de estética. E era mais gordo.
Assim como Eliot Ness não se intimidou diante das ameaças
contra sua família, Alexandre de Moraes segue firme, sem recuar um milímetro de
sua missão de defesa da Constituição e do Estado Democrático de Direito. E isso
incomoda – incomoda profundamente quem vive da chantagem, da intimidação e da
política do medo. Afinal, é difícil lidar com alguém que não treme diante de
gritos histéricos e ameaças mal ensaiadas.
O que falta? Prender o meliante.
E é aqui que a ironia histórica se impõe: Al Capone não foi
preso por assassinatos, extorsão ou ameaças. Foi pego por evasão fiscal. O
crime mais burocrático de todos derrubou o maior mafioso da história americana.
Um lembrete gentil de que a Receita Federal pode ser mais perigosa que qualquer
revólver.
Talvez seja por aí que Eduardo Bolsonaro também será
alcançado pela justiça. Afinal, muito dinheiro já foi transferido pela família
para os Estados Unidos – dinheiro cuja origem permanece obscura, como os
milhões recebidos via Pix. E se tem uma coisa que o Pix não faz é apagar
rastros.
Porque no fim das contas, o que às vezes derruba um criminoso
não é o grito – é o recibo. E esse, meu caro, não tem como negar.