Por Fernando Castilho
Foto: reprodução José Emídio/Governo do Estado de São Paulo
Tarcísio volta aos tempos em que havia uma guerra de todos contra todos, anterior a criação do Estado.
O
tema é recorrente nos filmes de faroeste: o bandido chega a uma cidadezinha,
entra no saloon, bebe um pouco e começa a importunar os presentes. À certa
altura os ânimos ficam acirrados, o forasteiro saca sua arma, mas o xerife é
mais rápido no gatilho e o mata.
A
notícia se espalha rapidamente e chega aos ouvidos do bando ao qual o defunto
pertencia. É chegada a hora da vingança.
Armados
até os dentes os bandidos já chegam na cidadezinha atirando. Seriam 8, 10, 12
OU 16 as pessoas mortas? Ou seriam mais?
A
analogia é imperfeita, eu sei. E os sinais entre bandidos e mocinhos estão
trocados. Porém, o cenário de velho oeste em que se transformou a cidade de
Guarujá é coerente.
Há,
contudo, uma diferença gritante: No filme, a vingança foi feita por foras da
lei e na vida real, por agentes da lei, profissionais treinados pelo Estado
para prender bandidos garantindo a segurança dos cidadãos.
Certamente
nossa classe média deve estar exclamando “BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO!”
Guarujá
e muitas outras cidades Brasil afora vivem hoje uma situação de insegurança,
principalmente porque o número de armas nas mãos de bandidos aumentou muito
graças as decisões do ex-presidente que liberou geral para os CACs. Armas não
procriam como coelhos, mas são colocadas na bandidagem por quem, utilizando-se
do privilégio de possui-las legalmente, as repassam por preços módicos. Devido
à essa sensação de insegurança, o cidadão médio vibra quando algum suspeito é
assassinado sem o devido processo legal e a culpa formada. E se morreu,
torna-se desinteressante provar que o cidadão era inocente, pois não volta
mais.
Além
de tudo isso, é preciso acabar com essa loucura que acomete nossos policiais
toda vez que um companheiro é assassinado. Claro, é muito difícil ter sangue de
barata, mas treinamento e punição exemplar contra excessos servem para isso
mesmo.
Pelos
relatos, que podem ser verdadeiros ou falsos e que só podem ser comprovados
pelas câmeras nos uniformes dos policiais, houve torturas e execuções, ou seja,
nossos agentes da lei descumpriram a lei arvorando-se juízes e algozes.
E
não estou falando que os mortos não eram todos bandidos perigosos que não
receberam os policiais à bala. Novamente, isso saberemos quando as imagens das
câmeras forem liberadas (esperemos que sejam realmente e que não estejam
adulteradas).
Por
isso, caso os PMs tenham cometido crime, deverão ser punidos na forma da lei.
Porém,
aqui entra o fator Tarcísio.
O
governador já afirmou à imprensa, sem nenhuma investigação, que os policiais
agiram extremamente (sic) dentro da lei, contestando a ouvidoria da própria
Polícia Militar.
Tarcísio
volta aos tempos em que havia uma guerra de todos contra todos, anterior a
criação do Estado. A barbárie imperava e a lei do mais forte prevalecia. Somente
com a criação do Estado as pessoas puderam dormir com mais segurança. Por óbvio,
desde sempre as leis protegem os que possuem propriedades privadas e, portanto,
são poderosos.
Baseado
nessa lógica, é preciso acreditar muito em histórias da carochinha para confiar
que Tarcísio de Freitas punirá os policiais.
Mas
o que pretende Tarcísio? Ele não vinha dando sinais de que estava aos poucos
rompendo com o extremismo de Bolsonaro para assumir o vácuo de uma direita mais
civilizada que governou São Paulo por tantos anos? Até os bolsonaristas
radicais se surpreenderam.
Parece
que Tarcísio pretende, com sua atitude, trazer os policiais militares do estado
para seu lado, dentro da estratégia de rompimento com o capitão.
Além disso, tenta trazer de volta para seu lado os bolsonaristas que o abandonaram depois que ele se colocou a favor da reforma tributária, como quem diz: "olha, eu faço o que vocês gostam!" "Eu sou igual ao Bolsonaro!"
Hoje,
em toda a Baixada Santista, o clima é de medo e insegurança. Notícias dão conta
de ameaças de grupos de traficantes em implantar o terror à população, mas,
numa filtragem rápida, percebe-se uma estratégia de Tarcísio de assustar as
pessoas induzindo-as a incondicionalmente se colocarem do lado da polícia.
É
muito triste e nojento usar a barbárie cometida no Guarujá para fins políticos.
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