domingo, 22 de maio de 2016

Quase tudo pode ser de esquerda ou de direita

Por Walter Falceta



Nem de longe, a definição binária de esquerda e direita oferece caminho na busca de uma filiação ideológica.
Considerando que a interrogação se apresenta todos os dias, seguem as pistas.

Nosso problema de grosso calibre é a referência da cartilha. Segundo ela, a esquerda cerra fileiras com o trabalho; a direita, com o capital.
Nem de longe, no entanto, essa definição binária oferece caminho na busca de uma filiação ideológica.
Considerando que a interrogação se apresenta todos os dias, seguem as pistas.
O humano de esquerda busca a felicidade. Ponto! O humano de direita também, mas pelo sucesso. E quase sempre o sucesso se mede pelo patrimônio.
Não bastou?!
Sigamos, pois!
O humano de esquerda busca o avanço. O humano de direita também, mas não se importa de chegar sozinho (ou com poucos pares) ao destino.
Percebeu agora a diferença? Não? Vamos em frente...
Durante a caminhada, o humano de esquerda usa a mão como apoio. Ela frequentemente está voltada para trás ou para baixo, para trazer ao trajeto aquele que se atrasou ou caiu.
O humano de direita também, mas sua mão busca a corda que o levará antes ao outro lado do rio. É aquela que vai remar mais rapidamente. E agarrará, ainda que solitária, a última passagem no trem que atravessa a fronteira.
O humano de esquerda tende a adorar sua família, aquela que começou na África e que hoje habita todos os continentes. Ela se inaugura em anônimos remotos e se resume em seus filhos.
O humano de direita também adora sua família, mas é aquela de seu núcleo particular e privado. Em defesa desta pequena célula social, ele estabelece seu código particular de valores.
O humano de esquerda busca a satisfação, é evidente. Porém, muito mais satisfeito está quando seus semelhantes gozam do mesmo conforto físico, mental e espiritual.
O humano de direita igualmente busca a satisfação, mas contenta-se com a própria ou aquela de seu clã.
O humano de esquerda adora competir, mas consigo mesmo. Ele pretende fazer melhor do que fez ontem e contribuir com seu coletivo. Quer dar a ele de acordo com suas possibilidades.
O humano de direita também compete, todos os dias, nas horas todas em que permanece desperto. Mas assim o faz para superar seus semelhantes. Quer dar a si mesmo todas as oportunidades.
O humano de esquerda coopera, cultivando um sentimento de solidariedade que atravessa as classes sociais. O humano de direita também coopera, mas com suas corporações de ofício, na defesa de seus interesses classistas.
O humano de esquerda exercita dia e noite a projeção dialética. Ele se sente também na pele dos famintos, dos desterrados, das vítimas do preconceito, dos escravizados, dos injustiçados, de todos os excluídos.
O humano de direita também se projeta dialeticamente no outro. Ele se mira nos que seguem no pelotão da frente. É essa conduta que pretende emular. É este êxito que pretende reproduzir.
O humano de esquerda ama as pessoas, especialmente quando elas se chamam comunidade. O de direita também, especialmente quando elas se chamam mercado.
O humano de esquerda pensa em compartilhar seu excedente. O de direita também, mas costuma cobrar juros altos pelo que entrega.
O humano de esquerda, diante do colega sem merenda, é generoso e divide parte da sua própria.
O humano de direita também é generoso. Diante do famélico, aconselha-o gentilmente a trabalhar mais.
O humano de esquerda tende a compreender a causa da miséria. Associa-a à exploração, à restrição de acessos e à negação de direitos.
O humano de direita também compreende bem a causa da miséria. Para ele, é resultado da falta de esforço.
Nesse sentido, o humano de esquerda valoriza demais o talento. Para isso, luta para que todos desenvolvam suas potencialidades.
O humano de direita também venera o talento, e lamenta que os pobres tenham nascido sem essas qualidades especiais.
O humano de esquerda pode ou não acreditar em Deus. Quando crê, imagina que Ele instrua a mais perfeita comunhão. O humano de direita também. Mas imagina que Ele defina e premie os escolhidos.
No fundo, ninguém é 100% de esquerda ou 100% de direita, mas não é tão difícil assim definir qual caminho desliza melhor sob nossos pés.
E você, viaja de que lado?



Walter Falceta é jornalista, pintor e músico

sábado, 21 de maio de 2016

E aí, coxinhas? Ficou só para os mortadelas limpar a lambança que vocês fizeram?

Por Fernando Castilho

Charge: Aroeira


Com a sua enorme ignorância política, foram eles que colocaram toda a Nação de joelhos diante de um gangster. E agora quem é que vai à luta para restabelecer a Democracia e o Estado de Direito?

Em junho de 2013 as pessoas que saíram às ruas exigiam basicamente combate à corrupção e reforma política.

Dilma, como ninguém, combateu a corrupção. Não interferiu uma vírgula nas investigações da Lava Jato, deixando a Polícia Federal totalmente à vontade para apurar a corrupção.

Dilma também enviou um projeto de reforma política ao Congresso que não deu em nada.
Portanto, ela fez sua parte naqueles dias.

Mas logo após as eleições de 2014, com um quadro econômico diferente dos anos anteriores, com uma crise mundial se alastrando sobre o Brasil, Dilma precisava de ajuda de todos, inclusive da oposição, para que os dias difíceis que se aproximavam fossem vencidos patrioticamente por todos nós unidos.

Mas qual! A oposição, a mídia e setores do Judiciário vislumbraram rapidamente a possibilidade de aproveitar o difícil momento para sabotar o governo onde pudessem.

Enxergaram também a oportunidade de defenestrá-la do poder e de quebra, prender Lula, acabando assim com o PT e com qualquer possibilidade de pluralismo de ideias na condução da Nação.

A mídia tratou de enganar os coxinhas fazendo-os crer que Dilma estava enlameada em meio à corrupção.

A falta de disposição e a preguiça em checar dados estatísticos, notícias e fontes se encarregaram de motivar os coxinhas a disseminar seu ódio pelas redes sociais. Além do Jornal Nacional e da Veja, o Facebook se tornou a única fonte de informação assimilada pelos analfabetos políticos.

Pois bem, eles conseguiram.

Num golpe aplicado, primeiro pela Câmara, cujos deputados votaram pela esposa, pela família e por Deus ( mas nunca por crimes de responsabilidade de Dilma), e mais tarde, pelo Senado, cujos membros pacientemente ouviram o ministro da AGU, José Eduardo Cardozo, fazer a defesa mais brilhante que alguém poderia fazer, mesmo assim, Dilma Rousseff foi afastada.

Estava feita a merda (desculpem). Um monstro sairia da toca.

Temer, o vice decorativo assumiu o governo interino, nomeou 7 ministros investigados pela Lava Jato, extinguiu o Ministério da Cultura (devido à enorme pressão, pode ser que volte atrás) e começa a desmontar os programas sociais, mudar a legislação trabalhista a favor dos patrões, extinguir o reajuste automático do salário mínimo, sucatear o SUS e a fazer muitas outras maldades contra os menos favorecidos do país.

A classe média que só porque não precisa de programas sociais e educação e saúde públicas, ao desdenhar das medidas de Temer, não percebe que se a desigualdade social se agravar, ela é que será penalizada num futuro próximo?

Não vai adiantar se mudar para condomínios fechados com toda a segurança e andar em carros blindados. Quando os pobres sofrem com a ausência do Estado, eles próprios tratam de tentar resolver pelos seus próprios meios a desigualdade social.

Dirão, mas mesmo com os programas sociais a violência continua. Mas se eles não existissem a violência poderia estar muito pior, não percebem?

Os coxinhas não vão assumir o monstro que ajudaram a criar. Alguns, nas redes sociais, buscam desesperadamente argumentos a defender Temer, mas não conseguem achar e pagam mico.

Outros simplesmente mudaram de assunto. Agora, mais do que nunca, no Facebook, compartilham fotos de cãezinhos e gatinhos fofos, lindos salmos e frases motivadoras. Nada, mas nada mesmo de política.

Não percebem ou não querem admitir que quem governa de fato o país, através de Temer, é Eduardo Cunha, aquele que possui imenso capital corrupto, outrora objeto de sua ''indignação''?

Pois bem, apesar da imprensa tentar esconder, as manifestações ''FORA TEMER'' acontecem em grande número em todo o país. Fico emocionado ao ver tanta gente.

Caetano e Erasmo Carlos fizeram show no Ministério extinto da Cultura, numa demonstração de que os artistas, os verdadeiros, não aceitarão o golpe.

Mas quem está nas ruas lutando com todas as suas forças e com todo o seu suor pela volta da Democracia, pela saída de Temer e pela volta de Dilma?

Seus eleitores.

Os coxinhas, responsáveis por essa merda que se acumula com esse governo interino espúrio e ilegítimo não têm sequer a dignidade de ajudar a fazer a faxina e deixam nas nossas costas todo o trabalho sujo.

Nós é que temos que limpar a sujeira que eles fizeram.

Vamos fazer.

Vamos tirar Temer.

Vamos reconduzir Dilma ao governo para que ela conclua o mandato para o qual foi eleita.

Vamos restituir a Democracia ao país.

Não será tarefa fácil, mas percebo que a disposição só vem aumentando, a imprensa internacional só fala de golpe e nenhum país reconhece esse governo ilegítimo.

Vocês, coxinhas não terão nenhum mérito nisso. São covardes!

Uma cicatriz profunda foi aberta e jamais se fechará caso não reconheçam a besteira que fizeram e não se desculpem com cada um que está agora fazendo o sacrifício de eliminar o monstro que ajudaram a criar.

Não esqueceremos.


sexta-feira, 20 de maio de 2016

Quem sabe faz a hora... a hora é agora!

Por Fernando Castilho





O tempo vai passando e há a perigosa tendência à acomodação frente à ditadura que vai se instaurando Brasil.
Ou a derrubamos agora, ou poderá ser tarde demais.


Direto ao ponto.

Não é preciso perder meu tempo escrevendo e nem é preciso esclarecer ao leitor os motivos. Eles estão aí para quem quiser ver.

Temer, o interino usurpador veio com tudo para acabar com os programas sociais, privatizar a Educação e a Saúde e livrar os cupinchas que estão sendo investigados pela Lava Jato.

Vai recuar algumas vezes numa tática para tentar convencer as pessoas de que ele não é inflexível e nem insensível.

Porém, o que está por trás de todos os seus atos é muito, mas muito maior.

É a privatização da Petrobras. E a cereja do bolo, a entrega do pré-sal às sete irmãs do petróleo.

É com isso que a gangue vai faturar horrores. Uma pirataria comandada por Serra contra a Nação.

O povo tem feito o que pode. Organiza grandes protestos aqui e ali, porém a mídia cumpre muito bem seu papel de esconder do brasileiro as manifestações. Parece que está tudo em paz.

Precisamos de duas coisas:
1° - fazer manifestações nos domicílios eleitorais dos senadores indecisos. Há eleições para governadores e senadores em 2018 e o que sensibiliza essa turma é voto. Mais nada.

2° - fazer uma mega-manifestação nos moldes das Diretas Já.

Precisamos juntar artistas, intelectuais, juristas, profissionais liberais, assalariados, CUT, MST, MTST, deputados federais, governadores, senadores e prefeitos num local só, com palanque bem grande.

Ônibus devem chegar a esse lugar, vindos de todas as partes do país.

Delegações de outros países, inclusive com presidentes devem também estar presentes
.
Uma manifestação como esta é cara mas poderemos arrecadar recursos para financiá-la. Afinal, se a Diretas Já foi possível, esta também há de ser.

E temos de colocar mais de um milhão de pessoas num domingo, talvez no mesmo Anhangabaú daquele longínquo 16 de abril de 1984, num evento de dia inteiro para chamar a atenção contra o golpe.
 É isto ou eles, os golpistas, vencerão! É hora do tudo ou nada!

Corremos contra o tempo.!

À medida que os dias passam, a tendência é de acomodação, justamente o que não queremos.

''Quem sabe faz a hora, não espera acontecer''.

E a hora é agora!



segunda-feira, 16 de maio de 2016

Retira, Bicudo!

Por Fernando Castilho



Doutor Hélio Bicudo, há uma atitude que o senhor ainda pode tomar para corrigir seu erro, restabelecer a Democracia, reconduzir Dilma à seu cargo legítimo, restabelecer a garantia dos direitos dos trabalhadores e de quebra, limpar sua biografia.

Doutor Hélio, em 3 de dezembro de 2015 este blogueiro escreveu-lhe uma carta aberta.

O senhor tinha acabado de concluir juntamente com Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal, o parecer que conclui que Dilma Rousseff praticou crime de responsabilidade.

Foi com este parecer que Eduardo Cunha se vingou da presidenta proporcionando ao mundo inteiro aquele espetáculo circense que culminou com a aprovação do impeachment de Dilma pela Câmara dos Deputados.

Na ocasião não sei se o senhor ficou envergonhado com o fato de que aqueles representantes do povo sequer citaram seu parecer e o crime de responsabilidade da presidenta, preferindo dedicar seus votos à família, à esposa e a Deus. Eu fiquei.

O processo foi encaminhado ao Senado e desta vez quem deu espetáculo vexatório foi sua colega de parecer, a Dra. Janaína Paschoal. O senhor não compareceu, talvez já prevendo que sua colega iria repetir a performance do ato em frente à Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Embora o senhor e Miguel Reale Jr. sejam juristas muito conhecidos, convenhamos, o parecer foi muito fraquinho e não resistiu à brava defesa que o ministro da AGU, José Eduardo Cardozo fez da presidenta Dilma. A defesa foi tão didática que permitiu que este blogueiro, um neófito em Direito, enfim compreendesse o que são créditos suplementares e pedaladas fiscais.

Não são crimes e o senhor e os senadores sabem disso. Mas Dilma foi afastada mesmo assim.

Não sei se recebeu 45 mil reais do PSDB, como Janaína, ou até mais por ter mais nome que ela. Não sei.

Pois bem, agora o senhor se diz preocupado com os encaminhamentos dados pelo governo interino Michel Temer. Não exterioriza, mas, pelo tom das palavras, parece arrependido.

Por acaso o senhor é adolescente inexperiente e não percebeu o que viria depois do golpe? Veja o ministério de homens brancos investigados pela Lava-Jato.

Por acaso o senhor é neófito em política e não conseguiu fazer uma simples análise de conjuntura para prever que os direitos dos trabalhadores seriam retirados?

Por acaso não conhece suficientemente os golpistas que nunca aceitaram o resultado das urnas e não sabia que eles iriam arrochar o país com um retrocesso de mais de vinte anos? O senhor conviveu com eles ao apresentar-lhes o parecer.

Por acaso o senhor não tem apreço pela Democracia que o seu parecer acaba de destruir?

Não, seu ódio e instinto de vingança venceram a ética e a coragem, aquelas mesmas ética e coragem que o senhor teve ao combater o esquadrão da morte contra as ameaças do delegado Fleury. E ainda causou um racha com seus filhos.

A mídia do mundo todo critica o processo contra Dilma e o chama de golpe.
Países de várias partes do mundo chamam o impeachment de golpe.

Pois é, doutor, seu parecer é o fato gerador desse golpe.

Sua biografia que era das mais respeitadas será manchada. O senhor será muito mais lembrado como coautor do golpe do que lutador contra o esquadrão da morte.

E o senhor sabe muito bem que a resistência está crescendo no Brasil e este governo não há de aguentar muito tempo.

Então, há uma atitude que o senhor ainda pode tomar para corrigir seu erro, restabelecer a Democracia, reconduzir Dilma à presidência, restabelecer a garantia dos direitos dos trabalhadores e limpar sua biografia.

RETIRE SEU NOME DO PARECER, DOUTOR!

Se o senhor fizer isso, o parecer perde consistência e credibilidade, uma vez que ele é valorizado muito mais pela sua assinatura simbólica de ex-filiado ao PT, do que pelas de Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal.

Reconhecer e arrepender-se é muito mais digno do que persistir num erro que certamente não fez Justiça e que causará o sofrimento de milhões de brasileiros.

Retira, doutor!



sábado, 14 de maio de 2016

Depois do golpe, a ditadura

Por Fernando Castilho





As palavras-chave do governo Temer são golpe, ilegitimidade, neo-liberalismo, privatizações em massa, extinção de programas sociais e repressão aos movimentos sociais. Está fechado o círculo que lhe dá a cara de uma ditadura.

O golpe foi dado. Todos nós já o esperávamos porque para o consórcio que se formou para derrubar a presidenta eleita não importava se houve crime de responsabilidade ou não. A decisão foi meramente política porque faz parte da agenda.

Mas até onde vai essa agenda?

Michel Temer assumiu o governo e tratou rapidamente de dar uma cara ao seu ministério.
Há entre os novos ministros 7 investigados pela Lava-Jato.

Não há nenhuma mulher e nenhum negro em sua equipe de governo.

Foram extintos os ministérios da Cultura, Previdência Social, Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos, ou seja, tudo aquilo poderia importar às minorias.

As medidas impopulares ou como chamam, o pacote de maldades de Temer são muito numerosas e atingem, como era de se esperar, o trabalhador e as pessoas mais humildes.

Os programas sociais sofrerão revisão ou até mesmo extintos.

As privatizações voltarão com força ao cenário brasileiro.

O pacote de maldades pretende se estender até a extinção da Saúde e Educação públicas!

E a Controladoria Geral da União, hein? Extinta. Ninguém vai mais investigar nada dentro do governo.

Para o ministério da Justiça foi chamado o ex-secretário de Segurança Pública de Alckmin, aquele que reprimiu violentamente os estudantes secundaristas que ocupam escolas e que ocuparam a Alesp. É este homem que foi premiado pelos seus valorosos serviços prestados em São Paulo, o estado mais fascista do Brasil.

Alexandre de Morais, é este o nome, já prometeu que irá reprimir os movimentos que fizerem manifestações ''violentas''. As aspas vão por conta de que é ele quem julgará o que é manifestação pacífica ou violenta.

E é aí o ponto nevrálgico da política neo-liberal que Temer quer implantar.

O povo de maneira geral, aquele que vive no Brasil mais profundo ou que não está ainda bem informado do que está acontecendo, ou que ainda está perplexo tentando se convencer de que tudo não passa de um pesadelo, ao sentir no bolso o vazio que essa política vai lhe provocar, poderá se juntar aos protestos contra o golpe que ocorrem em todo o país.

Para não dar tempo para que essa percepção ocorra, o Senado não esperará muito para proceder à votação do impeachment.

Mas se o povo em grande número sair às ruas, Alexandre Morais fará uso das Forças Armadas para conseguir reprimir o movimento. E aí caberá à mídia se autocensurar e não mostrar as barbáries cometidas. Como após 1964.

Para completar a agenda golpista, Lula terá que ser preso, não importa que não haja crime algum cometido, pois o consórcio não correrá o risco de vê-lo candidato em 2018.

No mais a Lava-Jato será desativada aos poucos, os empreiteiros serão soltos pois Temer precisa deles pra concluir as obras de Dilma e posar para as fotos.

Pois bem, se ainda alguém não percebeu, após a Constituição ter sido rasgada, após o Estado de Direito estar sendo desrespeitado com as mais variadas arbitrariedades, inclusive por parte do STF, já estamos vivendo numa ditadura.

Por enquanto ela não é militar.

Para acabar com tudo isso e voltarmos à normalidade, só precisamos convencer 5 senadores a votarem contra o golpe. A pressão tem que ser feita em suas bases eleitorais, já que em 208 há eleições para renovação de dois terços do Senado.

Dilma ainda pode voltar.




quinta-feira, 12 de maio de 2016

O golpe está dado. Há muito o que fazer

Por Fernando Castilho




Diante deste quadro pessimista, mas que se escora na percepção de que já vivemos num Estado de Exceção em que vale tudo e onde a Constituição foi vilipendiada, só vejo alguns caminhos a seguir até que ocorra a votação no Senado, dentro do prazo de no máximo 180 dias.

Quando um governo é eleito democraticamente, goza de legitimidade e pode, desde que conste em seu programa, adotar medidas impopulares como forma de encontrar caminhos que possam contornar crises econômicas.

Não é o caso de Michel Temer.

O vice assume agora interinamente o governo e já anunciou indiretamente que vai atingir fundo os direitos e o bolso dos trabalhadores e da classe menos favorecida do país.

Fosse ele político hábil, esconderia o fato, exatamente como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin cinicamente faz.

Mas é possível que Temer esteja muito confiante na blindagem que a grande mídia, encabeçada pela Rede Globo, lhe dará, afinal, jamais os órgãos de imprensa vão deixar transparecer às pessoas de verde-amarelo, que elas embarcaram numa canoa furada.

Mais do que nunca é hora da mídia maquiar todos os índices negativos que advirão de um governo ilegítimo e golpista. Não tenham dúvidas, de uma hora para outra a bolsa subirá, a confiança do consumidor disparará, a inflação e o desemprego cairão e o Datafolha tratará de exibir bons índices de aprovação de Michel.

A mídia sempre fez acrobacias para esconder o que não queria que vissem e mostrar, aumentar ou até mesmo inventar ''notícias'' de seu interesse.

Tenho certeza de que já na primeira semana de ''governo'', Temer divulgará a herança maldita que recebeu de Dilma. Herança da qual ele também é doador. Mas não virá ao caso.

Protestos se espalharão pelo país.

A mídia, através de seus colunistas sabujos, tratará de classificar os manifestantes de baderneiros que querem a ruína do país ou instaurar o comunismo no Brasil.

É quase certo que o ministro da Justiça será o atual secretário de Segurança Pública de São Paulo, aquele que ganhou notável know-how ao reprimir violentamente estudantes secundaristas que protestam contra ocupações de escolas e a máfia da merenda.

Se a coisa ficar feia, não restará alternativa. Willian Bonner terá que justificar como medida necessária a convocação por Temer das Forças Armadas que tem o dever constitucional de garantir a paz e a ordem à Nação.

Lula sairá pelo Brasil denunciando o golpe e aglutinando forças para a resistência. Mas como não estamos mais num Estado de Direito, poderá ser preso mesmo sem crime cometido. Afinal, o golpe não estará completo se ele se candidatar a presidente em 2018.

Não vou falar do STF. Este não sairá da toca a não ser para deliberar pelo arquivamento de processo contra Aécio Neves, que já está na mão de Gilmar Mendes.

Diante deste quadro pessimista, mas que se escora na percepção de que já vivemos num Estado de Exceção em que vale tudo e onde a Constituição foi vilipendiada, só vejo alguns caminhos a seguir até que ocorra a votação no Senado, dentro do prazo de no máximo 180 dias.

1 – Aglutinação das forças de esquerda e dos movimentos sociais. Continuidade da mobilização e protestos quase que diários sem redução da pressão.

2 – Tentativa nas redes sociais de conscientização do maior número de pessoas que ingenuamente foram compelidas a embarcarem no golpe, mas que já estão começando a ter percepção de seu erro.

3 – Atuação forte de Dilma, senadores e deputados nas bases eleitorais dos que estão propensos a votar pelo golpe no Senado. Esses caras só poderão mudar de posição caso sintam que estão ameaçados de não se reelegerem em 2018 quando se renovarão dois terços do Senado.

4 – Manutenção da denúncia de golpe à mídia estrangeira,à ONU e à Corte Internacional de Justiça.

5 – Busca de apoio junto a outros países, principalmente os que compõem os Brics, até porque estes não devem ter nenhum interesse por um governo Temer que poderá tirar o Brasil da aliança e restabelecer a parceria com os americanos devido ao interesse destes pelo pré-sal.

Por fim, todo apoio aos estudantes secundaristas. Eles podem significar muito para o futuro da esquerda.








segunda-feira, 9 de maio de 2016

Cunha fora?

Por Gabriel Priolli


Charge: Aroeira

Eduardo Cunha construiu seu enorme poder nas sombras, das quais emergiu apenas em fevereiro de 2015, para presidir a Câmara. Sabe melhor do que ninguém os caminhos subterrâneos da política. Não precisa de exposição pública para agir.

É inteiramente justo o júbilo nacional pelo afastamento de Eduardo Cunha da Câmara dos Deputados. Mas será que ele é mesmo carta fora do baralho?

Juntemos os pontos:

1) Cunha não perdeu o mandato. Foi suspenso do exercício dele por tempo indeterminado, graças a uma inovação interpretativa, visto que a possibilidade não existe na Constituição. Segundo a BBC Brasil, “a suspensão dura até quando Zavascki entender que persistem os riscos de que o peemedebista use seu mandato para interferir nas investigações”.

2) Cunha não perdeu privilégios. O site Congresso em Foco diz que ele “continuará recebendo salário e outros benefícios garantidos aos deputados, que somam mais de R$ 160 mil por mês. Fora isso, seguirá com as garantias previstas para um presidente da Câmara, como ocupar a residência oficial, locomover-se em carro oficial e jato da Força Área Brasileira (FAB) e ter à sua disposição uma equipe de seguranças”.

3) As condições de trabalho para o deputado seguem excelentes. “Cunha receberá o salário de R$ 33,7 mil, a verba de R$ 35,7 mil para gastar com alimentação, aluguel de veículo e escritório, divulgação do mandato, entre outras despesas. Também estão assegurados os R$ 92 mil reservados para a contratação e manutenção de até 25 funcionários em seu gabinete de apoio. Não entram nessa conta os servidores que atuam por livre escolha do peemedebista na presidência da Câmara”.

4) Cunha controla uma bancada “pessoal” de, no mínimo 160 deputados, para cujas campanhas carreou recursos e dos quais conhece os podres.

5) O processo de Cunha no Conselho de Ética da Câmara, para cassação de seu mandato, foi instalado em 3 de novembro de 2015. Anda a passo de tartaruga, de protelação em protelação. Já é o mais longo processo no conselho em toda a história da Câmara Federal.

6) O presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão, é uma incógnita. Alguns dizem que ele é bem diferente do titular afastado e até sonham que anule o processo de impeachment. Mas, há menos de 20 dias, Maranhão manobrou no Conselho de Ética para limitar a investigação contra Cunha. Não parece exatamente hostil ao colega.

Esse conjunto de circunstâncias sugere que Cunha pode montar um bunker de resistência na Residência Oficial, do mesmo modo que Dilma montará o dela no Palácio do Alvorada.

Mas, ao contrário da Presidenta, que não tem mais força no Congresso, Cunha poderá influir na presidência de Waldir Maranhão e seguir controlando a sua bancada, para manter a obstrução de seu julgamento no Conselho de Ética e decidir as votações em plenário que desejar.

Enquanto não for cassado, portanto, Cunha poderá sustentar um poder considerável, até porque é completamente inédita e esdrúxula a sua situação. Incontáveis políticos morrem de medo de que ele abra a boca e conte o que sabe.

É claro que o ministro Teori Zavascki pode mandar prendê-lo, se entender que tudo acima vai de fato conhecer, configurando a reincidência no delito que levou ao afastamento: uso do cargo para obstruir a Justiça, em proveito próprio.

Mas Teori sabe perfeitamente que, se entregar Cunha a Moro, ele pode negociar a delação premiada. E o risco de derrubar a República com isso, tantas vezes apontado em outros delatores, será real. Ele, sim, tem bala para derrubar dezenas, senão centenas de políticos.

Bancará o ministro a prisão de Cunha? Ateará fogo no circo político inteiro? Para por Lewandowski no Palácio do Planalto?

Eduardo Cunha construiu seu enorme poder nas sombras, das quais emergiu apenas em fevereiro de 2015, para presidir a Câmara. Sabe melhor do que ninguém os caminhos subterrâneos da política. Não precisa de exposição pública para agir.

Assim é que, se houver alguma plausibilidade nesta especulata, o Brasil terá a honra de inaugurar o "home working" parlamentar. E logo com o presidente da Câmara Federal.

De chinelão e bermuda na piscina da residência Nº 171, notebook e celular ao alcance, seguirá Cunha com o país nas mãos.


Gabriel Priolli é Jornalista, consultor político e diretor de televisão
 




domingo, 8 de maio de 2016

''Professora, como é estudar? Me ensina?''

Por Elika Takimoto



A ficha caiu quando um menino de boné e cordão prata veio até mim e falou: “Professora, você fala que eu tenho que estudar. O que seria exatamente isso? Eu não quero perder essa oportunidade. Me ajuda…”

Há quatro anos, tivemos no CEFET/RJ nossos primeiros alunos cotistas. Para entrar lá, os jovens fazem uma prova de seleção. Naquele ano, 50% das vagas foram destinadas para alunos negros, de escolas públicas e com renda baixa.

Lembro-me que levei um susto ao entrar em sala. Havia negros e alunos extremamente diferentes na forma de se expressar. Eu simplesmente não sabia como lidar. Pensei em escrever uma carta para Dilma reclamando. Se esse governo quer colocar cotistas em sala, que ao menos nos dê uma certa infra-estrutura para recebê-los! Psicólogos, pedagogos, assistentes sociais… cadê esse time para nos ajudar? Nada? Como assim?

Da mesma forma que sempre fazia com a minha turma, eu mandava o meu aluno estudar. Dizia que se ele não fizesse a parte dele, não passaria porque bababá bububú… muitos alunos cotistas não mexiam o dedo mesmo eu repetindo o discurso: você tem que estudar! Você tem que estudar!!!

Percebi que muitos não sabiam o que era “estudar” porque, meodeos, nunca haviam estudado. Era como eu virar para qualquer outro na rua que nunca, por exemplo, estudou música e falar: você tem que treinar piano! Você tem que treinar piano! O cara ia sentar em frente ao piano e fazer o quê? Não saberia nem por onde começar! Quando percebi isso entrei em desespero porque o problema era muito maior do que pensava…

O que fazer? Desistir? Deixar que todos repetissem? Mas seriam muitos! O desespero une os seres humanos que estão sob o mesmo inferno. Nós, professores, fomos conversando e juntamente com parte da equipe pedagógica, criando subsídios para esses alunos.

A ficha caiu quando um menino de boné e cordão prata veio até mim e falou: “Professora, você fala que eu tenho que estudar. O que seria exatamente isso? Eu não quero perder essa oportunidade. Me ajuda…”

Esse menino mal sabia pegar no lápis por falta de hábito…

Tivemos que lidar também com tensões e preconceitos que existiam entre eles. Por exemplo, alguns alunos que vieram de escolas particulares com família bem estruturada não entendiam por quê o colega não fazia o trabalho direito. Inicialmente, houve, em algumas turmas, segregação. No jogo de xadrez, por exemplo, onde temos peças pretas e brancas, eles perguntavam quem seria os cotistas e os não-cotistas…

Sei que criamos aulas de atendimento… preparamos nossos monitores para atender a esse novo perfil de aluno. Ensinei a aluno segurar no lápis e organizar o raciocínio para aprender física e fazer problemas de IME e ITA como fazia em todos os outros anos e dá-lhe conversas com todos os demais privilegiados para entender que não é excluindo que incluímos ninguém. Não é fazendo o mal que faremos um bem…

O que nenhum professor do CEFET admitia era baixar o nível de nossa instituição. Eles, os alunos cotistas, teriam que alcançar os demais. Foi preciso muita dedicação, hora extra, mais avaliações para o aluno ter oportunidade de recuperar a nota – dentre outras coisas maiores como, por exemplo, amor ao próximo e empatia à causa – para que o equilíbrio, enfim, fosse alcançado.

Foi preciso muito mais trabalho…

Fizemos um forte levantamento sobre o rendimento desses alunos. Quanta emoção ver as notas deles no segundo semestre se igualando aos demais colegas que tiveram muito mais oportunidades e condições para estudar. Quanta emoção… conseguimos, gente, conseguimos… estamos conseguindo…

Percebi claramente que falta de base nada tem a ver com capacidade intelectual e me surpreendi muito quando vi minha cara se esfarelando e a poesia sambando na cara do meu preconceito ou melhor, do meu desespero – no sentido, aqui, de negar a esperança.

Este ano (como em outros nas minhas turmas do primeiro ano), minha primeira avaliação foi coletiva e não individual. Os alunos tinham que fazer um grupo, estudar entre eles e, no dia da prova, eu faria uma pergunta em que somente um deles, sorteado por mim na hora, resolveria no quadro a questão por mim colocada. A nota do aluno escolhido seria a nota de todos os demais componentes daquele grupo. Essa foi uma forma que encontrei de forçar os alunos privilegiados a me ajudarem a ajudar os menos privilegiados.

Para um jovem de 15 anos, isso beirou o absurdo das injustiças. Uma aluna veio falar comigo: “professora, eu vou ter que convencer o outro a estudar como? Eu tô chamando e ele, quando vem, nada fala!”

Com muito amor e já mais experiente e segura, expliquei a ela que estávamos lidando com uma pessoa que vinha de uma realidade completamente diferente e que a forma de incluí-la não seria fazendo um chamado comum porque esse ser já tinha sofrido na pele o diabo da exclusão social e se sentia amedrontado perante os demais. “Você vai ser o diferencial na vida dele. Dependendo da forma em que se chegue a ele, você pode despertar um artista, um sábio, um colega pensante ou minar qualquer coisa boa que possa emergir.” A menina de 15 anos me olhou assustada. Nunca talvez ninguém havia lhe dado tanta responsabilidade. Continuei: “Sim. Temos que, acima de tudo, cuidar uns dos outros sempre. Isso se aprende também na escola.”

A prova foi ontem. Sem querer, escolhi o aluno com maior dificuldade. Ele foi ao quadro e falou com certa timidez natural, mas com uma segurança que eu mesma não esperava.
Ao final da aula, a aluna veio emocionada falar comigo: “Professora, fiz o que a senhora falou. Chamei o menino de outra forma e com jeitinho fui tirando dele o que ele sabia e mostrando a ele como agir. Estudamos a tarde toda. Você viu como ele falou bem?”.

Havia o orgulho e a felicidade em ter ajudado o próximo e incluir um que, em outra época, seria completamente jogado às margens da nossa sociedade sendo o que chamamos de “marginal” em sua essência.

Escrevo isso sob uma emoção ainda muito forte. Quando vejo a primeira turma de cotistas se formando com louvor sem nada mais ter do que se envergonhar em termos de conhecimento em relação aos seus colegas, eu devo agradecer por essa oportunidade que esse governo me deu de fazer com que eu fosse uma verdadeira educadora. Devo agradecer pela oportunidade de me fazer unir e dialogar com os colegas e crescermos todos como um verdadeiro centro de ensino. Devo agradecer por ter me feito um ser humano infinitamente mais sensível e melhor.

Reclama da política das cotas quem nunca sentiu na pele e testemunhou o desabrochar da dignidade de um cidadão…


Informados e inteligentes

Por Aderbal Freire-Filho 


Charge: Bruno Barros


Ao me considerar relativamente bem informado, quero dizer que não sou informado da situação política do Brasil exclusivamente pela chamada grande imprensa. Se me orientasse pela Folha, por exemplo, ia saber que o fato mais importante do dia primeiro de maio foi que uma mosca pousou na testa, no olho, no queixo, no nariz da presidente da República.

Em respeito a grandeza da poesia de Ferreira Gullar, não me animo a comentar suas opiniões políticas, expostas semanalmente no jornal Folha de São Paulo e das quais discordo. No entanto, lendo sua coluna do domingo, 01/05, me considerei, talvez indevidamente, parte do diálogo que ele de certa forma propôs. Digo indevidamente porque não devo ser, com certeza, uma das pessoas "reconhecidamente inteligentes e bem informadas" a que Gullar se referia, mesmo me considerando relativamente bem informado e tendo uma inteligência mediana, suficiente ao menos para juntar lé com cré.
Gullar é a favor do impeachment e se surpreende com a reação dessas "pessoas reconhecidamente etc...." em face da crise pela qual passa o país e com "os tipos de argumentos que adotam, contrários aos fatos e aos princípios constitucionais que regem a nossa vida politica e social". E diz que "a única explicação para tal atitude só pode ser a necessidade de, fora de toda lógica, insistir na defesa de determinada posição ideológica, seja ela razoável ou não".
Ao me considerar relativamente bem informado, quero dizer que não sou informado da situação política do Brasil exclusivamente pela chamada grande imprensa. Se me orientasse pela Folha, por exemplo, ia saber que o fato mais importante do dia primeiro de maio foi que uma mosca pousou na testa, no olho, no queixo, no nariz da presidente da República. Um estudante de jornalismo que se dedicasse a preparar uma tese sobre a manipulação da imprensa nesse período e para isso compulsasse as coleções dos jornais dessa época, teria um material abundante, extravagante, caudaloso para fundamentar sua tese.
Gullar, em sua coluna, reproduz de boa-fé a frase "o maior fenômeno de corrupção da história", como fazem os muitos brasileiros informados pelos grandes jornais. Um leitor do The Guardian, comentando matéria publicada naquele jornal inglês que denuncia o golpe brasileiro, é certeiro: diz que essa falsa premissa sozinha é suficiente para desacreditar os argumentos da imprensa brasileira. Considerando que propina e corrupção são quase invariavelmente não documentados, ele se pergunta como alguém pode asseverar que um esquema é o maior da história? E sugere que a imprensa deveria parar de divulgar como fato o que não passa de uma hipérbole.
De fato, não é preciso ir longe para comprovar que essa hipérbole faz parte da Gramática Portuguesa pelo Método de Confundir da Imprensa. Basta estar informado sobre tantos desvios bilionários de patrimônio público, sobre a origem de inúmeros dos personagens dos escândalos de hoje, sobre as práticas de ocultação que, ao longo da nossa história, passaram pela censura e a perseguição na ditadura militar, indo até a conivência judicial, etc.
A corrupção – em qualquer partido, nas empresas, nas igrejas, no futebol, na imprensa, onde quer que ele exista – deve ser combatida tenazmente. Não pode ser bandeira exclusiva de um partido. É uma bandeira da sociedade. Apoio os partidos de esquerda e voto neles, mas não acredito na imunidade de nenhum partido a contaminação pela corrupção. Para combater a corrupção só acredito no aperfeiçoamento dos organismos de combate a corrupção (nem eles imunes, aliás). Aperfeiçoamento que vi acontecer pela primeira vez nos governos do PT.
O que é escandaloso é ir para as ruas ao lado dos políticos e partidos historicamente corruptos, que nunca foram investigados seriamente, defendendo ingenuamente ou hipocritamente o combate a corrupção. A hipocrisia é comprovada sempre no dia seguinte: com o prefeito de Montes Claros, o deputado da merenda, o candidato a prefeito com milhões não declarados e tantos outros fotografados na véspera nas manifestações da TV.
A grande diferença do PT está nos seus programas de governo. Programas que se cumprem, como o PT comprovou. Um exemplo: os governos de Lula e Dilma abriram 18 universidades públicas, os de FHC nenhuma; FHC criou 11 escolas técnicas, Lula e Dilma 214.
(As vezes me pergunto o que pensa Fernando Henrique quando lê seu ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, um dos fundadores do PSDB, eleito Intelectual do Ano, em 2015, escrever que: "em nome da Economia, estamos trocando um ministro da Fazenda competente, Nelson Barbosa, que está buscando retomar o investimento público e impedir a revalorização do real para enfrentar a recessão..."; "a direita e a classe média tradicional venceram. Paralisaram o Brasil, desestabilizaram a democracia, tornaram o país sujeito a crises políticas sempre que a popularidade do presidente da República cair, trocaram o acordo pela luta de classes, mas satisfizeram seu desejo de poder. Que desastre, que loucura, que irresponsabilidade!")
O PT, sobretudo, não foi na conversa de que é preciso aumentar o bolo para depois distribuir. Com o PT, o povo, finalmente, começou a comer o bolo.
A propósito. Lembro de um almoço há muitos anos em que um candidato a prefeito convidou uma meia dúzia de artistas para uma conversa às vésperas da eleição. O Gullar era um dos convidados. Eu, outro. Lembro do Gullar calado durante o almoço. E nós, os outros, a dizer a cultura precisa disso e daquilo, é preciso apoiar o cinema, o teatro, etc e tal. Já na sobremesa, finalmente, o Gullar falou. Foi curto e grosso: "prefeito, e o povo? Eu só quero saber o que o senhor vai fazer pelo povo". Um silencio, o candidato titubeou, tal e coisa, até logo, obrigado, boa sorte. Eu lembro que saí dali pensando: porra, eu falando de nós e o Gullar... esse é o cara. E o povo, o que o senhor vai fazer pelo povo? Nunca esqueci.
Sei que falta muito bolo ainda por dividir. No Brasil, por exemplo, a maioria da estrutura tributária está baseada em impostos indiretos. Assim, um pobre paga o mesmo imposto que um rico. O PT não conseguiu mudar isso, mas seu lema é continuar mudando. Vem daí a reação dos poderosos: pelo que esses caras já fizeram, vão chegar nos nossos "sagrados direitos".
No domingo, 10/04, a Ilustríssima, caderno da própria Folha, ouviu intelectuais –inteligentes e informados – sobre suas posições em relação ao impeachment. Eram cerca de 30. Alguns não se definiram. Mas 20 se declararam contra o impeachment e 7 a favor (entre os 7 estava o Fernando Henrique, cujo voto talvez fosse melhor anular, pois ele é parte; então, votos válidos a favor do impeachment: Ferreira Gullar e mais 5). Ou seja, entre os bem informados e inteligentes a grande maioria votou contra o impeachment. Uns poucos votaram como os deputados que vimos desfilar naquele domingo vergonhoso: aparentemente nada inteligentes, desonestos, obscurantistas...
Não parece mais lógico, então, que esses 20 homens que se declaram contra o impeachment se surpreendam com pessoas reconhecidamente inteligentes e bem informadas como o Gullar adotando argumentos contrários aos fatos e aos princípios constitucionais que regem a nossa vida política e social?
Não consigo atinar com a razão que qualquer deles iria sugerir para tal atitude do grande poeta. Não acredito que dissessem ser a "necessidade de, fora de toda lógica, insistir na defesa de determinada opção ideológica, seja ela razoável ou não". Não vejo Ferreira Gullar ao lado dos defensores de uma ideologia de direita, como Jair Bolsonaro, Ronaldo Caiado e tantos, tantos outros."

Aderbal Freire-Filho é diretor e autor teatral, ator e apresentador.