segunda-feira, 27 de maio de 2024

DILMA - A Sangria Estancada

Por Fernando Castilho

Capa: Fernando Castilho


        INTRODUÇÃO DE DILMA – A Sangria Estancada

 

“O Inferno está cheio de boas intenções”

Samuel Johnson

 

“Não quero o impeachment, quero ver a Dilma sangrar.”

Aloysio Nunes Ferreira

 

“Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.”

Romero Jucá

 

 

Um movimento contrário ao aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus na cidade de São Paulo deu início às chamadas jornadas de junho de 2013.

Começou aos poucos e foi crescendo até se espalhar por todo o Brasil enquanto, qual camaleão, ia assumindo nova identidade e novos propósitos.

Enquanto o Movimento Passe Livre, de origem proletária, reivindicava aquilo que lhe parecia justo na época, meu coração e minha mente naturalmente a ele se juntaram, sabedores das agruras com que as pessoas pobres deste país tão desigual, que necessitam de transporte público para trabalhar ou estudar, enfrentam todos os dias.

Mas, também aos poucos, fui percebendo com estranheza que, no espaço de alguns poucos dias, a grande mídia, grandes jornais e revistas impressos e as redes de televisão e rádio, que no início apressaram-se em criticar e condenar o movimento, através de colunistas e editoriais, começaram a mudar de opinião acrescentando ao caso uma conotação mais política e ampliando o foco que antes era localizado, para todo o país.

Surgiu a figura do gigante adormecido que acordou indignado, ao mesmo tempo simbologia e senha que tomou as redes sociais de maneira avassaladora, como a querer nos mostrar que estávamos errados em conferir aprovação de quase 60% ao governo Dilma Rousseff somente um mês antes, segundo pesquisa Datafolha.

A conclamação a protestar contra o governo era difusa e artificial, pois nos ordenava a, como zumbis, sair às ruas com pautas confusas e genéricas como maior liberdade, fim da corrupção, reforma política etc.

No governo Dilma a liberdade nunca deixou de existir porque é o cerne da democracia. Nenhuma manifestação foi reprimida pela presidente.

É justo exigir o fim da corrupção, mas Dilma nunca foi corrupta, como as intensas investigações, a imprensa e o tempo comprovaram. A Polícia Federal e o Ministério Público sempre tiveram por parte de Dilma a autonomia necessária para investigar quem quer que fosse, inclusive o ex-presidente Lula.

A reforma política estava no Congresso, o responsável por aprovar as leis.

Mas então, o que queriam?

Dilma chegou a se pronunciar em rede nacional de televisão se mostrando favorável às reivindicações e se colocando ao lado dos que protestavam, mas, mesmo assim, as panelas batiam ruidosas em protesto.

Mas quem era essa presidente que de uma hora para outra passou do paraíso para o inferno?

Nossa primeira presidente mulher é uma figura com personalidade complexa. Ainda jovem, insurgiu-se contra a ditadura militar, ingressando na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Passou quase três anos em reclusão, de 1970 a 1972, período em que foi brutalmente torturada.

Graduada em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ingressou no Partido Democrático Trabalhista (PDT) de Leonel Brizola.

Foi Secretária da Fazenda na Prefeitura de Porto Alegre, em seguida, Secretária de Energia, Minas e Comunicações do governo Alceu Collares, e mais tarde do governo Olívio Dutra, ambos no Rio Grande do Sul.

Durante o governo Lula foi ministra de Minas e Energia.

Como se vê, Dilma Rousseff não era nenhuma neófita quando foi escolhida para ser a sucessora de Lula e isso foi demonstrado em seu primeiro mandato considerado exitoso, de 2010 a 2014, mas isso não impediu que ela fosse chamada a partir de 2015 de ignorante, burra ou anta. Chegaram à grosseria de vaiá-la e xingá-la com palavrões em pleno Itaquerão lotado quando da abertura da Copa do Mundo, viabilizada por ela, contra todos os prognósticos negativos da mídia e dos partidos de oposição que já se articulavam para o golpe de estado que a derrubaria.

Dilma também errou. Dona de uma personalidade de característica mais técnica que política, não ouviu Lula e seus conselheiros mais próximos quando estes a alertaram do risco do golpe que se avizinhava, mantendo-se inflexível em sua postura republicana, acreditando que, por não ter cometido crime algum de responsabilidade e por não ser corrupta, o processo de impeachment que já se tramava não prosperaria na Câmara dos Deputados.

Foi no início de 2014, ano eleitoral em que a presidente e seu projeto de continuidade com os projetos sociais iriam ser postos a prova, que cerca de 380 textos analíticos, dos quais 89 compõem este livro, começaram a ser escritos. Esses textos foram publicados em blog próprio, em outros blogs de esquerda e também nas redes sociais.

Naturalmente, alguns geraram debates intensos e relativa repercussão.

Neles há análises que incluíram previsões que se realizaram e outras que não. A maioria sim. Por exemplo, quando já antes das eleições de 2014, este escriba era voz quase solitária a defender que haveria golpe de estado. Ou quando, muito antes de se aceitar o fato, falava da prisão de Lula num texto contestadíssimo pela esquerda republicana que confiava piamente nas instituições.

Em 2016 já aventava a possibilidade da eleição de Jair Bolsonaro em 2018, embora a descartasse como certa porque seu adversário seria Lula e este, naquele momento era imbatível. O tempo mostrou que com Lula preso e com um atentado a faca ainda nebuloso que provocou comoção nacional, o capitão aproveitou para ser eleito.

Os textos foram aqui reunidos sem artificialismos destinados a corrigir ou atualizar as análises feitas na época, portanto, a não ser por revisões de eventuais erros de português, são originais.

Logicamente, não compareço aqui como visionário, mas tão-somente como uma testemunha ocular de um período de nossa História cujos detalhes temos a tendência de esquecer. Em cada um deles houve empenho na pesquisa, olhar arguto e capacidade de análise.

O livro é quase um diário. Foi escrito quase que diariamente e se colocasse aqui todas as palavras, o número de páginas seria muito grande. Preferi, por isso, publicar apenas os textos mais significativos. Alguns poderão ser acessados através de leitura de QR Code.

Na maioria das análises acrescentei ao final comentários que remetem aos dias atuais a título de comparação, o que permite iniciar reflexões sobre os desdobramentos dos acontecimentos passados e explicitar a evolução surpreendente dos fatos iniciados naquele ano de 2014 que culminaram na eleição de um governo de características fascistas destinado a destruir todos os avanços civilizatórios construídos não sem esforço durante muitos anos, tentar um retrocesso de volta a ditadura e contribuir decisivamente para a morte de mais de 700 mil pessoas pela Covid-19.


Adquira em 

https://clubedeautores.com.br/livro/dilma



quinta-feira, 16 de maio de 2024

A arte de escrever

Por Fernando Castilho


Meus amigos, há mais de 10 anos escrevo para este blog.

No meio dessa caminhada, escrevi 4 livros, além de um, ainda em construção, composto por haikus (poesia japonesa constituída pela métrica de fonemas 5-7-5) escritos em japonês.

Colaboro com sites como Brasil 247, Revista Fórum, Construir Resistência e Piauí Hoje.

Sou colunista semanal do Jornal GGN.

Ao mesmo tempo, exercia a profissão de professor, porém, envolvido com trabalhos free lancer de revisão de textos, decidi me dedicar somente à atividade literária.

A revisão de textos é atraente, desde que o revisor consiga penetrar na mente do escritor e descobrir seu estilo. O desafio é manter esse estilo e não impor o próprio. Penso que isso é tão importante quanto dar ao texto o português correto.

Já havia, em meus 4 livros, feito também a diagramação e, por isso, adquiri também essa experiência.

Um desafio na arte literária a que me proponho é ser ghost writer, aquele escritor que coloca no papel as palavras de alguém que não tem muita familiaridade com textos ou sente dificuldades com a redação. Anseio muito por isso e espero que surja logo essa oportunidade.

Outro desafio é biografar. Acho fascinante escrever sobre a vida de uma pessoa.

Contar a história de uma família também é uma atividade atraente e desafiadora.

Portanto, leitor, se tiver conhecimento de alguém que esteja necessitando de meus préstimos, por favor, me recomende. O trabalho será feito com muita dedicação e correção. Podem me contatar pelo WhatsApp (11) 99717-9838.

Enquanto isso, continuem a acompanhar meus textos neste blog. Em breve darei continuidade.

Obrigado!





terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Bolsonaro Nostradamus

Por Fernando Castilho

Foto: G1, por Daniela Lima, Bruno Tavares e Fábio Santos


Se a Abin, durante o governo anterior se prestava a isso, não se pode admitir de forma alguma que, passado um ano de administração Lula, ela ainda esteja a serviço da família do ex-presidente.


Quarta-feira, 24 de janeiro.

 

Jair Bolsonaro publica uma postagem enigmática no X, no melhor estilo Nostradamus:

- As próximas semanas poderão ser decisivas.

- Vivemos momentos difíceis, de muitas dores e incertezas.

- "Quando um ímpio não quer que você olhe para um lado da estrada, ele bota fogo no outro lado da mesma, pois assim ninguém saberá do mal maior que ele fez do lado que você não olhará."

- Deus, Pátria, Família e Liberdade.

- Jair Messias Bolsonaro

A postagem causou alvoroço nas redes sociais e nos jornalões. Parecia que o ex-presidente previa que num futuro muito próximo algo iria lhe acontecer. Ou a um de seus filhos, talvez.

Domingo, 28 de janeiro.

 

Bolsonaro, junto a seus 3 primeiros filhos (o 04, Jair Renan e a ex-primeira-dama, Michelle, não estavam presentes porque o patriarca somente leva em consideração seu núcleo familiar mais duro), faz uma live para entre outras coisas, desacreditar mais uma vez o sistema eleitoral e sugerir perseguição no caso do escândalo da Abin. O outro assunto foi o lançamento de um curso para conservadores a ser ministrado por Eduardo e Carlos, ora vejam. Se passou pela sua cabeça, leitor, que esse curso que custa 300 reais poderá servir como lavagem de dinheiro, você só está sendo maldoso e imaginando coisas, viu?

Segunda-feira, 29 de janeiro.

 

A Polícia Federal faz busca e apreensão nos endereços de Carlos Bolsonaro, tanto na Cãmara de Vereadores do Rio de Janeiro, como no Condomínio Vivendas da Barra onde reside. Além disso, não escapou à PF bater à porta da mansão de Bolsonaro em Angra dos Reis, onde foi gravada a live.

Os Bolsonaro não estavam em casa. Teriam saído para pescar entre 5 horas da madrugada e 6 e meia, de acordo com várias versões.

A PF, incumbida de apreender os celulares de Carluxo, aguardou pacientemente até o meio-dia quando o vereador voltou à casa. Não se sabe se trazia peixes com ele. O celular foi apreendido.

O que temos, então?

Numa escala de 0 a 10, a suspeita de que a familícia foi avisada por alguém da PF (ou mesmo da Abin) pode estacionar no número 9.

Uma comunicação via WhatsApp de uma assessora de Carluxo foi interceptada pela PF. Na mensagem, a assessora pedia ao delegado Ramagem, então ainda chefe da Abin, informações sobre a família Bolsonaro, demonstrando cabalmente que a agência atuava para sua blindagem, uma nova forma de corrupção e apropriação do Estado para benefício particular do governante.

E se a Abin, durante o governo anterior se prestava a isso, não se pode admitir de forma alguma que, passado um ano de administração Lula, ela ainda esteja a serviço da família do ex-presidente.

Durante o governo de transição, ainda em 2022, Lula já deveria ter dado ordens ao general GDias, escolhido como ministro do GSI, para que mapeasse todos os funcionários da pasta para cortar as cabeças dos bolsonaristas com algum poder de comando, mas não o fez. O resultado todos sabemos, pois ficou explícito no famigerado dia 8 de janeiro de 2023.

O que não sabíamos é que a Abin, um dos órgãos mais sensíveis, pois trabalha essencialmente com informação, um dos bens mais importantes para um governo, manteve durante todo o ano de 2023 bolsonaristas, incluindo aí o nº 2 da pasta!

Isso significa pouco? Não, significa que, tanto Ramagem (que mantinha ainda um computador em casa pertencente a Abin, o que tem que lhe custar uma acusação por crime de peculato) quanto Carlos Bolsonaro e, por consequência, Jair Bolsonaro, recebiam diariamente informações sensíveis sobre o governo, os ministérios e o próprio Lula. Quiçá, também sobre ministros do STF e presidentes da Câmara e do Senado. E se isso pode se caracterizar como sendo de uma gravidade extrema, o mesmo se pode dizer da responsabilidade do governo em manter essa estrutura.

Não se defende aqui, de maneira nenhuma, a extinção da Abin. A agência tem muita importância estratégica para o Estado. Não se pode derrubar a floresta para matar a onça. É preciso que muito rapidamente se faça a tardia limpeza.

Para encerrar, uma pitadinha do que a burrice e incompetência podem causar. Jair Bolsonaro, em entrevista à Jovem Pan, ao ser indagado sobre o fato de a assessora de Carluxo ter consultado Ramagem sobre a família, perguntou: “qual é o problema nisso?” É sério, ele admitiu o crime.

Fábio Wajngarten, o advogado de seu Jair, talvez tenha um dos piores empregos do mundo, pois, a todo momento tem que lidar com a língua destravada de seu cliente que insiste em produzir provas contra si mesmo.

 


sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

So this is Christmas and what have you done?

Por Fernando Castilho

Foto: Yasser Qudih / AFP

O que importa é que enquanto comemos peru e chester com os nossos e vemos os caminhões da Coca-Cola passarem nas ruas, milhares defamílias destroçadas não têm o que comemorar na Palestina.

O dia 25 de dezembro, segundo a tradição cristã, comemora a vinda ao mundo do espírito que se fez homem para vir nos salvar, porém, grande parte dos cristãos evangélicos considera a data como sendo pagã porque é nela que ocorre o solstício de verão cultuado pelos antigos que adoravam o deus Sol.

Mesmo assim, países cuja maioria da população não é cristã, como o Japão, desde novembro começam a enfeitar as ruas das grandes cidades com motivos natalinos onde não faltam árvores de Natal e papais-noéis. E embora não haja o espírito cristão, é nesse dia que as pessoas se presenteiam.

No Ocidente, Brasil no meio, o Natal é o dia em que se reúnem as famílias, os parentes e os amigos para trocarem presentes, participarem da tradicional ceia e, principalmente, refletirem sobre a vida, a fraternidade e a harmonia. É o sentido de ser humano aflorando desde nossos corações. Pelo menos deveria ser assim.

Ocorre que é também nesse momento que não lembramos dos nossos irmãos que estão sendo dizimados aos milhares na Palestina.

Mas como alguém, neste momento tão lindo, tão cristão, tão humano que estamos começando a viver, vem agora tirar nossos corações deste conforto tão mágico, tão gostoso?

Não importa se há poucos cristãos na Palestina. O que importa é que enquanto comemos peru e chester com os nossos, milhares de famílias destroçadas não têm o que comemorar na Palestina. Há maridos sem esposas, esposas sem maridos, filhos sem pai nem mãe, maridos e esposas sem filhos, ou seja, famílias sem teto, amputadas de seus membros tão queridos por causa de uma guerra cuja causa há 70 anos nos vem sendo vendida como religiosa, motivada por uma entidade que teria escolhido o povo judeu como seu preferido, e concedido direito às terras ocupadas há milênios pelos palestinos. Justamente Deus, o pai de Jesus, teria dado início ao genocídio que se pratica na Palestina em nome dele?

Então é Natal. E o que você tem feito?

Hora de dar as costas ao massacre porque não é momento de pensarmos nisso, afinal, estamos com nossos familiares, parentes e amigos, nos congraçando, falando de amor e harmonia, trocando presentes, nos empanturrando de peru e chester e expressando o que temos de melhor como seres humanos. Não é hora de pensarmos nisso. Porque somos cristãos e tudo que precisamos agora é pensar em Jesus.

War is over
If you want it

 

Créditos da música Happy Xmas (War Is Over):

John Lennon/Yoko Ono


O tapa que Quaquá deu em Donato

Por Fernando Castilho

Foto: reprodução

A CPMI do 8 de janeiro perdeu uma grande oportunidade de indiciar os deputados golpistas, talvez por receio de cortar na própria carne. Agora eles continuam a tentar o golpe.


Ficamos chocados com os deputados bolsonaristas que deram as costas para a bandeira do Brasil no plenário da Câmara durante a cerimônia de promulgação da emenda constitucional que reforma o sistema tributário do país? Por quê?

Era totalmente esperado que Lula seria vaiado pela extrema-direita, afinal, ele coroa a finalização de um ano de recuperação com um projeto que impactará economicamente a médio e a longo prazo a vida dos brasileiros. Vale ressaltar que a grande imprensa noticiou que o presidente recebeu aplausos e vaias, como se essas duas manifestações fossem geradas pelo mesmo número de pessoas, o que é totalmente falso, até porque foi a maioria dos parlamentares que votou a favor do projeto.

Já estava tardando uma reação mais violenta às provocações dos bolsonaristas e esta aconteceu pela palma da mão do deputado Washington Quaquá (PT-RJ) que foi parar no rosto do extremista de direita Messias Donato (Republicanos-ES).

Não, não se trata aqui de apoiar ou justificar a atitude de Quaquá, mas lembrar que Donato o provocou. E sabe-se lá o que foi falado.

No ensino fundamental II é muito comum um aluno de repente bater em outro, aparentemente sem motivo algum, mas quase sempre se trata de uma reação a uma grave ofensa. A diferença é que deputados não são pré-adolescentes, mas sim, pessoas eleitas para representar o povo no Congresso Nacional. Por isso, a atitude de Quaquá deve ser criticada.

Donato, mais tarde, foi chorando ao plenário fazer aquele discursinho de que é homem de bem, cristão de família. Aproveitou bem o incidente para se fazer de vítima ao dizer que agora sente muito medo.

No Instagram, Quaquá postou vídeo de Donato chorando e chamou o colega de "fascista chorão". "Adora xingar e agredir os outros, mas não aguenta uma porrada", afirmou.

Se não aprendermos com quem estamos lidando, não saberemos combatê-los. E essa gente só aprenderá debaixo da vara da Justiça.

Às vezes parece que esquecemos que deputados e senadores bolsonaristas foram influenciadores da tentativa de golpe de 8 de janeiro e que ainda estão tentando aglutinar forças para novas investidas.

A CPMI perdeu uma grande oportunidade de indiciar esse pessoal, talvez por receio de cortar na própria carne. Se fossem indiciados, talvez a esta altura se comportassem melhor.

Infelizmente, apesar de Lula ter durante este ano demonstrado a diferença entre os dois governos, Jair Bolsonaro, inacreditavelmente, ainda possui um grande número de apoiadores.

O fato é que os bolsonaristas estão perdidos em seus discursos que não contém propostas para o Brasil nem argumentos para contrapor as medidas que o governo Lula tem tomado. A todo momento só sabem falar de aborto, dama do tráfico e ida de Flávio Dino ao Complexo da Maré.

Nesta semana chegaram à ousadia de tentar encaminhar um processo de impeachment da ministra da saúde, Nísia Trindade por ela ter faltado a uma convocação na comissão de saúde da Câmara, plenamente justificada pela reunião ministerial do presidente Lula. Lembrando que ela já atendeu a inúmeras convocações para falar sobre aborto, drogas e consequências malignas da vacina da Covid. Jamais a questionam sobre a eficiência do SUS, da farmácia popular ou de outras políticas. E ela sempre repete as mesmas coisas. O objetivo é claro: fazer com que os ministros percam seu precioso tempo para boicotar o governo.

Foram contrários a reforma tributária, mas não disseram o que colocariam nela ou dela tirariam porque não têm, repito, propostas.

Esperemos que o novo Procurador Geral da República, Paulo Gonet, comece a aceitar denúncias contra os nomes mais ligados ao fundamentalismo, às fake-news e ao golpismo para que possamos em curto espaço de tempo ver essa gente ser cassada e pagar pelos seus crimes na Papuda, Bangu 8 ou Colmeia.

Parece que agora vai.

 


domingo, 12 de novembro de 2023

Os motivos da guerra são muitos, nenhum religioso

Por Fernando Castilho


O fato, porém, é que na realidade, os motivos para se dizimar ou expulsar o povo palestino são vários e nenhum é religioso. Nem Netanyahu acredita nisso.


Desde sempre sabemos que Israel, incluindo os territórios palestinos, seria a terra prometida por Deus ao povo judeu, seu escolhido.

Essa seria a explicação mais fácil para a ocupação ao longo de décadas daqueles territórios, acabando por restringir toda uma população de mais de 2 milhões de pessoas numa área muito pequena (apenas 365 km²), a Faixa de Gaza. Afinal, Deus está acima de todos, não é mesmo?

Os evangélicos brasileiros aguardam pacientemente a volta de Jesus Cristo preferindo esquecer que os judeus não acreditam no filho de Deus. De maneira oportunista, tentam pegar carona com eles para encurtar o caminho até o Paraíso, já que seriam eles os primeiros a lá chegar.

Vale, para isso, apoiar incondicionalmente o estado de extrema-direita de Benjamim Netanyahu? Vale apoiar o genocídio contra o povo palestino que pode varrê-los do mapa, como quer o primeiro-ministro? Vale ignorar o massacre de 5 mil crianças palestinas contabilizadas até o dia de hoje? Vale essa hipocrisia para garantir seu lugarzinho no Céu?

As consciências, como ficam? Deus não está vendo?

O fato, porém, é que na realidade, os motivos para se dizimar ou expulsar o povo palestino são vários e nenhum é religioso. Essa gente evangélica está sendo enganada.

Nem Netanyahu acredita nessa balela de terra prometida. A questão é geopolítica e, portanto, econômica, apenas, tolinhos.

Não faz muito tempo, como fartamente documentado pela imprensa, Israel detectou jazidas de petróleo e gás no mar de Gaza e precisa extraí-lo para ter autossuficiência, mas se o território pertence a Palestina, esse é um entrave que precisa ser eliminado, pois se o petróleo está em Gaza, pertenceria a Autoridade Palestina. A intenção é roubar, pura e simplesmente.

Israel, em 2021, elaborou um plano de construção do Canal Bem-Gurion, alternativa ao Canal de Suez, cujo traçado inicial faz uma curva para desviar da Faixa de Gaza passando pelo norte do território. Seria muito mais lógico e muito mais barato, em vez de desviar, seguir reto atravessando Gaza para chegar ao mar. Trata-se de uma obra bilionária que facilitará o transporte marítimo e impulsionará enormemente a economia do país.

Esses dois motivos para acabar com Gaza, por si só já são suficientes para explicar a guerra e nenhum deles é religioso.

O primeiro-ministro, Netanyahu, está envolvido até o pescoço em denúncias de corrupção e já era, inclusive para estar preso. As pesquisas de opinião indicam que o povo israelense quer vê-lo pelas costas. Um grande triunfo sobre os palestinos poderia amenizar as críticas ao governo. Pelo menos é o que ele imagina. Além disso, é preciso tentar compreender o apoio incondicional do governo Joe Biden a Netanyahu. E esse apoio também não tem cunho religioso.

Os Estados Unidos dia a dia veem sua hegemonia econômica ser enfraquecida, não só pelo fenômeno China, mas, mais do que isso, pelo fortalecimento do Brics, o bloco econômico que inicialmente era composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mas que hoje já está engrossado por outros países. Inclusive, a moeda de troca para transações comerciais entre os países do bloco deixará de ser o dólar, passando a ser moedas locais ou o Yuan chinês.

Além disso, o Irã, um dos países que os EUA escolheram para fazer parte do chamado eixo do mal, potência nuclear, ingressou no Brics.

A venda de armas por parte dos EUA é uma grande fonte para aumento de recursos daquele país, mas a tentativa agressiva de se reposicionar como a maior potência do planeta, fazendo frente à China e à Rússia que são contrárias a política de genocídio dos palestinos é que move hoje Joe Biden, desesperado para tentar melhorar sua posição nas pesquisas para as eleições de 2024 lideradas por Donald Trump.

Não há justificativa baseada na palavra de Deus para o genocídio de um povo.

Os motivos são sempre econômicos.

 

 

 


sábado, 4 de novembro de 2023

"Quem sonhou só vale se já sonhou demais..."



Por Fernando Castilho



Aquilo era diferente de tudo o que já tinha ouvido. Não entendia a letra, mas a música parece que dava uma indicação do que se tratava.

Ainda me lembro muito bem, já que acontecimentos que mexem conosco de maneira forte tendem a permanecer na memória.

Era o ano de 1968 e eu tinha 14 anos apenas.

Não era na época ligado em música, muito menos nos Beatles, de quem havia apenas ouvido falar. A televisão não era uma mídia forte como é hoje e a Internet com suas redes sociais não existia. Em casa meu pai tinha uma vitrola com vários LPs de cantores como Frank Sinatra, Nat King Cole e Ray Charles, mas nada de rock, muito menos dos Beatles.

Mas na escola havia um frenesi entre os alunos sobre a banda e rumores de que uma nova e impactante canção tinha sido lançada. Quem traria a novidade era um disc-jóquei (não confundir com os atuais DJs) gordinho chamado Big Boy em seu programa noturno.

Naquela época as novidades musicais demoravam a chegar ao Brasil, já que era preciso importar os discos.

Influenciado pelos colegas, decidi levar pra cama o radinho de pilha de meu pai. Sintonizei na rádio e conheci, afinal a voz empolgante do Big Boy com seu bordão, Hello, crazy people! A todo momento ele anunciava que tocaria em primeira mão a mais nova e incrível música dos Beatles, mas o tempo passava e nada. A estratégia era fazer prender a atenção dos ouvintes durante uma hora aumentando a expectativa para a apoteose final.

E chegou a hora de ouvir Hey Jude.

Aquilo era diferente de tudo o que já tinha ouvido. Não entendia a letra, mas a música parece que dava uma indicação do que se tratava.

Foi como se a pressão atmosférica combinada com a gravidade de repente começasse a pressionar meu coração até ele se tornar tão apertado que parecia querer sair pela boca.

Enfim, veio o famoso refrão meio hipnótico “na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-Hey Jude”. A música simplesmente não acabava. Aproximadamente 7 minutos de gravação!

Depois que o programa acabou foi difícil pegar no sono. No dia seguinte teria que conhecer essa banda e a professora de Inglês facilitou isso ao utilizar em suas aulas LPs do grupo para que ouvíssemos e tentássemos traduzir as letras.

Passaram-se décadas depois disso. Os Beatles se separam em 1970 e seguiram com suas carreiras solo. John Lennon foi assassinado em 1980, mais tarde, Yoko Ono em 1994 entregou a Paul McCartney algumas fitas demo do marido para que ele e os remanescentes as aproveitassem para lançar como músicas dos Beatles. Free As Bird e Real Love foram aproveitadas e lançadas na coletânea Beatles Anthology, mas Now and Then, pela má qualidade da gravação, foi descartada. Linda McCartney faleceu em 1998 e George Harrison em 2001. Uma legião de fãs acompanhou a banda durante 60 anos!

Escrevo tudo isso para ilustrar como, não só eu, mas toda uma geração dos anos 60, fomos “capturados” pelos Beatles. Quem pertence às gerações que se sucederam dificilmente compreenderá esse tipo de sentimento.

E eis que a tecnologia de Inteligência Artificial resolveu o problema da gravação de Now and Then e McCartney, trabalhando nela com Ringo e aproveitando o violão gravado de Harrison em 1994, a transformou na última música dos Beatles. Peter Jackson se encarregou de produzir um clipe incrível.

Devido às notícias e imagens que nos chegam todos os dias da guerra entre Israel e Hamas, tenho estado muito triste nas últimas semanas. Um misto de revolta, dor e sofrimento pela empatia tem feito muito mal a minha sanidade mental. Por vezes, senti o coração apertado e, ao ver imagens de crianças em meio aos escombros em que Gaza vem se transformando, os olhos algumas vezes ficam marejados.

Por isso, antes de assistir ao clipe de Now and Then, sentia que não seria justo me emocionar por algo infinitamente menos relevante do que os acontecimentos na Palestina. Seria alienação.

Mas não teve jeito. Peter Jackson pegou pesado ao adicionar imagens dos Beatles quando jovens às atuais de Paul e Ringo, acrescidas das de George em 1994.

Enquanto a música rolava junto com o vídeo, 60 anos de fatos que aconteceram na minha vida desfilaram em apenas 4 minutos e 35 segundos! Impossível dissociar a banda da minha vida. Devo tê-la em meu DNA e não há como explicar a quem não viveu isso.

Como sempre, críticas estão aparecendo aqui e ali. Uma diz que Paul, movido pela ganância em faturar, usou Lennon e os demais. Ora, um astro do rock com 81 anos, detentor de uma fortuna estimada em 1,2 bilhão de dólares e que alcançou o máximo da fama, estaria mesmo procurando faturar?

Outra crítica afirma que se trata apenas de mais uma música de Paul e que nada tem a ver com Beatles. Faltam ouvidos atentos e background a essa gente. No clipe de Now and Then estão os elementos típicos das músicas dos Beatles, além de sutis inserções de A Day in the Life, Norwegian Wood, Eleanor Rigby e Because.

Tem gente também que se diz decepcionada por que esperava algo mais grandioso, talvez incomodada pela mediocridade das músicas atuais. Acho que a música não perfila entre as melhores de John. Realmente, nada tem a ver com Strawberry Fields ou In My Life. Porém, o tratamento que foi dado a ela com arranjos de Paul e de Giles Martin, lapidou um diamante bruto.

Fica muito difícil aos críticos atuais, sem terem vivido aqueles anos, sem terem sentido o que uma geração inteira vivenciou e se atendo somente a aspectos superficiais como a técnica (ah, modificaram a voz do John!), compreenderem.

Para encerrar, a imagem mais emocionante para mim é a do fade out no final do clipe. Aquela imagem dos 4 Beatles que vai desaparecendo aos poucos, indicando que se encerra definitivamente uma época, que o sonho acabou para sempre e que Now and Then é realmente o canto de cisne da maior manda de rock de todos os tempos.

 

Canção do Novo Mundo

Por Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Quem sonhou
Só vale se já sonhou demais
Vertente de muitas gerações
Gravado em nossos corações
Um nome se escreve fundo
As canções em nossa memória
Vão ficar
Profundas raízes vão crescer
A luz das pessoas
Me faz crer
E eu sinto que vamos juntos

Oh! Nem o tempo amigo
Nem a força bruta
Pode um sonho apagar

Quem perdeu o trem da história por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi mais um covarde a se esconder
Diante de um novo mundo

Quem souber dizer a exata explicação
Me diz como pode acontecer
Um simples canalha mata um rei
Em menos de um segundo
Oh! Minha estrela amiga
Porque você não fez a bala parar

Oh! Nem o tempo amigo
Nem a força bruta
Pode um sonho apagar

Quem perdeu o trem da história por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi mais um covarde a se esconder
Diante de um novo mundo




 

 

 


quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Por que evangélicos apoiam Israel incondicionalmente?

Por Fernando Castilho



Segundo a teoria do dispensacionalismo, no Livro das Revelações, conhecido como Apocalipse, está escrito que quando Jesus voltar se dirigirá primeiramente ao povo judeu porque ele é o povo escolhido por Deus.


Repararam que o templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo possui arquitetura e decoração interna que procuram reproduzir o original da Jerusalém antiga antes de sua destruição por Nabucodonosor II após o cerco de Jerusalém de 587 a.C.?

Repararam também que o bispo se veste paramentado como sacerdote hebreu, inclusive usando o kippa (uma espécie de boina redonda utilizada pelos judeus tanto como símbolo da religião como símbolo de temor a Deus) e longa barba, como se fora ele o próprio Rei Salomão?

Sempre me perguntei o porquê disso, uma vez que a Universal ostenta o slogan Jesus Cristo é o Senhor e, pelo que sabemos, os judeus não cultuam Cristo por não acreditarem em sua existência.

Recentemente foi divulgado que há um grande movimento neopentecostal no mundo todo, originado nos EUA que aproxima os cristãos de Israel.

Foi por pressão desses grupos que Donald Trump decidiu transferir a embaixada americana de TelAviv para Jerusalém, desagradando muçulmanos.

Foi também por pressão dos evangélicos do Brasil que Jair Bolsonaro se aproximou de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, prometendo fazer o mesmo que Trump e arriscando-se a comprometer exportações volumosas para países árabes em troca de menos de 1% que Israel importa de nosso país. Afinal, Bolsonaro se elegeu com grande apoio dos evangélicos.

Não via lógica nisso, até que li um artigo falando de dispensacionalismo.

Dispensacionalismo é o nome desse movimento que procura aproximar os neopentecostais de Israel, um estado cujo povo não reconhece Jesus Cristo. Mas no que se baseia? Qual sua lógica?

Segundo um artigo divulgado por esse grupo, no Livro das Revelações, conhecido como Apocalipse, está escrito que quando Jesus voltar se dirigirá primeiramente ao povo judeu porque ele é o povo escolhido por Deus. E justamente por isso, os judeus serão os primeiros a entrar no reino dos céus. E passarão, então, a acreditar em Jesus Cristo como o filho do pai.

Em seguida, irão para o Paraíso aqueles que deram apoio ao povo de Israel, ou seja, os crentes neopentecostais, claro.

Há ainda a ideia de que a vinda de Jesus pode ser apressada desde que Israel ocupe mais rapidamente os territórios ocupados, ou seja, dominem toda a terra prometida. Essa é uma das explicações para o genocídio que o primeiro-ministro de extrema-direita ora empreende contra o povo palestino.

E isso só será conseguido se todos apoiarem já Netanyahu, como fazia Bolsonaro. Esse é o motivo de sempre aparecerem bandeiras de Israel nas manifestações a favor do ex-presidente.

É como se um garoto se aproximasse do pior menino do bairro, dono da bola, somente para fazer parte do time de futebol que ele lidera.

Achemos absurdo ou não, ilógico e fundamentalista ou não, loucura ou não, essa é realmente a explicação para essa aproximação entre cristãos e israelitas.

 


quarta-feira, 1 de novembro de 2023

A última música dos Beatles

Por Fernando Castilho



Neste ano a Inteligência Artificial possibilitou separar a voz de Lennon em Now and Then, como foi feito com o Álbum Revolver de 1966 em que os sons de todos os instrumentos foram separados resultando numa qualidade final muito boa.

 

2 de novembro de 2023, a data do lançamento da última (última mesmo) música dos Beatles.

A maior banda da Terra foi oficialmente desfeita em 10 de abril de 1970, portanto, há 53 anos e 7 meses. Em 1995 os três remanescentes (John Lennon foi assassinado em 1980), Paul, McCartney, George Harrison e Ringo Starr se reuniram para gravar 3 músicas deixadas por Lennon em uma fita cassette cedida pela viúva, Yoko Ono, a saber, Free as Bird, Real Love e Now and Then.

Nas duas primeiras o trio conseguiu isolar a gravação de Lennon ao piano, eliminando ruídos e imperfeições típicos das fitas cassettes, acrescentando suas vozes, instrumentos e arranjos, resultando em duas músicas com todas as características dos Beatles. Seriam elas as últimas músicas gravadas pelo grupo.

Porém, a demo de Now and Then estava muito ruim. A tecnologia da época não permitia separar a voz de Lennon do piano. Os três chegaram a gravar seus instrumentos, mas o resultado não agradou. Harrison chegou a desprezar a música.

Ocorre que neste ano de 2023 a Inteligência Artificial possibilitou separar a voz de Lennon como foi feito com o Álbum Revolver de 1966 em que os sons de todos os instrumentos foram separados resultando numa qualidade final muito boa.

Com a separação da voz de Lennon em mãos, McCartney (81 anos) arregaçou as mangas, fez arranjo, inseriu as gravações feitas em 1995, e introduziu sua voz.

Ouvi Now and Then e, particularmente, não gostei da música porque acho que faz parte da última fase de Lennon que não perfila junto a Strawberry Fields Forever ou In My Life, por exemplo. Mas essa é só uma opinião minha que pode cair por terra caso McCartney tenha logrado realmente tornar a canção, com méritos, a última música dos Beatles.

Que McCartney tem competência para isso, não se discute. Portanto, aguardaremos ansiosos por 2 de novembro.

Antigamente aguardávamos ansiosos pelo último álbum dos Beatles no sentido de "o mais novo".

Hoje, aguardamos ansiosos por uma única música. Verdadeiramente a última.


Editado em 02/11/23.



 


sábado, 21 de outubro de 2023

Deveríamos prestar mais atenção em Nikolas Ferreira

Por Fernando Castilho



“A gente só tá começando.”

“A gente precisa ter paciência. Já ocupamos os conselhos tutelares e as CPIs.”

Nikolas Ferreira, a nova voz da ultradireita.


Quando setores da esquerda começaram a ridicularizar o deputado Nikolas Ferreira, principalmente depois que ele protagonizou o espetáculo criminoso de ocupar a tribuna da Câmara dos Deputados vestindo uma peruca para expor sua transfobia, alguma coisa me incomodou. O parlamentar já era apelidado de chupetinha e outros adjetivos pejorativos, principalmente após falas que taxávamos como engraçadas. Bolsonaro sempre fez o mesmo e acabou chegando à presidência da República.

Escrevo este texto movido pelo discurso de Nikolas no dia da votação do relatório da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro. O deputado iniciou fazendo várias ironias contra a relatora Eliziane Gama para desqualificá-la e a seu relatório revelando sua essência puramente fascista. Mas alguns trechos do discurso merecem aguda atenção por parte das forças progressistas do país e não devem ser desprezados.

“Não considero os que pensam diferente como adversários, mas sim como inimigos.”

Uma das principais características do fascismo é justamente a intolerância com quem pensa diferente e a anulação do outro. Da parte dele, que pode ser o único parlamentar genuinamente bolsonarista a admitir isso sinceramente, não há debate de ideias, mas sim, uma guerra com inimigos a serem aniquilados.

Nikolas Ferreira afirmou com muita segurança que Jair Bolsonaro volta em 2026. Essa fala pode ser encarada como blefe, mas, com nossa justiça que às vezes é capenga, ela não deve ser desprezada. Ainda mais com a presidência do TSE sendo entregue em breve ao ministro Raul Araújo, bolsonarista de carteirinha. Espera-se dele uma anulação da sentença que tornou Bolsonaro inelegível por oito anos?

“O desespero da esquerda é que só tem dez meses que estamos no Congresso.”

Sim, com tão pouco tempo, apesar de terem dado um tiro no pé com a instalação da CPMI, já fizeram muito barulho e tentam o tempo todo inviabilizar o governo Lula, convocando ministros o tempo todo para darem explicações.

“A gente só tá começando.”

Realmente. E já se organizam como um bloco sólido.

“A gente pode andar livremente pelas ruas.”

Óbvio. Excetuando um outro que pode admoestá-lo, a esquerda não usa os mesmos métodos de intimidação e ameaças, a que, por exemplo, a senadora Eliziane Gama tem sido exposta.

“A gente precisa ter paciência. Já ocupamos os conselhos tutelares e as CPIs.”

A esquerda dormiu no ponto e deixou a extrema-direita tomar conta dos conselhos. Ela também propôs a CPI do MST que ficou perto de condenar o movimento.

“O presente é seu (da esquerda), mas o futuro é nosso.”

Pode servir de alerta para que se organizem os movimentos populares e se fortaleçam a comunicação do governo, até porque a extrema-direita, apesar de só compartilhar mentiras, tem dado de dez a zero nas redes sociais.

Enfim, é difícil admitir, mas Nikolas Ferreira fez um discurso articulado e digno de alguém que pretende ocupar um espaço muito maior do que ocupa agora.

Além disso, é preciso lembrar que ele possui milhões de seguidores nas redes sociais, principalmente jovens, e aspira à Prefeitura de Belo Horizonte, de onde poderá sair, teoricamente, como governador de Minas Gerais ou presidente do Brasil.

É preciso rir menos dele e tratá-lo com um adversário perigosíssimo para um futuro próximo.

Olho nele, portanto.

 

 


sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Solução final contra o povo palestino? Será isso?

Por Fernando Castilho



Se o massacre que se avizinha se concretizar, apesar de alguns esforços da ONU empreendidos para evitá-lo, será o passo decisivo para a solução final, algo que os judeus conhecem muito bem.


O governo de Israel deu 24 horas para os palestinos do norte, em número de aproximadamente 1,1 milhão de pessoas, se deslocarem para o sul para que o exército possa fazer uma grande ofensiva no território desocupado. Enquanto escrevo, já se passaram 12 horas.

Prever o futuro é sempre temerário, pois muita coisa pode acontecer nesse intervalo, mas as probabilidades apontam para um genocídio já que não há espaço para 1,1 milhão de pessoas ocuparem nem tempo suficiente para isso, ainda mais com falta de transporte e combustível. Esse ultimato é claramente uma hipocrisia.

O ataque que o Hamas desferiu contra alvos civis israelenses motivando o contra-ataque que agora Netanyahu promove contra todo o povo palestino que não representa o grupo terrorista, deveria ter sido percebido pela inteligência das forças de segurança, conhecida mundialmente pela sua tecnologia e eficiência, afinal, quem nunca ouviu falar das proezas do Mossad, o serviço secreto de Israel?

Mas, estranhamente, o país foi pego de surpresa. Será que foi mesmo?

A hipótese que não gostaria, mas é preciso trazer aqui por força das evidências gritantes, é de que a inteligência tinha conhecimento das intenções do Hamas. Não há como discordar disso.

É totalmente repugnante imaginar que Netanyahu tenha sacrificado ao menos 260 pessoas que participavam de uma rave para justificar a contraofensiva que agora está em curso e que pode se transformar num dos maiores massacres de pessoas comuns e pobres do mundo. Mas, infelizmente, é o que parece.

O primeiro-ministro, Netanyahu, já havia exposto na ONU um mapa em que simplesmente a Cisjordânia e a Faixa de Gaza não aparecem e isso é muito ilustrativo do que pode estar em curso neste momento.

Israel, blindada pela opinião pública majoritária que confunde o povo palestino com o Hamas, pelo preconceito contra um povo muito pobre e tido como desapegado pelo amor à própria vida devido aos ataques promovidos por homens-bomba, o que fere os valores cristãos, pelo apoio dos Estados Unidos, da Europa e da grande imprensa mundial, enxerga a grande oportunidade de se livrar de vez do pouco que sobrou do território palestino após 75 anos de uma política de violência, colonialismo e de apartheid. Parece ser conveniente para o mundo que esse problema, enfim, tenha uma solução.

Se esse massacre se concretizar, apesar de alguns esforços da ONU empreendidos para evitá-lo, será o passo decisivo para a solução final, algo que os judeus conhecem muito bem.

Para não se cometer injustiça com o povo judeu, há que se ressaltar que a maioria não concorda com Netanyahu, preferindo uma solução pacífica para um conflito que se originou por motivos religiosos e que evoluiu para a sandice que agora está sendo praticada.

Esperamos que, ao final das 24 horas, nada do que se prevê aconteça, que se crie um ambiente para que a paz e a convivência sejam construídas e que este texto se torne sem sentido.