Por Fernando Castilho
Foto: Ricardo Stuckert |
Será que o partido confiou que as leis iriam prevalecer e Lula não poderia ser condenado porque o tríplex simplesmente não é dele? Agora ainda acredita que no TRF-4 os desembargadores enfim farão Justiça?
Escrever
influenciado pela indignação e pela revolta não costuma render
bons textos e não é salutar, por isso aguardei um pouco até
manifestar minha opinião sobre a condenação do ex-presidente Lula.
Mesmo
assim, a crítica vai pra todos os lados, vamos combinar.
Em
primeiro lugar, não há como não execrar a conduta de um magistrado
de primeira instância, inflado pela mídia e vaidoso por natureza,
cuja única missão na Lava Jato, conferida pelo imperialismo
americano, acaba de ser cumprida.
A
sentença que condenou Lula é algo indigno de um juiz. Uma torpeza
sem igual.
Durante
a maior parte de seu arrazoado de 238 páginas, Moro tratou de tentar
se defender de críticas, algo impensado e inédito para uma
sentença.
Quem
acompanhou na íntegra o depoimento de Lula (4 horas e meia) percebeu
que em nenhum momento Moro acatou qualquer intervenção do advogado
Dr. Zanin, o que certamente constitui completo cerceamento da defesa.
Tudo já estava decidido desde que a Operação Lava Jato começou.
A
sentença totalmente previsível condena Lula a 9 anos de prisão.
Poderiam ser 8 ou 10 anos, mas Moro preferiu usar o número 9 em
alusão aos 9 dedos do ex-presidente, já que ele mesmo se refere a
Lula pela alcunha de “nine”. Um sarrinho, portanto que deve ter
lhe rendido algumas boas risadas enquanto redigia o texto.
Moro
extrapola suas funções ao tornar Lula inelegível por 19 anos. Além de praticamente decretar o fim político do ex-presidente, esse juiz não tem atribuição para negar a quem quer que seja o direito de se
candidatar a um cargo eletivo. Lula somente se tornará inelegível
caso seja condenado antes das eleições. Interessante que o
presidente do TRF-4 que vai julgar o recurso de Lula já se apressou
em garantir que o veredito sairá antes de agosto do ano que vem,
que é o prazo final para inscrição das candidaturas.
Tenhamos
certeza, Lula será condenado em segunda instância e se tornará
inelegível se cruzarmos os braços.
Ainda
sobre Moro, é inconcebível que um juiz, ao receber as alegações
finais da acusação (MPF) que diziam claramente não haver provas
contra Lula mas somente convicção de sua culpa, não tenha
simplesmente arquivado o caso. Qualquer um arquivaria.
Outra
crítica vai à mídia que comemorou a sentença. Quem assistiu ao
Jornal Nacional certamente viu Bonner abrir a edição dizendo quase
rindo: “Nunca antes na história do país um presidente foi
condenado por corrupção!” O início da frase é um bordão
amplamente usado por Lula. Outro sarrinho, portanto.
Em
nenhum momento os colunistas dos jornais fizeram qualquer
questionamento, muito menos alguma crítica à decisão de Moro,
mesmo esta sendo explicitamente injusta. Pelo contrário, os jornais
entrevistaram juristas de direita para justificarem a sentença de
Moro. Esses
mesmos colunistas jamais manifestaram qualquer indignação ou
crítica ao fato de Aécio Neves, Rocha Loures e Geddel Vieira Lima
estarem soltinhos da silva.
Também
não se importaram em ver a corrupção escancarada ao vivo e em
cores da compra de votos dos deputados feita por Michel Temer para se
livrar da aceitação do relatório de Sérgio Sveiter na CCJ que
recomendava abertura de investigações pelo STF. Aliás,
a condenação de Lula, decidida já há 3 anos, ocorreu ao mesmo
tempo que a aprovação da reforma trabalhista, a vitória de Temer
na CCJ, a volta de Aécio ao Senado e a soltura de Loures e Geddel.
Maquiavel
dizia que as medidas duras contra o povo deveriam acontecer todas ao
mesmo tempo e as boas em conta-gotas. Moro aproveitou bem o timing.
Também
não há como não criticar a postura da esquerda que, enquanto não
saia a decisão de Moro já tratava de buscar uma alternativa a Lula
em 2018. Além do enorme desrespeito, parece que virou uma briga pra
ver quem consegue ficar com o osso.
Só
queria saber se o PSOL acha mesmo que Luciana Genro é capaz de
vencer as eleições de 2018.
Sobre
Ciro Gomes e Marina Silva, é necessário lembrar que, embora
dissimulem, ambos são candidatos de direita, vamos combinar.
Além
disso, li artigos de juristas de esquerda aplaudindo a decisão do
ministro do STF, Marco Aurélio Mello de reconduzir Aécio Neves ao senado e libertar sua irmã.
Houve até quem aplaudiu Edson Fachin por ter libertado Loures.
E
sobre o Geddel, afirmaram que ele não deveria ter sido exposto na TV
com a cabeça raspada por ser humilhante.
A
esquerda se preocupou mais com as Diretas Já (e eu fui um dos
críticos a isso) do que com a defesa de Lula. Era por Lula que
deveríamos ter saído às ruas pois não há alternativa a ele em
2018.
E
o PT?
Bem,
aí já é um problema crônico, antigo.
Durante
as gestões de Lula e Dilma, o PT esqueceu-se das bases.
O
partido confiou que Dilma não seria enxotada da presidência por
causa de um hipotético Estado de Direito que se revelou não existir
mais em nosso país.
O
ministro Lewandowski do STF, que tinha a missão de salvaguardar a
Constituição, mostrou-se um vendido na decisão que o senado tomou
de retirar Dilma à força, sem ter cometido crime algum. Estado de
Direito uma ova!
O
partido ainda confiou que as leis iriam prevalecer e Lula não
poderia ser condenado porque o tríplex simplesmente não é dele.
Agora ainda acredita que no TRF-4 os desembargadores enfim farão
Justiça. Vive um conto da carochinha. Por isso não reage.
Por
fim, crítica a mim também.
Por
várias vezes afirmei neste blog que se Dilma fosse derrubada,
haveria convulsão social no país. Não houve.
Por
várias vezes afirmei que se a reforma trabalhista fosse para a
Câmara, haveria convulsão social no país. Também não houve.
Por
várias vezes afirmei que se Lula fosse condenado haveria convulsão
social no país.
Parece
que afinal somos frouxos e vamos deixar rolar a injustiça diante de
nossos olhos sem reação.
Lula afirmou: “Quem
tem direito de decretar meu fim é só o povo brasileiro”.
Ele espera que não o deixemos sozinho.
Desculpem
a acidez.