terça-feira, 11 de julho de 2017

Pra onde vai o brasileiro?

Por Fernando Castilho



Imagem: Internet


Que tal se fosse feita aos brasileiros a seguinte pergunta: Você é a favor da reforma trabalhista?

Ou esta: Você é a favor da reforma da previdência?


No dia 3 de julho último o Instituto Datafolha publicou uma pesquisa de opinião acerca de uma série de temas comportamentais e econômicos visando aferir a atual tendência dos brasileiros dentro do espectro político, notadamente se se situam mais à direita ou mais à esquerda.

Segundo a enquete, as pessoas que se definem como sendo de direita ou centro-direita totalizam 40% e as que se dizem de esquerda ou centro-esquerda somam 41%. Os restantes 19% são de centro.

Segundo o próprio instituto, para chegar a essa classificação os brasileiros foram consultados sobre uma série de questões envolvendo valores sociais, políticos, culturais e econômicos, mais ou menos como aqueles teste que de vez em quando o Facebook nos propõem para pura diversão.

De acordo com o Datafolha, posições contrárias ou a favor de homofobia, porte de armas, aborto, criminalização do uso de drogas, neoliberalismo ou crença em Deus, definem a orientação ideológica das pessoas.

Os dados de semelhante pesquisa feita em 08 de setembro de 2014, pouco antes da vitória apertada de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais daquele ano e um ano depois das manifestações de junho de 2013, revelou dados diferentes.

Segundo o Datafolha, em 2014 as pessoas que se definiram como sendo de direita e centro-direita totalizavam 55% e as que se diziam de esquerda ou centro-esquerda representavam somente 25% dos brasileiros.

Percebe-se que naquela época, embora Dilma tenha vencido as eleições, o ponteiro do espectro ideológico se situava bem mais à direita, fruto do descontentamento com o governo do PT.

Mas o que mudou na opinião do brasileiro de lá para cá que seja capaz de explicar essa divisão meio a meio atual?

Primeiramente deve ser a percepção de que uma presidenta foi impedida de continuar governando devido a acusações tênues e sem comprovação de corrupção.

Segundo, que justamente os políticos que a defenestração são os mesmos que agora ocupam o poder e que estão envolvidos em graves denúncias.

O relator da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados acabou de defender que a denúncia de ilícitos cometidos pelo presidente Michel Temer seja encaminhada ao Supremo Tribunal Federal para que lá seja julgado, justamente o vice que assumiu o lugar de Dilma.

Mas, ainda assim, como explicar o empate técnico entre direita e esquerda atualmente, se as denúncias contra o governo são tão graves?

O Datafolha não divulgou o questionário apresentado na pesquisa por isso não podemos ter certeza sobre todos os itens perguntados às pessoas.

Mas, que tal se fosse feita a seguinte pergunta: Você é a favor da reforma trabalhista?
Ou esta: Você é a favor da reforma da previdência?

Poderia ser feita mais uma: Você é a favor do congelamento dos investimentos em saúde e educação por 20 anos?

Ora, o brasileiro, sabe-se, é por demais influenciado pela mídia, porém, nestes casos elencados acima, a grande maioria vai se posicionar contrariamente. E é cristalino que desta forma essa maioria seria classificada como sendo de esquerda porque essas propostas, aplaudidas pelos empresários, não são boas para o povo mais pobre.

Já ouvi muito brasileiro pobre se dizer a favor do estado mínimo e das privatizações, influenciado diretamente pela mídia, mas pergunte a qualquer pessoa se ela quer saúde e educação privadas.

Se as pessoas preferem saúde e educação públicas, ou seja, garantidas pelo Estado, certamente elas se enquadram mais à esquerda.

Portanto, há que se desconfiar e muito desses dados do Datafolha.
Provavelmente o número de esquerdistas hoje supera em muito o de direitistas.

Embora não compreenda o que significa luta de classes (até porque são proibidos de ter conhecimento sobre o tema), o povo tem percepção de quem quer lhe ajudar ou prejudicar.

E é lógico que a Folha de São Paulo, representante da elite, não vai demonstrar isso em números.


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