Por Fernando Castilho
Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE |
Por que Raul Araújo construiria seu voto utilizando tantos malabarismos e se expondo tanto ao ridículo se não objetivasse algo em troca?
O ministro do TSE, Raul Araújo, durante seu voto contrário à
inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, alegou que, embora na reunião
com os embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto em 18 de junho de 2022,
o então mandatário tenha mentido ao afirmar que as urnas eletrônicas não eram
confiáveis e que, por isso elas seriam fraudáveis, isso não interferiu nas
eleições porque o tribunal foi eficiente em neutralizar sua fala.
O ministro que votou na sequência, Floriano Azevedo, feliz
em sua crítica a Araújo, indagou se seria aceitável que se inocentasse um
incendiário somente porque os bombeiros chegaram a tempo de debelar o fogo iniciado
por ele em um prédio.
Pergunto eu, se todos aqueles que tentaram cometer um crime
que não se consumou porque a polícia chegou a tempo de impedi-los, ou que
falharam em seu intento criminoso, devam ser libertados da prisão?
Raul Araújo poderia começar libertando Adélio Bispo, aquele
que teria tentado matar Jair Bolsonaro às vésperas da eleição de 2018, mas não
conseguiu.
Agora a pergunta é: por que o ministro do TSE, Raul Araújo
se propôs a dar um voto que o expôs tão fortemente ao ridículo no afã de
defender o ex-presidente?
Como fica, daqui pra frente, sua relação entre seus pares do
poder judiciário, sejam do TSE, sejam dos tribunais regionais ou sejam do STF?
O que ficou visível não só para juízes, mas também para as
pessoas que acompanharam seu voto, é seu “notável” saber jurídico.
Entende-se por detentor de notável saber jurídico, aquele
que é admirado e reconhecido pelo seu conhecimento do arcabouço jurídico brasileiro.
Porém, nesse caso em particular, pode-se entender que notável tenha uma
conotação de algo que chama a atenção, que não passa desapercebido. Nesse caso,
Araújo, realmente não passou desapercebido.
Também não passou desapercebida sua dificuldade para ler seu voto, dando aqueles "tranquinhos" típicos de alunos do ensino fundamental que ainda não dominam a fluência na leitura.
Mas por que o ministro construiria seu voto utilizando tantos malabarismos e se expondo tanto ao ridículo se não objetivasse algo em troca?
Especulo.
O ministro pode ter pretensão de chegar ao STF um dia e é
claro que durante o governo Lula 3 ou, quem sabe, Lula 4, suas chances são
zero.
Raul Araújo só poderia ser indicado por uma pessoa,
justamente Jair Bolsonaro.
Mas o capitão não poderá se candidatar a cargos eletivos
durante 8 anos!
É preciso lembrar que Nunes Marques será o próximo
presidente do TSE e Bolsonaro conta com ele para tentar anular a decisão que o
tornou inelegível, embora isso seja extremamente difícil, porém, não
impossível.
Mesmo que Bolsonaro não consiga reverter essa decisão, é
possível que se candidate em 2030 e não se pode descartar uma vitória. Caso
isso aconteça, Jair poderá indicar alguém para o STF. É com a gratidão que
Araújo conta.
Convém lembrar que o capitão não é dado a gratidão, mas é conhecido
por abandonar aliados pelo caminho, caso precise para alcançar seus objetivos.
É a lógica da guerra em que soldados estão ali para morrer mesmo.
Os ministros que se aposentarão após o pleito de 2030 serão Gilmar
Mendes (2030), Edson Fachin (2033) e Luís Roberto Barroso (2033).
Portanto, hipoteticamente, Bolsonaro, numa possível volta em
2030, teria a possibilidade de indicar 3 ministros para o STF. Raul Araújo pode
estar sonhando ser um deles.
Até lá, ele terá que se humilhar muito mais, pois há ainda
15 processos contra seu mito.
Será que ele aguenta?
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