sexta-feira, 23 de junho de 2023

Titan e o Anjo Exterminador

Por Fernando Castilho

Imagem: OceanGate/Agência Brasil


Forças titânicas implodiram Titan cujos restos agora jazem ao lado do Titanic.

Homens e mulheres ricos comparecem a uma mansão para um jantar de gala.

O jantar termina e a anfitriã convida a todos a permanecerem para o cafezinho.

Após o cafezinho, vem outro convite para outra coisa, já não lembro mais.

Como todos estão com sono, que tal dormirem ali mesmo?

Pela manhã, ficam para tomar o café.

O tempo passa e ninguém consegue ir embora, mesmo não havenso barreiras físicas.

Com o passar dos dias, já sem terem o que comer e baber, os instintos mais primitivos do ser humano vão sendo revelados e toda aquela pompa e classe desaparece.

Do que me lembro, essa é mais ou menos a história do filme O Anjo Exterminador do cineasta espanhol, Luis Buñuel.

E por que me lembrei desse filme?

A história mostra um grupo de ricaços fúteis que parecem entediados com a vida. Ricaços como os que contrataram um passeio de submersível pela bagatela de 250 mil dólares por pessoa para ficarem por horas sentados no chão, confinados em um pequeníssimo espaço para ver de perto os restos do transatlântico Titanic afundado em 1912 após colidir com um iceberg.

Curiosamente, entre os que conseguiram se salvar daquele naufrágio, estão os ricos porque para os mais pobres e para a tripulação não havia botes salva-vidas.

Além do espaço reduzido, o veículo, segundo as informações que nos chegaram pela imprensa, parecia um protótipo onde não faltava improviso. Será que a aventura e o desejo de um maior sentido às suas vidas foram maiores do que a prudência? Na hora de fecharem grandes negócios ou de negociarem ações, eram também imprudentes?

Lembrei também de um ex-cunhado que, acreditando ter se tornado um novo rico, não conseguia ficar mais que três meses com um carro porque nenhum mais conseguia satisfazê-lo. Era preciso trocar sempre por um mais caro. Acabou sobrando como último objeto de desejo uma Lamborghini que só não foi comprada porque sua empresa começou a ir mal das pernas. Seria um ótimo candidato ao turismo submarino.

Enquanto a imprensa não parava de noticiar que o submersível havia perdido contato, uma quase operação de guerra foi mobilizada na procura.

Poucos dias antes, refugiados saíram de seus países em uma traineira de pesca lotada com cerca de 750 ocupantes, crianças e mulheres em sua maioria que naufragou. Acredita-se que mais de 300 cidadãos paquistaneses morreram, embora houvesse também cidadãos sírios, egípcios e palestinos. Os números são imprecisos, mas dão conta de que cerca de 500 pessoas ainda estavam desaparecidas.

Os noticiários não deram muita atenção a esse fato e nenhuma operação de resgate foi mobilizada, talvez porque gente refugiada e muito pobre não tem a mesma importância para o mundo que cinco bilionários.

Como no filme, os ricos, após esgotadas as buscas, não conseguiram sair e o que pode ter sobrado de seus corpos jazem próximos aos dos pobres do Titanic.


4 comentários: