Por Fernando Castilho
Créditos
da imagem: https://midiainformal.files.wordpress.com/
O ódio, alimentado por anos a fio, desde 2013, foi num crescendo até o processo vergonhoso de impeachment da presidenta em 2016, culminando com a prisão de Lula em abril de 2018 e a eleição de Bolsonaro.
Um
movimento contrário ao aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus na cidade
de São Paulo deu início às chamadas jornadas de junho de 2013. Começou aos
poucos e foi crescendo até se espalhar por todo o Brasil. Qual camaleão, ia
assumindo nova identidade e novos propósitos.
Enquanto
o Movimento Passe Livre, essencialmente de origem proletária, reivindicava aquilo
que lhe parecia justo na época, meu coração e minha mente naturalmente a ele se
juntaram, sabedores das agruras com que as pessoas pobres deste país tão
desigual, que necessitam de transporte público para trabalhar ou estudar,
enfrentam todos os dias. Mas, também aos poucos, fui percebendo com estranheza
que, no espaço de alguns poucos dias, a grande mídia, compreendendo os grandes
jornais e revistas impressos e as redes de televisão e rádio, que no início
apressaram-se em criticar e condenar o movimento, através de colunistas e
editoriais, começaram a mudar de opinião acrescentando-lhe uma conotação mais
política e ampliando o foco que antes era localizado, para todo o país. Surgiu
a figura do gigante adormecido que acordou indignado, ao mesmo tempo simbologia
e senha que tomou as redes sociais de maneira avassaladora, como a querer nos
mostrar que estávamos errados em conferir aprovação de quase 60% ao governo
Dilma Rousseff somente um mês antes, segundo pesquisa Datafolha.
A
conclamação, muitas vezes vinda da Rede Globo que divulgava dias e horários das
manifestações, a protestar contra o governo era difusa e artificial, pois nos
ordenava a, como zumbis, sair às ruas com pautas confusas e genéricas como
maior liberdade, fim da corrupção, reforma política, etc.
No
governo Dilma a liberdade nunca deixou de existir porque é o cerne da
democracia e, como sabemos, a ex-presidente é democrata. Nenhuma manifestação
foi reprimida por ela. É justo exigir o fim da corrupção, mas Dilma nunca foi
corrupta, como as intensas investigações, a imprensa e o tempo comprovaram.
A
Polícia Federal e o Ministério Público sempre tiveram por parte de Dilma a
autonomia necessária para investigar quem quer que fosse, inclusive o então
ex-presidente Lula.
A
reforma política estava no Congresso, o responsável por aprovar as leis.
Mas
então, o que queriam?
Dilma
chegou a se pronunciar em rede nacional de televisão se mostrando favorável às
reivindicações e se colocando ao lado dos que protestavam, mas, mesmo assim, as
panelas bateram ruidosas.
Nas
ruas, enquanto pessoas vestidas com camisas da seleção brasileira desfilavam
seu ódio contra tudo que estava aí, os black blocs vandalizam vitrines e
equipamentos públicos. Hoje temos fortes indícios de que eles, na verdade, eram
agentes do exército chamados de kids pretos. A reportagem da revista Piauí
mostra claramente os métodos dessa força especial.
O
ódio, alimentado por anos a fio, desde 2013, foi num crescendo até o processo
vergonhoso de impeachment da presidenta em 2016, culminando com a prisão de
Lula em abril de 2018 e a eleição de Bolsonaro no mesmo ano em meio ao
ressurgimento do fascismo no Brasil.
É
muito fácil, a quem se dispõe a estudar e a refletir sobre todo esse período
histórico, que tudo não passou de um projeto idealizado pelo Departamento de
Estado dos Estados Unidos para afastar a esquerda do poder, abrindo caminho
para a tomada do pré-sal, através do fim dos êxitos dos governos 378
progressistas desde 2003 e o restabelecimento do neoliberalismo que propicia mais
lucros às empresas norte-americanas e protege o império.
Com
Dilma morta e enterrada na visão de nossa elite, a Justiça teria, enfim, a
oportunidade de aparecer perante a opinião pública como a impoluta e
incorruptível guardiã dos direitos fundamentais dos cidadãos, “corrigindo”
(antes diria, remendando) a decisão do Congresso, porém, sem reconduzi-la ao
cargo, como de direito. Essa mesma justiça que se tornou justiceira com a
criação da Operação Lava-Jato cujos “heróis” eram o então juiz Sergio Moro e seu
cúmplice, Deltan Dallagnol.
O
ministro do STF, Luís Roberto Barroso, há cerca de um ano atrás, já tinha
reconhecido que a queda da presidenta não se deu por crime de responsabilidade,
mas sim por incapacidade política de aglutinar forças em torno dela. Ele sabia
disso desde 2016, o ano do golpe, mas só em fevereiro de 2022, resolveu sair de
sua toca para manifestar sua opinião.
Felizmente,
o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) extinguiu o processo contra
ela. “A 7ª Turma Especializada decidiu, por unanimidade, dar provimento ao
recurso de apelação de Dilma Vana Rousseff, reformando integralmente a sentença
atacada para extinguir o feito sem resolução do mérito”, diz o texto da decisão
que demonstra de maneira inequívoca que a ex-presidente foi vítima de um golpe
legislativo com total apoio da grande mídia.
A
presidenta Nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada federal Gleisi
Hoffmann, manifestou-se pelo twitter desta forma: “O TRF-2 extinguiu ação
contra Dilma sobre 379 pedaladas fiscais. Não foi provado que houve danos ao
erário. A farsa desmontada mostra que a presidenta honesta foi golpeada de
forma misógina e midiática, transformando o país no caos que está aí, de
autoritarismo, mentiras e destruição”.
Infelizmente
a mídia não deu tanto destaque a isso e nem poderia, artífice que foi desse
processo.
Uma
grande injustiça foi cometida abrindo caminho para a destruição parcial do
estado brasileiro e de seu processo civilizatório. Em parte, ela foi
consertada, mas só vamos saber a real extensão disso, nos livros de História
dos próximos anos ou das próximas décadas. De qualquer forma, uma reputação foi
comprometida, mas grande parte da população brasileira já tem noção do que foi
cometido contra Dilma.
Dilma
tem, enfim, ao presidir o banco dos Brics, a grande oportunidade de demonstrar
àqueles que a atacaram sua grande competência.
(Texto também publicado no Jornal GGN)
Dez anos das jornadas de junho de 2013. O que aprendemos? (jornalggn.com.br)
Desconfiei da 1ª. Tinha certeza que era projeto de golpe a partir da 2ª. O roteiro era o mesmo aplicado à outros países. Avisei aos incrédulos: em 2 ou 3 anos vocês me cobrem: é golpe! Era golpe! Foi golpe! Olho vivo e faro fino porque não vão ficar quietos esperando Lula consertar o país.
ResponderExcluirExatamente! Obrigado pelo comentário.
Excluir