terça-feira, 9 de maio de 2023

Charles III, uma coroa feita de sangue

Por Fernando Castilho



Os grandes impérios foram, com o tempo, reduzindo em tamanho devido às revoluções pela libertação levadas à cabo pelos países colonizados, mas um certo ar de deboche persiste quando Charles exibe uma coroa com essas pedras.

Charles, o primogênito de Elizabeth II, enfim, conseguiu se tornar Charles III.

A cerimônia de coroação reuniu milhares de pessoas admiradoras ou não da família real, como costuma acontecer em eventos como esse.

A coroa, o símbolo maior da realeza de Charles, possui, entre outras joias, um enorme diamante chamado de “Pedra da África”.

Essa pedra não só simboliza a realeza, mas também o imperialismo britânico que dominou e explorou boa parte do continente africano. Países como África do Sul, Egito, Sudão, Gana, Nigéria, Somália, Serra Leoa, Tanzânia, Uganda, Quênia, Malawi, Zâmbia, Gâmbia, Lesoto, Maurícia, Suazilândia, Seicheles e Zimbábue foram colonizados pelos antepassados de Charles que não se preocuparam somente em impor sua cultura, mas, principalmente, saquear suas riquezas e colocar esses povos de joelhos. A Pedra da África é uma dessas riquezas saqueadas.

Os grandes impérios foram, com o tempo, reduzindo em tamanho devido às revoluções pela libertação levadas à cabo pelos países colonizados, mas um certo ar de deboche persiste quando Charles exibe uma coroa com essas pedras.

O fato me fez lembrar de outro império que soçobrou, o japonês.

O Japão, durante a 2ª Grande Guerra, espalhou seus tentáculos por Hong Kong (na época um protetorado britânico) e as outras regiões nas Filipinas. Kuala Lumpur, Singapura, Birmânia e Indonésia.

Quando chegou à China, o bicho pegou porque Estados Unidos e a própria União Soviética trataram de barrar o avanço imperialista.

O Japão planejou avançar sobre território manchu e pleno e rigoroso inverno. O cálculo do estado-maior nipônico previa que, por ser o japonês um ser superior, cada soldado deveria destruir um tanque inimigo com coquetéis molotov.

É aí que entra o depoimento de meu ex-sogro, um imigrante japonês que lutou nessa guerra. Na TV passava uma notícia dando conta da morte do imperador Hirohito. Sempre achei que todo súdito japonês tinha o mandatário como uma divindade na Terra, mas meu ex-sogro avançou em direção à TV xingando Hirohito e quase quebrando o aparelho, tamanha a sua fúria.

A cena me assustou. Esperei o homem se acalmar e perguntei o porquê daquilo.

Daí me contou que ele e seus companheiros saíram para o território manchu com uma mochila de alimentos, a farda e alguns cobertores finos. A neve chegava quase ao joelho.

Os soldados conseguiram avançar até certo ponto quando os víveres acabaram e o que sobrou para comer eram gravetos, pequenos insetos e até cobra.

O frio os congelava e vários deles não aguentaram e sucumbiram.

O Japão foi derrotado, o imperador perdeu sua divindade e meu ex-sogro voltou para casa totalmente arruinado e depressivo. Por isso, o ódio.

Conto essa história individual, mas não podemos esquecer também as atrocidades cometidas pelo exército japonês que, ao chegar numa aldeia ou cidade, o primeiro crime que cometia era o estupro seguido de assassinatos de homens e crianças.

Esse é o imperialismo que também a Grã-Bretanha praticou não só na África, mas também na Ásia e que nunca deveria ser valorizado.

Mas o povo inglês que sabe que foi beneficiado pela exploração feita no passado, ainda comparece em massa para assistir a coroação de um homem que nunca deu duro na vida e que herda o produto da crueldade cometida pelos seus antepassados.


sexta-feira, 5 de maio de 2023

O gato brinca com o rato antes de matá-lo. Por que seu Jair ainda não foi preso?

Por Fernando Castilho



O gato (PF) está brincando com o rato (seu Jair) antes de comê-lo.


Sinceramente, ontem à noite pensei em escrever um post dizendo que tinha certeza de que hoje cedo a PF meteria o pé na porta de seu Jair para prendê-lo, já que há inúmeros indícios de crimes que justificariam sua prisão preventiva.

Outra prisão que está para acontecer e que poderia até ser hoje, é do Carluxo pelo esquema de peculato na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

Nenhuma dessas operações ocorreu. E agora acho que entendo porquê.

A PF está comendo pelas bordas para que chegue a seu Jair com provas irrefutáveis, necessárias para calar os seguidores raiz e os deputados da extrema-direita.

Há um áudio do major Aílton captado de seu celular, em conversa com o coronel Cid, pregando um golpe e citando Bolsonaro, mas não o responsabilizando. Esse áudio vazou, talvez como parte da estratégia da PF, mas a resposta do coronel Cid não foi divulgada. Permanece em sigilo.

A tática da PF parece ser a do gato que brinca com o rato antes de comê-lo.

Os presos, que não podem se comunicar entre si, já devem estar temendo uma longa estada no xadrez, inclusive o Cid.

Seu Jair, por sua vez, não deve nem estar dormindo. Imagine a tensão de ser surpreendido a qualquer momento pelos policiais em missão para prendê-lo. Ele deve estar sendo cozido.

Cada dia que passa a tensão aumenta e é possível que nas próximas horas ou nos próximos dias um dos detidos abra o bico.

Acho certo que a PF já tenha muito mais informações do que sabemos. O problema é obter uma prova definitiva do envolvimento de se Jair com a tentativa de golpe.

Aposto que seu Jair não será preso tão cedo. A PF vai tentar primeiro chegar a Braga Netto e Augusto Heleno, artífices da tentativa de golpe.

Depois disso, a casa cai, definitivamente.

 


quinta-feira, 4 de maio de 2023

Anderson Torres tem que delatar seu chefe agora!

Por Fernando Castilho



Anderson Torres tem uma pequena janela de tempo para negociar com a PF uma redução de pena oferecendo em troca a cabeça de seu chefe como o mandante do crime. E a hora tem que ser agora.


O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, está preso já há quase 4 meses. Seus advogados relatam que o quadro geral de saúde física e psíquica é ruim, embora uma avaliação feita demonstre o contrário.

Torres sabe que mesmo que sua prisão preventiva seja relaxada, ao fim do devido processo legal, o que lhe restará será uma pena de 4 a 12 anos acrescida de outras como associação criminosa, por exemplo.

O ex-ministro está tendo uma amostra do que virá pela frente e, se já não consegue suportar 4 meses, o que dirá de muitos anos?

Para ele só há uma alternativa.

Os celulares de Jair Bolsonaro e de seu ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, foram apreendidos e neste momento a Polícia Federal está procedendo à leitura e análise de mensagens trocadas pelos dois.

Anderson Torres optou por declarar que esqueceu a senha de seu aparelho, mas isso apenas dificulta a ação da PF e logo mais ela terá acesso às conversas com seu chefe.

Caso haja mensagens reveladoras da urdidura da tentativa de golpe de estado do dia 8 de janeiro, Torres, Bolsonaro e Cid serão indiciados e se tornarão réus. E a prisão virá com certeza.

Depois disso não fará muito sentido uma delação premiada do ex-ministro. O timing tem que ser agora.

Torres tem uma pequena janela de tempo para negociar com a PF uma redução de pena oferecendo em troca a cabeça de seu chefe como o mandante do crime. E a hora tem que ser agora.

Não é sensato imaginar que Anderson Torres, pressionado por um suposto estado depressivo que o faz chorar o tempo todo, suporte tudo sozinho sem optar por uma tentativa de redução de pena.

Se não delatar é porque Bolsonaro realmente exerce um poder de influência muito grande, talvez apoiado em gente perigosa.

 


quarta-feira, 3 de maio de 2023

A agora, Valdemar?

Por Fernando Castilho



Para Valdemar, Bolsonaro continuaria a ser o mito que lideraria a oposição ao governo Lula e Michelle seria a grande líder ascendente das mulheres. O melhor dos mundos.


Valdemar Costa Neto é um caso a ser estudado.

Foi preso durante o processo do mensalão, sumindo por uns tempos após pagar a pena. Voltou com toda força durante a campanha para reeleição de Jair Bolsonaro, talvez animado pelas promessas do capitão de que este seria reconduzido ao cargo, seja através da vitória na eleição, garantida pelo uso frenético da máquina estatal, das operações da Polícia Rodoviária Federal que impediria eleitores de Lula de comparecer aos locais de votação, do ralo de dinheiro público em que se transformou o Auxílio Emergencial e as emendas do orçamento secreto concedidas a correligionários, ou seja através de um golpe com apoio dos militares, caso não reunisse os votos necessários. Não havia como não dar certo.

Valdemar confiou em Bolsonaro, mesmo se humilhando perante o ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes, quando este aplicou uma multa milionária a seu partido por ter usado de má-fé ao questionar as urnas eletrônicas.

Mesmo após a derrota nas eleições, Costa Neto não titubeou ao oferecer uma luxuosa casa para o capitão e sua esposa Michelle em bairro nobre de Brasília, além de um polpudo salário para o casal, fruto do Fundo Partidário, dinheiro que nós, brasileiros, pagamos através de nossos impostos.

Para Valdemar, Bolsonaro continuaria a ser o mito que lideraria a oposição ao governo Lula e Michelle seria a grande líder ascendente das mulheres. O melhor dos mundos.

O PL havia elegido a maior bancada da Câmara e precisaria da liderança de um homem acima de qualquer suspeita, honesto, patriota.

Assim foi o sonho de Valdemar.

Mas as denúncias começaram a surgir de vários lugares. A mentoria da tentativa de golpe de 8 de janeiro, o caso das joias desviadas e, agora, a falsificação do cartão de vacina.

Valdemar ainda tenta afirmar à imprensa que tudo vai ser esclarecido porque seu mito é um homem correto, mas nem ele crê mais nisso.

A verdade é que a Polícia Federal começa a comer a pizza pelas bordas. O caso da falsificação do cartão de vacina não tem nem de longe a mesma gravidade da sabotagem à vacinação dos brasileiros que resultou em centenas de milhares de mortes daqueles que seguiram o que seu presidente falava na televisão e nas redes sociais, mas, como os casos estão interligados, com certeza, haverá, mais cedo ou mais tarde, responsabilização do ex-mandatário, o que ainda não aconteceu devido à omissão criminosa do Procurador Geral da República, Augusto Aras.

A operação deflagrada hoje, 3 de maio, pode ter sido uma espécie de estratégia para que a PF pudesse ter acesso ao celular de Bolsonaro, afinal, é nos aplicativos de mensagens que se escondem as conversas que possam ter resultado na trama dos atos golpistas de 8 de janeiro. É por ele que saberemos de quem foi a autoria da minuta do golpe encontrada na casa de Anderson Torres. É por ele, também, que saberemos do real envolvimento dos generais Braga Netto e Augusto Heleno, além de outras conversas nada republicanas.

A prisão de Jair Bolsonaro pode estar mais próxima do que pensamos e é por isso que Valdemar Costa Neto está agora apavorado.

Não seria adequado ao PL manter alguém indiciado em vários crimes se o partido pretende continuar a ser o maior do país. Ainda mais um político com direitos cassados por 8 anos. De que serviria?

À esta altura, Valdemar, que pode ser um pouco burro, mas também muito esperto, já deve estar pensando em rever sua escolha para a liderança de oposição contra o governo.

Como escrevi logo após a vitória de Lula, o líder da extrema-direita para 2026 não será Bolsonaro.

Isso já está se desenhando, não é, Valdemar?


sexta-feira, 28 de abril de 2023

O agro é pop, o agro é podre

Por Fernando Castilho



Jair já deveria estar sendo indiciado, já que há inúmeros indícios de tentativa de roubo de joias. As investigações seguem lentas pela Polícia Federal.


Após a exitosa e proveitosa viagem de Lula a Portugal em que não faltou desonestidade por parte da grande imprensa ao “noticiar” que o presidente foi vaiado no parlamento português (apenas 12 deputados do partido Chega!), o ex-presidente Jair Bolsonaro decidiu ir para Lisboa se encontrar com os líderes do partido fascista, aliando-se desta forma a um grupelho sem grande expressão que pretende ressuscitar o que havia de pior no salazarismo.

Bolsonaro insiste em se firmar como pária internacional.

O bolsonarismo, após a tentativa de golpe de 8 de janeiro e a revelação de que seu líder, antes de sair do Brasil em 30 de dezembro do ano passado, só pensava em se apropriar das joias que deveriam ser patrimônio do estado, enquanto seus seguidores permaneciam em frente aos quartéis tomando chuva e defecando em banheiros químicos, recrudesceu. Não se vê mais ninguém nas ruas vestindo camisetas amarelas.

Mas essa situação pode mudar, uma vez iniciada a CPMI que tentará culpar Lula por uma tentativa de golpe nele mesmo. A ver.

Mas enquanto se torna cada vez menor, eis que a feira agrícola de Ribeirão Preto o convida para participar de seu agroshow" durante o feriado de 1º de Maio.

É interessante saber que seus organizadores preferiram receber o ex-presidente e desconvidar o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.

Ora, está nas mãos do ministro propor políticas que poderão beneficiar ou prejudicar o agronegócio, portanto, é notavelmente desproporcional preferir a presença de um político que está sob investigação que poderá torná-lo réu por peculato pela apropriação indébita de joias supervaliosas. Além disso, Bolsonaro certamente se tornará inelegível por 8 anos, tornando-se figura irrelevante nos destinos dos produtores agrícolas.

A ideologia falou mais alto que a possibilidade de aumento de lucros.

Jair já deveria estar sendo indiciado, como lembrou o jornalista Josias de Souza do Uol, já que há inúmeros indícios de tentativa de roubo de joias. As investigações seguem lentas pela Polícia Federal.

O que é preciso lembrar, e este escriba comentou isso em artigo de janeiro, é que o extremismo de direita veio para ficar e seguirá seu caminho mesmo sem Bolsonaro. Este, que não tem apreço pelo trabalho e que durante toda sua vida no parlamento e na presidência procurou todas as formas mais vulgares de ganhar dinheiro, como rachadinhas, funcionários fantasmas, apropriação de presentes que podem significar propinas por entrega da refinaria Landulpho Alves à Arábia Saudita, certamente não será o grande líder dessa extrema-direita e acabará sendo preso, primeiro por peculato, depois por tentativa de golpe de estado.

Enquanto isso, o circo montado pela extrema-direita terá seu primeiro espetáculo na próxima semana.

 


quarta-feira, 19 de abril de 2023

O fim do Império

Por Fernando Castilho



Sem perceber, já amávamos as calças Lee, Chuck Berry, milk shake, carros enormes, etc.


No final da década de 50 e início da de 60, eu era apenas um menino tomando conhecimento do mundo ao meu redor.

O mundo tinha saído da 2ª Grande Guerra, a Europa estava em reconstrução e os Estados Unidos haviam emergido como a grande potência que disputava com a União Soviética a hegemonia mundial.

A televisão e o cinema já começavam a nos mostrar que a única cultura que deveria influenciar nossos jovens era a americana com seu American Way of Life.

Para mim, à época, os Estados Unidos haviam vencido a guerra. Só soube bem mais tarde que na verdade, a União Soviética havia sufocado os nazistas em seu próprio território quando estes tentaram invadi-la no inverno.

Sem perceber, já amávamos as coisas americanas, as calças Lee, Chuck Berry, milk shake, carros enormes, etc.

Veio a guerra do Vietnã e, de repente, já adolescente, como muitos outros, passei a odiar os Estados Unidos. Por pouco tempo.

Chega ao Brasil o McDonalds ganhando o coração, não só dos jovens, mas também, ou principalmente, das crianças.

Os Estados Unidos vencem a guerra fria e se tornam a maior potência mundial.

Uma enxurrada de filmes de ação elege o inimigo da vez, os muçulmanos.

Era preciso destruí-los. Saddam Hussein produzia armas químicas sem parar e era preciso matá-lo.

Os americanos, contra resolução da ONU, invadem o Iraque, caçam e assassinam Hussein. Até hoje não apareceu sequer uma arma química. E o mundo aceitou sem problemas. Depois seria a vez de Osama Bin Laden, que foi assassinado sem que pudesse ser interrogado ou se defender.

Outras invasões em outros países se sucederam, sempre com o pretexto de destruir algum inimigo e restaurar a democracia. Consequência disso é que todos esses países se encontram destruídos, seus povos passam fome, mas a democracia, mesmo que capenga, agora existe. Viva!

Hoje, nos filmes, os terroristas são russos. Amanhã serão chineses. Sempre querem dominar o mundo, mas os Estados Unidos, guardiões da democracia no planeta, os impedem.

Uma nova modalidade de guerra foi criada pelos americanos: a guerra híbrida.

Surgiu a Primavera Árabe destinada a destruir governos e colocar títeres pró-americanos no poder. Seu equivalente no Brasil, as jornadas de junho de 2013, derrubaram a presidenta Dilma através de um golpe com povo nas ruas e incessante bombardeio da nossa grande imprensa. Tudo para botarem a mão em nosso pré-sal.

Lula foi eleito presidente pela 3ª vez e conquista impressionante feito em sua visita à China, trazendo 50 bi na mala e inúmeros acordos comerciais que alavancarão nossa economia nesta década, mas nossa mídia se apavora com a cara de muxoxo que Joe Biden deve ter feito.

Ainda consumimos a cultura norte-americana, através de filmes, seriados, música, moda, comportamento, gastronomia, etc. mas estamos, aos poucos, nos servindo de outras culturas vindas da Ásia, principalmente da Coreia. O k-pop, o k-dorama, os restaurantes coreanos e japoneses, o manga, o anime, e por aí vai.

Precisamos de uma identidade própria, mas somos uma mistura de muitas nações que ajudaram a ser o Brasil que hoje somos.

A China, assim com o Japão e a Coreia, segue uma estética asiática que a maioria dos brasileiros desconhece, exceto aqueles jovens antenados que acampam aguardando por dias um show do grupo coreano, BTS. Eles se identificam por seu vestuário, cabelos e comportamento tipicamente asiáticos.

Conheço muito dessa estética comportamental pelos anos em que vivi no Japão. Ela se repete por quase todos os países do continente.

No meio desse processo de construção de nossa própria identidade, não fará mal nenhum deixar que um pouco da cultura chinesa também desembarque por aqui, afinal, uma cultura milenar que experimenta uma grande transformação poderá ser bem-vinda.

Para quem viveu daqueles anos 50 até hoje, parece estar se esboçando forte e rapidamente, a queda do império americano. Seu poder de influência, apesar do desagrado de nossa grande mídia, diminui cada vez mais a olhos vistos.

Lula dá uma empurradinha também.


domingo, 16 de abril de 2023

A indignidade de Dallagnol contra a dignidade de Stedile

Por Fernando Castilho



Enquanto o agro pop produz para exportação, o MST segura as pontas e produz para o mercado interno alimentando os brasileiros através da agricultura familiar.


O deputado federal Deltan Dallagnol está pedindo a prisão preventiva de João Pedro Stedile, líder do MST, por uma fala em um vídeo que gravou. Dallagnol reclama que Lula tenha incluído Stedile na delegação que foi à China.

Por incrível que pareça, quem saiu em defesa de Stedile e do MST foi Reinaldo Azevedo.

Azevedo apresentou o vídeo do Stedile e mostrou que não há nada de ilegal nele, pois afirma que em abril o movimento deverá fazer manifestações em todos os estados pelas ocupações de terras IMPRODUTIVAS, de acordo com a Constituição que prevê o uso social da terra.

Além disso, Azevedo revelou a seus milhões de seguidores de direita que o MST NUNCA ocupa terras produtivas (Oh!) e que ele é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil! (Oh, de novo!)

Revelou ainda que, enquanto o agro pop produz para exportação, o movimento produz para o mercado interno alimentando os brasileiros.

Como bônus, para um público que nunca soube dessa informação através da grande imprensa, Tio Rei falou das escolas do movimento frequentadas por 120 mil alunos com ótimo desempenho escolar. Mais bônus: a média de mortes por Covid dentro do MST foi inferior à média nacional.

Para encerrar, disse sem explicar muito bem, que o MST reduz a tensão no campo. O que seria isso?

Explico: se não existisse o MST com sua grande estrutura e organização, pessoas, de maneira desorganizada estariam invadindo e ocupando fazendas de maneira indiscriminada pelo país afora, o que certamente causaria a tensão e reação por parte dos latifundiários. Teríamos uma verdadeira guerra civil no campo e, é lógico, um grande morticínio de camponeses sem terra.

É Stedile o responsável por organizar os camponeses dando-lhes formação e consciência política e regras a serem seguidas para que as tensões sejam ao máximo evitadas.

Infelizmente temos no congresso bandidos como Dallagnol que não estão satisfeitos com a pacificação que Lula está tentando trazer ao Brasil e desejam a volta das tensões diárias que seu presidente produzia e que quase acabaram com a democracia que ele tanto odeia.


A intentona golpista de 7 de setembro de 2021

Por Fernando Castilho



Bolsonaro, se nascesse guerreiro viking, mijaria nas calças diante de qualquer inimigo.


Não consigo me esquecer daquele 7 de setembro de 2021, um dos dias mais tensos que vivi.

Bolsonaro, abertamente e em plena luz do dia, utilizou as comemorações do Dia da Independência para tentar dar um golpe no país e se perpetuar no poder. Isso, bem antes das eleições de 2022!

Para isso, convocou, pelas redes sociais, caravanas de todo o Brasil e mobilizou centenas de caminhoneiros para ocupar a esplanada dos ministérios.

Os discursos, tanto em Brasília quanto em São Paulo foram fortes e golpistas incitando veladamente a população presente a promover a mesma quebradeira que iria acontecer em 8 de janeiro de 2022. Só faltou a palavra de ordem. E só não enxergou quem não quis.

À certa altura Bolsonaro teria consultado seu ministro da defesa, Fernando Azevedo e Silva, perguntando se as Forças Armadas estavam prontas. Azevedo teria respondido que elas não estavam coesas para isso e que as coisas poderiam dar errado, o que provocaria ao fim da intentona, sua prisão.

Bolsonaro, então tremeu de medo. Ainda mais depois de ter xingado o ministro do STF, Alexandre de Moraes em seus dois discursos. Temia também que Moraes retaliasse começando pela prisão do ponto mais fraco da família, o filho Carlos que, por ser vereador, não possuía foro privilegiado.

Não houve saída a não ser rogar ao ex-presidente Michel Temer, padrinho de Moraes no STF, que redigisse uma carta em seu nome pedindo desculpas.

Bolsonaro, se nascesse guerreiro viking, mijaria nas calças diante de qualquer inimigo.

Escapamos do golpe nesse fatídico dia. Se tivesse dado certo, Lula provavelmente estaria preso agora, o país afundado numa crise sem precedentes, gente armada pelas ruas e uma iminente guerra civil. Adeus, democracia.

Mas por que o capitão morte não foi preso por tentativa de golpe de estado naquele 7 de setembro de 2021?

A resposta está em Augusto Aras, o Procurador Geral da República, que não considerou o ocorrido como uma ameaça, impedindo o STF de iniciar um processo.

Agora que Bolsonaro não possui mais foro privilegiado, não é preciso que se ouça a PGR.

Poderia ser uma bela oportunidade de prender esse golpista.

 

 


terça-feira, 11 de abril de 2023

Um governo com muitas marcas

Por Fernando Castilho



Para os jornalões, impedir um golpe que colocaria o país de joelhos diante de um facínora por muito mais que 4 anos, socorrer em tempo recorde os Yanomami que estavam ameaçados de extinção, recriar programas sociais como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos, que tinham sido abandonados, não é visto como uma marca.


Abro este texto afirmando que o mês de janeiro foi quase que totalmente prejudicado após os atentados terroristas do dia 8, portanto, o governo Lula não tem de fato 100 dias ainda.

A Folha de São Paulo, em editorial, cravou que o governo Lula não tem marca. O Estadão também tocou nesse mesmo assunto.

Para os jornalões, impedir, em nome da democracia e do estado de direito, um golpe que colocaria o país de joelhos diante de um facínora por muito mais que 4 anos, já que seu desejo era se manter indefinidamente no poder, instaurando uma teocracia, não é uma marca.

Também a atuação de Lula nas questões sociais, desde o socorro ligeiro aos Yanomami que estavam ameaçados de extinção, até a recriação de programas sociais como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos, não é vista como uma marca. Aliás, os dois jornais se referiram a esses programas como sendo “velharias”, retrógrados. Saudades de Bolsonaro?

A Folha decretou o fim precoce do governo Lula e o Estadão afirma que o governo envelheceu e que Lula está perdido.

As marcas poderiam ser somente essas elencadas acima, mas há outra que esqueceram: o novo arcabouço fiscal festejado principalmente por economistas liberais bem ao gosto dessa imprensa. Sobre isso, não falaram nada.

Não, a imprensa não considera ações na área social importantes. Ela gostaria muito mais que Lula começasse a privatizar estatais. É por isso que dá pontos a Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, que tem uma tara pelas privatizações. Esse vai ser mantido em banho-maria durante 4 anos, alimentando o sonho dos jornais de que ele seja candidato em 2026.

É preciso lembrar que lá, no longínquo início do governo Lula de 2003, nossa grande imprensa já reagia com fúria à criação do Bolsa Família que, segundo ela, iria estimular a vagabundagem.

Não podemos esquecer que, sob Bolsonaro, o Brasil se tornou pária internacional e que agora, sob Lula, investimentos começam a chegar ao país, frutos do reconhecimento da importância da nova administração.

Lula 3 ainda vai sofrer muitos ataques destinados a inviabilizar sua reeleição ou a continuidade dos programas sob outro nome na presidência, mas, assim que os êxitos começarem a surgir, o povo mais pobre, percebendo que tem emprego e mais renda, voltará a aprovar o presidente calando a grande mídia.

Esses 77 dias de governo já foram exitosos no fortalecimento da democracia, dos direitos humanos e na redução das desigualdades.

Um governo que não tem uma marca somente, mas muitas.

Lula tem muito a comemorar.


quarta-feira, 5 de abril de 2023

Lula está perdendo a batalha da comunicação?

Por Fernando Castilho



Perdemos a batalha das comunicações em todos os mandatos presidenciais do PT e, embora sejam ainda apenas 3 meses, parece claro que continuamos a perder.


Domingo, 02 de abril de 2023.

A Folha de São Paulo publica um editorial intitulado “Fio da Navalha”. Lá, após comparar os índices de popularidade de Lula com os de Bolsonaro e Collor nos 3 primeiros meses dos respectivos governos, o jornal se sai com essa: “O começo deixou a desejar. Lula abraçou-se a velharias ideológicas, em especial no terreno crucial da economia, e afastou aliados e eleitores que acreditaram na promessa de uma “frente ampla. Há tempo, claro, de corrigir a rota. Falar e governar tão somente para o segmento mais simpático e ideologizado não trará resultado diferente do que obteve Bolsonaro, acossado pela impopularidade durante todo o mandato.”

O que seriam as tais “velharias ideológicas”? Já teve colunista afirmando que Lula se prende ao passado para governar. O que a Folha quer dizer é que Bolsa Família é algo do passado. Não era coisa do passado quando Bolsonaro mudou o nome do programa para Auxílio Brasil.

O Minha Casa Minha Vida é outra “velharia”. Talvez melhor seria não ter nenhum programa que facilitasse o acesso à moradia por parte dos mais pobres.

O Mais Médicos também pertence ao passado, não é? Para quê, afinal tratar a saúde dos brasileiros que não tem atendimento nos longínquos rincões do país?

E afirmar somente após 3 meses que Lula terá o mesmo destino de Bolsonaro é, no mínimo, decretar o fim de seu governo. Um absurdo!


Domingo, 02 de abril de 2023.

A Veja coloca na capa a manchete: “Até aqui, nem paz nem amor”.

Em seguida lê-se: “Lula se aproxima dos 100 dias de governo longe da meta de pacificar o país. Rancor e espírito revanchista têm impedido o presidente de cumprir a promessa de governar para todos os brasileiros.”

Sim, Lula tem a meta de pacificar o país, mas não seria responsável por parte da revista aguardar até que resultados apareçam? Até porque acabamos de sair de um governo que criou até um gabinete do ódio! A pacificação é um processo e será feita na medida em que os programas sociais começarem a surtir efeitos e a economia apresentar melhores resultados com geração de renda e emprego formal.

Corrigir os malfeitos de seu antecessor não é ser rancoroso nem possuir espírito revanchista. Se o outro destruiu, Lula tem a obrigação de reconstruir.

Todos sabíamos que a grande imprensa, nem passados os 100 dias de governo, iria decretar o fim da trégua, mas atacar dessa maneira uma administração que já fez em pouquíssimo tempo muito mais que o ex-presidente é muito baixo.

Diante de tudo isso, é inevitável a sensação de que há problemas na comunicação do governo.

Não é à toa que, para 29% das pessoas ouvidas pelo Datafolha, Lula faz um mau ou péssimo governo.

É preciso lembrar que Bolsonaro perdeu muitos eleitores depois de 8 de janeiro e após o caso de roubo das joias que era propriedade do Estado brasileiro. A prova é que não havia uma centena de pessoas na sua recepção no aeroporto, quando de sua volta ao Brasil. Boa parte desses 29% e também dos que consideram o governo regular, não estão informados sobre as realizações dos ministérios de Lula.

Perdemos a batalha das comunicações em todos os mandatos presidenciais do PT e, embora sejam ainda apenas 3 meses, parece claro que continuamos a perder.

Estudos recentíssimos mostram que, tanto Bolsonaro quanto senadores e deputados bolsonaristas estão dando de 10 a 0 no governo e nos parlamentares de sua base nas redes sociais.

O que é preciso compreender de uma vez por todas é que hoje as redes sociais TÊM que ser exaustivamente utilizadas em todas as frentes. E com essa afirmação me vem à mente que, enquanto Bolsonaro criou um gabinete do ódio, especializado em utilizar robôs para divulgar fake news, Lula poderia criar o gabinete do amor para, sem robôs – porque esse tem que ser um diferencial de governos progressistas – usar ao máximo a criatividade para bem informar as pessoas.

Mas com um ministro mais preocupado com leilões de cavalos...


quarta-feira, 29 de março de 2023

Não era uma arminha de dedo... Réquiem para a professora Elisabete Tenreiro

Por Fernando Castilho

Foto: ArquivoPessoal/Reprodução/GoogleStreetView

O governo Bolsonaro, que muitos chamam de “governo da morte”, em que até havia um gabinete paralelo intitulado “gabinete do ódio”, responsável por disseminar o ódio e a violência na sociedade, atingiu atingiu crianças e jovens em cheio.


Era uma tarde ensolarada de domingo em Santos, onde vivo. Perto do segundo turno das eleições de 2018.

Caminhando pela avenida da orla, de repente ouvimos, minha esposa e eu, um buzinaço que se tornou ensurdecedor à medida em que uma grande fila de carros e caminhões com faixas Bolsonaro 17 e Bolsodória 45, começou a avançar ostensivamente.

Tudo normal, pensei eu, afinal, faz parte da democracia.

Porém, o inédito nessa carreata eram as crianças nos bancos de trás, numa espécie de frenesi, fazendo arminha com os dedos para os transeuntes, enquanto seus pais buzinavam meio que enlouquecidos. Horripilante!

Para nós, que já participamos de inúmeras campanhas eleitorais, o normal seria o gesto de fazer um coração com as mãos para conquistar mais eleitores, mas os tempos mudaram.

Lembro que comentei com minha esposa: “isso não vai dar boa coisa”. Não deu.

Tecnicamente não é possível atribuir aos 4 anos de governo bolsonarista a tragédia ocorrida na Escola Estadual Thomázia Montoro, afinal, violência contra professores por parte de alunos é um fenômeno que já existia antes de Bolsonaro, mas, cá entre nós, vem aumentando muito nos últimos tempos.

É praticamente inédito que um menino de apenas 13 anos, da 8ª série do fundamental II, que a imprensa insiste em chamar de adolescente, tenha planejado e anunciado em rede social um assassinato com faca e tentado matar outros professores e alunos, além da professora Elisabete Tenreiro de 71 anos, que teve parada cardíaca e faleceu.

O menino participava de conversas com outros de sua idade através de um grupo no twitter, em que exaltavam as façanhas de outros que lograram matar e até se suicidaram logo após. Ele havia anunciado que iria no dia seguinte à escola para matar e se lamentava por não ter conseguido uma arma de fogo para a “missão”.

Não vejo como o twitter, com seus poderosos algoritmos, não consiga detectar conversas como essas e eliminá-las da rede. Consegue, mas não quer.

O professor da rede pública estadual e editor do canal Tiago na Área, Tiago Luz, lembrou muito bem em vídeo que soluções rápidas e fáceis não funcionam para assuntos complexos como este. Além do mais, logo se esquece o fato, até que nova tragédia aconteça e reapareçam as mesmas soluções fáceis. Ele propõe um amplo debate com a sociedade e especialistas, tanto em educação, quanto em segurança e até com psicólogos.

Na escola onde eu lecionava até o fim do ano passado, havia inúmeros casos de depressão, de alunos que tentaram suicídio e de automutilação. Parece que não só os 4 anos de incentivo ao armamento e ao uso de armas são os responsáveis, mas também 2 anos de reclusão domiciliar devido à Covid-19. Houve uma espécie de dessocialização em que as crianças passaram a adquirir uma forma de vida mais individualizada do que em grupo.

Havia uma psicóloga que uma vez por semana dava atendimento online a grupos de alunos. Numa das vezes, num auditório com grande número de adolescentes do ensino médio, ela tentava falar sobre ansiedade, mas absolutamente ninguém a ouvia, preferindo assistir vídeos “engraçados” no Tik Tok.

Penso que atendimentos assim não devem ser generalizados e em grandes grupos, pois é justamente em grupos que os alunos se sentem à vontade para se recusar a participar.

O atendimento psicológico deve ser presencial e para grupos de até 3 crianças, sob pena de fracassar.

O governo Bolsonaro, que muitos chamam de “governo da morte”, em que até havia um gabinete paralelo intitulado “gabinete do ódio”, responsável por disseminar o ódio e a violência na sociedade, atingiu os jovens em cheio, mas, felizmente, apesar da sobrevivência do bolsonarismo ou extrema-direita, acabou.

Agora o pesado nevoeiro cinza escuro está se dissipando e uma nova aurora nasce com o governo Lula.

Além da árdua missão de consertar tudo aquilo que foi destruído em termos de economia, saúde (700 mil mortos pela Covid-19), educação, direitos humanos, meio-ambiente e corrupção, Lula tem ainda por cima que dissolver a atmosfera de ódio que contaminou grande parte dos brasileiros e criar ares claros e límpidos para a sociedade.

Para isso terá também que compartilhar com estados e municípios políticas públicas que propiciem emprego e renda para a população mais pobre, sem o que esta não verá futuro para seus filhos, sob risco de, por falta de perspectivas, a violência aumente.

Antes de encerrar, sinto ser necessário lembrar que já há algumas gerações estamos naturalizando morte violentas influenciados que somos, principalmente por produções do cinema americano que nos bombardearam e ainda bombardeiam com filmes de ação em que, invariavelmente se mata muito. Ao vermos tantos tiros, sangue e morte, ficamos anestesiados a ponto de não mais nos chocarmos com assassinatos violentos.

Felizmente, com o streaming, Hollywood deixou de ser a principal fonte de entretenimento. Hoje há produções de outros países que abordam temas mais cotidianos como dramas familiares ou amorosos. E é disso que precisamos muito.

Por fim, fica a sugestão do professor Tiago Luz de se promover um amplo debate sobre a violência infantil com a sociedade.

Será um longo processo, mas que, ao seu fim, talvez nunca mais vejamos crianças fazendo arminha com os dedos nem utilizando armas reais.