quarta-feira, 19 de abril de 2023

O fim do Império

Por Fernando Castilho



Sem perceber, já amávamos as calças Lee, Chuck Berry, milk shake, carros enormes, etc.


No final da década de 50 e início da de 60, eu era apenas um menino tomando conhecimento do mundo ao meu redor.

O mundo tinha saído da 2ª Grande Guerra, a Europa estava em reconstrução e os Estados Unidos haviam emergido como a grande potência que disputava com a União Soviética a hegemonia mundial.

A televisão e o cinema já começavam a nos mostrar que a única cultura que deveria influenciar nossos jovens era a americana com seu American Way of Life.

Para mim, à época, os Estados Unidos haviam vencido a guerra. Só soube bem mais tarde que na verdade, a União Soviética havia sufocado os nazistas em seu próprio território quando estes tentaram invadi-la no inverno.

Sem perceber, já amávamos as coisas americanas, as calças Lee, Chuck Berry, milk shake, carros enormes, etc.

Veio a guerra do Vietnã e, de repente, já adolescente, como muitos outros, passei a odiar os Estados Unidos. Por pouco tempo.

Chega ao Brasil o McDonalds ganhando o coração, não só dos jovens, mas também, ou principalmente, das crianças.

Os Estados Unidos vencem a guerra fria e se tornam a maior potência mundial.

Uma enxurrada de filmes de ação elege o inimigo da vez, os muçulmanos.

Era preciso destruí-los. Saddam Hussein produzia armas químicas sem parar e era preciso matá-lo.

Os americanos, contra resolução da ONU, invadem o Iraque, caçam e assassinam Hussein. Até hoje não apareceu sequer uma arma química. E o mundo aceitou sem problemas. Depois seria a vez de Osama Bin Laden, que foi assassinado sem que pudesse ser interrogado ou se defender.

Outras invasões em outros países se sucederam, sempre com o pretexto de destruir algum inimigo e restaurar a democracia. Consequência disso é que todos esses países se encontram destruídos, seus povos passam fome, mas a democracia, mesmo que capenga, agora existe. Viva!

Hoje, nos filmes, os terroristas são russos. Amanhã serão chineses. Sempre querem dominar o mundo, mas os Estados Unidos, guardiões da democracia no planeta, os impedem.

Uma nova modalidade de guerra foi criada pelos americanos: a guerra híbrida.

Surgiu a Primavera Árabe destinada a destruir governos e colocar títeres pró-americanos no poder. Seu equivalente no Brasil, as jornadas de junho de 2013, derrubaram a presidenta Dilma através de um golpe com povo nas ruas e incessante bombardeio da nossa grande imprensa. Tudo para botarem a mão em nosso pré-sal.

Lula foi eleito presidente pela 3ª vez e conquista impressionante feito em sua visita à China, trazendo 50 bi na mala e inúmeros acordos comerciais que alavancarão nossa economia nesta década, mas nossa mídia se apavora com a cara de muxoxo que Joe Biden deve ter feito.

Ainda consumimos a cultura norte-americana, através de filmes, seriados, música, moda, comportamento, gastronomia, etc. mas estamos, aos poucos, nos servindo de outras culturas vindas da Ásia, principalmente da Coreia. O k-pop, o k-dorama, os restaurantes coreanos e japoneses, o manga, o anime, e por aí vai.

Precisamos de uma identidade própria, mas somos uma mistura de muitas nações que ajudaram a ser o Brasil que hoje somos.

A China, assim com o Japão e a Coreia, segue uma estética asiática que a maioria dos brasileiros desconhece, exceto aqueles jovens antenados que acampam aguardando por dias um show do grupo coreano, BTS. Eles se identificam por seu vestuário, cabelos e comportamento tipicamente asiáticos.

Conheço muito dessa estética comportamental pelos anos em que vivi no Japão. Ela se repete por quase todos os países do continente.

No meio desse processo de construção de nossa própria identidade, não fará mal nenhum deixar que um pouco da cultura chinesa também desembarque por aqui, afinal, uma cultura milenar que experimenta uma grande transformação poderá ser bem-vinda.

Para quem viveu daqueles anos 50 até hoje, parece estar se esboçando forte e rapidamente, a queda do império americano. Seu poder de influência, apesar do desagrado de nossa grande mídia, diminui cada vez mais a olhos vistos.

Lula dá uma empurradinha também.


8 comentários:

  1. Mudar é preciso. Sem necessidade de excluir mas é
    importante agregar. Sejamos uma sociedade cosmopolita. Seu texto é leve e muito agradável de ler Fernando Castilho. Abraço

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  2. Adorei o artigo. Lúcido, objetivo e instigante. O final foi surpreendente!

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  3. Não é fim de império pois não é uma monarquia mas um sistema republicano.
    as culturas do povo artísticos é muito bem vinda e nao pode ser desdenhada só por ser dos EUA....
    Chucky Berry e o cinema nada tem a ver com a guerra do Vietnã . E outras guerras quem o governo ganancioso é maléfico exerce .
    Ficou na moda falar mal de tudo que é de lá mesmo adotando pra sua vida outras coisas .

    Artistas e pensadores americanos também reprimem o próprio governo destruir que eles têm. É nós fomos acostumados a colocar tudo no mesmo saco.
    Se por um lado o blues e rock dominou o cenário da música . É abominável isso?
    Certamente não.
    E por outro lado os EUA amam bossa nova e adaptam ao jazz e vice versa .
    O rock invadir o mundo nao é uma estratégia de controle mundial.
    E sim sucesso de uma cultura real praticada pelos oprimidos dos eua . Os negros .
    Reprimir a expressão dessas culturas é um desespero mal focado em atirar pra qualquer lado a fím sem atacar o sistema dominar do governo dos eua.
    Que nada se associa a Chuck Berry.... ou Robert Johnson.... que influenciaram a Europa antes do Brasil. ....
    então é comparação sem sentido .
    A China não é uma criadora sendo guerras a fora e suas linhas . Mas dentro do pais a guerra de opressão contra seu próprio povo é alarmante.
    Talvez análise esse sistema alguma hora .
    Sem mais delongas......
    Apoio a mudança geopolítica e é importante por lenha na fogueira pra ter uma esperança que algo aconteça . Mesmo que acabe numa grande guerra.
    Nenhuma dessas lideranças me representa .
    Mas expressões de art são maravilhosamente bem vindas .
    E mangá não é chines é japonês .

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    1. Obrigado pelo comentário. Sugiro uma releitura atenta do texto para que verifique que em nenhum momento há uma crítica negativa do rock ou do blues, de que também gosto muito. É fato que manifestações culturais que se espalham pelo mundo fazem parte de algo que chamamos de imperialismo. Por isso, chamo os EUA de império. É uma constatação apenas de que esse império vem desmoronando, não agora, mas desde a década de 90. Isso é fato. Sobre manga ser japonês e não chinês, observe que citei manifestações culturais de toda a Ásia e não só da China. Lembro que há um parágrafo onde digo que vivi no Japão, portanto, sei que o manga é japonês na sua origem, ainda que exista também na Coreia e na China também.

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