terça-feira, 3 de junho de 2014

O coyote e o papa-léguas, ou Bip-bip

A mídia, sempre ela.

Na sua obra OS MEDIA E A CONSTRUÇÃO DOS CARAS-PINTADAS, Thales Torres Quintão explica:
''A mídia jornalística entende a política, à sua própria maneira, de acordo com suas
estratégias de visibilidade e credibilidade da informação. A função da mídia para servir como condutora de comunicação na esfera pública mudou a ponto de o receptor da mensagem deixar de ser público e passa a ser transformado em audiência, em uma aglomeração de indivíduos consumistas, o que significa supor a existência de um processo de modelagem da política pela mídia.'' Leia mais aqui

Getúlio Vargas em seu segundo mandato como presidente foi pressionado, pela imprensa e por militares, a renunciar ou, ao menos, licenciar-se da presidência. O Manifesto dos Generais, de 22 de agosto de 1954, pediu a renúncia de Getúlio. Foi assinado por 19 generais de exército.


Em virtude disso, sem encontrar saída para a situação, Getúlio se suicidou na madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954.
Vitória da mídia. 

João Goulart havia sido democraticamente eleito em 1961 vice-presidente do Brasil.

Após a renúncia de Jânio no mesmo ano de 1961, o povo, em 1963, optou pela volta do regime presidencialista. João Goulart, finalmente, assumiu a presidência da República com amplos poderes, e durante seu governo tornaram-se aparentes vários problemas estruturais na politica brasileira, acumulados nas décadas.

No dia 13 de março de 1964, a realização do comício em frente à Estação Central do Brasil, desencadeou a chamada ''Marcha da Família com Deus pela Liberdade'', nome genérico de uma série de protestos Brasil afora, convocados pela imprensa, principalmente, O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Correio da Manhã (editorial de Carlos Heitor Cony), Jornal do Brasil (editorial de Alberto Dines) e o Globo, que colaboraram decisivamente com o golpe militar.

O estudo do professor de história Eduardo Zayat Chammas analisou editoriais dos veículos Correio da Manhã e Jornal do Brasil entre 1964, ano do golpe, e 1968, ano de implantação do Ato Institucional 5 (AI-5). Os dois jornais, nesse tipo de texto que expõe a opinião do veículo, mostraram-se a favor da queda de João Goulart do poder. O primeiro, inclusive, publicou editoriais na capa pedindo a saída do presidente e se declarou “herdeiro dos ideais democráticos da revolução de 1964”, segundo Chammas. leia mais aqui

A mídia venceu mais uma vez.

Chega a era Collor.

Depois de praticamente colocar Fernando Collor na presidência do Brasil em 1989, para o que não faltou um debate eleitoral editado de maneira escandalosa pela Rede Globo, que causou a derrota de Lula, num dos maiores embustes que a história política e mediática já produziu, a mídia criadora passa a fazer oposição à criatura.

Fausto Neto (1994) mostrou a competência da mídia indo muito além de relatar certo acontecimento. A imprensa, principalmente a escrita, “produziu” o impeachment. Ao publicar os depoimentos de Pedro Collor na revista Veja, e do motorista Eriberto França na revista Isto É, que alegavam a relação entre Fernando Collor e PC - Farias, os meios de comunicação como um todo, tornaram visível tal evento ao grande público quando o transformou em discurso jornalístico. Essa transformação em discurso jornalístico garantiu a existência desse fato no sentido de ser um problema real, caracterizando a corrupção como uma mazela social.

E assim, essa cobertura jornalística pautou a própria ação da CPI, uma vez que os veículos influem nos rumos dos fatos. Leia mais aqui

Logicamente Collor de Mello é um facínora, e o fato de ter sido absolvido após 20 anos de processo, não o livra de um julgamento moral, já que as provas contra ele são fartas. Foi absolvido por nosso Judiciário que se utiliza sempre de dois pesos e duas medidas.
Mas de qualquer forma, ajudando Collor na eleição e depois ajudando na sua queda, a mídia venceu.

Ah, o julgamento da Ação Penal 470, totalmente mediático.

Desde 2005, após o escândalo dos Correios, a mídia não deixou de, sequer um dia, publicar uma linha que fosse sobre o apelidado mensalão.

Valeu de tudo: ilações, falácias, indícios, suspeitas, mentiras (como no envolvimento de Luíz Gushiken).

Oportunidade única para mandar para o limbo o principal nome que Lula tinha no governo, e que poderia vir a sucedê-lo em 2010.

Para a mídia, próprio Lula não conseguiria se reeleger em 2006. Mas conseguiu, apesar do bombardeio diário. E ainda elegeria um poste em 2010!

Derrota fragorosa da mídia.

Os protestos no Brasil em 2013, também conhecidos como jornadas de junho, por todo o país, inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público, principalmente nas principais capitais.

O colunista Arnaldo Jabor foi a TV Globo criticar os protestos pois acreditava que se tratava de gente da esquerda, do PT, a quem odeia. Após levar um puxão de orelhas da emissora, que enxergou ali uma oportunidade única de desestabilizar o governo e, quem sabe, reeditar a marcha da família, Jabor no dia seguinte mudou seu discurso, passando a não só apoiar, mas também a insuflar os protestos, sob o slogan ''o gigante acordou''.

Quatro dias depois, um grande número de populares tomou parte das manifestações nas ruas em novos diversos protestos por várias cidades brasileiras e até no exterior. Em seu ápice, milhões de brasileiros estavam nas ruas protestando não apenas pela redução das tarifas e a violência policial, mas também por uma grande variedade de temas como os gastos públicos em grandes eventos esportivos internacionais, a má qualidade dos serviços públicos e a indignação com a corrupção política em geral.

As jornadas de junho acabaram sendo as maiores mobilizações no país desde as manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992, e chegaram a contar com até 84% de simpatia da população.

Qual a razão de tudo isso? Havia um foco nos protestos? Claro que não.

A mídia precisa que a oposição vença as eleições de outubro. Vai mal das pernas, precisa de socorro do BNDS, que Dilma negou, assim como Lula em 2003.

Com os tucanos vencendo, está tudo garantido. Uma ação entre amigos.

E como os tucanos não tem projeto para o povo do Brasil, a não ser o bolsa-família (ué, mas este já não existe?) e a redução do salário mínimo que, segundo Armínio Fraga, está alto demais, é preciso um esforço midiático.

Mas a presidente Dilma Rousseff foi à televisão e anunciou sua disposição de implementar um plebiscito pela reforma política, além de reconhecer a legitimidade do movimento, que não deixou de existir, mas recrudesceu.

A mídia foi derrotada.

Em março, após 50 anos do golpe militar, os jornais perceberam que poderiam lançar um balão de ensaio para saber quantas pessoas estariam afim de uma nova ditadura. Não custava tentar, quem sabe milhões de enrustidos saíssem às ruas pedindo a volta do regime, não?

Editoriais foram escritos elogiando algumas ''conquistas'' daqueles tempos negros. Chegaram a publicar entrevistas com loucos facínoras destilando ódio e muita confusão mental.

Deram ampla cobertura à nova Marcha da Família, que rendeu uma meia dúzia de lunáticos, pobres coitados, dignos de pena.

Mais uma derrota.

A próxima tentativa de desestabilização do governo é o protesto ''não vai ter copa''.
E quem deu o start?

Adivinhem, a mídia.

Sempre ela.

Bastou alguns colunistas de jornalões escreverem sobre contradições em se realizar uma Copa do Mundo num país carente de saúde, educação, segurança. Como se eles estivessem realmente preocupados com isso.

A Rede Globo já havia faturado seu quinhão com a venda de direitos de transmissão, mas agora vislumbrava faturar também com matérias sobre protestos.

A inviabilização da Copa no Mundo no Brasil teria grande repercussão dentro e fora do país, o que certamente significaria a derrota de Dilma em outubro.

Pois bem, exageraram na dose, os protestos foram ficando cada vez mais violentos, a ponto de as pessoas comuns começarem a coçar as orelhas, se perguntando o por que de tanta raiva, de tanta violência. Perceberam que os protestos não são espontâneos.
E as pesquisas de opinião mostraram que o povo já cansou.

O povo viu in loco (já que a mídia não mostra) as obras ficando prontas (embora não todas), os estádios ficando muito bonitos, os aeroportos sendo concluídos, etc..

Agora quer a Copa.
Quer entrar no clima de festa.
Torce para que o evento seja um sucesso.
Quer o time do Brasil campeão.
E a mídia perde mais uma vez.

E vai perder definitivamente quando a regulamentação da mídia for aprovada.

Igual ao coyote que persegue sem tréguas o papa-léguas... E é sempre derrotado...





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