segunda-feira, 18 de abril de 2016

O golpe e o atestado de idoneidade à Dilma

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


O ministro José Eduardo Cardozo foi ingênuo e perdeu seu tempo em tentar explicar aos deputados porque as pedaladas fiscais não são crime. Eles teriam derrubado Dilma mesmo que a acusação fosse passear com o neto pelo Palácio da Alvorada.


367 votos a favor do golpe.

Lula havia dito que eram 300 picaretas com anel de doutor. Isso foi no passado. Hoje são mais de 300 bandidos sem anel, trogloditas e fascistas.

Estarei sendo anti-democrático?

Como considerar a votação que aprovou o golpe como democrática, já que Cunha manobrou como quis para poder conduzir os deputados como queria?

Comprou parlamentares, ameaçou outros, conseguiu jatinhos de empresas para transportar outros mais, votou ele próprio, desrespeitando o regimento da Câmara, etc..

Bem, o golpe agora segue para o Senado onde deverá, por inércia, ser aprovado também.

Muitos blogueiros escreverão tentando dar explicações para o show de horrores que vimos.

Direi algumas coisas.

Primeiramente, embora eu tivesse certeza de que não seria aprovado, o resultado da votação era mesmo, por coerência, o esperado.

Digo agora, porque antes imaginava que o nível dos parlamentares não fosse tão baixo.

Mas eles se superaram no quesito mediocridade, hipocrisia e falta de ética.

Somente dois deputados justificaram seus votos como sendo por crime de responsabilidade. O resto bradou em alto e bom som: por Deus, pela minha família, pela minha mãe...Ou seja, os caras não leram o processo. Salvo engano, pois não sou advogado, pode haver aí indícios de desvio de finalidade na votação, uma vez que o objeto da ação, o crime de responsabilidade quase não foi mencionado.

Então, acho que a Câmara ao não incriminar Dilma, deu-lhe um atestado de idoneidade.

O ministro José Eduardo Cardozo foi ingênuo e perdeu seu tempo em tentar explicar aos deputados porque as pedaladas fiscais não são crime. Eles teriam derrubado Dilma mesmo que a acusação fosse passear com o neto pelo Palácio da Alvorada.


Nós, que durante muito tempo, nas redes sociais tentamos explicar às pessoas sobre as pedaladas, também perdemos nossos tempo. Elas não estão interessadas no combate à corrupção.

Dilma errou também em manter durante tanto tempo Cardozo no ministério da Justiça, onde foi elemento inerte. Já na AGU, ele se mostrou um leão. Estava no cargo errado.

Outro erro, a meu ver foi não colocar em seu governo nomes como o senador Roberto Requião e Ciro Gomes, incansáveis e corajosos defensores da democracia nos últimos meses.

Mas talvez o erro maior foi não ter nomeado Lula há pelo menos seis meses atrás. O tempo que Lula teve para articular junto aos deputados foi muito curto.

Mas se essa legislatura é a pior em muitas décadas de República, é somente reflexo do povo que a elegeu.

É fácil perceber pois as pessoas que saíram às ruas pedindo impeachment e a volta da ditadura não o fizeram, como já denunciei várias vezes neste blog, pelo fim da corrupção, mas somente pela defenestração de Dilma, a prisão de Lula e a extinção do PT.

É isso que o consórcio golpista quer. Sempre foi isto.

É para isso que o juíz Moro direcionou a Lava Jato desde o começo. As delações premiadas que citaram peemedebistas e tucanos, inclusive Aécio Neves, não se prestaram a prendê-los ou ao menos conduzi-los coercitivamente a prestar depoimentos. E nunca se prestarão.

Moro já está há semanas afastado da mídia desde que o STF pediu para si as investigações sobre Lula. Uma vez fora dos notociários, Moro tratará de ir libertando aos poucos os empresários presos e a Lava Jato será extinta, já que, além de não ter conseguido incriminar Dilma e Lula, se continuar terá forçosamente de atingir aqueles que não quer.

O acovardado STF, que tinha que ter invalidado o processo de impeachment, uma vez que as pedaladas fiscais não são crime, esperou para ver o resultado da votação. Não agiu antes e nem agirá agora. A única esperança seria o ministro Marco Aurélio Mello mandar Cunha incluir Temer no impeachment, uma vez que ele também assinou pedaladas. Mas esqueçam. Não há coragem.

Talvez a única coragem do STF agora seja a de prender Cunha, pois este já cumpriu sua finalidade e a opinião pública aceitaria bem o fato. Desta forma, mais uma vaidade aflorará: Renan Calheiros, presidente do Senado, seria o vice de Temer. Assim sendo, deverá lutar para o golpe contra Dilma também naquela casa.

Portanto, se nem o STF que deveria ser o guardião da Constituição, agiu em sua defesa, o que restará de nossa Democracia?

Por onde passa um boi, passa uma boiada.

Se a Constituição foi violentada neste domingo, ela já não vale mais muita coisa. O caminho está aberto para toda sorte de ilegalidades daqui para a frente.

Temer será presidente e Cunha, seu vice.

Sim, traidor e ladrão mandarão nos destinos do país até 2018.

Assim também metade do país quis.

Resta agora à outra metade que acordou de seu sono e saiu às ruas no domingo, não aceitar o resultado dessa votação espúria e manter e até aumentar a pressão para que essa gente seja presa e o Senado mantenha o resultado das urnas de 2014.


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