segunda-feira, 28 de julho de 2014

Sininho e Olga Benário

Por Fernando Castilho


Após as chamadas jornadas de junho, de 2013, com protestos acontecendo no Brasil inteiro, um nome, ou melhor, apelido, logo despontou: Sininho.

A mente do ser humano é algo realmente complexo e fabuloso. À guiza de buscar uma referência, buscou, sem que o blogueiro percebesse ou quisesse, lá do fundo da memória, um padrão comum, e associou a ativista Elisa Quadros Pinto Sanzi a Olga Benário Prestes. E seu namorado, o Game Over, a Luís Carlos Prestes. Nada mais primário e equivocado. Mas é só a mente da gente pregando peças...


Olga Benário, retratada com cores realistas por Fernando Morais em seu livro ''Olga'', foi uma militante comunista alemã e judia que primeiro enfrentou, em sua juventude, o fascismo que iria desembocar no nazismo, e mais tarde, já no Brasil, ao lado do marido Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, foi uma das lideranças da Intentona Comunista que pretendeu sem êxito, derrubar o então presidente Getúlio Vargas, este simpatizante do regime nazista. Como resultado, Olga foi enviada para Hitler, torturada e morta no holocausto de um campo de concentração.

Enquanto Olga Benário tinha uma ideologia, um princípio, um objetivo, um norte em suas ações, Sininho não tem.

Outra diferença: Tanto a Alemanha quanto o Brasil, naquela época não viviam o Estado de Direito, com liberdades democráticas que vivemos hoje.

Mas talvez haja quem, movido por um certo romantismo, esteja enxergando semelhanças onde não há.

Sininho integra a Frente Independente Popular e a Organização Anarquista Terra e Liberdade (grupos de orientação anarquistas, ultrarradicais, que defendem o emprego de métodos violentos de luta).

A ativista diz lutar por um país livre (sic), garante que não é anarquista, mas prega o apartidarismo.
Como, cara pálida? Sem partido? Duvido.

Indagada sobre que revolução quer implantar no Brasil, se Socialismo, ou Anarquismo, Sininho tem dificuldades em expressar o que defende. Ou não sabe.

O Brasil saiu de um regime de 21 anos de uma ditadura que prendia, torturava, matava e sumia com os corpos de quem se manifestava ou protestava, para um período claudicante em que buscava recuperar as décadas perdidas, tanto do ponto de vista econômico, como também do político e social. Passamos por Sarney e Collor, este, a triste aventura que a mídia nos impôs.

Passamos por FHC, indo por três vezes de píres na mão ao FMI, apesar do plano real.

Pagamos um alto preço pelos muitos episódios de corrupção engavetados pelo Procurador Geral da República, Geraldo Brindeiro. Pagamos caro pelas privatizações da Vale do Rio Doce e outras grandes companhias vendidas a preço de banana.

Nunca, mas nunca mesmo, nesse período as camadas mais necessitadas da população foram atendidas. Nunca a desigualdade social, os baixos salários e o desemprego tiveram níveis tão altos.

Veio o governo Lula, e com ele a possibilidade de pensar o Brasil de forma diferente.
E já são 12 anos de políticas sociais como Bolsa-família (que tirou 22 milhões de pessoas da extrema pobreza), Prouni, Pronatec, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, etc..
A desigualdade social no Brasil baixou.

Mas há muita coisa ainda a se fazer.
Além das transformações ainda serem um tanto lentas, o Brasil padece ainda da precarização da Educação, Saúde e da Segurança.

Apesar dos recursos enviados aos Estados e Municípios terem se avolumado bastante na última década, não se traduziram na solução desses problemas, pois governadores e prefeitos não tem tido o devido zelo em sua aplicação.

Como se não bastasse, a questão da mobilidade urbana, leia-se aqui, transporte público, tem sido vítima de desleixo por parte de governantes dos grandes centros urbanos, o que deu origem ao Movimento Passe Livre, que veio a ser o primeiro mote dos protestos de junho 2013.

Ou seja, o aparecimento dos black blocs teria surgido como resposta a esses problemas ainda não resolvidos pelo governo federal (?).

Passaram a se manifestar, com máscaras, depredando patrimônio público e privado.
Dizem que as manifestações começavam sempre pacíficas, mas devido à ação violenta da polícia, reagiam da maneira que podiam. Têm razão quanto à truculência das polícias de São Paulo e Rio de Janeiro. Mas é certo que eles já íam aos protestos com a intenção de promover quebradeiras.

E tanto fazia incendiar um carro importado que o rico iria comprar, quanto um ônibus que o pobre iria usar.

E o ponto trágico das manifestações acabou sendo a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, vítima de um rojão, uma das armas dos black blocs.


Direito à manifestação deve ser garantido a todo cidadão, porém dilapidação do patrimônio seja público ou privado, agressões e mesmo mortes não fazem parte desse direito. Temos uma Constituição.

Próximo ao final da Copa, 23 ativistas, entre eles, Sininho, acabaram presos em uma condenável ação da polícia que, mais parecida com o filme Minority Report, previu que eles iriam promover atos terroristas.

A polícia, sabedora através de escutas telefônicas do que estava sendo planejado, deveria ter comparecido ao local onde se daria o atentado e simplesmente feito o flagrante. Não haveriam dúvidas agora sobre o que de fato ocorreu.

Embora tenha havido essa lambança da polícia, é certo que os ativistas da FIP estavam prestes a cometer um ato terrorista.

Não podem ser considerados de esquerda como espertamente quer a mídia. Se fossem, não teriam que protestar contra o descaso de Alckmin com relação ao Sistema Cantareira?

Não teriam que protestar contra o propinoduto e o trensalão de São Paulo? Contra o metrô que não acompanha a evolução das necessidades dos paulistanos? Contra a falta de segurança pública?

Contra o Mensalão do DEM e do PSDB que não dão em nada?

Não. As manifestações violentas são somente contra o governo federal. Querem claramente impedir a reeleição de Dilma Rousseff.

Na página da Frente no Facebook, gritam ''Fora Cabral'', mas não gritam contra os governos do PSDB em Minas, São Paulo e Paraná.

As escutas telefônicas dão conta de que Sininho disse a seu advogado que pretendia se exilar (exílio acontece fora do estado de direito) na Inglaterra, após a Copa do Mundo.
Embora a notícia tenha sido veiculada pela Rede Globo, que não merece confiança, esse plano de Sininho parece por demais fora da curva para ser uma invenção da televisão.
E há ainda as latas de gasolina.

Parece certo que os ativistas tinham a intenção de provocar um ato que poderia se transformar em tragédia, caso ocorresse.

Movimentos costumam surgir com objetivos, com foco, junto à população que justamente necessita de gente que a organize na luta por seus direitos. É o caso do MST, do Movimento por Moradia, e tantos outros.

A FIP não se preocupa com a organização de movimentos populares.

Por tudo isso, não acho que seja a hora de livrá-los de um processo, alegando direito de manisfestação. Não é o caso.



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