Por Fernando Castilho
É público e notório que se trata sim de terrorismo contra o Estado. E a imprensa tem a obrigação de dar os nomes certos aos bois.
Nossa
grande imprensa, entre o dia da eleição do primeiro e do segundo turno, fez
clara campanha a favor de Lula e contra Bolsonaro.
Após
quase quatro anos de muito tato no tratamento do capitão, temerosa de seus
ataques e chiliques, próprios de sua personalidade autoritária, percebeu na
reta final que, se reeleito tinha planos de instalar uma autocracia duradoura
no país. Para quem trabalha com jornalismo, as ameaças sempre são intranquilizadoras
e, como sabemos, os bolsonaristas têm se esmerado nisso. E para quem é dono de
jornal, a ameaça da censura é por demais perigosa.
Com
a vitória de Lula e, praticamente assegurada a volta da democracia
(praticamente, porque ainda há manifestações golpistas), as lupas e os canhões
voltam a ser apontados para aquele que, apesar de ter apanhado muito em seus
dois primeiros mandatos, sempre respeitou a liberdade de expressão da imprensa
e que, por isso mesmo, não representa risco algum para nenhum colunista.
Aos
poucos Lula foi montando seu gabinete de transição e as críticas começaram a
pulular (sem trocadilhos) simplesmente porque elas tinham que pulular.
Nosso
futuro presidente está acabando de montar um corpo ministerial de grande
diversidade e qualidade, procurando alocar as pessoas certas nos lugares certos
e representando os vários setores da sociedade.
Quase
concluído esse processo, começam a aparecer tentativas de atentados visando a
criar o caos para impedir a posse de Lula e procurar justificar a entrada em
cena dos militares para restabelecer a ordem.
Como
sempre, a grande imprensa utiliza nomenclaturas que lhe convém no momento.
O
terrorista que armou uma bomba junto a um caminhão-tanque repleto de querosene
perto do aeroporto de Brasília, com poder destrutivo de matar muitas pessoas, está
sendo tratado como empresário bolsonarista suspeito de provocar um suposto
atentado.
Embora
a literatura jurídica brasileira ainda anacronicamente insista em não
classificar esse tipo de ação como ato terrorista porque faltam alguns
elementos técnicos que não o definem, é público e notório que se trata sim de
terrorismo contra o Estado. E a imprensa tem a obrigação de dar os nomes certos
aos bois.
A
leniência com que os órgãos policiais vêm tratando os criminosos que pregam o
golpe já durante quase dois meses em frente aos quartéis sem que os militares
não reprimam, mas também não adiram é que acaba por encorajar gente disposta a
perder tudo para prorrogar a estada do capitão no Alvorada.
E se
as autoridades não tomam nenhuma atitude, é obrigação da imprensa, enquanto
representante da sociedade, se insurgir contra esse estado de coisas e chamar
empresários bolsonaristas de terroristas, que é o que eles são, na verdade.
Lula
está exposto.
Não
é possível que ele desista da cerimônia da posse por questões de segurança,
afinal, é o anseio da maioria da população vê-lo desfilar e subir a rampa do
Palácio do Planalto mais uma vez.
Mas
também não é possível que isso aconteça sem segurança completa.
Uma
força-tarefa executando vigilância constante e pente fino em todo o entorno do
evento de posse deveria estar sendo posta em prática já. O grande problema é
que o quase ministro da Justiça, Flávio Dino, ainda não tomou posse, portanto,
não tem a prerrogativa de comandar as polícias federal, civil e militar. Isso
está a cargo do atual ministro de Bolsonaro, Anderson Torres, para quem, tanto
faz como fez e do governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha.
Aquele
espírito democrático que moveu a imprensa por quase dois meses, deveria
retornar para cobrar das autoridades a garantia de uma posse tranquila e sem problemas,
mas, infelizmente, nossos colunistas estão mais empenhados em denunciar que
faltam mulheres nos ministérios de Lula, ou que o mercado fez careta porque
Aloízio Mercadante será o presidente do BNDES.
Os
próximos dias que antecedem a grande festa serão de muita tensão.
Quem
diria que iria ser assim?
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