segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Oração do carreirista bem sucedido na grande mídia brasileira

Por Fernando Castilho
Texto de Nilson Lage

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Abro os jornais e leio a notícia que assustou toda nação dando conta de que as ações da Petrobrás haviam despencado, induzindo os leitores a crer que a empresa estava falida, principalmente devido aos desvios que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato. Pesquiso sobre o assunto e descubro que as ações de todas as grandes petrolíferas caíram praticamente na mesma proporção que as da Petrobrás.

Evidente a má intenção da mídia, principalmente a Rede Globo que prega o fim do regime de partilha do pré-sal e é a favor da privatização da companhia, motivo pelo qual Dilma Rousseff falou de ''predadores internos e externos'' em seu discurso de posse.

Pior é em seguida ler os colunistas opinarem a respeito da notícia. Hoje em dia 90% dos que escrevem nos jornalões, o fazem em consonância com o pensamento de seus donos (interpretem como donos dos jornais ou donos dos colunistas, tanto faz, é a mesma coisa).

O mesmo acontece quando se trata de comentar sobre a regulação da mídia, horror dos horrores dos donos dos jornais e dos colunistas, que atacam a ideia com todas as forças, sem ao menos ''saber'' do que se trata. Claro que sabem.

É triste ver como pessoas que se formaram no ofício de jornalista, que possuem décadas de vivência e experiência, abdicam de suas ideias ou até ideais, para repetir a opinião do patrão.

Por isso, bem oportuno o texto de Nilson Lage, que reproduzo a seguir:


Oração do carreirista bem sucedido na grande mídia brasileira

Meu companheiro Patrão, eu Te amo.

Por Ti, companheiro, abdico de todos os meus sonhos.

Apoiado nos mais renomados teóricos, abandonarei a impossível objetividade por Ti, Patrão, que me sustentas e me dás oportunidade única de conviver em glória com o poder dos oráculos.

Se, por bondade, me deres a graça de um salário melhor e me honrares colocando-me no aquário onde mora o poder, juro perante Ti, apagarei todos os pensamentos que possam ofender Tuas sensibilíssimas e nobres Alma e Bolso. E mais:

Vigiarei aqueles que intentarem matérias desviantes e pautas inconvenientes.

Se persistirem, os acrescerei à listagem do próximo passaralho, que submeterei à Tua augusta e sábia decisão.

Como perdigueiro, caçarei Teus inimigos camuflados de repórteres e chargistas.

Se me deres a honra de participar das reuniões que iluminas, farei, conTigo, o contraponto certo, discordando sempre em detalhes e até mesmo dando espaço para que me corrijas e, assim, se amplie Teu amor-próprio e confirme-se a correta intuição que flui de Tua superior inteligência.

Se, para meu delírio supremo, concederes-me espaço para emitir opinião própria, buscarei alguma que Te agrade, ó Nobre Senhor, e o farei com criatividade enorme, em nome da paixão que me une a Ti.

Mentirei, se preciso for.

Caluniarei, se perceber que isso Te serve.

Espero, assim, alcançar o sucesso – talvez um acento na Academia de Letras ou um lugar à Tua direita em algum de Teus memoráveis jantares.
Serás sempre o alvo de minha dedicação, até que me despeças

E, se por acaso isso ocorrer, sairei de cabeça erguida, ciente do dever cumprido e disposto a a outro patrão servir, como Te sirvo.
Com a mesma dedicação e empenho.

Nilson Lage é jornalista, professor universitário (UFSC e UFRJ) aposentado compulsoriamente em 2006 e doutor em Linguística, com ênfase em semântica. 


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