segunda-feira, 4 de maio de 2015

Um bispo contra todas as cercas

Por Fernando Castilho


Adepto e uma das maiores expressões da Teologia da Libertação, Dom Pedro Casaldáliga foi ameaçado de morte inúmeras vezes, e alvo de vários processos de expulsão do país durante os anos de chumbo.

Dom Pedro Casaldáliga
Peço a licença de Ana Helena Ribeiro Tavares para me apossar temporariamente deste título.

O tempo passa, vou me tornando velho.

Lembro-me dos anos de chumbo, do tempo da ditadura, em que surgiram nomes de triste lembrança.

Os generais que usurparam a Presidência da República e resgaram a Constituição do país.

Os políticos que deram sustentação ao regime, entre eles, Auro de Moura Andrade, José Maria Alkmin, Filinto Müller, Armando Falcão, Magalhães Pinto, José Sarney, Abreu Sodré, Aureliano Chaves, Herbert Levy, Pedro Aleixo, Petrônio Portela, Flávio Marcílio, Nelson Marchesan, Marco Maciel, Prisco Viana. Olavo Setúbal, Paulo Egydio Martins, Jarbas Passarinho, Ney Braga. Paulo Maluf, Antônio Carlos Magalhães, Antônio Delfim Netto,Roberto Campos e Mário Henrique Simonsen.

Generais repressores como Golbery do Couto e Silva, Newton Cruz e o coronel torturador Brilhante Ustra.

A lista é grande.
Alguns já morreram (a maioria), e outros ainda estão vivos a desafiar o dito popular ''aqui se faz, aqui se paga''.

Os que compunham o Estado Maior do regime detinham o conhecimento de que o golpe fôra financiado pelos Estados Unidos, sob pretexto de que Jango transformaria o país numa ditadura comunista.

Os do baixo clero, como o coronel torturador Brilhante Ustra e o torturador e assassino de pelo menos uma dezena, Carlinhos Metralha, ainda vivos, aparecem livres e faceiros defendendo o regime com unhas e dentes, eles que eram os cães de guarda chamados a fazer o jogo sujo, crendo até hoje que estavam nos salvaguardando dos comunistas. Para isso não ousaram em torturar e matar as pessoas que lutavam contra aqueles que defendiam a Constituição com suas vidas.

Outros souberam se aproximar do regime para conseguir vantagens pessoais, no talvez melhor exemplo acabado de corrupção não revelada, não denunciada e não punida a que o Brasil foi exposto.

Neste aspecto destacam-se Roberto Marinho que conseguiu no período, apoiando a ditadura, construir o império que hoje é a Rede Globo, Otávio Frias que usou a frota da Folha de São Paulo para apoio logístico, Paulo Maluf que construia obras em conluio com empreiteiras, Antonio Carlos Magalhães, José Sarney...A lista também é enorme.

Mas enquanto causa-nos revolta o fato de vários desses personagens ainda estarem vivos e soltos, e os que já morreram não terem pagado por seus crimes, enche-nos de esperança a iniciativa da jornalista Ana Helena Ribeiro Tavares que se lança à tarefa nada fácil de registrar a biografia de um homem, este sim, muito importante na História deste país.

Através do projeto intitulado ''Um bispo contra todas as cercas'', Ana Helena arrecada doações para tornar possível a empreitada de biografar Dom Pedro Casaldáliga, que aos 87 anos é bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia.

Dom Pedro é catalão de nascimento, nascido Pere Casaldàliga i Pla, e veio para o Brasil em 1968, justamente durante o período mais duro da ditadura militar, quando foi decretado o AI-5.

Adepto e uma das maiores expressões da Teologia da Libertação, Dom Pedro foi ameaçado de morte inúmeras vezes, e alvo de vários processos de expulsão do país.
Nunca se curvou à tirania, nunca desistiu de seus sonhos e nunca traiu aqueles que nele acreditam.

Sua frase ''Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar '' denota claramente em poucas palavras sua maneira de pensar.

Dom Pedro sempre esteve ao lado dos mais fracos e humildes, ao lado do Estado de Direito, da Constituição do país que a ditadura insistiu em rasgar e contra a injustiça social.

A tarefa a que Ana Helena se propõe é difícil pois terá que se deslocar várias vezes ao Araguaia e possivelmente até a Catalunha em um prazo relativamente curto, uma vez que Dom Pedro está com idade avançada e sofre do Mal de Parkinson.

Enquanto aqueles nomes sombrios citados anteriormente tem que ser esquecidos ou lembrados como modelos de pensamentos que não devem mais retornar à mente das pessoas, outros como Dom Pedro Casaldáliga, Dom Tomás Balduíno, Frei Betto ou Leonardo Boff tem que ser cristalizados, pois esse sim foram dignos de viver.

A necessidade de que a História do Brasil sob o prisma progressista seja contada e ensinada é cada vez mais premente num ambiente em que vêm prevalescendo cada vez mais as ideias retrógradas e reacionárias, e para isso, certamente, o livro de Ana Helena será uma contribuição fundamental.

Para apoiar o projeto de Ana Helena Ribeiro Tavares, acesse o link http://www.kickante.com.br/campanhas/um-bispo-contra-todas-cercas







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