Por Jarbas Capusso Filho
Vocês
estão ouvindo? Não? Estranho. Eu também não.
Mas,
vamos tentar de novo. Desliguem todos os aparelhos sonoros e os pensamentos (há
pensamentos muito ruidosos).
Desligaram?
Eu também. Agora conseguem ouvir? Não? Putz, nem eu.
Será
que desta vez é aquele ruído, aquela frequência que só os animais ouvem? Gatos?
Cães? Pode ser.
Por
que não estamos ouvindo a grita do mercado, depois da quebradeira fraudulenta
das Lojas Americanas? Poxa, afinal de contas, teve um errinho na planilha, um
detalhe de 20 de bilhões. (Já falam em 40 bilhões), vejam bem.
As
Americanas não faliu. Ela fraudou documentos e maquiou números. E cadê a
indignação do nosso cândido mercado? Não teve, não tem e nem vai ter.
Sabem
por que? Dissolução de grandes empresas, por essas bandas, sempre beneficia
seus donos. Mappin? G Aronso? Brasilinvest? Vasp? Varig? Transbrasil? E nomes
como Daniel Dantas? Ricardo Mansur? Mário Garnero? São prova viva (ainda atuam
no mercado) de que a fraude compensa e o mercado aceita.
Quem
adivinhar quem se dana todo com isso, de verdade, ao cabo e ao fundo, ganha um
chicabon.
Os
pequenos credores, funcionários e, no caso das Lojas Americanas, um milhão e
trezentos mil correntistas do Nubank. Este banco investia dinheiro dos seus
correntistas nas Americanas. São milhões de pequenos investidores que
mantinham, no banco, suas pequenas economias e, agora, perderam tudo!
Quem
vai pagar quem? Nin-guém! O mercado se autorregula, se blinda. Os proprietários
já enviaram enormes remessas de dinheiro para fora e, talvez, o Banco Central
dê até uma forcinha, em nome da estabilização do mercado.
Esse
é o mesmo mercado que fica agitado toda vez que o presidente Lula fala em furar
o teto de gastos para incluir os mais pobres no orçamento.
Milhões
de famélicos e famílias em situação de rua. É o mesmo mercado que lucra
horrores com o teto de gastos. O mesmo mercado que investe no sucateamento de
serviços públicos para, depois, privatizá-los.
Agora
está em silêncio. Diria, até, em sono profundo, sobre seus macios colchões
forrados de dólares.
O
pior cego é aquele que não quer ouvir.
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