terça-feira, 15 de julho de 2014

Pela volta do futebol arte

Por Fernando Castilho


Ao assistir à Copa das copas, foi inevitável recordar-me de outras copas, ainda do tempo em que a seleção brasileira jogava o chamado futebol-arte. Um pouco de saudosismo é bom quando as recordações são boas.

Quem nunca não viu Garrincha dando aquele famoso drible em que, depois que deixa o adversário quase sentado, volta e aplica mais outro desconcertante drible, talvez não saiba o que era o futebol arte. E não saiba o que perdeu.

Ou Pelé, Tostão, Paulo César Caju, da Copa de 70? Gérson com lançamentos precisos para Jairzinho?

Ou ainda Zico com seus dribles curtos e rápidos, Rivelino com o elástico?

Sócrates jogando com o calcanhar?

Romário no lugar exato que um dia seria de Fred? Com a diferença de que o baixinho, se pegasse a bola já garantia meio gol.



Na contra-partida, quem se lembra dos adversários duros de corpo, sem a habilidade para os dribles individuais, usando somente a força física e a capacidade de correr?
Pois é. Os tempos mudaram, e os jogadores brasileiros, justamente pelo diferencial da habilidade, foram sendo contratados por equipes da Europa. Zico, Romário, Ronaldinho, Ronaldo, etc..

Os europeus também passaram a treinar mais a habilidade com a bola, talvez influenciados pelos brasileiros, que lhes mostravam como fazer. Fizemos transferência de tecnologia sem nenhum retorno para o país.

Passadas algumas gerações, o que observamos?
Os brasileiros aprenderam com os europeus. Reparem, eles agora são mais altos, mais encorpados, mais rápidos. Fazem faltas como se jogassem rugby. Tem o corpo duro. Perderam o domínio de bola.

Se alguém viu Pelé jogar, sabe que ele era capaz de matar um lançamento no peito e baixar a bola para os pés, sem que ela lhe escapasse nem meio palmo.

Quem viu os jogos da seleção brasileira, agora em 2014, percebeu que, embora Neymar seja reconhecidamente um craque, falta-lhe essa capacidade de domínio pleno da bola. Quanto aos outros nem se fala. Hulk e Fred e Jô que o digam. Tentam matar a bola, mas esta teima em lhes fugir ao controle. Falta a intimidade com a gorduchinha.

E quanto aos passes e lançamentos?
Gérson olhava de relance a posição do companheiro, Jairzinho, e lhe lançava a bola à frente, de grande distância. E a bola chegava açucarada para o ponta direita.
Hoje nenhum dos jogadores da seleção consegue repetir esse fundamento. E o número de passes errados é um absurdo.

Quando você vê um Robinho, que no Santos era jogador muito habilidoso jogando a bolinha que joga hoje no Milan, e que sequer foi convocado para a Copa do Mundo, percebe o mal que a Europa lhe fez em termos de qualidade (não em termos financeiros).
Isso para não falar dos que voltam ao Brasil, como Pato ou os que estão em fim de carreira. Parece que desaprenderam? Desaprenderam mesmo.

Tostão dentro da área fazia tanto salseiro, que ninguém lhe conseguia tirar a bola. Se não conseguia chutar, passava prontinha, arrumadinha para Pelé, que não perdia.


E os europeus?
Deu para perceber que os alemães, por exemplo, passaram a aliar a estatura, o vigor físico, rapidez com a habilidade com a bola. Sim, eles agora driblam, tem domínio de bola, e a passam de pé em pé direitinho. O índice de erros é baixo. Aprenderam muito com os brasileiros.

Terminada a Copa das copas, esfriados os ânimos, com este blogueiro quase recuperado da derrota de 7 a 1, (aliás mais uma das esquisitices desta Copa de que tratou este outro post Muito estranha esta Copa)  já dá para analisar mais friamente os motivos pelos quais o Brasil perdeu o torneio.

Estamos nos tornando os europeus de antigamente, enquanto os europeus aliam o melhor de seu estilo com o que aprenderam conosco: a habilidade.

É hora de uma reformulação completa no futebol brasileiro.
Isso implica em que haja pressão popular para que a CBF seja reformulada, que expurguem-se os corruptos que se apoderaram dela, que seja dada voz ao Bom Senso F. C., que o poder da Rede Globo que hoje manda nos campeonatos, seja limitado, etc..


Mas não vão adiantar todas essas mudanças se forem convocados em sua grande maioria os atletas que jogam no exterior. Há que se investir nos que jogam no Brasil e ainda não foram contaminados pelo estilo europeu. Há que se investir nos meninos que chegam todos os dias à peneiras dos clubes, vindos de comunidades pobres, com um sonho na cabeça, e um coração a sair-lhes pela boca, se lhes for dada uma oportunidade.

E para com essa história de mandar meninos de 13, 14, 15 anos para a Europa. Pra que? Pra se tornarem europeus?

Que hoje em dia há a necessidade de se jogar com velocidade, ninguém duvida. Alguns dirão que não dá mais.

Já que é hora de reformulação, que tenha um mínimo de arte. É o nosso estilo, nossa cara.







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