Por Fernando Castilho
O pudor acabou. Tudo é feito a céu aberto. Ou quase, já que os 39 quilos de cocaína foram bem escondidos aqui, mas não passaram desapercebidos na Espanha que os apreendeu num avião da FAB
Durante a campanha presidencial de 2018, ficou definido que um dos pilares do governo Bolsonaro seria o amplo apoio dos militares.
Passados 33 anos da debacle da ditadura militar, desta vez nossos valorosos generais sonhavam com um governo sufragado pelas urnas, o que lhes concederia um verniz democrático.
Logo, figuras como os generais Heleno, Ramos, Mourão, Braga Netto e tantos outros cujos peitos não têm mais espaço para medalhas, começaram a ditar suas ordens no Palácio do Planalto, seu novo quartel.
Como se não bastasse, coronéis, majores e tenentes também se entrincheiraram pelos vários ministérios e autarquias. São 70 órgãos com mais de 6 mil milicos batendo continências alegremente a seu chefe, o capitão Jair Bolsonaro.
Porém, não contavam com a enorme influência que os filhos do presidente exercem sobre ele.
Muito rapidamente, ainda no início de 2019, o guru, Olavo de Carvalho, ídolo dos 4 filhos, começou o processo de esvaziamento do quartel. A primeira vítima de Carlos Bolsonaro foi o general Santos Cruz.
Veio a pandemia e o capitão optou pelo negacionismo. Não queria isolamento social, uso de máscaras ou vacinas. Mais, exigia que as pessoas infectadas se tratassem com cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra o coronavírus.
Como o ministro da Saúde Henrique Mandetta e depois, Nelson Teich, discordassem dele, deram lugar a outro general, o especialista em logística, Eduardo Pazuello.
Pazuello causou muito mal-estar na corporação, primeiro por ridicularizar a logística do exército, já que não conseguia ser eficiente na compra e na distribuição das vacinas e, segundo, ao se humilhar perante o capitão quando, desautorizado por Bolsonaro no episódio da compra das vacinas Coronavac, afirmou que “um manda, outro obedece”.
As Forças Armadas valorizam muito a hierarquia e, por isso, nada mais natural que se subalternem ao presidente, seu comandante supremo, mas um general se humilhar diante de um oficial pouco graduado como o Capitão Morte, não foi bem-visto.
Bolsonaro passou a tomar decisões cada vez mais ao largo dos generais, culminando com a entrega do governo ao centrão que hoje é quem manda mais.
Inevitavelmente, houve uma divisão entre aqueles que ainda estão com o chefe e outros que já se afastaram, como o comandante do exército e, mais recentemente, o da FAB.
Quem continua e por quê?
Ora, são os que continuam ministros e os que preenchem os mais de 6 mil cargos, já que acumulam os proventos da caserna com os do governo. Uma boa boquinha, vamos combinar.
Além disso, nossos generais, que nunca participaram de nenhuma guerra, recentemente foram promovidos a marechais (posto originariamente concedido a heróis em combate) com o consequente upgrade dos salários.
Já durante a reforma da previdência nossos militares haviam sido agraciados com benefícios bem superiores aos demais mortais, mas queriam mais.
Nunca antes do governo Bolsonaro, os quarteis consumiram tanta picanha (700 toneladas!), leite condensado, uísque 12 anos, refrigerantes, atum, bacalhau e vinho. É uma verdadeira festa para aqueles que deveriam estar defendendo a soberania do país, mas que todos os dias entregam uma fatia dele para o capital estrangeiro.
O pudor acabou. Tudo é feito a céu aberto. Ou quase, já que os 39 quilos de cocaína foram bem escondidos aqui, mas não passaram desapercebidos na Espanha que os apreendeu num avião da FAB.
Embora exista o Portal da Transparência, é grande a desconfiança de que muito dinheiro público esteja vazando para os bolsos dos 6 mil que mamam nas tetas do governo.
É só verificar as agendas dos ministros generais para constatar que praticamente não trabalham.
A obrigação de qualquer um que vença as eleições de 2022 é proceder a uma auditoria geral em todos os órgãos do governo e, caso constatadas irregularidades, que instaure processos contra nossos honrados e combativos militares.