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terça-feira, 15 de novembro de 2022

O alto preço que Lula paga por ser Lula

Por Fernando Castilho




A marcação cerrada a Lula, faltando ainda um mês e meio para assumir a presidência, vem, pasmem, muito mais dos deputados do PL que se lambuzaram com as verbas do orçamento secreto utilizadas sem fiscalização ou prestação de contas.


Lula ainda não assumiu, mas aqueles que se julgam fiscais da coisa pública já começaram a atacá-lo.

O ex-presidente foi convidado a participar da COP27 e, para poder viajar ao Egito, fez uso de um jato pertencente ao empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.

O ato de Lula pode ser classificado como perfeitamente ético? Não, mas não há crime nisso, como querem sugerir.

Havia outras alternativas, como viajar em avião de carreira, mas a equipe de policiais federais que fazem sua segurança, a descartou, temendo riscos.

Outra possibilidade seria o PT custear um voo fretado, mas, além do alto preço, o recurso viria do Fundo Partidário, dinheiro público. Isso sim, seria crime.

Por fim, restaria a Lula declinar do convite.

Neste ponto, pergunto: o que seria mais danoso ao país?

Lula, mesmo antes de assumir a presidência em janeiro do próximo ano, já está azeitando as relações com outros países, enferrujadas após 4 anos de desgoverno Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Uma das consequências disso é o retorno da contribuição ao Fundo Amazônia por parte da Noruega e da Alemanha, que perfaz a quantia nada desprezível de 3,1 bilhões de reais.

Portanto, Lula teve que ir para o bem do país, coisa que o atual presidente descartou logo de cara.

Seripieri pode reivindicar futuramente a contrapartida pelo seu gesto?

Pode, mas aí entramos no terreno das conjecturas. Também não podemos afirmar que o novo governo ceda aos interesses do empresário. Espero que não.

Mas, na verdade, o ponto a que quero chegar é a marcação cerrada a Lula, faltando ainda um mês e meio para assumir a presidência, o que já indica o que virá em 2023.

E ela, pasmem, vem muito mais do PL, o partido de Bolsonaro.

São aqueles deputados que se lambuzaram com as verbas do orçamento secreto utilizadas sem fiscalização ou prestação de contas.

São os mesmos deputados que não viram problema algum na utilização escandalosa de dinheiro público na campanha de Bolsonaro.

Portam-se como falsas vestais em casa de tolerância.

A imprensa, que temia que se instalasse por aqui uma teocracia que duraria indefinidamente e que teria, por conta disso, que viver anos de mordaça devido à censura, respirou aliviada depois da derrota do capitão, mas agora, assesta seus canhões para seu alvo preferido que sempre foi e será Lula. O ex-presidente foi útil até 30 de outubro.

Há uma lupa em Lula para acompanhar cada palavra dita, cada frase proferida, cada gesto feito.

Ele não errou, como diz a imprensa e até alguns petistas.

Lula não pensou em si, mas no país.

Por isso, paga um preço alto.

Como sempre, aliás.