Por Caetano de Holanda
A Rede Globo todo ano apresenta o seu grande espetáculo para tolos: o "Big Brother Brasil". É claro que isso é batido, todo ano se fala sobre. Mas, em 20 anos de existência desse lixo, parece que as pessoas pioraram e sucumbiram ainda mais. "Ain, eu quero mesmo um pouco de alienação" ou "É possível ler Dostoiévski e assistir Big Brother", além de inúmeras outras frases para justificar o direito ao consumo dessa tolice sem fim. Mas, é preciso dizer: Não é possível ler Dostoiévski, ser tocado profundamente por sua sensibilidade aguda e se contentar com a mediocridade imposta por um programa de natureza imbecilizante como Big Brother. Não é possível ler e compreender Marx e aceitar tal "alienação" como natural. Assim como é impossível apreciar Beethoven e sertanejo universitário; apreciar Bergman e filmes toscos da Netflix. Isso é relativizar a Arte. Afinal, nem tudo é Arte, é preciso saber disso. Mas aceitar de bom grado ser absorvido por um programa como o Big Brother, um experimento psicossocial cuja finalidade é a venda massiva de mercadorias e de formas de vidas calcadas no individualismo consumista e na guerra de todos contra todos da selva capitalista, é algo muito sério que traz consequências terríveis para o conjunto da sociedade. Não se pode naturalizar os efeitos da ideologia no imaginário coletivo e na vida real das pessoas. É preciso se colocar contra, apontar as implicações destrutivas que engendra na sociabilidade. O Big Brother fomenta o fascismo de cada dia nas pessoas, despertando sentimentos de ódio, indiferença e desprezo em relação ao outro. Cria movimentos de caça e desmoralização. O "paredão" é uma metáfora clara. Quem não se enquadra, deve ser eliminado, não pode viver entre nós. Somente o "super-homem", o "seleto", aquele que tem "vontade de poder" é capaz de vencer e existir. Isso não é algo "inocente", é um processo desumanizador característico do capitalismo. Ninguém se reconhece como ser humano, muito menos os que acompanham e votam para eliminar alguém, com o sentimento primitivo de "fulano tem que morrer mesmo". Isso, com certeza passa pela cabeça de muitos. Algo que depois é transposto e reproduzido nas formas de relações sociais reais. Quem aceita participar e, pior ainda, naturaliza isso como se fosse um "entretenimento inocente", já foi absorvido e abriu mão definitivamente da crítica e da vontade de viver. Entregou os pontos. Bebeu da água da ignorância e gostou, se sentiu bem, anestesiado, "feliz", transformou-se em morto-vivo. Morreu em vida. Como constatou Guy Debord em sua obra "A sociedade do espetáculo", cada vez mais atual e permanente:
"A alienação do espectador em favor do objeto contemplado (o que resulta de sua própria atividade inconsciente) se expressa assim: quanto mais ele comtempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo".
Ou seja, quem se apresenta de forma voluntária para participar desse show de horrores, não tem moral para criticar absolutamente nada acerca da tragédia que vivemos. Está dançando com tolos, com bolsonaristas, com exploradores, assassinos e especuladores. Não pode abrir a boca para falar sobre racismo, miséria, fome, nada. Quem assiste e naturaliza, merece o mais profundo desprezo, pois, já não faz parte da luta pela libertação da humanidade.