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domingo, 24 de setembro de 2023

Estamos sendo extintos, sabemos disso e não nos importamos

Por Fernando Castilho


Mayke Toscano/Secretaria de Comunicação Social do mato Grosso/Divulgação


Os 0,75% de milionários garantirão, com a construção de bunkers climatizados, sua própria sobrevivência e a perpetuação da espécie humana quando as alterações climáticas não puderem mais ser reversíveis.

 

Há cerca de dez mil anos atrás o ser humano era nômade e vivia em pequenas tribos.

Sempre que determinado indivíduo sentia fome, saía para coletar tubérculos e frutas e para caçar.

Tudo mudou quando uma era do gelo comprometeu seriamente a alimentação dos seres humanos. Por pouco não fomos extintos. Mas quem sobreviveu?

Naturalmente os mais fortes e mais aptos puderam se refugiar em cavernas e adotar uma nova estratégia para se alimentar.

Agora não mais sairiam individualmente, mas em grupos para caçar animais de grande porte. Assim, uma vez caçado o mamute, este poderia ser consumido durante muitos dias e até semanas pela tribo.

Foi o surgimento da necessária cooperação entre os seres humanos que garantiu que estivéssemos vivos hoje.

De lá para cá muita coisa mudou, mas a principal mudança foi o modo de vida que passou do nomadismo para o sedentarismo.

A fixação do homem na terra deu origem à propriedade, à riqueza e às leis que favorecem ainda hoje os mais abastados.

Lula, em seu discurso na ONU, afirmou que 735 milhões de pessoas em todo o mundo vão dormir "sem saber se terão o que comer amanhã". As agências de checagem verificaram que esse número é absolutamente real. Assustadores 9% da população!

Na contrapartida há no mundo hoje, 59,4 milhões de milionários, ou seja, 0,75% de toda a população mundial. O resto é um espectro que vai desde o pobre até o classe média alta.

Toda essa introdução se presta a demonstrar que é essa a “grande” minoria de milionários que garantirá, com a construção de bunkers climatizados, sua própria sobrevivência e a perpetuação da espécie humana quando as alterações climáticas com seus desastres naturais e aquecimento acima do tolerado pelas espécies animais e vegetais não puderem mais ser reversíveis.

Já há vários relatos dessas fortalezas sendo construídas secretamente em todo o planeta. São projetadas para serem sustentáveis e resistirem às tentativas de invasão das hordas de famélicos e refugiados dos países mais quentes.

O IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas concluiu, entre os cenários estudados, que há mais de 50% de chance de a temperatura global atingir ou ultrapassar 1,5°C entre 2021 e 2040. Porém, como tudo está acontecendo de maneira acelerada, cientistas climáticos projetam esse aumento já para 2024 devido ao efeito El Niño 2.

Esse aumento é uma média global, o que nos faz raciocinar que em alguns lugares a temperatura se elevará ainda mais do que isso e em outros, menos.

É justamente o encontro entre massas de ar muito quentes e muito frias que cria os furacões e as grandes tempestades como o ocorrido no Rio Grande do Sul recentemente, causando grande número de mortos e desabrigados. Esse fenômeno será cada vez mais frequente e se estenderá por outras regiões do Brasil e do mundo. Tenho receio em pensar nas águas de março do ano que vem.

Tivemos este ano no Sudeste o inverno mais quente de que temos memória. Cabe lembrar que se projeta para o fim deste mês e início da primavera temperaturas da ordem de 36°C, o que é extremamente perigoso.

O que vai acontecer com o planeta nos próximos anos? (já não se fala em próximas décadas, mas sim, em próximos anos porque as mudanças estão ocorrendo exponencialmente)

- Mortes devido ao calor, principalmente crianças e idosos;

- Desastres naturais causando mortes, desabrigados e devastação;

- Desaparecimento de pequenas ilhas como as do Arquipélago de Tovalu que contava com 12 atóis e agora possui 2.

- Avanço do mar nas costas e litorais devido ao derretimento das geleiras. Quem vive em cidades litorâneas já testemunha esse processo;

- A médio ou longo prazo, desaparecimento de ilhas maiores como a da Madeira. Não é desproposital imaginar a perda da Inglaterra, de Taiwan e do Japão;

- Grande aumento de refugiados tentando escapar do calor e dos grandes desastres, causando revoltas, resistências e violência;

- Aparecimento de vírus que estavam aprisionados no permafrost das grandes geleiras aos quais não temos proteção, causando novas pandemias.

Enfim, a lista é grande e não é pessimista.

Lula tem razão ao denunciar ao mundo que muito pouco ou nada se fez de concreto ou eficaz para combater as mudanças climáticas. Há inúmeros discursos, mas nada se faz de maneira efetiva.

Infelizmente a busca incessante pelo lucro impede que governos adotem as atitudes radicais das quais precisamos agora para tentar reverter o caos que já está acontecendo.

Não há outro planeta no horizonte para o qual possamos nos mudar e continuar a humanidade. Temos que tentar consertar o erro que cometemos, principalmente após o início da década de 1960 quando imaginávamos que o mundo era um grande parque de diversões. Abusamos da queima de combustíveis fósseis sem nos preocuparmos com a poluição que estávamos causando. Construímos carros enormes que consomem grande volume de combustíveis. Erguemos, impulsionados pelas campanhas publicitárias, grandes fábricas poluidoras para produzirem aquilo que nem precisávamos. Abraçamos a ideia da obsolescência programada quando a mídia nos diz que está na hora de trocarmos nossos celulares. E produzimos lixo como nunca.

Enfim, aproxima-se o fim da farra, mas a ficha ainda não caiu.

Alguém pegou um sapo, colocou-o numa panela e acendeu o fogão.

O sapo não ligou, afinal, a água estava ficando quentinha e isso era muito confortável, a princípio.

À medida que a água esquentava, o sapo ia se adaptando ao aumento da temperatura e nem pensava em pular da panela. Até que a água ferveu e ele morreu.

Estamos nos comportando como o sapo.

Os 0,75% de milionários que teriam o poder de salvar o planeta estão se preocupando somente em salvar sua própria pele. Eles herdarão um mundo com menos gente e com menos gente é muito mais fácil reduzir drasticamente a emissão de gases de efeito estufa e reverter o caos climático. Depois continuarão a viver suas vidas privilegiadas.

É urgente que nós, sapos, pulemos agora da panela e façamos uma revolução capaz de nos salvar.

Em 2018 surgiu uma liderança jovem capaz de mobilizar milhares de outros jovens em defesa do planeta, afinal, o abacaxi ficará para eles descascarem.

Greta Thunberg, a ativista que foi presa recentemente um durante um protesto contra a demolição de uma vila para a construção de uma mina de carvão (um anacronismo, já que minas de carvão vêm sendo atualmente desativadas), tem sido duramente atacada pelos governantes dos países mais ricos por verem nela uma rebelde que simplifica demais questões tão complexas. Essa é a desculpa que os que não estão preocupados costumam adotar. Parece que só o Brasil de Lula está entendendo isso.

Se não aparecerem novas lideranças capazes de conscientizar os mais afetados pelas mudanças climáticas para que saiamos do marasmo e nos unamos numa verdadeira revolução pela nossa sobrevivência, ferveremos como o sapo na panela.

 

Gostaria que comentassem sobre o assunto.