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sexta-feira, 19 de maio de 2023

Vamos aproveitar a pandemia para passar a boiada

Por Fernando Castilho


É preciso levarmos à sério o perigo que Salles representa para o país.


A frase, dita naquela tenebrosa reunião ministerial conduzida pelo então presidente Jair Bolsonaro em 20 de abril de 2020 não pode jamais ser esquecida. Seu autor, como sabemos, foi o então ministro do meio-ambiente, Ricardo Salles.

Mais tarde, Salles não conseguiu se sustentar no cargo devido à pressão exercida contra ele devido à tentativa de venda de madeira ilegal para os EUA abortada por aquele país.

Mas ele não morreu politicamente. Ao contrário, um homem que se entregou de corpo e alma para facilitar o garimpo ilegal na Amazônia, facilitar desmatamento e destruir todos os marcos regulatórios ambientais, conseguiu se eleger deputado federal com incríveis 640 mil votos obtidos dos paulistas!

Salles volta à carga agora como relator da CPMI do MST que visa não somente criminalizar o movimento, mas também atacar o MTST e, por conseguinte, tentar abalar Guilherme Boulos, tido como favorito à eleição para a prefeitura de São Paulo em 2024. Quem sabe, prendê-lo. O ex-ministro vem com sangue nos olhos para a disputa pelo governo da capital. E é aí que mora o perigo.

Se Ricardo Salles conseguir seu intento, a prefeitura será seu trampolim para a disputa presidencial de 2026, aproveitando o possível vácuo deixado por Jair Bolsonaro que provavelmente será declarado inelegível por 8 anos e possivelmente, preso.

É preciso levarmos à sério o perigo que isso representa para o país.

Hoje, tem-se como quase certo que o nome para a sucessão de Bolsonaro como líder com potenciais chances de representar a extrema-direita no Planalto é o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, afinal, ele comanda o maior orçamento da União e certamente ambiciona chegar lá.

É natural que o governo do presidente Lula veja com especial atenção qualquer possibilidade de ascensão de Tarcísio que até agora tem se comportado quase que um sucessor da maneira tucana de governar com uns toques aqui e ali de bolsonarismo. Digamos que seja um Bolsonaro um tanto mais light, um pouco mais preparado e menos afoito a fazer e falar asneiras.

Outro nome que até chegou a sonhar com o Planalto é o de Sergio Moro que está vendo seu futuro político sendo destruído. Nas próximas semanas ou meses, o TSE poderá cassar seu cargo de senador e a denúncia de Tacla Duran pode mandá-lo para a prisão.

Pode-se falar em Romeu Zema também, mas ainda não se vê uma sinalização clara de que disputará o Planalto com grandes chances de se eleger.

Claro que não se pode desprezar políticos que à princípio podem parecer seres apenas ridículos e inofensivos como Nicolas Ferreira, afinal o que era Bolsonaro antes de vencer as eleições de 2018 se não um falastrão desprezado até por seus pares na Câmara?

É a atenção a esse possíveis postulantes que nos distrai do azarão, Salles.

Salles é um Bolsonaro muito mais perigoso que seu ex-chefe. Embora não seja mérito algum ser mais inteligente que o capitão, Salles é também esperto e costuma vir pra cima com a faca nos dentes em sua fúria destruidora. Esse sim, se não for contido, tem o potencial de surpreender e chegar lá.

Embora não haja à princípio como criminalizar legalmente tanto o MST como o MTST, já que os movimentos se notabilizam por se ater ao cumprimento das leis, o apoio da grande mídia, já praticamente declarado ou implícito à CPMI, servirá para que esta cause não só estrago ao governo federal, mas também alavanque a candidatura de Ricardo Salles.

Por isso, ainda que os movimentos sejam independentes e não atrelados, é fundamental que o governo mobilize todas as suas forças, através dos deputados e senadores da base, para que vença esta batalha, sob pena de vermos mais uma serpente saindo do ovo do fascismo.

 


domingo, 16 de abril de 2023

A indignidade de Dallagnol contra a dignidade de Stedile

Por Fernando Castilho



Enquanto o agro pop produz para exportação, o MST segura as pontas e produz para o mercado interno alimentando os brasileiros através da agricultura familiar.


O deputado federal Deltan Dallagnol está pedindo a prisão preventiva de João Pedro Stedile, líder do MST, por uma fala em um vídeo que gravou. Dallagnol reclama que Lula tenha incluído Stedile na delegação que foi à China.

Por incrível que pareça, quem saiu em defesa de Stedile e do MST foi Reinaldo Azevedo.

Azevedo apresentou o vídeo do Stedile e mostrou que não há nada de ilegal nele, pois afirma que em abril o movimento deverá fazer manifestações em todos os estados pelas ocupações de terras IMPRODUTIVAS, de acordo com a Constituição que prevê o uso social da terra.

Além disso, Azevedo revelou a seus milhões de seguidores de direita que o MST NUNCA ocupa terras produtivas (Oh!) e que ele é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil! (Oh, de novo!)

Revelou ainda que, enquanto o agro pop produz para exportação, o movimento produz para o mercado interno alimentando os brasileiros.

Como bônus, para um público que nunca soube dessa informação através da grande imprensa, Tio Rei falou das escolas do movimento frequentadas por 120 mil alunos com ótimo desempenho escolar. Mais bônus: a média de mortes por Covid dentro do MST foi inferior à média nacional.

Para encerrar, disse sem explicar muito bem, que o MST reduz a tensão no campo. O que seria isso?

Explico: se não existisse o MST com sua grande estrutura e organização, pessoas, de maneira desorganizada estariam invadindo e ocupando fazendas de maneira indiscriminada pelo país afora, o que certamente causaria a tensão e reação por parte dos latifundiários. Teríamos uma verdadeira guerra civil no campo e, é lógico, um grande morticínio de camponeses sem terra.

É Stedile o responsável por organizar os camponeses dando-lhes formação e consciência política e regras a serem seguidas para que as tensões sejam ao máximo evitadas.

Infelizmente temos no congresso bandidos como Dallagnol que não estão satisfeitos com a pacificação que Lula está tentando trazer ao Brasil e desejam a volta das tensões diárias que seu presidente produzia e que quase acabaram com a democracia que ele tanto odeia.