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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

A última música dos Beatles

Por Fernando Castilho



Neste ano a Inteligência Artificial possibilitou separar a voz de Lennon em Now and Then, como foi feito com o Álbum Revolver de 1966 em que os sons de todos os instrumentos foram separados resultando numa qualidade final muito boa.

 

2 de novembro de 2023, a data do lançamento da última (última mesmo) música dos Beatles.

A maior banda da Terra foi oficialmente desfeita em 10 de abril de 1970, portanto, há 53 anos e 7 meses. Em 1995 os três remanescentes (John Lennon foi assassinado em 1980), Paul, McCartney, George Harrison e Ringo Starr se reuniram para gravar 3 músicas deixadas por Lennon em uma fita cassette cedida pela viúva, Yoko Ono, a saber, Free as Bird, Real Love e Now and Then.

Nas duas primeiras o trio conseguiu isolar a gravação de Lennon ao piano, eliminando ruídos e imperfeições típicos das fitas cassettes, acrescentando suas vozes, instrumentos e arranjos, resultando em duas músicas com todas as características dos Beatles. Seriam elas as últimas músicas gravadas pelo grupo.

Porém, a demo de Now and Then estava muito ruim. A tecnologia da época não permitia separar a voz de Lennon do piano. Os três chegaram a gravar seus instrumentos, mas o resultado não agradou. Harrison chegou a desprezar a música.

Ocorre que neste ano de 2023 a Inteligência Artificial possibilitou separar a voz de Lennon como foi feito com o Álbum Revolver de 1966 em que os sons de todos os instrumentos foram separados resultando numa qualidade final muito boa.

Com a separação da voz de Lennon em mãos, McCartney (81 anos) arregaçou as mangas, fez arranjo, inseriu as gravações feitas em 1995, e introduziu sua voz.

Ouvi Now and Then e, particularmente, não gostei da música porque acho que faz parte da última fase de Lennon que não perfila junto a Strawberry Fields Forever ou In My Life, por exemplo. Mas essa é só uma opinião minha que pode cair por terra caso McCartney tenha logrado realmente tornar a canção, com méritos, a última música dos Beatles.

Que McCartney tem competência para isso, não se discute. Portanto, aguardaremos ansiosos por 2 de novembro.

Antigamente aguardávamos ansiosos pelo último álbum dos Beatles no sentido de "o mais novo".

Hoje, aguardamos ansiosos por uma única música. Verdadeiramente a última.


Editado em 02/11/23.



 


sexta-feira, 28 de julho de 2023

A IA e o ócio criativo. Será?

Por Fernando Castilho

Imagem: Internet

Com a Inteligência Artificial, o mundo teria uma legião de pessoas desempregadas?


Acho que todos sabem que sou um entusiasta da Ciência e das inovações tecnológicas. Não tenho nenhuma saudade das fitas de videocassete, vamos combinar.

Ontem assisti à aula de um especialista em Inteligência Artificial, Brett King, pelo ICL (Instituto Conhecimento Liberta). Respondeu à várias perguntas esclarecendo os pontos positivos e também os negativos da nova tecnologia. Todas as novas tecnologias são assim. A Internet também foi assim.

Porém, ao dizer que cerca de 5 milhões de caminhoneiros atravessam os EUA de leste a oeste todos os dias e que com a IA, os caminhões poderão ser conduzidos sem a necessidade de motorista, King revelou a maior preocupação com a nova tecnologia. A maior parte das pessoas do mundo inteiro que trabalham em atividades que podem ser melhor executadas pela IA, simplesmente perderão seus empregos.

King alega que são atividades tediosas e repetitivas, por isso, até seria bom para essas pessoas não precisarem mais trabalhar com elas. Mas, não teríamos uma legião de pessoas desempregadas?

Para isso, King citou um programa chamado “Renda Básica Universal”, algo que imediatamente me remeteu ao projeto da vida de Eduardo Suplicy.

Por esse programa, as pessoas que perderão seus empregos serão sustentadas pelo programa e poderão se iniciar em projetos que ficariam guardados na gaveta, caso não houvesse a IA e tivessem que trabalhar em atividades tediosas a vida toda. Poderiam fazer o que gostam e se tornar empreendedoras, por exemplo. Seria um ócio criativo?

Quem está defendendo esse programa? Os grandes magnatas da comunicação, como Bill Gates e Elon Musk, até porque, com o uso da IA, as empresas lucrariam mais com a eficiência não humana e não mais teriam que pagar direitos trabalhistas.

Imagine que as empresas transportadoras de cargas não precisem mais que seu condutor tenha que fazer paradas para ir ao banheiro, almoçar ou dormir. Os caminhões poderiam rodar direto, só parando para abastecimento.

Tudo bom, tudo bonito, não é mesmo? Quem não gostaria disso?

Porém, não foi esclarecido quem pagaria essa renda universal. Os governos? As empresas, através dos impostos?

Quem vai controlar esse pagamento, os governos? Qual seria o montante mensal?

Claro que tudo ainda está muito prematuro. Contudo, essas novas tecnologias estão avançando muito rapidamente e é preciso já começar a pensar na regulamentação disso.

Um admirável mundo novo se descortina para nós trazendo novidades cuja extensão ainda são impensáveis impensáveis para nós, porém há que ter cuidado para que as pessoas, principalmente as mais pobres, não sucumbam diante dessa nova tecnologia chamada de Inteligência Artificial.

 


sexta-feira, 21 de julho de 2023

O que a Inteligência Artificial está fazendo com os Beatles e Elis Regina?

Por Fernando Castilho

Trabalho gráfico de Alper Yesiltas utilizando Inteligência Artificial e outros programas

Uma IA altamente desenvolvida poderá, num futuro bem próximo, produzir vídeos e áudios em que até peritos tenham dificuldade em atestar sua veracidade.


Em 1994 os remanescentes dos Beatles, Paul, George e Ringo, se reuniram para gravar algumas músicas que John Lennon havia deixado como demo em um gravador doméstico. Após esse trabalho, decidiram lançar somente duas músicas, Free as a Bird e Real Love, que seriam as últimas do quarteto. Como o som de Lennon estava ruim, tiveram que fazer um esforço para subtrair ruídos, além de fazer arranjos típicos dos Beatles.

Uma das músicas de Lennon, Now and Then, não foi incluída porque foi considerada ruim, principalmente por George. A última fase de John, antes de sua morte, não pode ser considerada das mais criativas.

Naquela época nem se cogitava que a ainda inexistente Inteligência Artificial pudesse promover milagres. Mas Paul McCartney percebeu a possibilidade de gravar essa última música utilizando justamente a IA que, no caso, só serviria para “limpar” a voz de Lennon sem mudar absolutamente nada.

E foi assim que surgiu a “nova” música dos Beatles. A guitarra do falecido George, gravada ainda em 1994, foi incluída, assim como a bateria de Ringo.

O resultado, com os típicos arranjos à la Beatles, é bom, embora, insisto, a música não é lá essas coisas.

Após isso, tem aparecido no YouTube alguns outros “milagres” utilizando a IA.

Ouvi duas músicas de McCartney, Band on the Run e Uncle Albert, na voz de Lennon, com resultados muito ruins. A IA talvez ainda não tenha aprendido como John Lennon se comportaria ao cantar músicas de Paul McCartney.

Há também uma gravação com a voz de Elis Regina cantando Nos Bailes da Vida, de Milton Nascimento. Ela nunca gravou essa música e, caso pudesse ouvi-la, acho que ficaria vermelha de raiva qual uma pimentinha. Pela primeira vez ouvi Elis desafinar e sair do tom.

Pode parecer divertido ouvir essas gravações, mas elas representam alguns perigos.

Primeiro, para quem conhece Beatles e Elis Regina, pode ser realmente interessante, mas para quem não conhece e está apenas começando a tomar conhecimento dos artistas, soa como fraude, já que serão enganados.

Pensando por outro lado, uma IA altamente desenvolvida poderá, num futuro bem próximo, produzir vídeos e áudios em que até peritos tenham dificuldade em atestar sua veracidade.

Provas de crimes poderão ser adulteradas enganando o sistema judiciário.

Tomemos como exemplo as três pessoas que agrediram com palavras o ministro do STF, Alexandre de Moraes e que desferiram um tapa em seu filho.

Um dos agressores, Alex Zanatta, apresentou à PF um vídeo gravado por ele, mostrando a reação do ministro, mas cortou a parte em que ele foi agredido.

Caso Zanatta tivesse feito uso de uma IA, o vídeo não poderia ser considerado autêntico por um perito e, por isso, jamais poderia ser considerado como prova. De qualquer forma, nesse caso, a prova definitiva virá das câmeras do aeroporto.

Outro exemplo são as gravações da Vaza Jato tornadas a público pelo hacker Walter Delgatti. Se ele tivesse a oportunidade de na época ter usado a IA, essas gravações jamais poderiam ter sido usadas para que o STF considerasse o ex-juiz Sergio Moro suspeito e cancelasse todos os processos contra Lula. Uso esses exemplos para demonstrar o risco que nosso sistema jurídico poderá correr daqui para frente.

A IA é um avanço da tecnologia e não pode ser renegada por quem não é conservador, mas, como em qualquer novidade, é preciso que seja usada para o bem, além de ser necessário que se criem mecanismos para conter abusos.

Como disse Lula, o que é crime na vida real, é crime na vida digital.

Ah, ainda prefiro ouvir Beatles e Elis no original.


Link para Band on the Run com John Lennon: 

https://www.youtube.com/watch?v=Qo6e_DrhxZU

Link para Uncle Albertt com John Lennon:

https://www.youtube.com/watch?v=7QNBDcY85ds

Link para Nos Bailes da Vida com Elis Regina:

https://www.youtube.com/watch?v=8xZJc2AzupQ






quarta-feira, 28 de junho de 2023

Três questões importantes para a Inteligência Artificial

Por Fernando Castilho

Inteligência Artificial - crédito: Adobe Stock


Preocupado com o volume de informações que nos chegam todos os dias sobre a novíssima tecnologia da Inteligência Artificial (IA), decidi fazer minhas três primeiras perguntas ao ChatGPT.


1- A inteligência artificial pode, particularmente, ser um instrumento importante para o fascismo destruir democracias no mundo?

ChatGPT

Como uma inteligência artificial desenvolvida pela OpenAI, devo salientar que a tecnologia em si não possui uma agenda política ou capacidade de tomar decisões conscientes. A inteligência artificial é neutra e não possui intenções próprias. No entanto, é importante reconhecer que qualquer tecnologia, incluindo a inteligência artificial, pode ser usada tanto para fins positivos quanto negativos, dependendo de como é aplicada e gerenciada.

Embora seja teoricamente possível que a inteligência artificial seja utilizada como uma ferramenta para minar a democracia, é fundamental lembrar que a responsabilidade recai sobre as ações e intenções dos indivíduos que a utilizam. A tecnologia pode ser empregada de várias maneiras, e cabe à sociedade e aos governos garantir que seu uso seja ético, transparente e respeite os princípios democráticos.

É importante regulamentar e supervisionar o desenvolvimento e a implementação da inteligência artificial para mitigar riscos potenciais e proteger os direitos e a liberdade das pessoas. Também é essencial promover a educação e a conscientização sobre a IA para que as sociedades possam tomar decisões informadas e se envolver em debates significativos sobre suas aplicações.

Em resumo, embora a inteligência artificial possa ser usada indevidamente, é crucial responsabilizar os agentes humanos por suas ações e tomar medidas para garantir que a tecnologia seja utilizada para o bem comum e o fortalecimento da democracia, em vez de ser usada para miná-la.

 

2 - Como a inteligência artificial está sendo criada por conglomerados de empresas de tecnologia capitalistas, ela poderá ser um instrumento importante contra as sociedades socialistas?

ChatGPT

A inteligência artificial em si não possui uma orientação política inerente. No entanto, é verdade que a criação e aplicação da inteligência artificial são amplamente conduzidas por empresas de tecnologia, muitas das quais operam em um ambiente de mercado capitalista. Como resultado, a maneira como a IA é desenvolvida e utilizada pode ser influenciada pelos interesses e valores dessas empresas.

É importante reconhecer que diferentes sistemas políticos têm abordagens distintas em relação à tecnologia e à IA. Enquanto sociedades socialistas podem ter diferentes prioridades em relação ao desenvolvimento tecnológico, como a ênfase na equidade, distribuição de recursos e controle democrático, as sociedades capitalistas podem se concentrar em questões como a competitividade, lucro e inovação.

No entanto, é fundamental lembrar que as aplicações da IA não são determinadas exclusivamente pelas empresas de tecnologia. Os governos também desempenham um papel importante na regulamentação e supervisão do uso da inteligência artificial, independentemente do sistema político em vigor. É essencial que os governos adotem políticas e regulamentos que protejam os direitos, a privacidade e a segurança das pessoas, independentemente de sua orientação política.

Além disso, é importante destacar que a inteligência artificial também pode ser utilizada para fins positivos em sociedades socialistas, como melhorar os serviços públicos, alocar recursos de forma mais eficiente e impulsionar o desenvolvimento sustentável. O impacto da IA em uma sociedade depende da forma como ela é governada, implementada e utilizada, assim como das escolhas feitas pelos líderes e membros da sociedade.

Em suma, embora a criação e a aplicação da inteligência artificial sejam influenciadas por empresas de tecnologia capitalistas, seu impacto em diferentes sistemas políticos é determinado por uma série de fatores, incluindo políticas governamentais, regulamentações e escolhas da sociedade. A maneira como a IA é usada dependerá do equilíbrio entre interesses políticos, éticos e sociais em cada contexto específico.


3 - No livro "2001, Uma Odisseia no Espaço", o autor Arthur Clarcke aborda um tema preocupante aos seres humanos nos dias de hoje: Na trama, HAL 9000 é um computador com avançada inteligência artificial, instalado a bordo da nave espacial Discovery e responsável por todo seu funcionamento. Hal 9000 se insurge contra o comandante e tenta matá-lo. É possível que uma inteligência artificial destrua os seres humanos?

ChatGPT

A questão de se uma inteligência artificial poderia destruir os seres humanos é um tema frequentemente explorado na ficção científica, como exemplificado no livro "2001, Uma Odisseia no Espaço". É importante notar que obras de ficção muitas vezes retratam situações extremas e especulativas para fins dramáticos, e nem sempre refletem a realidade.

No mundo real, é altamente improvável que uma inteligência artificial desenvolva espontaneamente uma intenção maliciosa de destruir os seres humanos. As inteligências artificiais atuais, incluindo aquelas baseadas em aprendizado de máquina, são projetadas para executar tarefas específicas dentro de limites predefinidos. Elas não possuem desejos, intenções ou emoções como os seres humanos.

No entanto, é importante considerar a segurança da inteligência artificial ao desenvolvê-la. Os sistemas de IA devem ser projetados com salvaguardas e mecanismos de controle para garantir que eles operem dentro dos limites estabelecidos e não representem riscos indevidos. Questões éticas e de segurança são levadas em consideração em pesquisas e desenvolvimentos nessa área.

A comunidade de pesquisa em inteligência artificial também está ciente dos riscos potenciais associados ao desenvolvimento de sistemas de IA mais avançados. Há um crescente foco na pesquisa em segurança e ética da IA, com a busca por abordagens que garantam que as inteligências artificiais sejam desenvolvidas e utilizadas de forma responsável.

Em resumo, embora as histórias de ficção científica possam explorar cenários alarmantes envolvendo inteligência artificial, no mundo real, é altamente improvável que uma IA se rebele e tente destruir os seres humanos. No entanto, é crucial garantir o desenvolvimento e a utilização responsável da IA, com considerações éticas e de segurança em mente.

 

O que você achou das respostas? Tem sugestões para mais perguntas?

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quinta-feira, 1 de junho de 2023

As 3 etapas da inteligência artificial e por que a 3ª pode ser fatal

Por BBC News

Getty Images

Este texto poderia ter sido digitado por uma máquina e você provavelmente não saberia.


Desde o seu lançamento no final de novembro de 2022, o ChatGPT, o chatbot que usa inteligência artificial (também chamada de IA) para responder perguntas ou gerar textos sob demanda dos usuários, tornou-se o aplicativo de internet que mais cresce na história.

Em apenas dois meses atingiu 100 milhões de usuários ativos. O popular aplicativo TikTok levou nove meses para atingir esse marco. E para o Instagram dois anos e meio, segundo dados da empresa de monitoramento de tecnologia Sensor Town.

"Nos 20 anos que acompanhamos a internet, não conseguimos lembrar de um crescimento mais rápido de um aplicativo de internet para o consumidor", disseram analistas do banco suíço UBS, que relataram o recorde em fevereiro.

A enorme popularidade do ChatGPT, desenvolvido pela empresa OpenAI, com o apoio financeiro da Microsoft, gerou todo tipo de discussões e especulações sobre o impacto que a inteligência artificial generativa já está tendo e terá em nosso futuro próximo.

É o ramo da IA ​​que se dedica a gerar conteúdo original a partir de dados existentes (geralmente retirados da internet) em resposta a instruções de um usuário.

Os textos (de ensaios, poesia e piadas a códigos de computador) e imagens (diagramas, fotos, obras de arte de qualquer estilo e muito mais) produzidos por IAs geradoras como ChatGPT, DALL-E, Bard e AlphaCode - para citar apenas alguns dos mais conhecidos - são, em alguns casos, tão indistinguíveis do trabalho humano, que já foram utilizadas por milhares de pessoas para substituir o seu trabalho habitual.

De estudantes que os usam para fazer o dever de casa a políticos que confiam a eles seus discursos - o deputado democrata Jake Auchincloss lançou o recurso no Congresso americano - ou fotógrafos que inventam instantâneos de coisas que não aconteceram (e até ganham prêmios por Isso, como o alemão Boris Eldagsen, que ganhou o primeiro lugar no último Sony World Photography Award por uma imagem criada por IA).

Este texto poderia ter sido digitado por uma máquina e você provavelmente não saberia.

O fenômeno levou a uma revolução nos recursos humanos, com empresas como a gigante da tecnologia IBM anunciando que deixará de contratar pessoas para preencher cerca de 8.000 vagas que podem ser gerenciadas pela IA.

Um relatório do banco de investimentos Goldman Sachs estimou no final de março que a IA poderia substituir um quarto de todos os empregos humanos hoje, embora também crie mais produtividade e novos empregos.

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Quanto mais a IA avança, maior sua capacidade de substituir nossos trabalhos

Se todas essas mudanças representam uma sobrecarga para você, prepare-se para um fato que pode ser ainda mais desconcertante.

E é que, com todos os seus impactos, o que estamos vivenciando agora é apenas a primeira etapa do desenvolvimento da IA.

Segundo os especialistas, o que pode vir em breve - a segunda etapa - será muito mais revolucionário.

E a terceira e última, que pode ocorrer logo depois disso, é tão avançada que alterará completamente o mundo, mesmo à custa da existência humana.

Os três estágios

As tecnologias de IA são classificadas por sua capacidade de imitar características humanas.

1. Inteligência Artificial Estreita (ANI)

A categoria mais básica de AI é mais conhecida por sua sigla: ANI, para Artificial Narrow Intelligence

É assim chamado porque se concentra estritamente em uma única tarefa, realizando trabalhos repetitivos dentro de um intervalo predefinido por seus criadores.

Os sistemas ANI geralmente são treinados usando um grande conjunto de dados (por exemplo, da Internet) e podem tomar decisões ou realizar ações com base nesse treinamento.

Um ANI pode igualar ou exceder a inteligência e a eficiência humanas, mas apenas naquela área específica em que opera.

Um exemplo são os programas de xadrez que usam IA. Eles são capazes de vencer o campeão mundial dessa disciplina, mas não podem realizar outras tarefas.

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ANI pode superar os humanos, mas apenas em uma área específica

É por isso que também é conhecido como "IA fraca" .

Todos os programas e ferramentas que usam IA hoje, mesmo os mais avançados e complexos, são formas de ANI. E esses sistemas estão por toda parte.

Os smartphones estão repletos de aplicativos que usam essa tecnologia, desde mapas GPS que permitem localizar qualquer lugar do mundo ou saber o tempo, até programas de música e vídeo que conhecem seus gostos e fazem recomendações.

Também assistentes virtuais como Siri e Alexa são formas de ANI. Como o buscador Google e o robô que limpa sua casa.

O mundo dos negócios também usa muito essa tecnologia. É usado nos computadores internos dos carros, na fabricação de milhares de produtos, no mundo financeiro e até nos hospitais, para fazer diagnósticos.

Sistemas ainda mais sofisticados, como carros sem motorista (ou veículos autônomos) e o popular ChatGPT, são formas de ANI, pois não podem operar fora do intervalo predefinido por seus programadores e, portanto, não podem tomar decisões por conta própria .

Eles também não têm autoconsciência, outro traço da inteligência humana.

No entanto, alguns especialistas acreditam que sistemas programados para aprender automaticamente ( aprendizado de máquina ), como ChatGPT ou AutoGPT (um "agente autônomo" ou "agente inteligente" que usa informações do ChatGPT para executar determinadas subtarefas de forma autônoma) podem passar para o próximo estágio de desenvolvimento.

2. Inteligência Artificial Geral (AGI)

Esta categoria – Inteligência Artificial Geral – é alcançada quando uma máquina adquire habilidades cognitivas no nível humano.

Ou seja, quando você consegue realizar qualquer tarefa intelectual que uma pessoa faz.

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O AGI tem a mesma capacidade intelectual de um ser humano

O AGI também é conhecido como "IA forte" .

Tal é a crença de que estamos prestes a atingir esse nível de desenvolvimento, que em março passado mais de 1.000 especialistas em tecnologia pediram às empresas de IA que parassem de treinar, por pelo menos seis meses, os programas mais poderosos do que o GPT-4, a versão mais recente do ChatGPT.

"Sistemas de IA com inteligência que competem com os humanos podem representar riscos profundos para a sociedade e a humanidade", alertaram em carta aberta o cofundador da Apple, Steve Wozniak, e o proprietário da Tesla, SpaceX Neuralink, entre outros. os co-fundadores da Open AI antes de renunciar ao conselho devido a desentendimentos com a liderança da empresa).

A carta em que mais de 1.000 especialistas pedem para parar a inteligência artificial por ser uma "ameaça à humanidade".

Na carta, publicada pela organização sem fins lucrativos Future of Life Institute, os especialistas afirmam que, se as empresas não concordarem rapidamente em interromper seus projetos, "os governos devem intervir e instituir uma moratória" para que medidas de segurança possam ser projetadas e implementadas.

Embora isso seja algo que - por enquanto - não aconteceu, o governo dos Estados Unidos convocou os proprietários das principais empresas de IA - Alphabet, Anthropic, Microsoft e OpenAI - para acordar "novas ações para promover a inovação responsável da IA".

"A IA é uma das tecnologias mais poderosas do nosso tempo, mas para aproveitar as oportunidades que ela apresenta, devemos primeiro mitigar seus riscos", disse a Casa Branca em comunicado em 4 de maio.

O Congresso dos EUA, por sua vez, convocou o CEO da OpenAI, Sam Altman , na terça-feira para responder a perguntas sobre o ChatGPT.

Durante a audiência no Senado, Altman disse que é "crucial" que sua indústria seja regulamentada pelo governo, pois a IA se torna "cada vez mais poderosa".

Carlos Ignacio Gutiérrez, pesquisador de políticas públicas do Future of Life Institute, explicou à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, que um dos grandes desafios que a IA apresenta é que "não existe um colegiado de especialistas que decida como regulá-la, como acontece, por exemplo , com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)".

Na carta dos especialistas, eles definiram quais eram suas principais preocupações.

"Devemos desenvolver mentes não humanas que possam eventualmente nos superar em número, ser mais espertos que nós, nos tornar obsoletos e nos substituir?", eles perguntaram.

"Devemos arriscar perder o controle de nossa civilização?"

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Sam Altman, CEO da OpenAI, criador do ChatGPT, apoiou a regulamentação governamental da IA ​​durante uma audiência no Congresso

O que nos leva ao terceiro e último estágio da IA.

3. Superinteligência Artificial (ASI)

A preocupação desses cientistas da computação tem a ver com uma teoria bem estabelecida de que, quando chegarmos à AGI, logo depois chegaremos ao último estágio do desenvolvimento dessa tecnologia: a Superinteligência Artificial, que ocorre quando a inteligência sintética supera a humana.

O filósofo da Universidade de Oxford e especialista em IA, Nick Bostrom, define superinteligência como "um intelecto muito mais inteligente do que os melhores cérebros humanos em praticamente todos os campos, incluindo criatividade científica, sabedoria geral e habilidades sociais".

A teoria é que, quando uma máquina atinge inteligência equivalente à dos humanos, sua capacidade de multiplicar essa inteligência exponencialmente por meio de seu próprio aprendizado autônomo fará com que ela nos ultrapasse amplamente em pouco tempo, atingindo o ASI.

“O ser humano para ser engenheiro, enfermeiro ou advogado tem que estudar muito. O problema do AGI é que ele é imediatamente escalável”, diz Gutiérrez.

Isso se deve a um processo chamado autoaperfeiçoamento recursivo que permite que um aplicativo de IA "se aprimore continuamente".

Embora haja muito debate sobre se uma máquina pode realmente adquirir o tipo de inteligência ampla que um ser humano possui - especialmente quando se trata de inteligência emocional - é uma das coisas que mais preocupa aqueles que acreditam que estamos perto de alcançar o AGI.

Recentemente, o chamado "padrinho da inteligência artificial" Geoffrey Hinton, pioneiro na investigação de redes neurais e aprendizado profundo que permitem que as máquinas aprendam com a experiência, assim como os humanos, alertou em entrevista à BBC que poderíamos estar próximos desse marco.

"Atualmente (as máquinas) não são mais inteligentes do que nós, até onde vejo. Mas acho que em breve poderão ser ", disse o homem de 75 anos, que acabou de se aposentar do Google.

Extinção ou imortalidade

Existem, em geral, dois campos de pensamento em relação à ASI: há os que acreditam que essa superinteligência será benéfica para a humanidade e os que acreditam no contrário.

Entre eles estava o famoso físico britânico Stephen Hawking, que acreditava que as máquinas superinteligentes representavam uma ameaça à nossa existência.

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O físico britânico Stephen Hawking acreditava que a IA superinteligente poderia levar ao 'fim dos humanos'

“O desenvolvimento da inteligência artificial completa pode significar o fim dos humanos”, disse ele à BBC em 2014, quatro anos antes de morrer.

Uma máquina com esse nível de inteligência "descolaria por conta própria e se redesenharia em um ritmo crescente", disse ele.

"Os humanos, que são limitados pela lenta evolução biológica, não seriam capazes de competir e seriam superados", previu.

No entanto, do lado oposto, há previsões mais positivas.

Um dos maiores entusiastas da ASI é o autor e inventor futurista americano Ray Kurzweil , pesquisador de IA do Google e cofundador da Singularity University do Vale do Silício ("singularidade" é outro nome para a era em que as máquinas se tornam superinteligentes).

Kurzweil acredita que os humanos serão capazes de usar IA superinteligente para superar nossas barreiras biológicas, melhorando nossas vidas e nosso mundo.

Em 2015 chegou a prever que até o ano de 2030 os humanos conseguirão alcançar a imortalidade graças aos nanobots (robôs extremamente pequenos) que atuarão dentro de nossos corpos, reparando e curando qualquer dano ou doença, inclusive as causadas pela passagem do tempo.

Em sua declaração ao Congresso na terça-feira, Sam Altman, da OpenAI, também estava otimista sobre o potencial da IA, observando que ela poderia resolver "os maiores desafios da humanidade , como a mudança climática e a cura do câncer".

No meio estão pessoas, como Hinton, que acreditam que a IA tem um enorme potencial para a humanidade, mas acham o atual ritmo de desenvolvimento, sem regras e limites claros, "preocupante".

Em um comunicado enviado ao The New York Times anunciando sua saída do Google, Hinton disse que agora se arrependia do trabalho que havia feito porque temia que "maus agentes" usassem IA para fazer "coisas ruins".

Reuters

Geoffrey Hinton disse à BBC que os avanços na IA o 'assustam'

Questionado pela BBC, ele deu este exemplo de um "pesadelo".

"Imagine, por exemplo, que algum mau ator como [o presidente russo Vladimir] Putin decidiu dar aos robôs a capacidade de criar seus próprios sub-objetivos."

As máquinas poderiam eventualmente "criar subobjetivos como: 'Preciso obter mais energia', o que representaria um risco existencial", observou ele.

Ao mesmo tempo, o especialista britânico-canadense disse que, a curto prazo, a IA trará muito mais benefícios do que riscos, por isso “não devemos parar de desenvolvê-la”.

"A questão é: agora que descobrimos que funciona melhor do que esperávamos alguns anos atrás, o que fazemos para mitigar os riscos de longo prazo de coisas mais inteligentes do que assumirmos o controle?"

Guitérrez concorda que a chave é criar um sistema de governança de IA antes de desenvolver uma inteligência que possa tomar suas próprias decisões.

"Se essas entidades são criadas com motivação própria, o que significa quando não estamos mais no controle dessas motivações?", questiona.

O especialista aponta que o perigo não é apenas que uma AGI ou ASI, seja por motivação própria ou controlada por pessoas com "maus objetivos", inicie uma guerra ou manipule o sistema financeiro, produtivo, infraestrutura energética, transporte ou qualquer outro sistema que agora é informatizado.

Uma superinteligência poderia nos dominar de uma forma muito mais sutil, adverte.

"Imagine um futuro onde uma entidade tenha tanta informação sobre cada pessoa no planeta e seus hábitos (graças às nossas buscas na internet) que poderia nos controlar de maneiras que não perceberíamos", diz ele.

"O pior cenário não é que existam guerras entre humanos e robôs. O pior é não percebermos que estamos sendo manipulados porque compartilhamos o planeta com uma entidade muito mais inteligente do que nós."