Por Fernando Castilho
Foto: Fernando Souza/AFP |
Por que e como os acampamentos dos golpistas em frente aos quartéis foram permitidos? Quem articulou?
Em meu
texto anterior, O
relatório da CPMI poupará os parlamentares golpistas?, defendi que o
relatório da senadora Eliziane Gama na CPMI do 8 de janeiro incluísse, além do
indiciamento dos militares envolvidos, uma moção de repúdio ao exército por dar
apoio à súcia golpista, destacando que a democracia no Brasil só não foi
destruída porque no momento mais crucial, naquele fio da navalha em que o novo
governo se encontrava, Lula não solicitou a Garantia da Lei e da Ordem (GLO),
que era somente o que as Forças Armadas estavam aguardando.
Por
que essa punição, ainda que branda?
O
exército, como instituição, não pode ser indiciado em sua totalidade. Somente
aqueles militares que participaram direta ou indiretamente da intentona poderão
ser condenados.
Porém,
refletindo um pouco mais sobre como os acampamentos foram sendo montados em
frente aos quartéis, podemos especular sobre como isso foi possível.
Todos
sabemos – e isso foi explicado na última sessão da CPMI – que o exército não
permite que nenhuma pessoa pare um carro ou permaneça por mais que alguns
segundos em frente a um quartel porque o local é designado como área de
segurança nacional. Se alguém ousar desobedecer, imediatamente soldados armados
com fuzis poderão executar a prisão.
As
pessoas inconformadas com a derrota de Jair Bolsonaro começaram aos poucos a
montar acampamentos em frente aos quartéis, notadamente o de Brasília, sem que
fossem incomodadas. Pensando nisso, imagine
a primeira pessoa que chegou com um carro para descarregar barracas e
mantimentos. Ela deveria ter sido retirada dali no mesmo instante em que parou
o carro, certo?
Mas, por que isso não aconteceu?
Só
há uma possibilidade. Os soldados de plantão já tinham ordens para permitir a
montagem dos acampamentos e os acampados já sabiam disso. Ou seja, já havia uma
combinação prévia para que isso acontecesse.
Se
essa suposição for verdadeira – e acredito que seja – os organizadores já
tinham se reunido com o Alto Comando do Exército ou com o ministro da defesa,
General Paulo Sérgio.
Quero
dizer que essa combinação se deu entre o comando dos golpistas, muito provavelmente
Jair Bolsonaro ou seus prepostos, generais Braga Netto e Augusto Heleno. Vale
lembrar que os dois faziam parte do grupo que foi montado e que se reunia
diariamente numa casa alugada para definir as estratégias após a vitória de
Lula, enquanto Bolsonaro se refugiava nos Estados Unidos.
É a
isso que a CPMI tem que chegar.
Uma
vez permitidos os acampamentos, o exército forneceria água e energia elétrica e
permitiria que empresas contribuíssem com alimentos, criando condições para que
esses grupos fermentassem durante dois meses seu ódio e ousadia para que no dia
8 de janeiro agissem como ponta de lança do golpe, invadindo a Praça dos Três
Poderes e implantando o terror.
Em
seguida, num plano muito bem elaborado, diante da gravíssima situação, um
presidente atônito e apavorado que havia tomado posse há somente 7 dias, não
hesitaria em decretar a GLO.
Porém,
o ministro Flávio Dino e Lula, escaldados que são, perceberam a armadilha.
Lula
conclamou governadores e ministros do STF para se juntarem a ele para a defesa
da democracia e nomeou um interventor para debelar os atos golpistas.
A essa altura, não foi possível mais insistir no golpe, já que as Forças Armadas como
um todo a ele não aderiram, preferindo cumprir as novas ordens emanadas pelo
interventor Capelli.
Lula
parece ter hoje as forças sob seu comando, por isso, é fundamental que seja
feita uma limpeza nelas.
Cabe
à Polícia Federal indiciar militares golpistas como Braga Netto, Augusto Heleno
e o general Dutra e cabe à CPMI indiciar todos e dar uma lição de moral que
maculará para sempre a honra do exército através de uma moção de repúdio por
ação e omissão por uma tentativa de golpe que colocaria de novo no poder um
arruaceiro.