sexta-feira, 30 de junho de 2023

O ministro do TSE, Raul Araújo, libertaria Adélio Bispo?

Por Fernando Castilho

Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE

Por que Raul Araújo construiria seu voto utilizando tantos malabarismos e se expondo tanto ao ridículo se não objetivasse algo em troca?


O ministro do TSE, Raul Araújo, durante seu voto contrário à inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, alegou que, embora na reunião com os embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto em 18 de junho de 2022, o então mandatário tenha mentido ao afirmar que as urnas eletrônicas não eram confiáveis e que, por isso elas seriam fraudáveis, isso não interferiu nas eleições porque o tribunal foi eficiente em neutralizar sua fala.

O ministro que votou na sequência, Floriano Azevedo, feliz em sua crítica a Araújo, indagou se seria aceitável que se inocentasse um incendiário somente porque os bombeiros chegaram a tempo de debelar o fogo iniciado por ele em um prédio.

Pergunto eu, se todos aqueles que tentaram cometer um crime que não se consumou porque a polícia chegou a tempo de impedi-los, ou que falharam em seu intento criminoso, devam ser libertados da prisão?

Raul Araújo poderia começar libertando Adélio Bispo, aquele que teria tentado matar Jair Bolsonaro às vésperas da eleição de 2018, mas não conseguiu.  

Agora a pergunta é: por que o ministro do TSE, Raul Araújo se propôs a dar um voto que o expôs tão fortemente ao ridículo no afã de defender o ex-presidente?

Como fica, daqui pra frente, sua relação entre seus pares do poder judiciário, sejam do TSE, sejam dos tribunais regionais ou sejam do STF?

O que ficou visível não só para juízes, mas também para as pessoas que acompanharam seu voto, é seu “notável” saber jurídico.

Entende-se por detentor de notável saber jurídico, aquele que é admirado e reconhecido pelo seu conhecimento do arcabouço jurídico brasileiro. Porém, nesse caso em particular, pode-se entender que notável tenha uma conotação de algo que chama a atenção, que não passa desapercebido. Nesse caso, Araújo, realmente não passou desapercebido.

Também não passou desapercebida sua dificuldade para ler seu voto, dando aqueles "tranquinhos" típicos de alunos do ensino fundamental que ainda não dominam a fluência na leitura.

Mas por que o ministro construiria seu voto utilizando tantos malabarismos e se expondo tanto ao ridículo se não objetivasse algo em troca?

Especulo.

O ministro pode ter pretensão de chegar ao STF um dia e é claro que durante o governo Lula 3 ou, quem sabe, Lula 4, suas chances são zero.

Raul Araújo só poderia ser indicado por uma pessoa, justamente Jair Bolsonaro.

Mas o capitão não poderá se candidatar a cargos eletivos durante 8 anos!

É preciso lembrar que Nunes Marques será o próximo presidente do TSE e Bolsonaro conta com ele para tentar anular a decisão que o tornou inelegível, embora isso seja extremamente difícil, porém, não impossível.

Mesmo que Bolsonaro não consiga reverter essa decisão, é possível que se candidate em 2030 e não se pode descartar uma vitória. Caso isso aconteça, Jair poderá indicar alguém para o STF. É com a gratidão que Araújo conta.

Convém lembrar que o capitão não é dado a gratidão, mas é conhecido por abandonar aliados pelo caminho, caso precise para alcançar seus objetivos. É a lógica da guerra em que soldados estão ali para morrer mesmo.

Os ministros que se aposentarão após o pleito de 2030 serão Gilmar Mendes (2030), Edson Fachin (2033) e Luís Roberto Barroso (2033).

Portanto, hipoteticamente, Bolsonaro, numa possível volta em 2030, teria a possibilidade de indicar 3 ministros para o STF. Raul Araújo pode estar sonhando ser um deles.

Até lá, ele terá que se humilhar muito mais, pois há ainda 15 processos contra seu mito.

Será que ele aguenta?


quinta-feira, 29 de junho de 2023

Afinal, o que é o tempo?

Por Fernando Castilho



Reconstruir uma xícara que se espatifou no chão para deixá-la como era em seu estado inicial seria equivalente a voltar ao passado.


É inevitável. De vez em quando surge alguém nas redes sociais com dúvidas ou perguntas frequentes sobre o que seria exatamente o tempo. E invariavelmente alguém faz um comentário no estilo terraplanista em que vale muito mais sua opinião, mesmo que dissociada dos artigos científicos, das pesquisas e de todo conhecimento já acumulado pela humanidade até hoje.

O tempo é uma dimensão fundamental que usamos para ordenar e medir eventos e mudanças no universo, na verdade, a quarta dimensão que se junta ao espaço, composto das outras três: largura, comprimento e profundidade. É uma parte fundamental de nossa experiência cotidiana e nossa compreensão do mundo ao nosso redor. Porém, não é de todo compreendido ainda.

Na física, ele é considerado uma dimensão contínua e unidirecional, representada no espaço-tempo como uma seta que só aponta no sentido do futuro. É impensável vermos um relógio cujos ponteiros se deslocam no sentido anti-horário.

O tempo é parte integrante da teoria da relatividade restrita de Einstein. Segundo o físico alemão, o tempo pode ser afetado pela velocidade e pela gravidade, o que leva a fenômenos como a dilatação temporal, em que passa mais devagar em regiões de maior gravidade ou em velocidades próximas à velocidade da luz. Se alguém teve a oportunidade de assistir ao filme Interestelar, percebeu como o personagem principal, próximo ao horizonte de eventos de um buraco negro, quase não envelheceu, enquanto sua filha, na Terra, já estaca idosa.

Além da relatividade de Einstein, podemos especular que o tempo também é relativo do ponto de vista emocional. Quando se está esperando ansiosamente a pessoa amada, o tempo parece que não passa. Os minutos se arrastam longamente. Mas quando se está com a pessoa amada, o tempo parece passar de maneira muito rápida. Aquelas horas tão agradáveis, parece que se esvaem em minutos.

A natureza exata do tempo é um tópico complexo e desafiador. Filosoficamente, tem sido objeto de discussão há séculos. Há debates em várias disciplinas sobre se o tempo é uma entidade real e objetiva ou apenas uma construção subjetiva da mente humana. O filósofo Santo Agostinho escreveu que o passado não existe porque já aconteceu, o futuro não existe porque ainda não aconteceu e o presente também não existe porque no instante em que estamos vivendo nele, já virou passado.

Na física quântica, há perspectivas que sugerem que o tempo pode ser emergente de outras propriedades fundamentais do universo, como a mecânica quântica e a teoria dos campos.

A impossibilidade de viajar ao passado está fundamentada principalmente nas leis da física, como a Segunda Lei da Termodinâmica, com a entropia e a teoria da relatividade. A Segunda Lei da Termodinâmica estabelece que a entropia de um sistema isolado tende a aumentar com o tempo. Quando do início do Universo, sua entropia era zero e, desde então, vem aumentando cada vez mais. O aumento da entropia está diretamente associado à seta do tempo. O clássico exemplo é o da xícara que, digamos, logo após ser fabricada teria muito pouca entropia, mas com o passar do tempo, vai ficando cada vez mais desgastada. Um dia, a xícara cai ao chão e se parte em inúmeros pedacinhos. Reconstruir a xícara para deixá-la como era em seu estado inicial seria equivalente a voltar ao passado.

A teoria da relatividade de Einstein é outro pilar que sustenta a ideia de que a viagem ao passado é improvável. De acordo com ela, a velocidade da luz é uma constante fundamental e nada pode viajar mais rápido do que ela. Além disso, a teoria também indica que eventos que ocorrem no espaço-tempo estão sujeitos a uma estrutura causal bem definida, onde a causa precede o efeito e não o contrário.

Há quem diga que, se atravessarmos um buraco de minhoca (buracos de minhoca são formulações teóricas que levantam possibilidade de nos deslocarmos muito rapidamente por distâncias muito grandes, impossíveis de alcançarmos de acordo com as leis da física. Assim, se dobrarmos o tecido do espaço-tempo, conseguiremos um atalho para isso), poderemos chegar a uma estrela distante, por exemplo, um bilhão de anos-luz de nós. Como sua luz levou um bilhão de anos para chegar à Terra, o que vemos no céu à noite é uma estrela que existia há um bilhão de anos atrás e que pode até nem mais existir.

Se conseguirmos chegar a essa estrela, será que voltamos ao passado de um bilhão de anos atrás? Não, porque nos deslocamos pelo espaço para chegar lá. Portanto, chegaremos a essa estrela no tempo presente dela. E também no nosso.

Isso é muito diferente de voltarmos ao passado sem nos deslocarmos pelo espaço, por exemplo, na nossa rua.

Segundo nosso entendimento atual da física, a viagem ao futuro é considerada teoricamente possível. No entanto, existem algumas considerações importantes a serem feitas.

De acordo com a teoria da relatividade, o tempo não é absoluto, mas sim relativo ao observador e à sua velocidade em relação a outros observadores. Isso significa que o tempo pode passar mais devagar para um objeto em movimento rápido em relação a um objeto em repouso.

Um exemplo prático disso é o chamado "paradoxo dos gêmeos". Se um dos gêmeos embarcar em uma nave espacial e viajar em velocidades próximas à velocidade da luz por um período de tempo, enquanto o outro gêmeo fica na Terra, quando o gêmeo viajante retornar à Terra, ele terá envelhecido menos em comparação ao gêmeo que ficou. Portanto, do ponto de vista do gêmeo que viajou, ele "saltou" para o futuro em relação ao gêmeo que permaneceu na Terra. Lembram-se do exemplo de Interestelar?

No entanto, é importante notar que esse tipo de viagem ao futuro está limitado a efeitos relativísticos e a velocidades extremamente altas. Além disso, a viagem ao futuro não permitiria retornar ao passado e alterar eventos passados, uma vez que a estrutura causal do tempo permanece intacta.

Atualmente, não temos tecnologias que nos permitam viajar ao futuro de forma prática e controlada. As velocidades necessárias para experimentar efeitos significativos de dilatação do tempo são extremamente altas e atualmente inatingíveis para a tecnologia humana. No entanto, teoricamente, não há nenhuma lei fundamental da física que impeça a viagem ao futuro.

Deve-se ressaltar que a teoria da relatividade ainda não foi completamente unificada com a mecânica quântica, e a física nos limites extremos próximos aos buracos negros é objeto de intensa pesquisa e debate. Portanto, as possibilidades de viagem ao futuro perto de buracos negros são especulações teóricas que ainda precisam de investigação adicional.

Além disso, atravessar um horizonte de eventos de um buraco negro é um empreendimento extremamente perigoso e atualmente está além das capacidades tecnológicas da humanidade. Portanto, a viagem ao futuro por meio de buracos negros permanece no reino da especulação teórica.

Se gostou do texto, não gostou, se tem alguma crítica positiva ou negativa, ou se tiver mais alguma dúvida, por favor, comente.

 

 


quarta-feira, 28 de junho de 2023

Três questões importantes para a Inteligência Artificial

Por Fernando Castilho

Inteligência Artificial - crédito: Adobe Stock


Preocupado com o volume de informações que nos chegam todos os dias sobre a novíssima tecnologia da Inteligência Artificial (IA), decidi fazer minhas três primeiras perguntas ao ChatGPT.


1- A inteligência artificial pode, particularmente, ser um instrumento importante para o fascismo destruir democracias no mundo?

ChatGPT

Como uma inteligência artificial desenvolvida pela OpenAI, devo salientar que a tecnologia em si não possui uma agenda política ou capacidade de tomar decisões conscientes. A inteligência artificial é neutra e não possui intenções próprias. No entanto, é importante reconhecer que qualquer tecnologia, incluindo a inteligência artificial, pode ser usada tanto para fins positivos quanto negativos, dependendo de como é aplicada e gerenciada.

Embora seja teoricamente possível que a inteligência artificial seja utilizada como uma ferramenta para minar a democracia, é fundamental lembrar que a responsabilidade recai sobre as ações e intenções dos indivíduos que a utilizam. A tecnologia pode ser empregada de várias maneiras, e cabe à sociedade e aos governos garantir que seu uso seja ético, transparente e respeite os princípios democráticos.

É importante regulamentar e supervisionar o desenvolvimento e a implementação da inteligência artificial para mitigar riscos potenciais e proteger os direitos e a liberdade das pessoas. Também é essencial promover a educação e a conscientização sobre a IA para que as sociedades possam tomar decisões informadas e se envolver em debates significativos sobre suas aplicações.

Em resumo, embora a inteligência artificial possa ser usada indevidamente, é crucial responsabilizar os agentes humanos por suas ações e tomar medidas para garantir que a tecnologia seja utilizada para o bem comum e o fortalecimento da democracia, em vez de ser usada para miná-la.

 

2 - Como a inteligência artificial está sendo criada por conglomerados de empresas de tecnologia capitalistas, ela poderá ser um instrumento importante contra as sociedades socialistas?

ChatGPT

A inteligência artificial em si não possui uma orientação política inerente. No entanto, é verdade que a criação e aplicação da inteligência artificial são amplamente conduzidas por empresas de tecnologia, muitas das quais operam em um ambiente de mercado capitalista. Como resultado, a maneira como a IA é desenvolvida e utilizada pode ser influenciada pelos interesses e valores dessas empresas.

É importante reconhecer que diferentes sistemas políticos têm abordagens distintas em relação à tecnologia e à IA. Enquanto sociedades socialistas podem ter diferentes prioridades em relação ao desenvolvimento tecnológico, como a ênfase na equidade, distribuição de recursos e controle democrático, as sociedades capitalistas podem se concentrar em questões como a competitividade, lucro e inovação.

No entanto, é fundamental lembrar que as aplicações da IA não são determinadas exclusivamente pelas empresas de tecnologia. Os governos também desempenham um papel importante na regulamentação e supervisão do uso da inteligência artificial, independentemente do sistema político em vigor. É essencial que os governos adotem políticas e regulamentos que protejam os direitos, a privacidade e a segurança das pessoas, independentemente de sua orientação política.

Além disso, é importante destacar que a inteligência artificial também pode ser utilizada para fins positivos em sociedades socialistas, como melhorar os serviços públicos, alocar recursos de forma mais eficiente e impulsionar o desenvolvimento sustentável. O impacto da IA em uma sociedade depende da forma como ela é governada, implementada e utilizada, assim como das escolhas feitas pelos líderes e membros da sociedade.

Em suma, embora a criação e a aplicação da inteligência artificial sejam influenciadas por empresas de tecnologia capitalistas, seu impacto em diferentes sistemas políticos é determinado por uma série de fatores, incluindo políticas governamentais, regulamentações e escolhas da sociedade. A maneira como a IA é usada dependerá do equilíbrio entre interesses políticos, éticos e sociais em cada contexto específico.


3 - No livro "2001, Uma Odisseia no Espaço", o autor Arthur Clarcke aborda um tema preocupante aos seres humanos nos dias de hoje: Na trama, HAL 9000 é um computador com avançada inteligência artificial, instalado a bordo da nave espacial Discovery e responsável por todo seu funcionamento. Hal 9000 se insurge contra o comandante e tenta matá-lo. É possível que uma inteligência artificial destrua os seres humanos?

ChatGPT

A questão de se uma inteligência artificial poderia destruir os seres humanos é um tema frequentemente explorado na ficção científica, como exemplificado no livro "2001, Uma Odisseia no Espaço". É importante notar que obras de ficção muitas vezes retratam situações extremas e especulativas para fins dramáticos, e nem sempre refletem a realidade.

No mundo real, é altamente improvável que uma inteligência artificial desenvolva espontaneamente uma intenção maliciosa de destruir os seres humanos. As inteligências artificiais atuais, incluindo aquelas baseadas em aprendizado de máquina, são projetadas para executar tarefas específicas dentro de limites predefinidos. Elas não possuem desejos, intenções ou emoções como os seres humanos.

No entanto, é importante considerar a segurança da inteligência artificial ao desenvolvê-la. Os sistemas de IA devem ser projetados com salvaguardas e mecanismos de controle para garantir que eles operem dentro dos limites estabelecidos e não representem riscos indevidos. Questões éticas e de segurança são levadas em consideração em pesquisas e desenvolvimentos nessa área.

A comunidade de pesquisa em inteligência artificial também está ciente dos riscos potenciais associados ao desenvolvimento de sistemas de IA mais avançados. Há um crescente foco na pesquisa em segurança e ética da IA, com a busca por abordagens que garantam que as inteligências artificiais sejam desenvolvidas e utilizadas de forma responsável.

Em resumo, embora as histórias de ficção científica possam explorar cenários alarmantes envolvendo inteligência artificial, no mundo real, é altamente improvável que uma IA se rebele e tente destruir os seres humanos. No entanto, é crucial garantir o desenvolvimento e a utilização responsável da IA, com considerações éticas e de segurança em mente.

 

O que você achou das respostas? Tem sugestões para mais perguntas?

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domingo, 25 de junho de 2023

Lula, a borboleta que deveria ter morrido como lagarta, voa longe.

Por Fernando Castilho



Ao ver Lula discursando em Paris criticando os países ricos, me lembrei de Chico Buarque: "você não gosta de mim, mas sua filha gosta."


Não estive na primeira assembleia do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema (hoje, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), realizada no estádio de Vila Euclides em 13 de março de 1979, com a presença de Lula, desafiando o governo ditatorial de então, mas estive numa das primeiras das cerca de 18 naquele mesmo local.

Tinha recém completado o curso de Arquitetura e Urbanismo na USP, em meio ao movimento estudantil da época e estava particularmente interessado no que aquele líder operário, então uma grande novidade no cenário político paulista, tinha a dizer.

O carisma era mágico, a oratória era mágica, os cabelos e barbas desgrenhados alteando uma barriguinha apertada dentro de uma camiseta ilustravam a figura de um típico operário, mas o que me fez ficar vidrado em sua fala foi o conteúdo, sobre o qual me faltaram argumentos discordantes.

Lula era absolutamente necessário naquele período.

O operário foi o estopim do que viria a ser o grande comício pelas Diretas Já, realizado em 10 de abril de 1984, que só logrou êxito no ano seguinte com o fim da ditadura.

Já, durante a abertura democrática, Lula, junto com outros companheiros operários e intelectuais, fundaria o Partido dos Trabalhadores porque sua figura já não mais cabia somente dentro de uma estrutura sindical. Ele enxergou que os trabalhadores brasileiros só poderiam conquistar maiores direitos se marcassem presença na estrutura de poder.

Dali em diante, a figura de Lula já não cabia mais somente na atuação partidária. Ousou ser presidente. Porém, a atuação do PT no cenário político nacional não conseguiu garantir a eleição de Lula à presidência nas três vezes em que disputou porque ele era visto com muita desconfiança e preconceito por uma elite e por uma imprensa que preferiam ver o país no fundo do poço, como aconteceu após a eleição do letrado e bonito presidente Collor, do que ser governado para o povo mais pobre, sob a batuta de um ex-operário.

Em 2003, Lula, enfim, conseguiu se eleger e foi presidente por dois mandatos.

Por mais que os órgãos de imprensa tentem esconder dos mais novos e tentem negar, foi ele o único presidente que realmente reduziu a desigualdade social tirando o Brasil do mapa da fome. Isso, porque ousou desafiar o sistema até então excludente ao criar o Bolsa-Família.

As reações, vindas de todas as partes foram imediatas, mas com o tempo o programa foi sendo aceito e, quando Jair Bolsonaro, num lance puramente eleitoral, mudou o nome do Bolsa-Família para Auxílio Emergencial, não houve quem criticasse.

Lula governou por dois mandatos e não faltou na mídia quem o crucificasse por qualquer coisa que falasse. Se falasse “sim”, deveria falar “não” e vice-versa. Agora está, de maneira inédita, apesar de tudo, em seu terceiro mandato.

Com a idade ficamos mais resistentes a ídolos e tendemos a criticar aqueles que mais admirávamos no passado, afinal, falsos ídolos têm pés de barro.

Sabemos que Lula também tem suas falhas como todo ser humano, mas as qualidades as superam em muito.

Votei nele nos dois turnos das últimas eleições, ou seja, fiz o L. Mas confesso que esperava muito mais dificuldades do que as que Arthur Lira, o presidente da Câmara está criando para inviabilizar seu governo.

Se Lula venceu a fome ao se deslocar com a família num caminhão pau-de-arara para São Paulo, fez curso no Senai, foi metalúrgico, perdeu um dedo numa máquina, foi líder sindical, esteve preso durante a ditadura, disputou, sem êxito três eleições a presidente, se elegeu por duas vezes presidente, foi preso injustamente por um juiz que cometeu lawfare e se elegeu novamente para um terceiro mandato, tudo isso já seria muito mais que significativo para aplaudirmos de pé essa trajetória impressionantemente exitosa.

Mas Lula é Lula, o ousado. E que bom termos um presidente ousado para o bem, já que tivemos um ousado para o mal.

Para grande surpresa deste que escreve, Lula, qual borboleta, se liberta de seu casulo e alça voos maiores do que poderíamos imaginar. Ele já não cabe mais como líder de um país, somente. Ousa combater as desigualdades a nível mundial.

O presidente foi a Paris. Quando os grandes jornais, os comentaristas de sempre e mesmo a oposição esperavam que ele fosse fazer um discurso da mesmice (lembro que a jornalista Eliane Catanhede chegou a afirmar que Lula não tinha o que falar em Paris!), eis que o sapo barbudo, ou, como os amigos mais próximos dos tempos de São Bernardo ainda o chamam, o baiano, surpreendeu e criticou os países ricos.

Oh! Que afronta, apressaram-se em criticar os colunistas dos jornalões. Isso vai na contramão da diplomacia! O Brasil pagará um alto preço por isso!

Exatamente nesse momento me lembrei de um trecho de uma música de Chico Buarque: “você não gosta de mim, mas sua filha gosta.”

Os representantes dos países mais pobres adoraram a fala de Lula que criticou os ricos por não cumprirem o Protocolo de Quioto (os EUA sequer assinaram) e o Acordo de Paris. Todos perdem tempo e dinheiro preciosos comparecendo a convescotes para enganar o povo dizendo que estão adotando medidas para reverter as mudanças climáticas. Enquanto isso, o planeta caminha resoluto para um cenário catastrófico.

Lula, com muita sabedoria histórica, denunciou o anacronismo da ONU que, desde 1945 não se recicla e já não tem grande importância no cenário mundial. Alguém se lembra de quantas vezes uma votação da ONU que dava 191 votos a favor da suspensão do bloqueio econômico de Cuba, contra somente os votos dos EUA e Israel, foi desrespeitada?

Por quantas vezes os EUA, e agora a Rússia, invadiram países sem consultar a ONU? Para que ela serve, afinal?

Lula, um ancião de 77 anos discursou em praça pública em frente à Torre Eiffel para milhares de jovens ávidos a ouvi-lo e foi enormemente aplaudido.

Mas o que os grandes jornais noticiaram? Deram pequenas notas quando deveriam, se tivessem compromisso com a verdade e com o país, darem grandes manchetes, afinal, Lula recupera nossa imagem no cenário mundial, destruída por seu antecessor, conclama os países a se unirem para combater de fato as mudanças climáticas e denuncia que, se essas medidas não forem tomadas para ontem, os pobres é que pagarão o preço, já que os ricos têm como se salvaguardarem.

Lula está diferente, fisicamente. Mas como evoluiu nessas décadas!

Concluo aqui refletindo em como todo o resto dos políticos brasileiros e estrangeiros são pequenos diante da estatura do operário.

E como seu antecessor, de agora em diante, só pode ser visto através de um microscópio, tão pequeno que é.


sexta-feira, 23 de junho de 2023

Titan e o Anjo Exterminador

Por Fernando Castilho

Imagem: OceanGate/Agência Brasil


Forças titânicas implodiram Titan cujos restos agora jazem ao lado do Titanic.

Homens e mulheres ricos comparecem a uma mansão para um jantar de gala.

O jantar termina e a anfitriã convida a todos a permanecerem para o cafezinho.

Após o cafezinho, vem outro convite para outra coisa, já não lembro mais.

Como todos estão com sono, que tal dormirem ali mesmo?

Pela manhã, ficam para tomar o café.

O tempo passa e ninguém consegue ir embora, mesmo não havenso barreiras físicas.

Com o passar dos dias, já sem terem o que comer e baber, os instintos mais primitivos do ser humano vão sendo revelados e toda aquela pompa e classe desaparece.

Do que me lembro, essa é mais ou menos a história do filme O Anjo Exterminador do cineasta espanhol, Luis Buñuel.

E por que me lembrei desse filme?

A história mostra um grupo de ricaços fúteis que parecem entediados com a vida. Ricaços como os que contrataram um passeio de submersível pela bagatela de 250 mil dólares por pessoa para ficarem por horas sentados no chão, confinados em um pequeníssimo espaço para ver de perto os restos do transatlântico Titanic afundado em 1912 após colidir com um iceberg.

Curiosamente, entre os que conseguiram se salvar daquele naufrágio, estão os ricos porque para os mais pobres e para a tripulação não havia botes salva-vidas.

Além do espaço reduzido, o veículo, segundo as informações que nos chegaram pela imprensa, parecia um protótipo onde não faltava improviso. Será que a aventura e o desejo de um maior sentido às suas vidas foram maiores do que a prudência? Na hora de fecharem grandes negócios ou de negociarem ações, eram também imprudentes?

Lembrei também de um ex-cunhado que, acreditando ter se tornado um novo rico, não conseguia ficar mais que três meses com um carro porque nenhum mais conseguia satisfazê-lo. Era preciso trocar sempre por um mais caro. Acabou sobrando como último objeto de desejo uma Lamborghini que só não foi comprada porque sua empresa começou a ir mal das pernas. Seria um ótimo candidato ao turismo submarino.

Enquanto a imprensa não parava de noticiar que o submersível havia perdido contato, uma quase operação de guerra foi mobilizada na procura.

Poucos dias antes, refugiados saíram de seus países em uma traineira de pesca lotada com cerca de 750 ocupantes, crianças e mulheres em sua maioria que naufragou. Acredita-se que mais de 300 cidadãos paquistaneses morreram, embora houvesse também cidadãos sírios, egípcios e palestinos. Os números são imprecisos, mas dão conta de que cerca de 500 pessoas ainda estavam desaparecidas.

Os noticiários não deram muita atenção a esse fato e nenhuma operação de resgate foi mobilizada, talvez porque gente refugiada e muito pobre não tem a mesma importância para o mundo que cinco bilionários.

Como no filme, os ricos, após esgotadas as buscas, não conseguiram sair e o que pode ter sobrado de seus corpos jazem próximos aos dos pobres do Titanic.


segunda-feira, 19 de junho de 2023

Lula, o sortudo

Por Fernando Castilho

Imagem: captura de tela Central GloboNews/Rede Globo

Eliane Cantanhede concluiu com uma gargalhada: como esse homem é sortudo!!!

É sorte, minha gente! Claro que tem o arcabouço, tem várias medidas, etc. e tal, mas Lula tem muita sorte, disparou a jornalista Mônica Waldvogel no programa Central Globonews.

Eliane Cantanhede concluiu com uma gargalhada: gente, como esse homem é sortudo!!!

Reunidos no estúdio, além das jornalistas, estavam Otávio Guedes, Waldo Cruz e Merval Pereira. Este, por incrível que pareça, disse que, em seu terceiro mandato, não há como creditar o sucesso do governo Lula à sorte, apenas.

Interessante que, caso a economia estivesse à beira de um abismo, Lula não seria chamado de azarado, mas seria apontado como o único responsável pelo insucesso.

A cena parecia uma reunião de pauta em que jornalistas, inconformados pelas boas notícias econômicas e, pressionados pela direção da Rede Globo, procuravam uma forma de minimizar os créditos à competência do presidente, justamente aquele que, em campanha, prometeu colocar o pobre no orçamento e melhorar a vida dos brasileiros e, com apenas 5 meses e meio de governo, apesar do fator Lira e do centrão, já colhe os merecidos frutos. Só pode ser sorte!

Imagem: captura de tela Central Globo News

Normalmente essas reuniões são fechadas ao público, mas desta vez o brasileiro teve a oportunidade de assistir ao vivo como as pautas da grande mídia são compostas.

Para essa grande mídia, Lula só teve importância no finalzinho da campanha eleitoral, já que nenhum candidato da terceira via foi capaz de enfrentar Bolsonaro, aquele que ela sabia por certo ser uma ameaça à sua própria sobrevivência, uma vez que, reeleito, incapaz de fazer um governo minimamente sério e competente como demonstrou ao longo de intermináveis 4 anos, teria, obrigatoriamente para se manter no poder, que calar a opinião pública censurando jornais, prendendo opositores e obrigando muita gente a se exilar no exterior. Havia até um plano, descoberto nos celulares dos ajudantes de ordens do capitão, de sequestrar o ministro do STF, Alexandre de Moraes e assassinar Lula.

Uma vez concluída a etapa eleitoral, o presidente eleito teria apenas poucas semanas de trégua que acabaram se estendendo um pouco mais devido ao golpe de 8 de janeiro, abafado rapidamente e à agilíssima ajuda ao povo Yanomami.

Mas acabou a trégua. Parece que a mídia agora não deseja a volta de Bolsonaro, mas precisa que a extrema-direita se reorganize, seja através do governador blindado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, possível candidato em 2026, ou do presidente da Câmara, Arthur Lira.

Como, apesar de todas as dificuldades, Lula logra êxito em seu primeiro semestre de governo, é preciso encontrar formas de atacá-lo ou, quando isso não for possível, atribuir seu sucesso à sorte ou lançar mão de outro recurso comum, o de omitir informações favoráveis ao presidente.

Esse é o caso da matéria levada ao ar no último dia 17 pelo Jornal Nacional.

Ao comparar a aprovação dos presidentes desde Itamar Franco durante os primeiros 5 meses de seus respectivos governos, o jornal mostrou em um gráfico os índices do primeiro governo Lula, mas omitiu os de seu segundo mandato, justamente o mais exitoso que lhe conferiu incríveis 87% de aprovação ao final 2010.

Imagem: captura de tela Central Globo News/Rede Globo

É essa grande mídia que o governo Lula tem como difícil missão contrapor através da Secretaria de Comunicação comandada por Paulo Pimenta.

O ministro não pode se omitir diante dessa manipulação flagrante de dados e precisa rapidamente exigir que o gráfico seja corrigido e exibido novamente no mesmo jornal.

No dia 18, na GloboNews, o jornalista Jorge Pontual em tom irônico, “pensando” se tratar de casas do Programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, criticou as casas de 15 m² que estão sendo construídas pela prefeitura de Campinas. Em seguida, Eliane Catanhede interrompeu Pontual dizendo que tinha acabado de receber uma ligação de Lula que pedia que a matéria fosse corrigida. Ficou muito chato para a emissora.

É imperioso que Lula tenha permanentemente alguém destacado para acompanhar os noticiários, pronto a contrapor a toda e qualquer informação inverídica que seja veiculada, o que pode até ser bem útil nestes tempos em que não há disposição por parte dos veículos de imprensa em divulgar notícias positivas dos feitos do governo.

Esse enfrentamento vai durar os 4 anos de Lula, porém, os bombardeios aumentarão muito nos meses que antecederão as eleições municipais e 2024 e as presidenciais de 2026.

Esperamos que até lá muitos dos estragos cometidos pelo governo anterior já estejam consertados, que a economia esteja deslanchando com empregos e queda da taxa de juros e que o país já tenha saído do mapa da fome da ONU.

Nesse novo ambiente sócio-político-econômico, ficará muito difícil para essa grande mídia continuar a divulgar fake news, manipular e esconder notícias boas.


terça-feira, 13 de junho de 2023

O que aprendemos após 10 anos das jornadas de junho de 2013?

Por Fernando Castilho

Créditos da imagem: https://midiainformal.files.wordpress.com/


O ódio, alimentado por anos a fio, desde 2013, foi num crescendo até o processo vergonhoso de impeachment da presidenta em 2016, culminando com a prisão de Lula em abril de 2018 e a eleição de Bolsonaro.


Um movimento contrário ao aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus na cidade de São Paulo deu início às chamadas jornadas de junho de 2013. Começou aos poucos e foi crescendo até se espalhar por todo o Brasil. Qual camaleão, ia assumindo nova identidade e novos propósitos.

Enquanto o Movimento Passe Livre, essencialmente de origem proletária, reivindicava aquilo que lhe parecia justo na época, meu coração e minha mente naturalmente a ele se juntaram, sabedores das agruras com que as pessoas pobres deste país tão desigual, que necessitam de transporte público para trabalhar ou estudar, enfrentam todos os dias. Mas, também aos poucos, fui percebendo com estranheza que, no espaço de alguns poucos dias, a grande mídia, compreendendo os grandes jornais e revistas impressos e as redes de televisão e rádio, que no início apressaram-se em criticar e condenar o movimento, através de colunistas e editoriais, começaram a mudar de opinião acrescentando-lhe uma conotação mais política e ampliando o foco que antes era localizado, para todo o país. Surgiu a figura do gigante adormecido que acordou indignado, ao mesmo tempo simbologia e senha que tomou as redes sociais de maneira avassaladora, como a querer nos mostrar que estávamos errados em conferir aprovação de quase 60% ao governo Dilma Rousseff somente um mês antes, segundo pesquisa Datafolha.

A conclamação, muitas vezes vinda da Rede Globo que divulgava dias e horários das manifestações, a protestar contra o governo era difusa e artificial, pois nos ordenava a, como zumbis, sair às ruas com pautas confusas e genéricas como maior liberdade, fim da corrupção, reforma política, etc.

No governo Dilma a liberdade nunca deixou de existir porque é o cerne da democracia e, como sabemos, a ex-presidente é democrata. Nenhuma manifestação foi reprimida por ela. É justo exigir o fim da corrupção, mas Dilma nunca foi corrupta, como as intensas investigações, a imprensa e o tempo comprovaram.

A Polícia Federal e o Ministério Público sempre tiveram por parte de Dilma a autonomia necessária para investigar quem quer que fosse, inclusive o então ex-presidente Lula.

A reforma política estava no Congresso, o responsável por aprovar as leis.

Mas então, o que queriam?

Dilma chegou a se pronunciar em rede nacional de televisão se mostrando favorável às reivindicações e se colocando ao lado dos que protestavam, mas, mesmo assim, as panelas bateram ruidosas.

Nas ruas, enquanto pessoas vestidas com camisas da seleção brasileira desfilavam seu ódio contra tudo que estava aí, os black blocs vandalizam vitrines e equipamentos públicos. Hoje temos fortes indícios de que eles, na verdade, eram agentes do exército chamados de kids pretos. A reportagem da revista Piauí mostra claramente os métodos dessa força especial.

O ódio, alimentado por anos a fio, desde 2013, foi num crescendo até o processo vergonhoso de impeachment da presidenta em 2016, culminando com a prisão de Lula em abril de 2018 e a eleição de Bolsonaro no mesmo ano em meio ao ressurgimento do fascismo no Brasil.

É muito fácil, a quem se dispõe a estudar e a refletir sobre todo esse período histórico, que tudo não passou de um projeto idealizado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos para afastar a esquerda do poder, abrindo caminho para a tomada do pré-sal, através do fim dos êxitos dos governos 378 progressistas desde 2003 e o restabelecimento do neoliberalismo que propicia mais lucros às empresas norte-americanas e protege o império.

Com Dilma morta e enterrada na visão de nossa elite, a Justiça teria, enfim, a oportunidade de aparecer perante a opinião pública como a impoluta e incorruptível guardiã dos direitos fundamentais dos cidadãos, “corrigindo” (antes diria, remendando) a decisão do Congresso, porém, sem reconduzi-la ao cargo, como de direito. Essa mesma justiça que se tornou justiceira com a criação da Operação Lava-Jato cujos “heróis” eram o então juiz Sergio Moro e seu cúmplice, Deltan Dallagnol.

O ministro do STF, Luís Roberto Barroso, há cerca de um ano atrás, já tinha reconhecido que a queda da presidenta não se deu por crime de responsabilidade, mas sim por incapacidade política de aglutinar forças em torno dela. Ele sabia disso desde 2016, o ano do golpe, mas só em fevereiro de 2022, resolveu sair de sua toca para manifestar sua opinião.

Felizmente, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) extinguiu o processo contra ela. “A 7ª Turma Especializada decidiu, por unanimidade, dar provimento ao recurso de apelação de Dilma Vana Rousseff, reformando integralmente a sentença atacada para extinguir o feito sem resolução do mérito”, diz o texto da decisão que demonstra de maneira inequívoca que a ex-presidente foi vítima de um golpe legislativo com total apoio da grande mídia.

A presidenta Nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada federal Gleisi Hoffmann, manifestou-se pelo twitter desta forma: “O TRF-2 extinguiu ação contra Dilma sobre 379 pedaladas fiscais. Não foi provado que houve danos ao erário. A farsa desmontada mostra que a presidenta honesta foi golpeada de forma misógina e midiática, transformando o país no caos que está aí, de autoritarismo, mentiras e destruição”.

Infelizmente a mídia não deu tanto destaque a isso e nem poderia, artífice que foi desse processo.

Uma grande injustiça foi cometida abrindo caminho para a destruição parcial do estado brasileiro e de seu processo civilizatório. Em parte, ela foi consertada, mas só vamos saber a real extensão disso, nos livros de História dos próximos anos ou das próximas décadas. De qualquer forma, uma reputação foi comprometida, mas grande parte da população brasileira já tem noção do que foi cometido contra Dilma.

Dilma tem, enfim, ao presidir o banco dos Brics, a grande oportunidade de demonstrar àqueles que a atacaram sua grande competência.


(Texto também publicado no Jornal GGN) 

Dez anos das jornadas de junho de 2013. O que aprendemos? (jornalggn.com.br)


quinta-feira, 8 de junho de 2023

Juracélio, o pobre de direita

Por Fernando Castilho

Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil


Ficou surpreso ao passar a receber nos finais do ano visita de vários parentes que não via há anos, vindos do Nordeste, de avião. Veio até a vovozinha com quase 90 anos. Esse povo tá ficando abusado!

 

Juracélio, vindo família de migrantes nordestinos, ingressou cedo no Bradesco como contínuo.

Inspirado em seu fundador, pretendia seguir o exemplo de meritocracia dado por Amador Aguiar que, de simples contínuo como ele, chegou a ser banqueiro.

Jerecélio não sabia, em seus 16 anos, que Aguiar havia aplicado um desfalque no banco em que trabalhara e, com o dinheiro, fundado seu próprio banco. Quando lhe contaram, deu de ombros e não acreditou.

Quando eclodiu em 1985 a maior greve dos bancários, Jerucélio a furou e se apresentou orgulhoso ao trabalho, certo de que vestindo a camisa, sua almejada promoção seria alcançada. Não veio.

Jarecélio furou não só essa, mas todas as greves subsequêntes, pois isso era coisa de comunista vagabundo. Vão trabalhar que seu suor será recompensado, bradava.

Mas Jaracélio nunca recusou os aumentos de salário conquistados pelos grevistas. Pelo contrário, sua vida com isso melhorou e logo ele pôde comprar seu primeiro carrinho.

Veio a campanha à presidência de Collor e Juricélio foi um dos primeiros a se definir a favor do moço bonito, caçador de marajás que, claro, era infinitamente superior àquele sapo barbudo de meia furada e analfabeto chamado Lula. Fez até boca de urna.

Jucerélio tinha uma boa graninha depositada na caderneta de poupança do próprio banco. Perdeu. Tendo sua economia confiscada por Collor, seguiu firme e, mesmo depois que soube que a diretoria do banco, avisada pelo presidente antes dos correntistas, tratou de salvar o dela, continuou a defender o patrão.

O tempo passou e veio Fernando Henrique.

Jecerélio se sentiu em sua zona de conforto, afinal o ''príncipe'' estava seguindo o conselho do capital e, numa fúria louca, vinha privatizando tudo quanto era estatal.

Então os bancos alegaram dificuldades financeiras.

Ôpa! Para Jecerílio isso era mortal. Se o patrão estava em dificuldades, teria que ser auxiliado, pois disso dependia seu emprego.

Jacecélio respirou aliviado e soltou até fogos para comemorar o socorro que FHC deu aos bancos com recursos do BNDES.

Mas veio a era Lula, o que Jucecélio mais temia.

O Brasil iria para o fundo do poço guiado por um analfabeto e, como ele, veja só, nordestino! Quanta audácia! Tudo que conquistara seria perdido. Esse governo não podia dar certo.

E não deu. Para ele.

Embora nesse período a vida de Jaricélio tivesse melhorado bastante, afinal ele conseguira comprar sua casinha e o segundo carro financiado, nunca admitiu que seriam as políticas de governo acertadas que lhe propiciaram essas conquistas. Tudo teria sido somente fruto unicamente de seu esforço, enfim recompensado.

Em seguida, Dilma foi eleita e Jurecélio enfim foi promovido a gerente de agência.

Ficou surpreso ao passar a receber nos finais do ano visita de vários parentes que não via há anos, vindos do Nordeste, de avião. Veio até a vovozinha com quase 90 anos. Esse povo tá ficando abusado, pensou.

Jucerélio se aposentou como gerente.

Não conseguiu, apesar de seu esforço, nada além disso. Não conseguiu ser diretor ou banqueiro como Amador Aguiar, seu ídolo.

Recebeu, à saída, um cartão de agradecimento padrão com assinatura impressa de um diretor de RH do banco, que nunca vira. Mas tava bom. Fora reconhecido. Bastava.

Sentiu-se realizado.

Com muito sacrifício, segundo ele, formou um filho pelo PROUNI e teve a mais velha no Ciências sem Fronteiras. Muito orgulhoso.

Enfim, Jurecélio, sem ter muito o que fazer na vida, resolveu fazer política.

Passou a comparecer à todas as manifestações a favor do impeachment de Dilma e da volta da ditadura militar. Ele achava que o melhor período do Brasil foi sob a ditadura, embora ainda fosse uma criança quando se deu o golpe.

Foi um dos batedores de panela. Quando Dilma foi derrubada, fez um churrasco quase solitário.

Em 2018 fez arminha com as mãos e votou orgulhoso em Bolsonaro.

Quando começou a pandemia, acreditando que a Covid-19 não passava de uma gripezinha, como Bolsonaro a chamou em rede de televisão, Jiracélio não usou máscaras e contraiu a doença. Ficou entubado por dois meses, conseguiu se recuperar, porém, não dispensou a cloroquina, seguindo a orientação do presidente. Sua esposa não teve melhor sorte, vindo a falecer no hospital.

A vida de Jiracélio degringolou.

O capitão bem que tentava melhorar a vida dos brasileiros, mas o maldito STF e a esquerda não o deixavam governar. Só restava ao presidente aliviar o estresse praticando jet-ski e participando de motociatas. As eleições serão fraudadas para Bolsonaro não vender, pensava.

Logo após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, Jaçurélio aproveitando um ônibus fretado por um político bolsonarista, viajou para Brasília e ficou dois meses acampado em frente ao quartel, tomando chuva e enfrentando com valentia os fedorentos banheiros químicos colocados à disposição dos acampados por um empresário do agronegócio. Afinal, valia qualquer coisa para ajudar Bolsonaro a voltar ao poder.

Apesar das privações, valia a pena aguardar, pois o general Braga Netto havia pedido para terem paciência, pois nos próximos dias teriam boas notícias.

No dia 7 de janeiro de 2023, Jaracélio recebeu com euforia e alívio a convocação para comparecer no dia seguinte à Praça dos Três Poderes. Lá, a República seria, com apoio do exército, derrubada. O Congresso e o STF seriam fechados e uma nova ordem seria determinada por Bolsonaro que, mesmo fora do país comandaria as ações. O capitão não abandonaria os seus!

Jiricélio, porém, não contava com a rápida ação do novo governo.

Acabou, aos 70 anos, preso e virou réu no STF.

Caberá a seu filho, formado advogado graças ao PROUNI, defendê-lo.

Há milhões de Jorocélios no Brasil.


quarta-feira, 7 de junho de 2023

As providências hipócritas de Damares Alves sobre as gravíssimas denúncias da ex-esposa de Arthur Lira

Por Fernando Castilho

Arthur Lira, Jullyene Lins e parte do dinheiro apreendido pela PF com os aliados do presidente da Câmara.Créditos: Agência Câmara / PF / Instagram

Damares, teria sugerido que Jullyene mudasse de nome e se transferisse para alguma cidade do extremo norte do país para escapar às ameaças.


Jullyene Lins, a ex-esposa do presidente da Câmara, Arthur Lira, deu entrevista ao ICL Notícias relatando que há 16 anos sofria com agressões físicas e psicológicas por denunciar malas de dinheiro que chegavam à sua casa e depois da divisão, envelopes eram entregues a correligionários por todo o estado de Alagoas, mas a polícia e a justiça nunca a levaram à sério. O Brasil 247 e Forum também trataram do caso.

Como há 16 anos sofre, segundo ela, constantes ameaças de Lira, Jullyene precisa trocar constantemente de endereço.

Decidiu, ainda no governo Bolsonaro, procurar a ex-ministra Damares Alves à guisa de auxílio para resolver seu problema.

Damares, através de um intermediário, teria sugerido que ela mudasse de nome com nova identidade e se transferisse para alguma cidade do extremo norte do país para escapar às ameaças.

Jullyene não seguiu o conselho, pois sabia que Lira a encontraria onde quer que ela estivesse. E é claro, com identidade trocada, ficaria mais difícil relacionar o ex-marido com um possível assassinato dela.

Os jornalistas do ICL se esqueceram de comentar a atitude de Damares.

Naquela época Arthur Lira, já presidente da Câmara em seu primeiro mandato, se sentava sobre mais de 140 pedidos de impeachment de Bolsonaro e usou esse fato como pressão para que o capitão terceirizasse a administração do orçamento da União para ele. Foi aí que surgiu a figura do orçamento secreto.

Damares Alves, que se diz cristã, em vez de tomar providências para que Lira fosse investigado com seriedade devido às graves denúncias de Jullyene, preferiu criminalizar a vítima, impondo-lhe uma vida secreta, praticamente afastada da sociedade e de seus familiares, como uma punição a ela, pelo simples medo de desagradar o Bolsonaro, então empenhado e dar tudo ao centrão para evitar algum processo de impeachment.

O caso Jullyene joga mais luz ainda sobre como a República funcionava sob a dupla Bolsonaro-Lira.

Esperamos que, agora que o relato de Jullyene foi ouvido na mídia independente, que possa furar a bolha e também ser divulgado pela grande mídia e, enfim, ser investigado pelo Ministério Público, embora ainda seja muito grande o poder de Arthur Lira em nosso judiciário, como ficou provado na decisão da 1ª turma do STF que o inocentou de crime de corrupção, apesar das provas apresentadas.

Jullyene, que pensa em sair do país, precisa ter sua segurança garantida com sua identidade verdadeira e seu domicílio.


segunda-feira, 5 de junho de 2023

Que Brasil teríamos hoje se não existissem Moro e Tony Garcia?

Por Fernando Castilho

Foto: Tony Garcia e Sergio Moro - Twitter/Lula Marques

Talvez Bolsonaro ainda estivesse na Câmara praticando suas rachadinhas, tivéssemos uma extrema-direita ainda contida, um povo sem fome e um país perfilado entre as maiores economias do mundo.


O empresário e ex-deputado estadual, Tony Garcia, deu uma entrevista à TV 247 em que desnudou por completo a operação Lava Jato, o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores da Força-Tarefa de Curitiba.

Se considerarmos que falou a verdade – e ele afirma que tem provas sobre isso – chegamos ao fundo poço de nosso sistema judiciário subterrâneo onde não faltam orgias envolvendo desembargadores em hotéis de luxo em que a cumplicidade é que decide os rumos das grandes questões legais no país.

Tony Garcia disse que uma festa da cueca, como ele mesmo chama a orgia entre magistrados, teria sido filmada e utilizada durante muitos anos como instrumento de chantagem por Sergio Moro.

Quando estamos vivendo o presente, temos pela frente inúmeros caminhos que nos conduzirão a um dos possíveis futuros que teremos pela frente. Um caminho errado comprometerá nossa vida nos anos vindouros. Um caminho correto poderá nos proporcionar a tão desejada felicidade.

É interessante refletir sobre como isso, entre incontáveis cenários possíveis à época das manipulações de Moro, pode ter conduzido o Brasil ao estado em que se encontrava até o final de 2022.

Tony Garcia, na entrevista, chegou a pedir desculpas à Dilma Rousseff por ter sido ele um dos responsáveis pelo golpe que a derrubou, o que determinou uma nova linha do tempo que desembocou na eleição de Bolsonaro, na ascensão da extrema-direita, na quase destruição do país e no golpe desferido em 8 de janeiro, contido habilmente por Lula.

Na verdade, a coisa começou bem mais atrás, há cerca de 20 anos! Com um juiz que já tinha delineado em sua mente um projeto de poder a longo prazo.

Mais tarde, a ele se agregou o Ministério Público na figura dos procuradores da Lava-Jato, entre eles, Deltan Dallagnol.

A dupla Moro-Deltan foi aos poucos construindo com grande atrevimento o caminho que os conduziria ao poder. Moro tinha duas possíveis ambições: se eleger presidente do Brasil ou, como plano B, ser indicado a ministro do Supremo Tribunal Federal. Dallagnol queria dinheiro, muito dinheiro.

Para isso, foi preciso montar todo um esquema de prisões preventivas irregulares, delações premiadas, extorsões e chantagens para chegar ao momento-chave, a condenação e prisão de Lula, então favorito na eleição de 2018.

A condenação foi decretada, mesmo que sem provas e ratificada em tempo recorde pelos ministros do TRF-4. A se confirmarem as alegações de Tony Garcia, esses magistrados teriam sido chantageados por Moro para que seu objetivo fosse alcançado.

O resto já sabemos: Lula foi preso e afastado da corrida presidencial, Bolsonaro foi eleito e, pasmem, Sergio Moro foi alçado a ministro da Justiça e Segurança Pública, o que lhe abriria as portas para a possível sucessão de Bolsonaro ou uma indicação ao STF.

Como sabemos, o ex-presidente tinha o hábito de afastar qualquer um que pudesse ser uma ameaça a seu projeto de continuar no poder. Foi assim com João Doria, Henrique Mandetta e outros.

Moro percebeu que jamais seria indicado como sucessor do capitão, mesmo que esperasse 8 anos para isso. Melhor encurtar o caminho, deixando o governo e começando a trabalhar pela sua candidatura. Além disso, Bolsonaro já havia dado provas de que não o indicaria ao STF.

O ex-juiz, assim como Deltan Dallagnol, é mitômano. Os dois acreditam ser muito mais do que são. Agora mesmo, Deltan, imaginando que tem grande apoio da população, não conseguiu reunir mais que 100 pessoas num ato em São Paulo contra sua cassação como deputado federal.

Moro confiava firmemente que, lançando-se candidato a presidência, diante da incompetência de Bolsonaro à frente do executivo, se elegeria facilmente. Não deu.

O prêmio de consolação seria um cargo no Senado por São Paulo. Também não deu. Teve que se contentar com o Paraná mesmo.

Agora, diante das acusações de Tony Garcia, poderá ser preso. Fim de carreira e de suas ambições políticas.

Hoje, voltando atrás no tempo, imaginamos como seria nosso presente caso Moro e Tony não existissem e caso Dilma não tivesse sofrido um golpe.

Bolsonaro ainda estaria na Câmara faturando com suas rachadinhas, teríamos uma extrema-direita ainda contida, um povo sem fome e um país perfilado entre as maiores economias do mundo. Era essa nossa vocação! Talvez Lula nem precisasse disputar a presidência se elegendo pela terceira vez, preferindo curtir sua aposentadoria.

Talvez fossemos mais felizes hoje.

Ou não. Quem sabe?