Charge por Pataxó http://pataxocartoons.blogspot.jp/
Imaginar um futuro alternativo àquele que já aconteceu é um exercício complexo e inútil, mas acho que dá para imaginar o que teriam sido os governos Lula sem a conciliação de classes proposta na Carta aos Brasileiros
O
jornalista Luiz
Carlos Azenha
publicou artigo em seu site Viomundo onde afirma que o erro de Lula
foi ter acreditado na conciliação de classes. Será?
A
única forma de saber se a afirmação está correta é analisá-la
do ponto de vista do materialismo histórico, ou seja, Marx.
Marx
dizia que há duas classes, a saber, a burguesia e o proletariado.
A
burguesia é a classe bem pouco numerosa que detém os meios de
produção e o proletariado é a classe bem mais numerosa que detém
a força de trabalho.
Enquanto
a burguesia deseja o lucro e luta por ele, o proletariado deseja
salário e também luta por ele. Daí a luta de classes, ok?
Mas
Lula, ao publicar a famosa Carta aos Brasileiros no início de seu
governo, celebrou um pacto com a burguesia, os grandes empresários
do país que estavam com medo de sua eleição.
Com
este pacto ficou claro que Lula evitaria a luta de classes e não
permitiria a revolução prevista por Marx.
Ou
seja, Lula passou a ser um amortecedor muito útil à burguesia.
Neste sentido, os governos Lula e mesmo o de Dilma, apesar de muitos
avanços sociais, foram burgueses.
É
a chamada conciliação de classes que permitiu a Lula, além de
melhorar muito a vida dos pobres, criar condições para que os
detentores dos meios de produção enriquecessem ainda mais.
Perfeito,
não? Todo mundo ganhou.
Se não houvesse essa conciliação, será que 30 milhões de pessoas teriam saído da linha pobreza?
Será que haveria, Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos e outros programas exitosos?
Mas
então, se foi bom pra todo mundo, como explicar esta sanha em
prender Lula usando para este fim até mesmo um ridículo barco de 4
mil reais adquirido com nota fiscal? Por que não o querem de volta,
afinal?
Parece-me
simples. Vou tentar explicar.
A
oposição, que pela ótica de Marx não poderia ser chamada de
burguesia pois não detém meios de produção, sendo entidade
somente política, está toda na lista das operações Lava Jato,
Zelotes e HSBC.
A
mídia só noticia a Lava Jato pois lá estão alguns nomes do PT,
além de empreiteiros, estes sim, burgueses.
Mas
é na Zelotes e HSBC que estão os peixes grandes.
Dilma
desde a campanha eleitoral avisava que não restaria pedra sobre
pedra.
Esperava-se
que ela interferisse na Polícia Federal e na Procuradoria Geral da
República, mas, fiel às ideias que defende, manteve a autonomia dos
órgãos.
Era
urgente então derrubá-la, mas isto também se mostrou muito difícil
pela sua imagem honesta reconhecida até por gente da oposição.
Lula
então apareceu como possível candidato em 2018.
O
PSDB, teoricamente o partido com mais chances de enfrentá-lo, olhou
para seu próprio umbigo e não gostou do que viu: Aécio, que tem
farto material contra si a ser utilizado durante a campanha; Serra,
velho postulante a qualquer coisa e destacado representante dos
interesses da Chevron americana com relação ao pré-sal; Alckmin
que vem acumulando desastres em seu governo de São Paulo, como a
gestão hídrica, a paralisação e os escândalos do Metrô, a
matança de jovens da periferia e a truculência da PM contra simples
estudantes que lutam contra o fechamento de suas escolas. Aparece
agora também o crime hediondo, na minha opinião, de desvios de
recursos das merendas escolares.
Ou
seja, Lula nadaria de costas, venceria e seria sério candidato à
reeleição em 2022. Brrrrrr!
Os
tucanos querem voltar ao poder não só para jogar uma pá de cal
sobre as operações da PF, mas também para revitalizar seus velhos
esquemas que já sofrem jejum de 13 anos.
Mas
então, por que a mídia está tão empenhada em prender Lula ou
destruir sua reputação?
Ora,
já expliquei antes neste blog.
A
mídia, toda ela, está financeiramente acabada. Precisa de socorro.
Já
há um acordão com o PSDB há muitos anos, desde o primeiro governo
Lula, que prevê, em troca de içar a oposição de volta ao poder,
receber generosa ajuda do BNDES.
Então,
não considero erro de Lula acreditar numa conciliação de classes.
Era o que tinha naquela época. Ou emergia como um ser da esquerda
conciliador ou sua cabeça seria cortada rapidamente.
Agora,
se a oposição e a mídia, para chegar ao poder apostam em seu
projeto atual inconsequente de prender Lula sem que haja crime
cometido por ele, esperando que todo mundo aceite sem problemas a
injustiça, ignoram a possibilidade de convulsão social que pode
levar o país a uma crise econômica, política e institucional
profunda, terrivelmente ruim, não só para o povo, como também para
eles.