Por Fernando Castilho
“A gente só tá começando.”
“A gente precisa ter paciência. Já ocupamos os conselhos tutelares e as CPIs.”
Nikolas Ferreira, a nova voz da ultradireita.
Quando setores da esquerda começaram a ridicularizar o deputado Nikolas Ferreira, principalmente depois que ele protagonizou o espetáculo criminoso de ocupar a tribuna da Câmara dos Deputados vestindo uma peruca para expor sua transfobia, alguma coisa me incomodou. O parlamentar já era apelidado de chupetinha e outros adjetivos pejorativos, principalmente após falas que taxávamos como engraçadas. Bolsonaro sempre fez o mesmo e acabou chegando à presidência da República.
Escrevo
este texto movido pelo discurso de Nikolas no dia da votação do relatório da
CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro. O deputado iniciou fazendo várias
ironias contra a relatora Eliziane Gama para desqualificá-la e a seu relatório
revelando sua essência puramente fascista. Mas alguns trechos do discurso
merecem aguda atenção por parte das forças progressistas do país e não devem
ser desprezados.
“Não
considero os que pensam diferente como adversários, mas sim como inimigos.”
Uma
das principais características do fascismo é justamente a intolerância com quem
pensa diferente e a anulação do outro. Da parte dele, que pode ser o único
parlamentar genuinamente bolsonarista a admitir isso sinceramente, não há
debate de ideias, mas sim, uma guerra com inimigos a serem aniquilados.
Nikolas
Ferreira afirmou com muita segurança que Jair Bolsonaro volta em 2026. Essa
fala pode ser encarada como blefe, mas, com nossa justiça que às vezes é
capenga, ela não deve ser desprezada. Ainda mais com a presidência do TSE sendo
entregue em breve ao ministro Raul Araújo, bolsonarista de carteirinha.
Espera-se dele uma anulação da sentença que tornou Bolsonaro inelegível por
oito anos?
“O
desespero da esquerda é que só tem dez meses que estamos no Congresso.”
Sim,
com tão pouco tempo, apesar de terem dado um tiro no pé com a instalação da
CPMI, já fizeram muito barulho e tentam o tempo todo inviabilizar o governo
Lula, convocando ministros o tempo todo para darem explicações.
“A
gente só tá começando.”
Realmente.
E já se organizam como um bloco sólido.
“A
gente pode andar livremente pelas ruas.”
Óbvio.
Excetuando um outro que pode admoestá-lo, a esquerda não usa os mesmos métodos
de intimidação e ameaças, a que, por exemplo, a senadora Eliziane Gama tem sido
exposta.
“A
gente precisa ter paciência. Já ocupamos os conselhos tutelares e as CPIs.”
A
esquerda dormiu no ponto e deixou a extrema-direita tomar conta dos conselhos.
Ela também propôs a CPI do MST que ficou perto de condenar o movimento.
“O
presente é seu (da esquerda), mas o futuro é nosso.”
Pode
servir de alerta para que se organizem os movimentos populares e se fortaleçam
a comunicação do governo, até porque a extrema-direita, apesar de só
compartilhar mentiras, tem dado de dez a zero nas redes sociais.
Enfim,
é difícil admitir, mas Nikolas Ferreira fez um discurso articulado e digno de
alguém que pretende ocupar um espaço muito maior do que ocupa agora.
Além
disso, é preciso lembrar que ele possui milhões de seguidores nas redes
sociais, principalmente jovens, e aspira à Prefeitura de Belo Horizonte, de
onde poderá sair, teoricamente, como governador de Minas Gerais ou presidente
do Brasil.
É
preciso rir menos dele e tratá-lo com um adversário perigosíssimo para um
futuro próximo.
Olho
nele, portanto.