quarta-feira, 29 de março de 2023

Não era uma arminha de dedo... Réquiem para a professora Elisabete Tenreiro

Por Fernando Castilho

Foto: ArquivoPessoal/Reprodução/GoogleStreetView

O governo Bolsonaro, que muitos chamam de “governo da morte”, em que até havia um gabinete paralelo intitulado “gabinete do ódio”, responsável por disseminar o ódio e a violência na sociedade, atingiu atingiu crianças e jovens em cheio.


Era uma tarde ensolarada de domingo em Santos, onde vivo. Perto do segundo turno das eleições de 2018.

Caminhando pela avenida da orla, de repente ouvimos, minha esposa e eu, um buzinaço que se tornou ensurdecedor à medida em que uma grande fila de carros e caminhões com faixas Bolsonaro 17 e Bolsodória 45, começou a avançar ostensivamente.

Tudo normal, pensei eu, afinal, faz parte da democracia.

Porém, o inédito nessa carreata eram as crianças nos bancos de trás, numa espécie de frenesi, fazendo arminha com os dedos para os transeuntes, enquanto seus pais buzinavam meio que enlouquecidos. Horripilante!

Para nós, que já participamos de inúmeras campanhas eleitorais, o normal seria o gesto de fazer um coração com as mãos para conquistar mais eleitores, mas os tempos mudaram.

Lembro que comentei com minha esposa: “isso não vai dar boa coisa”. Não deu.

Tecnicamente não é possível atribuir aos 4 anos de governo bolsonarista a tragédia ocorrida na Escola Estadual Thomázia Montoro, afinal, violência contra professores por parte de alunos é um fenômeno que já existia antes de Bolsonaro, mas, cá entre nós, vem aumentando muito nos últimos tempos.

É praticamente inédito que um menino de apenas 13 anos, da 8ª série do fundamental II, que a imprensa insiste em chamar de adolescente, tenha planejado e anunciado em rede social um assassinato com faca e tentado matar outros professores e alunos, além da professora Elisabete Tenreiro de 71 anos, que teve parada cardíaca e faleceu.

O menino participava de conversas com outros de sua idade através de um grupo no twitter, em que exaltavam as façanhas de outros que lograram matar e até se suicidaram logo após. Ele havia anunciado que iria no dia seguinte à escola para matar e se lamentava por não ter conseguido uma arma de fogo para a “missão”.

Não vejo como o twitter, com seus poderosos algoritmos, não consiga detectar conversas como essas e eliminá-las da rede. Consegue, mas não quer.

O professor da rede pública estadual e editor do canal Tiago na Área, Tiago Luz, lembrou muito bem em vídeo que soluções rápidas e fáceis não funcionam para assuntos complexos como este. Além do mais, logo se esquece o fato, até que nova tragédia aconteça e reapareçam as mesmas soluções fáceis. Ele propõe um amplo debate com a sociedade e especialistas, tanto em educação, quanto em segurança e até com psicólogos.

Na escola onde eu lecionava até o fim do ano passado, havia inúmeros casos de depressão, de alunos que tentaram suicídio e de automutilação. Parece que não só os 4 anos de incentivo ao armamento e ao uso de armas são os responsáveis, mas também 2 anos de reclusão domiciliar devido à Covid-19. Houve uma espécie de dessocialização em que as crianças passaram a adquirir uma forma de vida mais individualizada do que em grupo.

Havia uma psicóloga que uma vez por semana dava atendimento online a grupos de alunos. Numa das vezes, num auditório com grande número de adolescentes do ensino médio, ela tentava falar sobre ansiedade, mas absolutamente ninguém a ouvia, preferindo assistir vídeos “engraçados” no Tik Tok.

Penso que atendimentos assim não devem ser generalizados e em grandes grupos, pois é justamente em grupos que os alunos se sentem à vontade para se recusar a participar.

O atendimento psicológico deve ser presencial e para grupos de até 3 crianças, sob pena de fracassar.

O governo Bolsonaro, que muitos chamam de “governo da morte”, em que até havia um gabinete paralelo intitulado “gabinete do ódio”, responsável por disseminar o ódio e a violência na sociedade, atingiu os jovens em cheio, mas, felizmente, apesar da sobrevivência do bolsonarismo ou extrema-direita, acabou.

Agora o pesado nevoeiro cinza escuro está se dissipando e uma nova aurora nasce com o governo Lula.

Além da árdua missão de consertar tudo aquilo que foi destruído em termos de economia, saúde (700 mil mortos pela Covid-19), educação, direitos humanos, meio-ambiente e corrupção, Lula tem ainda por cima que dissolver a atmosfera de ódio que contaminou grande parte dos brasileiros e criar ares claros e límpidos para a sociedade.

Para isso terá também que compartilhar com estados e municípios políticas públicas que propiciem emprego e renda para a população mais pobre, sem o que esta não verá futuro para seus filhos, sob risco de, por falta de perspectivas, a violência aumente.

Antes de encerrar, sinto ser necessário lembrar que já há algumas gerações estamos naturalizando morte violentas influenciados que somos, principalmente por produções do cinema americano que nos bombardearam e ainda bombardeiam com filmes de ação em que, invariavelmente se mata muito. Ao vermos tantos tiros, sangue e morte, ficamos anestesiados a ponto de não mais nos chocarmos com assassinatos violentos.

Felizmente, com o streaming, Hollywood deixou de ser a principal fonte de entretenimento. Hoje há produções de outros países que abordam temas mais cotidianos como dramas familiares ou amorosos. E é disso que precisamos muito.

Por fim, fica a sugestão do professor Tiago Luz de se promover um amplo debate sobre a violência infantil com a sociedade.

Será um longo processo, mas que, ao seu fim, talvez nunca mais vejamos crianças fazendo arminha com os dedos nem utilizando armas reais.


sábado, 25 de março de 2023

Não diga "eu sinto". Diga "tenho provas".

Por Fernando Castilho




Foi ainda no colegial, atual ensino médio, que aprendi sobre o método científico. Tinha um professor de Física que me inspira até hoje em minhas aulas.

Segundo o método científico, assim que se formula uma hipótese, é preciso testá-la várias vezes em condições normais de temperatura e pressão, para que possa se tornar uma verdade.

Todas as crenças, desde as mitologias até as atuais religiões, sejam elas cristãs ou não, e as superstições e crendices criadas pelo ser humano para lhe dar algum conforto espiritual nunca passaram pelo crivo do método científico, este destruidor esperanças inúteis.

Nunca houve evidências, muito menos provas. E olha que lá se vão cerca de 500 anos do Iluminismo, que deu enorme impulso às artes e à Ciência.

Algumas crendices já foram testadas e devidamente reprovadas pela...Ciência, esta chata, não é mesmo? Como exemplo, temos a astrologia, que em seu início se confundia com a Astronomia, mas, infelizmente, enquanto a última evoluiu incrivelmente (vejam as últimas descobertas do telescópio espacial James Webb), a primeira parou no tempo e não consegue responder por qual motivo planetas e estrelas tão distantes teriam o poder de influir na vida de um reles mortal do terceiro planeta a partir de uma estrela pequena como o Sol. Perdura até hoje como apenas uma brincadeira, embora tenha quem leve a sério.

Outro exemplo é a homeopatia. Sei que muita gente alimenta o desejo de que ela funcione. Sei que muita gente dirá: ela me salva todos os dias. Infelizmente, a realidade é outra. A homeopatia, testada exaustivamente, se comporta como a Cloroquina no combate à covid-19, guardando-se a diferença de que ela não faz mal. Apenas cria no paciente a ilusão de que está sendo curado. Quando a coisa fica mais feia, recorre-se ao médico alopata.

É preciso considerar que a crença na Terra plana tem a mesma raiz das crenças que o ser humano desenvolveu por não ter conhecimento científico.

Este texto não se destina a revoltar quem acredita em crendices em pleno século 21, ano de 2023, quando robôs incríveis estão sendo criados, quando inteligências artificiais já estão entre nós, quando o James Webb já enxergou galáxias em formação há apenas 300 milhões de anos desde o Big Bang e quando vacinas contra um vírus desconhecido podem ser criadas em poucos meses para salvar a humanidade. É muita Ciência e também muita tecnologia.

É preciso respeitar quem ainda crê em algo que não se comprova, mas também é preciso que os contrapontos também sejam fundamentos em dados concretos e demonstráveis.  


quinta-feira, 23 de março de 2023

Thomas Hobbes e a fala de Moro no Senado

Por Fernando Castilho

Imagem: detalhe da capa de Leviatã


"se eles vêm para cima com uma faca, a gente tem que usar um revólver. Se eles usam um revólver, nós temos que ter uma metralhadora. Se eles têm metralhadora, nós temos que ter um tanque.” (Sergio Moro)


Thomas Hobbes, o autor de Leviatã (1651), deu um pulo dentro de seu caixão, o que lhe rendeu um galo na cabeça.

Hobbes, em sua obra, descreve o surgimento do Estado e a necessária criação de um governo.

Há milhares de anos, quando o ser humano começou a deixar a vida nômade para se fixar em terras férteis, plantando e criando animais para sua subsistência, despertou a cobiça pelos bens que começava a acumular.

O medo de ser morto por alguém mais forte, mais bem armado ou mais inteligente era a tônica do período, pois sempre havia alguém de olho na terra que ele cercou para si e sua família. E quando havia o roubo de um animal ou o assassinato do dono da terra, a vingança quase sempre era desproporcional.

É o que Hobbes chama de guerra de todos contra todos.

Para que se conseguisse mais tranquilidade para as pessoas viverem, foi preciso que abrissem mão de parte de sua liberdade para delegarem-na a uma instituição criada para pôr ordem na casa, chamada de Estado.

O Estado, chamado por Hobbes de Leviatã, passou a criar leis e punir infratores. Um rei foi escolhido entre os proprietários de terras para governar e fazer o Estado funcionar.

Feito este preâmbulo muito raso sobre a obra, vamos falar sobre o motivo do galo na cabeça de Thomas Hobbes.

Na última quarta-feira, 22, o ex-juiz, ex-ministro, ex-sócio-diretor da empresa Alvarez & Marsal e atual senador da República, Sergio Moro, em discurso na tribuna do Senado, fez a seguinte afirmação: "se eles vêm para cima com uma faca, a gente tem que usar um revólver. Se eles usam um revólver, nós temos que ter uma metralhadora. Se eles têm metralhadora, nós temos que ter um tanque.”

Ora, Moro acabou de abolir o Estado!

Não, amigo leitor, o senador não é anarquista. Ele ainda vive no período da história pré-Estado.

Se Bolsonaro tentava nos impor uma agenda medieval, Moro defende uma agenda milhares de anos anterior.

Aliás, vem à lembrança uma cena do filme Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida em que o herói se depara com um homem vestido de preto exibindo suas habilidades com uma espada.

Irritado e sem paciência, Indiana tira uma arma e mata o adversário com um único tiro. Revólver contra espada, certo, Moro?

Chama muito a atenção uma pessoa que passou num concurso para ser juiz, desconhecer a origem do Estado que, com certeza, é matéria nas faculdades de direito de qualquer país.

Ao fazer esse tipo de afirmação, agora do alto de seu importante cargo de senador, percebemos o quanto esse homem é medíocre, despreparado e desavergonhado.

A prevalecerem as ideias do ex-juiz, teríamos de volta a guerra de todos contra todos e ele seria um daqueles que não conseguiria dormir por medo de que alguém invadisse sua casa e o matasse e a sua família.

Talvez o próprio PCC.


quarta-feira, 22 de março de 2023

Os Bolsonaros em todo lugar ao mesmo tempo

Por Fernando Castilho



Com o cerco se fechando em torno do pai, Jair Messias, o senador percebeu que seria o momento adequado para apresentar uma versão bem universo paralelo sobre as joias trazidas para o Brasil ilegalmente.


Os diretores de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Dan Kwan e Daniel Scheinert teriam se inspirado no bolsonarismo para fazer o filme que transita por multiversos? Poderiam ter utilizado o ex-presidente Jair Bolsonaro como ator principal, em vez de Michelle Yeoh? Ganhariam o Oscar de melhor história e roteiro com a temática bolsonarista? O senador Flávio Bolsonaro e seus irmãos venceriam como melhores coadjuvantes? E se vencessem, trariam a estatueta para o acervo privado de Jair?

Vejam como o bolsonarismo se encontra num outro universo e numa outra dimensão.

Flávio, o 01, concedeu rara entrevista à Folha de São Paulo nesta segunda (20).

Com o cerco se fechando em torno do pai, Jair Messias, o senador percebeu que seria o momento adequado para apresentar uma versão bem universo paralelo sobre as joias trazidas para o Brasil ilegalmente.

A Folha inicia a entrevista perguntando por que os presentes não foram declarados, ao que Flávio candidamente responde que não tem muito o que falar porque os mimos vieram lacrados e que não houve má-fé em entrar com eles no país sem declará-los. Se houvesse, não iriam passar pelo raio-x da Receita.

Ora, senador, ficou claríssimo pelas imagens das câmeras de segurança que havia dois pacotes, cada um em uma mala. Um passou sem ser incomodado e o outro, o de 16,5 milhões, foi pego na malha fina. Aliás, é justamente porque o ex-ministro Bento Albuquerque não era nenhum mané nessa prática, que dividiu os presentes nas duas malas. Se um é pego, o outro passa.

À maioria das perguntas dos repórteres Júlia Chaib e Thiago Rezende, Flávio respondia com um “não sei” ou “pergunta pra ele”. Parece mesmo que vive numa realidade paralela que desconhece os fatos noticiados pelos jornais.

Sobre as joias masculinas que ficaram em poder de seu pai e que deverão ser devolvidas por determinação do TCU, o senador afirmou que Jair foi ao Comitê de Ética da Presidência que o teria autorizado a manter o presente consigo. Só se aconteceu num universo paralelo, pois o TCU já tinha uma decisão desde 2016 que afirma que os presentes recebidos por presidentes passariam a integrar o acervo da União e não o particular de Jair.

Flávio, trazendo talvez de uma outra dimensão uma experiência de vida e de como as coisas acontecem num arcabouço legal diferente do nosso, afirmou que ninguém sabia o que estava dentro dos pacotes. Poderia ser simplesmente... água!

Lá no outro universo, talvez. Aliás, lá poderia ser água, Baygon, urânio enriquecido, míssil ou balas 7 Belo. Aqui na Terra, no Brasil, logicamente o presenteador diria o que estaria dentro dos pacotes e certamente eles seriam abertos antes do desembarque para que nosso ilustre ministro, segundo posto mais alto do executivo, tivesse a responsabilidade de declarar o conteúdo à Alfandega.

Não posso esquecer de criticar os repórteres por não terem apertado Flávio Bolsonaro em nenhum momento. É próprio da profissão contestar respostas do entrevistado que não correspondem à realidade dos fatos, apresentando a realidade daquilo que já se sabe. Teria sido por medo?

Perceberam a oportunidade que Dan Kwan e Daniel Scheinert perderam de superar o filme vencedor do Oscar?

E se muita gente não gostou de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, aqui no Brasil, pelo menos, o filme Os Bolsonaros em Todo Lugar ao Mesmo Tempo teria um público fiel garantido de 44% da população, a mesma percentagem de pessoas que acreditam haver no país uma ameaça comunista.


quinta-feira, 16 de março de 2023

A necessidade de punir o malfeitor e controlar nossa ansiedade

Por Fernando Castilho



É possível que, com o clamor popular, os magistrados apressem os trâmites dos processos contra Bolsonaro, mas deveremos esperar longamente por uma condenação.


Tenho acompanhado pelas redes sociais a ansiedade que as pessoas de mentalidade progressista vêm demonstrando pela prisão de Jair Bolsonaro.

Após quatro anos de desgoverno, com a destruição de programas sociais, de descaso para com uma pandemia que matou mais de 700 mil pessoas, com incentivo ao garimpo em terras indígenas que quase extinguiu a etnia Yanomami, com mentiras e agressões verbais toda vez que se manifestava e pela tentativa de melar o processo eleitoral e ainda dar um golpe no país para se perpetuar no poder, é totalmente compreensível que não consigamos controlar nossa ansiedade e revolta toda vez que a mídia, juristas e ministros do STF opinam que não será possível prender o ex-presidente imediatamente.

Explico.

Bolsonaro perdeu o foro especial por prerrogativa de função. Vários processos que estavam nas mãos do PGR, Augusto Aras, estão sendo enviados para a justiça comum para serem julgados em primeira instância. Se condenado, caberão recursos até que se conclua o trânsito em julgado e seu destino seja, enfim, a cadeia.

Cabe aqui esclarecer que poderão se passar longos anos até que seu julgamento seja concluído. Com Paulo Maluf foram décadas de espera até a conclusão final que lhe impôs a prisão domiciliar devido à idade avançada e problemas de saúde. Revoltante, mas real.

É até possível que, com o clamor popular, os magistrados apressem os trâmites dos processos, mas não vamos manter falsas esperanças.

A outra possibilidade é a prisão preventiva, mas para isso é necessário que, caso venha a ser réu, Jair tente fugir, destruir provas ou continuar a ser uma ameaça à sociedade.

Para ser uma ameaça à sociedade, é preciso que Bolsonaro volte para o Brasil o quanto antes para assumir o papel de líder da oposição a Lula, como quer Valdemar da Costa Neto, presidente do PL.

Explico.

Com Bolsonaro no poder de liderança da extrema-direita, será criado um novo cercadinho (talvez virtual) que voltará a ser frequentado pelos seus apoiadores. Embora não seja mais presidente e, portanto, não seja blindado pela grande imprensa como foi durante quatro anos, o homem é falastrão e se empolga toda vez que seus apoiadores o encorajam. Daí, desata a falar absurdos, a ofender, mentir e atacar. Então, para prendê-lo preventivamente, basta ficar atento à sua fala. Oportunidade não vai faltar.

O que podemos esperar realmente é sua praticamente certa inelegibilidade por oito anos. Bolsonaro está completando 68 anos e terá 76 ao fim de sua quarentena. A depender do sucesso do governo Lula, seja de 4 ou 8 anos, e da luta da esquerda para desmontar a extrema-direita, teremos um Jair envelhecido e sem importância.

Lembremos que, para liderar uma oposição a Lula, será necessário que Bolsonaro trabalhe muito, mas todos sabemos que trabalho não é com ele. Quando estava na Câmara e no Palácio do Planalto, trabalhou muito pouco.

Resta o Tribunal Penal Internacional de Haia que já possui processos em andamento por genocídio. Alguns consideram uma condenação difícil, mas não impossível.

De qualquer forma, o que queremos ver é punição exemplar para que nunca mais o povo brasileiro passe por tsunami avassalador como esse.

O Estado Democrático de Direito tem que prevalecer, mesmo para o julgamento desse malfeitor, portanto, não é o caso de se passar por cima das leis.

Mas não haverá punição dura o suficiente para compensar o sofrimento daqueles que perderam seus amigos e parentes pela Covid-19.

Nunca haverá.


sábado, 11 de março de 2023

O perigo do plano "Política Nacional de Longo Prazo" de Bolsonaro

Por Fernando Castilho

Imagem: Revista Piauí

A certeza de vitória de seu Jair e de seus comparsas nas eleições de 2022 era tão grande que até um plano de governo de 36 anos, elaboraram, vejam só.


No segundo semestre de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro e seus aliados militares estavam preparando um documento intitulado “Política Nacional de Longo Prazo”. Em suas 65 páginas, às quais a revista Piauí teve acesso, o plano não citava o combate a fome, nem políticas para mulheres, negros ou indígenas, enfim, nada voltado à melhoria de vida das pessoas.

A intenção de parte dos militares não era somente vencer as eleições presidenciais, mas se perpetuarem no poder através do governo de seu fantoche, Jair.

Seriam 36 anos, nove mandatos consecutivos, pelo menos.

Mas, caro leitor, não pense que para isso Bolsonaro teria que vencer nove eleições consecutivas. A ideia era, já no segundo mandato, apresentar projeto de lei em uma Câmara majoritariamente bolsonarista, de continuidade no poder, baseado na tal ameaça comunista que só o capitão teria força para enfrentar, na ameaça da ideologia de gênero que transforma nossos jovens em trans e na vontade de Deus. O projeto poderia ser aprovado.

A certeza de vitória de seu Jair e de seus comparsas nas eleições de 2022 era tão grande que até um plano de governo de longo prazo elaboraram, vejam só.

Para isso, não mediram esforços. Bilhões de reais de dinheiro público foram gastos com motociatas, cartões corporativos, orçamento secreto em redutos eleitorais, etc. Não hesitaram em mobilizar a Polícia Rodoviária Federal para impedir eleitores de Lula a votar. Um vale-tudo que pode custar a inelegibilidade do capitão por oito anos.

Apesar de todo esse escândalo, Bolsonaro não venceu.

Lula venceu e, logo que começou a governar, revelou ao Brasil e ao mundo o genocídio que vinha sendo cometido contra os Yanomami. Se Jair vencesse, certamente, já neste ano os Yanomami poderiam estar em franco processo de extinção. Ao longo de nove mandatos, não só eles, mas todas as etnias indígenas poderiam não mais existir, com o garimpo ilegal tomando todas as reservas. Era um programa de governo.

O governo Lula descobriu também que não foi deixado dinheiro para combate a tragédias. Foi preciso grande mobilização de recursos para tentar minimizar a dor e o sofrimento do povo pobre do litoral norte. Se reeleito, Bolsonaro estaria passeando de jet-ski enquanto as enchentes aconteciam.

Agora descobriu-se que o capitão tentou por nove vezes recuperar joias no valor de 16,5 milhões de reais que ficaram retidas na alfândega quando do retorno do então ministro Bento Albuquerque da Arábia Saudita.

Essas joias teriam sido um presente do país e deveriam passar a integrar o acervo da presidência da República, mas Bolsonaro entendeu que deveriam pertencer a ele.

Dois dias antes de fugir para os Estados Unidos, Jair empreendeu sua última tentativa de roubo de patrimônio público, mas não conseguiu êxito.

Outro estojo, porém, conseguiu passar pela alfândega e se encontra no poder do capitão, possivelmente em Orlando.

Trata-se, portanto, de pilhagem feita por um presidente da República. E isso é crime gravíssimo.

Como todo o staff de governo tinha a mais absoluta certeza de reeleição, esse escândalo pode ser apenas a unha de um elefante. Agora que o capitão perdeu o poder, é bem possível que muitos outros casos semelhantes venham à tona.

O método de seu Jair faturar nunca foi o tradicional dos que ocupam o poder executivo, as fraudes nas licitações e o atendimento à grandes empresas. A gatunagem e a pressão são alguns dos métodos típicos das milícias e, por que não dizer, das máfias.

O Brasil se salvou de sua quase extinção, pois, caso a tal Política Nacional de Longo Prazo fosse implementada após a reeleição de Bolsonaro, certamente teríamos uma gatunagem oficializada como nunca se viu.

É imperioso agora que haja punição severa contra essa corrupção oficializada para que nunca mais volte a acontecer.


terça-feira, 7 de março de 2023

Sim, a boiada passou, realmente. Resta saber seu tamanho.

Por Fernando Castilho




Os casos de vantagens indevidas seriam só esses, ou seja, a boiada se limitou a essas poucas cabeças ou estamos diante de um enorme rebanho que só agora começamos a descobrir o tamanho?


Em 22 de abril de 2020 aconteceu aquela horrível reunião ministerial cujo vídeo foi divulgado pela imprensa após decisão do então ministro do STF, Celso de Mello.

Em meio a xingamentos, palavrões, ofensas e ameaças de intervenção na Polícia Federal por parte do então presidente Jair Bolsonaro, chamou particularmente a atenção a frase do então ministro do meio-ambiente, Ricardo Salles, que dizia que era preciso aproveitar que as atenções da imprensa estavam todas voltadas para a Covid-19 para passar a boiada. Vamos ver se ela passou, realmente?

Salles foi pego com a mão na botija ao tentar vender madeira ilegal para os Estados Unidos. Pergunta-se: foi sua primeira tentativa? Quanto de madeira ilegal ele teria conseguido vender antes de ser flagrado? Como conseguiu se eleger deputado federal após esse incidente?

Salles fez também reuniões com garimpeiros e até os recebeu em seu gabinete. Pergunta-se: quanto de ouro e pedras preciosas ele teria recebido de “presente” para facilitar o garimpo em terras indígenas?

Obviamente, não há provas, por isso, coloco tudo no terreno das suposições.

Ainda supondo, quanto o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, após ter liberado um trilhão de reais aos bancos no início da pandemia, teria despachado para terras estrangeiras como “presente”?

Quanto o ex-ministro, Pazuello e seu chefe teriam recebido de “presente” da indústria farmacêutica para imporem à população medicamentos comprovadamente ineficazes para o combate ao Coronavírus?

Ainda na onda do ouro, o ex-ministro da educação, Mílton Ribeiro, permitia, segundo ele, sob orientação de Bolsonaro, que pastores negociassem obras nas cidades do interior, recebendo ouro em troca. Quanto receberam de “presente” o ministro e seu chefe pela facilitação da corrupção?

Os mimos recebidos por esse governo devem ter sido inúmeros e, somente agora começam a ser revelados.

O novo fato que nos chegou através da reportagem do Estadão foi o das joias no valor de 16,5 milhões de reais que ficaram retidas na alfândega.

É certo que Bolsonaro tentou o quanto pôde por suas mãos nelas, afinal, foram 8 tentativas, inclusive com um ofício dele.

Não, caro leitor. As joias não eram um presente para a então primeira-dama, Michelle, como o capitão sugeriu. Se fossem, já seria crime porque qualquer presente ofertado de país estrangeiro se destina obrigatoriamente, segundo decisão de 2016 do TCU, ao estado brasileiro. A ex-primeira-dama, inclusive, logo após a matéria do Estadão, se manifestou surpresa e até a ironizou.

Não ficou esclarecido o motivo de a Polícia Federal que também está presente nos aeroportos, não ter prendido em flagrante o auxiliar do então ministro, Bento Albuquerque.

As peças que fazem parte do estojo apreendido pela Receita Federal, em seu conjunto, constituem uma mercadoria de pequeno tamanho, mas muito valiosa. Porém, muito difícil de se vender para fazer dinheiro. Mas, percebam que, desmembradas em pequenas peças, podem ser vendidas mais facilmente, afinal, quanto vale um daqueles pequenos diamantes?

Não podemos esquecer que falta no estojo um bracelete ou um anel, já que o suporte está vazio. Quem pegou?

Há um outro “mimo” do governo da Arábia Saudita que conseguiu passar pela alfândega. São caneta, relógio, abotoaduras, etc. que não se sabe com quem estão. Será que o capitão conseguiu passar a mão nesse?

Por que coloco “presente” e “mimo” entre aspas?

O estojo com as joias apreendidas foram ofertados a Bolsonaro em seguida à venda da refinaria Landulpho Alves à Arábia Saudita por praticamente metade de seu valor. Vejam que 16,5 milhões de reais equivalem praticamente a 1% do valor de venda da refinaria, que foi de 1,6 bilhão. Cheira, digo, fede a propina.

Nossa grande imprensa decidiu denominar o crime por “entrada ilegal” de mercadoria, quando o certo seria designar pelo seu nome verdadeiro, contrabando. E contrabando é crime. Por isso, a PF deveria ter prendido o rapaz da mochila. Parece que ainda há certos cuidados em poupar Bolsonaro.

Há agora, à luz da frase de Salles, inúmeras perguntas.

Os casos de vantagens indevidas seriam só esses, ou seja, a boiada se limitou a essas poucas cabeças ou estamos diante de um enorme rebanho que só agora começamos a descobrir o tamanho?

Foram somente esses os agentes públicos envolvidos nesses crimes ou figuras como Augusto Heleno, Braga Netto e Eduardo Ramos fizeram também seus pés de meia enquanto recebiam polpudos soldos?

E a enorme quantidade de picanha, uísque, Viagra e outros produtos adquiridos pelo exército?

O fato é que o governo que findou parece que inovou em sua forma de tomar para si bens públicos. Enquanto a forma mais clássica de se apropriar de uma fatia do estado é a comissão sobre grandes obras tocadas por grandes empreiteiras que conseguem driblar a lei de licitações, devemos lembrar que desta vez o estilo foi à la baixo clero, aquele mesmo das rachadinhas.

Agora aguardaremos os resultados da investigação a cargo da Polícia Federal que deverá revelar mais detalhes da tentativa de roubo, porém, já está mais do que clara a autoria do crime. O que não pode é haver impunidade.

É possível que na esteira desse delito grave, apareçam outros na medida em que servidores, encorajados pelos novos ares da administração pública federal, tomem coragem para denunciá-los.

A boiada foi grande e passou realmente, mas temos a possibilidade de reuni-la e prendê-la de novo no estábulo.


domingo, 5 de março de 2023

Makanai: Cozinhando para a Casa Maiko

Por Fernando Castilho




Sumire e Kiyo, duas moças recém-formadas no ensino médio em Aomori, norte do Japão, decidem se mudar para Kyoto onde a Casa Saku, tradicional escola de maikos (aprendizes de gueixas) as aguarda.

Chegando lá, a primeira coisa que aprendem é o cumprimento especial utilizado pelas maikos, proferido com extrema delicadeza. Sumire tira de letra, mas Kiyo, por mais que repita, não consegue a entonação correta.

As aulas de dança e expressão corporal se iniciam e, mais uma vez Sumire se destaca, mas Kiyo simplesmente não consegue. Embora carregue sempre um sorriso, ela percebe aos poucos que ser maiko não é sua praia.

É aí que a senhora Sachiko, a makanai da casa, devido a dores na coluna, fica impossibilitada de cozinhar. Kiyo, então, se aventura na cozinha preparando alguns pratos típicos de Aomori. A dona da casa e as demais moças que lá vivem, gostam tanto que ela acaba assumindo o posto de makanai. Makanai é algo parecido com chefe de cozinha, porém, os pratos que prepara não se destinam a clientes, mas somente às pessoas que vivem na casa.

A direção desse J-dorama está a cargo de Hirokazu Koreeda, vencedor do Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes pelo filme Assunto de Família, em 2018. Koreeda consegue segurar a atenção de todos, mesmo que a série não tenha grandes conflitos nem reviravoltas.

O único acontecimento mais tenso é quando o pai de Sumire aparece para levá-la de volta para casa. A dona da casa, acompanhada pela maiko mais velha, tenta convencê-lo de que Sumire tem realmente grande talento e precisa continuar seus estudos. Não há um único tom de voz elevado na conversa. É através da delicadeza que o pai é convencido de que ser maiko é realmente o melhor futuro para a filha.

Enquanto isso, Kiyo vai se aperfeiçoando cada vez mais na cozinha e ganhando a simpatia e admiração de todas as moças que lá vivem. Kiyo descobre seu lugar no Universo e, assim como Sumire, encontra a felicidade naquilo que faz. Aristóteles, que afirmava que, para atingir a felicidade é preciso que encontremos nosso lugar no Cosmos, ficaria feliz com esses exemplos.

Aliás, a série de 9 episódios é pródiga em mostrar como, aos poucos, todas as moças, embora com algumas decepções, vão encontrando seu caminho para alcançar a felicidade.

O dorama é uma bela adaptação do mangá Kiyo in Kyoto: From the Maiko House (Maiko-san chi no Makanai-san), de Aiko Koyama, publicado desde 2016 na revista Weekly Shonen Sunday, da editora Shogakukan.

Os cenários são os típicos das casas de gueixas do bairro Gion em Kyoto, cidade que não foi atingida pelos bombardeios americanos durante a Segunda Guerra e que, por isso, se mantém quase original, como era há alguns séculos.

É interessante ver que As duas Irmãs de Gion (1936) e Os Músicos de Gion (1953), dois filmes de Kenji Mizoguchi, mostram, quase que exatamente os mesmos cenários e a mesma temática Nada mudou muito de lá para cá, sinal de que as tradições ainda são muito fortes no Japão.

Enfim, Makanai: cozinhando para a Casa Maiko, é sobre o caminho da delicadeza e da sutileza e da tolerância para se chegar à felicidade. Algo que precisamos muito nos dias de hoje.


quarta-feira, 1 de março de 2023

Precisamos conversar sobre o futuro da Petrobras

Por Fernando Castilho



Em 2021 a Petrobras, ainda sob o governo Bolsonaro, decidiu se retirar totalmente da produção de energia limpa, indo na contramão do mundo que procura fontes renováveis e mão poluentes. Vivíamos sob a égide do negacionismo.


Circula nas redes sociais um texto apócrifo, escrito em português de Portugal, intitulado: “Algumas previsões muito interessantes, mas também assustadoras”.

Para início do tema que abordarei, destaco dois itens:

7.  Grandes fabricantes de automóveis inteligentes já destinaram dinheiro para começar a construir novas fábricas que só constroem carros eléctricos.

8.  As indústrias de carvão irão embora.  As companhias de gasolina/petróleo irão fechar. A perfuração de petróleo irá parar.  Portanto, diga adeus à OPEP! O Oriente Médio estará em apuros.

Quem se interessar pelo inteiro teor, pode acessar este link.

Previsões sobre o futuro costumam falhar, mas neste caso, o futuro está tão próximo que já pode ser considerado presente.

Realmente, montadoras presentes ou não no país, já estão dando mais ênfase a modelos com motores elétricos do que a combustão. Algumas já elegeram a data de 2025 para encerramento da produção de motores movidos a gasolina e a diesel. Já há também ônibus e caminhões rodando com energia elétrica.

O futuro (presente) já é, portanto, dos veículos movidos a eletricidade.

Tendo esse dado como certo, surge a primeira indagação: se em poucos anos haverá mais veículos elétricos do que movidos a gasolina, etanol e óleo diesel, de onde tiraremos a energia elétrica para alimentá-los? Nossas usinas hidrelétricas darão conta dessa demanda? Afinal, quando os reservatórios baixam seus volumes em tempos de estiagem, não há racionamento? E a tarifa não fica mais cara?

Essa é uma discussão que precisa ter início assim que o governo Lula se sentir mais acomodado no Planalto.

O outro item que devemos considerar é o 8, um pouco alarmista, mas nem por isso, despreocupante.

Além da mudança da matriz energética dos veículos, devemos lembrar que a produção de nosso parque eólico vem aumentando ano a ano. Segundo o Anuário 2020 da Empresa de Pesquisa Energética, a participação da geração de eletricidade a partir de pás eólicas, foi de 8,9%, dados de 2019, sendo que, de lá para cá, a produção saltou de 14.706 GW para 22.000 GW. Portanto, há de se supor que terminamos o ano de 2022 com cerca de 12% ou mais de participação de energia eólica em relação à todas as outras matrizes energéticas.

A geração de energia a partir de placas fotovoltaicas também vem crescendo enormemente no país. Saltamos de 7,9 GW, ao final de 2020, para 13 GW ao final de 2021, crescimento de 65%.

Parece claro que nossa matriz energética, aos poucos vem se transformando.

Há décadas o fantasma do esgotamento do petróleo preocupa a humanidade, mas a realidade nos mostra que antes que isso ocorra, ele já vem sendo substituído, e para melhor, afinal, fontes não poluidoras são o que desejamos para baixar a emissão de gases de efeito estufa e reduzir os impactos ambientais das mudanças climáticas.

Mas, para nós, brasileiros, que criamos, graças a Getúlio Vargas, a empresa orgulho do país, a Petrobras, um pensamento sombrio começa a rondar vez ou outra nossas mentes.

Todo brasileiro tem por obrigação preservar a Petrobras como um patrimônio do país, pois a empresa é referência mundial, gera milhões de empregos diretos e indiretos e ainda, neste momento, é responsável por colocar o Brasil em movimento.

Mas a preocupação levantada no item 8 do texto apócrifo é verdadeira e dessa discussão não podemos fugir a médio prazo.

Assim como empresas que produziam aparelhos analógicos tiveram que se reinventar e mudar toda a sua linha, desde projetos até plantas fabris, para passar a atender o mundo digital, a Petrobras, em algum momento próximo, terá que fazer essa reflexão.

Mas vejam que interessante: em 2021 a estatal, ainda sob o governo Bolsonaro, decidiu se retirar totalmente da produção de energia limpa, o que foi questionado pelo pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), Henrique Jäger. Segundo ele, a concentração da estatal em energia pesada vai na contramão do mundo que procura fontes renováveis e mão poluentes. Ou seja, outros gigantes do petróleo começam a se movimentar para a produção de energia limpa, mas o antigo governo negacionista preferiu seguir sua linha.

Mas o governo mudou e, com ele, novos ares voltados ao meio-ambiente têm que voltar a circular.

É perfeitamente possível que o gigante petrolífero passe aos poucos a explorar matrizes energéticas não poluentes como a eólica, a solar e mesmo a das marés.

Essa tem que ser a meta de um governo progressista preocupado com o Brasil e com o meio-ambiente.

É preciso que nos adiantemos ao que o futuro próximo nos reserva, já que todos os sinais nos apontam para ele.