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quarta-feira, 19 de julho de 2023

Se houvesse alguns milhares de Mantovanis em 7 de setembro de 2021, o golpe teria sido um sucesso

Por Fernando Castilho

Reprodução: Internet


Desde a madrugada, apoiadores de Jair Bolsonaro tentaram, sem sucesso, se aproximar do STF. Às 4h30, havia um grupo grande de bolsonaristas aglomerado em frente a uma barreira de 50 policiais que os contiveram.


O assunto 7 de setembro de 2021, o dia da primeira tentativa de golpe, ainda não se esgotou e é preciso que não seja esquecido pela justiça brasileira.

Vamos relembrar os terríveis fatos que ocorreram naquele dia para embasar a tese de que o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional foram no mínimo pusilânimes ao não agirem em conjunto para conter a grande ameaça ao regime democrático que, por pura sorte, não se concretizou.

A manifestação realizada na manhã da terça-feira (7/9) na Esplanada dos Ministérios reuniu cerca de 105 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar do Distrito Federal. O ato contou com cidadãos vindos de diversas partes do Brasil. Na ocasião, inicialmente, as principais reivindicações do grupo foram a adoção do voto impresso e a destituição de ministros do STF, o que já era gravíssimo, mas não foi visto como uma tentativa de golpe de estado.

Desde a madrugada, apoiadores de Jair Bolsonaro tentaram, sem sucesso, se aproximar do STF. Às 4h30, havia um grupo grande de bolsonaristas aglomerado em frente a uma barreira de 50 policiais que os contiveram. Vendedores ambulantes, entretanto, permaneceram no local comercializando produtos, como bandeiras, água e camisetas.

Caminhoneiros vindos de todo o país conseguiram entrar na Esplanada dos Ministérios causando forte tensão e criando um clima perigoso de confronto. A própria mídia noticiou em tempo real as pessoas chegando à Esplanada, mas em nenhum momento ligou o fato a uma tentativa golpista.

Pela manhã, o capitão sobrevoou a Esplanada em helicóptero militar, acompanhado de ministros do governo e do deputado federal Eduardo Bolsonaro. O mandatário acenou para os manifestantes que pediam intervenção militar, enquanto a aeronave passava pela Praça dos Três Poderes e pela Esplanada dos Ministérios, fato gravíssimo que, por si só, já demonstrava as intenções golpistas do capitão.

Bolsonaro desfilou ainda pelas ruas em uma caminhonete aberta e depois discursou aos apoiadores em tom de ameaça: “[O Judiciário] pode sofrer aquilo que não queremos”.

“Juramos respeitar a nossa Constituição. O ministro específico do STF perdeu as condições mínimas de continuar dentro daquele tribunal. Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica continue paralisando a nossa nação. Não podemos aceitar. Ou esse poder [Judiciário] pode sofrer aquilo que nós não queremos. Sabemos o valor de cada poder da República”, assinalou. Estava claro que o capitão ameaçava Alexandre de Moraes e tentava insuflar seus seguidores para, num crescendo, criar as condições para um golpe.

Grupos então tentaram romper os bloqueios montados para proteger o STF e o Palácio do Itamaraty. Grades de isolamento foram derrubadas, e houve confusão e registro de um ferido no confronto. A Polícia Militar do Distrito Federal precisou usar spray de pimenta para conter os manifestantes. E conseguiu.

Bolsonaro afirmou que iria se reunir com o Conselho da República no dia seguinte. Compete ao conselho pronunciar-se sobre intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio; e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. O anúncio da convocação, entretanto, surpreendeu autoridades, mas não houve uma reação por parte da mídia e das instituições a essa fala claramente golpista.

Os atos de apoio a Bolsonaro, por intervenção militar e contra o STF foram organizados em diversas cidades Brasil afora e tudo foi mostrado pelas TVs.

Mas a maior parte dos manifestantes se concentrou em São Paulo com caravanas vindas de diversos locais do país. Segundo a estimativa oficial da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, passaram cerca de 125 mil manifestantes pela avenida Paulista naquele domingo.

Foi em São Paulo que Bolsonaro elevou o tom de golpismo, que já estava presente em seu discurso em Brasília. Ele questionou a urna eletrônica e as eleições, citou novamente o voto impresso (que já havia sido rejeitado pelo Congresso) e disse que não poderia "participar de uma farsa como essa patrocinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)".

"Só saio preso, morto ou com vitória. Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso."

Bolsonaro criticou o então presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, sem citá-lo nominalmente. "Não é uma pessoa no Tribunal Superior Eleitoral que vai dizer que esse processo é seguro, usando a sua caneta para desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação", disse ele, em referência a decisões da Justiça contrárias a bolsonaristas que espalharam notícias falsas sobre as eleições.

"A paciência do nosso povo já se esgotou! Nós acreditamos e queremos a democracia! A alma da democracia é o voto! E não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece segurança", afirmou Bolsonaro.

Bolsonaro concentrou suas críticas ao STF na figura do ministro Alexandre de Moraes, que havia determinado na segunda-feira (5/9) a prisão de apoiadores do capitão que publicaram ameaças ao tribunal e a seus membros.

"Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil", disse Bolsonaro.

"Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que não queremos, porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada Poder da República", completou Bolsonaro, conclamando o presidente do STF, Luiz Fux, a interferir nas decisões de Moraes, algo que seria inconstitucional.

Em São Paulo, o capitão citou Moraes nominalmente e o chamou de "canalha", dizendo:"não posso mais admitir" que ele "continue açoitando o povo brasileiro."

Bolsonaro jogou suas cartas naquele 7 de setembro de 2021. Se houvesse um bom número de Mantovanis dispostos a bater em Barroso e Moraes, o golpe poderia ter se concretizado.

O ex-presidente estava decidido a dar a ordem, mas a não deu porque já devia ter sido informado pelo alto comando do exército que, caso os milhares de Mantovanis presentes em Brasília e nas capitais do país partissem para as depredações a exemplo do que os golpistas fizeram em 8 de janeiro de 2023, seriam contidos e não haveria adesão das forças Armadas.

O que aconteceu em seguida? Aos poucos, muitos seguidores e pessoas que compareceram ao que deveria ser uma festa cívica de comemoração ao Dia da Independência, perceberam o que estaria por vir, sentiram medo, ficaram decepcionados e foram se retirando. À tarde, em Brasília, havia menos da metade do público presente pela manhã. A tentativa de golpe foi frustrada.

No final da tarde veio o grande espetáculo da vergonha.

Bolsonaro, alertado por seus generais mais próximos, Ramos, Braga Netto e Heleno, de que o golpe havia fracassado e que, em retaliação, Alexandre de Moraes poderia mandar prender o 02, Carluxo, decidiu, por intermédio de Michel Temer, escrever uma carta ao ministro, a quem havia pela manhã chamado de canalha, para pedir-lhe desculpas.

Olha, eu poderia ter um ídolo na mais alta conta, mas, caso ele tomasse uma atitude como essa, trataria de execrá-lo na hora. Infelizmente, a patuleia que ainda seguia seu Jair, absorveu resignadamente a vergonha e tudo foi esquecido no dia seguinte. Preferiram achar que tudo fazia parte de uma estratégia de seu mito. Nem o Conselho da República foi reunido, como prometeu Bolsonaro.

Após aquele episódio, resta o “se”.

Se o capitão tivesse conseguido dar o golpe em 7 de setembro de 2021, não teríamos tido eleições em 2022 e Lula estaria preso ou até morto. Luís Barroso e Alexandre de Moraes poderiam estar presos. O STF, fechado com um cabo e um soldado e os parlamentares não bolsonaristas, cassados e presos. Parte dos jornalistas da grande mídia e da mídia alternativa, presos ou exilados. E teríamos, não 4 anos de governo do capitão, mas uma ditadura sem prazo para acabar.

Mas, se as instituições tivessem reagido mais fortemente, talvez Bolsonaro tivesse sido deposto e preso já naquele dia - o que seria o mais correto – e a tentativa de golpe de 8 de janeiro nem ocorresse. O Brasil teria sido poupado de mais um ano de desgoverno. Mas uma reação forte não tivesse sido possível porque faltava, à época, a forte liderança de um presidente eleito democraticamente, como Lula.

Portanto, para encerrar, Bolsonaro não deve ser condenado pelo crime que dizimou milhares de vidas na pandemia, somente. Ele tem que ser preso por tentar o golpe já naquele 21 de setembro de 2021!

Que o STF não fraqueje diante da enxurrada de ações que estão tramitando.

Que a velha característica de nosso povo de colocar uma pá de cal sobre o assunto e virar a página, não seja cogitada desta vez.

E que não se hesite em dar a esse golpista que tanto mal fez ao país, a pena máxima.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Barroso confessa que prevaricou!

Por Fernando Castilho


Charge: Estadão


Poderíamos ser muito brandos com ele, chamando-o de leniente. Amentando o tom, ele seria tolerante. Subindo um pouco mais, omisso. Mas podemos afirmar, de acordo com sua entrevista, que está prevaricando.


O ministro do STF e que está de saída do TSE, Luís Roberto Barroso é odiado por 11 entre 10 bolsonaristas-raiz e consegue a façanha de não agradar também grande parte da esquerda também.

Lavajatista de carteirinha, ignorou a parcialidade com que o ex-juiz Sergio Moro condenou o presidente Lula sem nenhuma prova de corrupção.

Barroso, neste período em que esteve à frente do TSE, enfrentou poucas e boas, desde as ameaças do presidente de que teria provas de que a urna eletrônica é fraudável, passando pelos seus xingamentos e o quase golpe de 7 de setembro último. A vida não lhe tem sido fácil.

Mas a verdade é que o ministro polemiza. Anda doidinho pra isso. 

Há algumas semanas atrás declarou que o impeachment da ex-presidenta Dilma não se deu por crime de responsabilidade, mas sim de incapacidade política.

Leia artigo completo do blog em https://bloganaliseeopiniao.blogspot.com/2022/02/o-golpe-com-o-supremo-com-barroso-com.html

Ora, se ele tinha na época essa percepção, por que ficou calado e só agora emitiu sua opinião? Omisso.

Bem, hoje Barroso deu entrevista à Folha em que, entre outras perguntas, respondeu a esta, que reproduzo pela atenção que me chamou.

Folha: O presidente deve ser responsabilizado por esses ataques, na sua visão? 

Barroso: Eu optei por não entrar com ação penal, queixa-crime [contra o presidente], por muitas razões, mas a principal é que eu não trato isso como uma questão pessoal. A democracia foi a causa da minha geração e eu me mobilizo para defendê-la, mas eu não paro para bater boca. Acho que algumas pessoas são espiritualmente desencontradas, mas eu não dou a elas o poder de me tirar do meu centro.

Poderíamos ser muito brandos com ele, chamando-o de leniente. Amentando o tom, ele seria tolerante. Subindo um pouco mais, omisso. Mas podemos afirmar, de acordo com sua entrevista, que está prevaricando.

Ele optou por não entrar com ação penal contra o presidente por não tratar isso como questão pessoal! Vejam só!

Não se trata de questão pessoal. Acontece que Bolsonaro está cometendo muitos crimes livremente sem que ninguém o responsabilize de fato.

E não é só Barroso. É todo o STF, inclusive Alexandre de Moraes.

Inúmeras ações já foram protocoladas no Tribunal e enviadas ao PGR, Augusto Aras que, ou pede arquivamento ou segura. E fica por isso mesmo.

O governo federal não fez, ao contrário anos anteriores, nenhuma campanha de vacinação! A vacinação no Brasil tem tradição e é eficiente devido à conscientização da população através das campanhas na televisão e outros veículos de imprensa, mas agora só os infectologistas orientam a população a se imunizar.

Como se não bastasse, o próprio presidente boicotou as vacinas e inclusive defendeu que nenhum pai deveria vacinar seus filhos!

Pergunto, quantas crianças contraíram Covid e morreram diante dessa irresponsabilidade?

Acaso, os ministros, incluindo Barroso, não são corresponsáveis por isso?

Quem paga essa conta?

O que estão esperando? Que chegue o dia das eleições e o Capitão Morte seja derrotado nas urnas e todos se esqueçam dos mau-feitos e voltem a ser felizes para sempre?

E se Bolsonaro vencer nas urnas?

E se ele imitar Trump se recusando a aceitar o resultado da eleição e comande uma invasão no STF e no congresso?

Vão continuar a se omitir criminosamente, esquecendo-se de sua função constitucional de defender as leis, porque não querem bater boca com o capitão?

Além de Bolsonaro, nosso judiciário também terá que no futuro prestar contas à sociedade.

 

 


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O golpe, com o Supremo, com Barroso, com tudo

Por Fernando Castilho



Passados quase seis anos daquele domingo, há a percepção geral de que Dilma jamais praticou corrupção, embora a mídia permanecesse muda por todo esse período

Domingo, 17 de abril de 2016, um dos dias mais vergonhosos da história do Brasil.

Foi nesse dia que a Câmara, abarrotada de deputados, votou o impeachment de Dilma Rousseff.

Vimos com indignação e horror, parlamentares citarem a família, a esposa, os filhos, o cachorro, o papagaio para darem seus votos a favor da derrubada da presidenta.

Não faltou, claro, o voto do então deputado Jair Bolsonaro que prestou homenagem ao maior torturador do país, aquele mesmo que torturou Dilma barbaramente, o coronel Brilhante Ustra.

Voltando mais ainda no passado, uma conversa telefônica gravada do então senador Romero Jucá com um empresário expunha como as coisas eram tramadas nas sombras. Jucá afirmava que era preciso tirar Dilma e por Temer. Que era preciso estancar a sangria. Que tinha que ser com o Supremo, com tudo, embora poupasse o então ministro Teori Zavascki que, segundo ele, não compactuaria do golpe.

Ou seja, o ministro Luís Roberto Barroso, indicado pela própria Dilma, estaria no bolso do colete de Jucá.

Quem acompanhou todo o processo que começou bem lá atrás em 2013 quando inicialmente pessoas ligadas ao Movimento Passe Livre saíram às ruas para protestar contra o aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus e metrô em São Paulo. O movimento cresceu, impulsionado pela mídia e tomou as ruas de todo o Brasil. Agora não seria mais o preço das passagens, mas um descontentamento com a presidenta que viu sua aprovação cair de 60 para 30% em apenas um mês.

A partir daquele ano, os ataques contra Dilma começaram a aumentar e tornaram sua reeleição bem mais difícil do que se pensava.

Uma vez reeleita, Dilma viu não só aumentarem os ataques, mas também os boicotes a sua administração. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha trabalho para que nenhum projeto fosse aprovado, amarrando as mãos do governo e criando o clima favorável para o impeachment.

Dilma seria defenestrada pelo poder devido a um crime de responsabilidade inventado de última hora, as tais pedaladas fiscais que não significaram apropriação indébita de recursos, ou seja, sem corrupção.

Mas o que deputados e senadores queriam de fato era espaço para corrupção, já que Dilma fechara as comportas do dinheiro ilegal.

Passados quase seis anos daquele domingo, há a percepção geral de que Dilma jamais praticou corrupção, embora a mídia permanecesse muda por todo esse período.

Agora a Folha de São Paulo publicou um artigo que reaviva aqueles tempos.

O ministro Barroso resolveu escrever um artigo para a revista do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) em que defende que o motivo real para o impeachment não foram as pedaladas, mas sim, a falta de apoio político.

“Creio que não deve haver dúvida razoável de que ela não foi afastada por crimes de responsabilidade ou corrupção, mas, sim, foi afastada por falta de sustentação política. Até porque afastá-la por corrupção depois do que seguiu seria uma ironia da história”.

Em artigo publicado em 2019 no livro Estado, Democracia e Direito no Brasil, Barroso já tinha defendido essa mesma tese. 

Ora, se não houve crime de responsabilidade nem corrupção, houve motivo razoável para o impeachment? Por que essa gente insiste em não usar o termo “golpe”? Pior, ele sustenta que não houve golpe!

Essa reflexão de Barroso acontece somente agora porque só agora ele tem um termo de comparação com Jair Bolsonaro, perto de quem, Dilma é uma madre Tereza?

Ou Barroso já tinha essa opinião em 2016, mas guardou para si, mesmo tendo sido indicado por Dilma?

Ele não poderia pelo menos declarar que não havia crime de responsabilidade?

Realmente Romero Jucá tinha razão. O golpe seria com o Supremo, com tudo.

Com cinismo, com tudo.