Por Fernando Castilho
Washington não vai assistir passivamente um mundo mandarinizado e indexado pelo Yuan em vez do dólar.
Quando Lula propôs a criação de um clube de nações que se empenhariam em discutir e encontrar soluções para o conflito entre Rússia e Ucrânia, Joe Biden torceu o nariz e Reino Unido e União Europeia ouviram atentamente, mas, como sempre, acabaram indo a reboque do pensamento dos EUA, fazer o quê? Afinal, os americanos mandam no mundo há décadas e ninguém tem a coragem de desafiá-los, até porque eles detêm o maio arsenal de armas do planeta. Por isso, invadem países, provocam guerras híbridas que derrubam governos e desrespeitam sem cerimônia resoluções da ONU desfavoráveis a embargos econômicos como o imposto a Cuba.
Biden
nunca vai apoiar qualquer iniciativa de encerramento desse conflito por 2
razões muito simples. A primeira é conhecida de todos: são os americanos que mais
lucram com a guerra produzindo e vendendo armamentos pesados.
A
segunda razão está na geopolítica americana.
A
China, ainda chamada de economia emergente, está empenhada em refazer a rota da
seda, desta vez não com esse produto, mas com tecnologia e indústria,
principalmente.
O
G7, em reunião em Hiroshima, condenou o país de Xi Jinping por estender seus
tentáculos pelo mundo como se os EUA nunca tivessem feito isso pela violência.
A China o faz com comércio.
A
supremacia mundial, econômica e militar dos americanos vem sendo ameaçada pelo País
do Centro e as projeções já apontam que nas próximas décadas ela deixará de
existir. Teremos um mundo mandarinizado e indexado pelo Yuan em vez do dólar.
Washington
não pode assistir passivamente à sua derrocada, por isso, elaborou um plano de
ataque.
A OTAN,
Organização do Tratado do Atlântico Norte, ampliou significativamente sua
presença nos países que estão próximos à Rússia e se empenha ativamente para construir
uma base na Ucrânia, sonho que povoa obsessivamente a mente de seu presidente,
Volodymyr Zelenski.
Se
essa base for construída, mísseis poderão atingir Moscou em apenas 8 minutos, o
que inviabiliza qualquer tentativa de defesa.
Claro
que a OTAN não fará isso e nem talvez tenha essa intenção. O objetivo é o de
manter uma ameaça muito próxima.
Foi
por isso, tão somente que Vladimir Putin iniciou a guerra. Não poderia assistir
à essa ameaça passivamente, sob pena de ver seu país, na sequência, ser
obrigado a ceder a qualquer exigência dos americanos, já que possuiria uma arma
apontada para sua cabeça o tempo todo.
Putin,
e, principalmente, Xi Jinping, sabem que uma vez curvada a Rússia, o próximo
objetivo seria a China.
Diante
de um gigantesco poderio, restaria à China ser subjugada, retornando o comando
mundial aos EUA, ou resistir através de uma guerra de proporções inimagináveis.
Diante
de uma possibilidade de consequências catastróficas que podem incluir a
aniquilação total do planeta devido ao uso de armas nucleares, caberia a uma
das duas forças ceder para evitar o desfecho final da humanidade.
O
mundo ocidental não hesitaria em escolher seu inimigo preferencial, o Oriente e
o lado escolhido na batalha seria o dos americanos, pois estes jogam sempre
pesado.
Não
restaria à China outra alternativa que a rendição e submissão aos interesses
ocidentais.
A
íntegra do discurso de Lula no G7 de Hiroshima pode ser lida nas entrelinhas
como a certeza de que é esse o plano dos americanos e é por isso que ele
criticou tão duramente o próprio grupo e a ONU, tão habituada a ceder aos
interesses de Washington.
O
convite a Lula para ir ao G7 foi uma tentativa de armadilha para que ele, de alguma
forma, se posicionasse a favor da Ucrânia, o que comprometeria sua posição pela
busca da paz e fortaleceria os interesses de Biden e da OTAN. Mas o ex-líder
metalúrgico, habituado a inúmeras tentativas de colocá-lo contra a parede,
inverteu o jogo e criticou duramente o próprio G7 e a ONU.
Desta
forma, quem saiu fortalecido de Hiroshima foi Lula e o governo brasileiro.