Por Fernando Castilho
Imagem: OceanGate/Agência Brasil |
Forças titânicas implodiram Titan cujos restos agora jazem ao lado do Titanic.
Homens
e mulheres ricos comparecem a uma mansão para um jantar de gala.
O
jantar termina e a anfitriã convida a todos a permanecerem para o cafezinho.
Após
o cafezinho, vem outro convite para outra coisa, já não lembro mais.
Como
todos estão com sono, que tal dormirem ali mesmo?
Pela
manhã, ficam para tomar o café.
O
tempo passa e ninguém consegue ir embora, mesmo não havenso barreiras físicas.
Com
o passar dos dias, já sem terem o que comer e baber, os instintos mais primitivos do ser humano vão sendo
revelados e toda aquela pompa e classe desaparece.
Do
que me lembro, essa é mais ou menos a história do filme O Anjo Exterminador do
cineasta espanhol, Luis Buñuel.
E
por que me lembrei desse filme?
A
história mostra um grupo de ricaços fúteis que parecem entediados com a vida.
Ricaços como os que contrataram um passeio de submersível pela bagatela de 250
mil dólares por pessoa para ficarem por horas sentados no chão, confinados em
um pequeníssimo espaço para ver de perto os restos do transatlântico Titanic
afundado em 1912 após colidir com um iceberg.
Curiosamente,
entre os que conseguiram se salvar daquele naufrágio, estão os ricos porque
para os mais pobres e para a tripulação não havia botes salva-vidas.
Além
do espaço reduzido, o veículo, segundo as informações que nos chegaram pela
imprensa, parecia um protótipo onde não faltava improviso. Será que a aventura
e o desejo de um maior sentido às suas vidas foram maiores do que a prudência?
Na hora de fecharem grandes negócios ou de negociarem ações, eram também
imprudentes?
Lembrei
também de um ex-cunhado que, acreditando ter se tornado um novo rico, não
conseguia ficar mais que três meses com um carro porque nenhum mais conseguia
satisfazê-lo. Era preciso trocar sempre por um mais caro. Acabou sobrando como
último objeto de desejo uma Lamborghini que só não foi comprada porque sua empresa
começou a ir mal das pernas. Seria um ótimo candidato ao turismo submarino.
Enquanto
a imprensa não parava de noticiar que o submersível havia perdido contato, uma quase
operação de guerra foi mobilizada na procura.
Poucos dias antes, refugiados saíram de seus países em uma
traineira de pesca lotada com cerca de 750 ocupantes, crianças e mulheres em
sua maioria que naufragou. Acredita-se que mais de 300 cidadãos paquistaneses morreram,
embora houvesse também cidadãos sírios, egípcios e palestinos. Os números são
imprecisos, mas dão conta de que cerca de 500 pessoas ainda estavam
desaparecidas.
Os noticiários não deram muita atenção a esse fato e nenhuma
operação de resgate foi mobilizada, talvez porque gente refugiada e muito pobre
não tem a mesma importância para o mundo que cinco bilionários.
Como
no filme, os ricos, após esgotadas as buscas, não conseguiram sair e o que pode
ter sobrado de seus corpos jazem próximos aos dos pobres do Titanic.