Por Fernando Castilho
Foto: G1, por Daniela Lima, Bruno Tavares e Fábio Santos
Se a Abin, durante o governo anterior se prestava a isso, não se pode admitir de forma alguma que, passado um ano de administração Lula, ela ainda esteja a serviço da família do ex-presidente.
Quarta-feira,
24 de janeiro.
Jair
Bolsonaro publica uma postagem enigmática no X, no melhor estilo Nostradamus:
- As
próximas semanas poderão ser decisivas.
-
Vivemos momentos difíceis, de muitas dores e incertezas.
-
"Quando um ímpio não quer que você olhe para um lado da estrada, ele bota
fogo no outro lado da mesma, pois assim ninguém saberá do mal maior que ele fez
do lado que você não olhará."
-
Deus, Pátria, Família e Liberdade.
-
Jair Messias Bolsonaro
A
postagem causou alvoroço nas redes sociais e nos jornalões. Parecia que o
ex-presidente previa que num futuro muito próximo algo iria lhe acontecer. Ou a
um de seus filhos, talvez.
Domingo,
28 de janeiro.
Bolsonaro,
junto a seus 3 primeiros filhos (o 04, Jair Renan e a ex-primeira-dama,
Michelle, não estavam presentes porque o patriarca somente leva em consideração
seu núcleo familiar mais duro), faz uma live para entre outras coisas,
desacreditar mais uma vez o sistema eleitoral e sugerir perseguição no caso do
escândalo da Abin. O outro assunto foi o lançamento de um curso para
conservadores a ser ministrado por Eduardo e Carlos, ora vejam. Se passou pela
sua cabeça, leitor, que esse curso que custa 300 reais poderá servir como
lavagem de dinheiro, você só está sendo maldoso e imaginando coisas, viu?
Segunda-feira,
29 de janeiro.
A Polícia
Federal faz busca e apreensão nos endereços de Carlos Bolsonaro, tanto na
Cãmara de Vereadores do Rio de Janeiro, como no Condomínio Vivendas da Barra
onde reside. Além disso, não escapou à PF bater à porta da mansão de Bolsonaro
em Angra dos Reis, onde foi gravada a live.
Os Bolsonaro
não estavam em casa. Teriam saído para pescar entre 5 horas da madrugada e 6 e
meia, de acordo com várias versões.
A
PF, incumbida de apreender os celulares de Carluxo, aguardou pacientemente até o
meio-dia quando o vereador voltou à casa. Não se sabe se trazia peixes com ele.
O celular foi apreendido.
O
que temos, então?
Numa
escala de 0 a 10, a suspeita de que a familícia foi avisada por alguém da PF
(ou mesmo da Abin) pode estacionar no número 9.
Uma
comunicação via WhatsApp de uma assessora de Carluxo foi interceptada pela PF.
Na mensagem, a assessora pedia ao delegado Ramagem, então ainda chefe da Abin,
informações sobre a família Bolsonaro, demonstrando cabalmente que a agência
atuava para sua blindagem, uma nova forma de corrupção e apropriação do Estado
para benefício particular do governante.
E se
a Abin, durante o governo anterior se prestava a isso, não se pode admitir de
forma alguma que, passado um ano de administração Lula, ela ainda esteja a
serviço da família do ex-presidente.
Durante
o governo de transição, ainda em 2022, Lula já deveria ter dado ordens ao
general GDias, escolhido como ministro do GSI, para que mapeasse todos os
funcionários da pasta para cortar as cabeças dos bolsonaristas com algum poder
de comando, mas não o fez. O resultado todos sabemos, pois ficou explícito no
famigerado dia 8 de janeiro de 2023.
O
que não sabíamos é que a Abin, um dos órgãos mais sensíveis, pois trabalha
essencialmente com informação, um dos bens mais importantes para um governo,
manteve durante todo o ano de 2023 bolsonaristas, incluindo aí o nº 2 da pasta!
Isso
significa pouco? Não, significa que, tanto Ramagem (que mantinha ainda um
computador em casa pertencente a Abin, o que tem que lhe custar uma acusação
por crime de peculato) quanto Carlos Bolsonaro e, por consequência, Jair
Bolsonaro, recebiam diariamente informações sensíveis sobre o governo, os
ministérios e o próprio Lula. Quiçá, também sobre ministros do STF e presidentes
da Câmara e do Senado. E se isso pode se caracterizar como sendo de uma
gravidade extrema, o mesmo se pode dizer da responsabilidade do governo em
manter essa estrutura.
Não
se defende aqui, de maneira nenhuma, a extinção da Abin. A agência tem muita
importância estratégica para o Estado. Não se pode derrubar a floresta para
matar a onça. É preciso que muito rapidamente se faça a tardia limpeza.
Para
encerrar, uma pitadinha do que a burrice e incompetência podem causar. Jair Bolsonaro,
em entrevista à Jovem Pan, ao ser indagado sobre o fato de a assessora de
Carluxo ter consultado Ramagem sobre a família, perguntou: “qual é o problema
nisso?” É sério, ele admitiu o crime.
Fábio
Wajngarten, o advogado de seu Jair, talvez tenha um dos piores empregos do
mundo, pois, a todo momento tem que lidar com a língua destravada de seu
cliente que insiste em produzir provas contra si mesmo.