Por Fernando Castilho
Imagem: Wikipedia |
Lula
nem bem revelou uma proposta de aumento de pena para quem agredir autoridades
que passariam, em casos mais graves, para de 20 a 40 anos de reclusão e a grande
imprensa já começou as críticas. A julgar pelo Uol, que entrevistou alguns
juristas e advogados sobre o assunto, a ideia é punitiva demais.
Trata-se
da típica e tradicional reação a cada vez que alguém sugere punição rigorosa a
crimes que se confundem com liberdade de expressão. O brasileiro parece padecer
de uma síndrome, a do homem cordial, como escreveu Sérgio Buarque de Holanda em
Raízes do Brasil ou do “brasileiro é muito bonzinho”, como dizia a atriz
norte-americana radicada no Brasil, Kate Lyra em A Praça é Nossa.
Foi
essa síndrome que nos impediu de condenar os militares pelos crimes cometidos
durante a ditadura. O bolsonarismo e todos os seus males cometidos contra o
povo do país por duros quatro anos é fruto dessa omissão.
Sabemos
que a grande mídia teme o sucesso absoluto do governo Lula, buscando uma
alternativa de direita mais moderada, mas também fica claro que se não aparecer
um nome (Tarcísio de Freitas parece preferir disputar a reeleição em São
Paulo), ela vai de Bolsonaro mesmo ou quem ele apoiar em 2026 e 2030.
É
por isso que seu Jair é tão poupado hoje em dia, mesmo sem poder e inelegível.
E é por isso que ele não é citado nos noticiários sobre o assassinato de
Marielle Franco.
O
ex-PM e miliciano Élcio Queiroz decidiu fazer delação premiada admitindo que
foi ele quem dirigiu o carro e que foi Ronnie Lessa quem assassinou a vereadora
e seu motorista Anderson Gomes.
É
certo, porém que esses dois não são os mandantes do crime, mas a Polícia
Federal pode estar perto de descobrir o nome ou os nomes. Será que são quem nós
pensamos?
Não
pretendo que a grande mídia saia por aí responsabilizando levianamente a
familícia Bolsonaro, mas não deveria se furtar a relembrar algumas informações
“esquecidas” durante os cinco anos que se passaram.
No dia
da morte de Marielle e Anderson, Élcio fez uma visita às casas de Ronnie Lessa
e de Jair Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra. Carluxo estava em casa.
Também havia inúmeras ligações telefônicas da casa de Ronnie para a de seu
Jair.
Além
disso, o porteiro do condomínio havia dado várias informações à PF, inclusive
registros da câmera e horários da visita. Chegou até, em depoimento, a afirmar
que a autorização para Élcio entrar foi dada pelo “seu Jair”. Jair Bolsonaro
alegou que estava em Brasília naquele momento. Sergio Moro, então ministro de
Bolsonaro, deu um cala boca no porteiro ameaçando-o com a Lei de Segurança
Nacional e ele acabou sumindo. Curiosamente, a grande mídia, que havia começado
a investigar o caso, se desinteressou e não mais falou no assunto.
Quem
seria beneficiado diretamente pela morte de Marielle? A vereadora estava em
campanha para o senado e vinha bem nas pesquisas, mas com sua morte, Flávio
Bolsonaro foi quem se elegeu.
Ao
longo dos quatro anos de governo, Bolsonaro, a cada vez que a investigação
começava a avançar, trocava o delegado responsável, obstruindo a justiça, mas a
grande mídia nunca se importou com isso.
Nossa
imprensa, na verdade, considera a página já virada. Para que falar de Marielle?
O ministro Flávio Dino, na manhã da segunda-feira (24), deu entrevista coletiva
em que revelou a delação premiada de Élcio Queiroz, uma notícia bombástica, mas
o Uol só foi noticiar no começo da tarde. Há uma dificuldade enorme em sequer
dizer que há vários indícios de ligação da familícia Bolsonaro com o crime
cometido.
Há até,
na grande imprensa, quem já esteja aventando a possibilidade de que o crime foi
cometido somente para agradar Carluxo. Ridículo!
Flávio
Dino afirmou que as investigações agora se colocam em outro patamar, o que pode
significar que até já haja informações sobre quem é ou são os mandantes e é
lógico que a polícia deve estar trabalhando com a hipótese mais provável, qual
seja, a de que a familícia está ao menos envolvida, afinal, onde há fumaça há
fogo e neste caso, há um grande incêndio. Porém, é preciso antes juntar provas
para não incorrer em erro que dê margem a contestações. Quando isso for divulgado,
a grande imprensa terá que noticiar o fato, mesmo que a contragosto.