Por Fernando Castilho
Houve inúmeras ocasiões, em que o presidente, após atacar ferozmente alguém e prometer que “ACABOU!”, invariavelmente voltava atrás.
Todos
assistimos no domingo, 23, o grotesco episódio em que o ex-deputado Roberto Jefferson
recebeu a tiros de fuzil os policiais federais que foram cumprir mandado de
prisão expedido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por desacato à sentença
que o ministro Alexandre de Moraes lhe havia dado.
Durante
as horas de resistência à prisão que se seguiram, vários populares seguidores
do presidente da República compareceram às proximidades do local para dar apoio
ao bandido, certos de que atendiam a um chamamento de seu mito. Não faltou uma
covarde agressão ao cinegrafista da Inter TV, afiliada da Rede Globo, que foi
levado imediatamente para a UTI de um hospital. O agressor, um assessor na
câmara de Três Rios, foi exonerado da função e será investigado por lesão
corporal.
O
deputado federal Otoni de Paula chegou a gravar um vídeo em que afirmava que tinha
informações de que o mito estaria acionando as Forças Armadas para intervir no
caso.
O
capitão, que costuma agir por impulso, algo próprio de pessoas autoritárias,
acionou o ministro da justiça, Anderson Torres para comparecer ao local, mas a
coordenação de sua campanha, percebendo que seria muito perigosa uma associação
com o meliante, conseguiu demover o inominável de seu instinto.
O
resultado é que, horas depois, ele declararia que quem atira em policial é
bandido e que não defenderia Jefferson.
Imediatamente,
as redes bolsonaristas que estavam defendendo o ex-deputado e atacando o Alexandre
de Moraes, passaram a divulgar que Roberto Jefferson não tinha nada a ver com
seu mito e que, na verdade, é homem ligado a Lula.
Um
meme surgiu nas redes. Nele, um boi pergunta: “agora é pra defender ou pra
atacar bandido?”
Mas
esse não foi o único caso em que seguidores tiveram que dar cavalo de pau em
suas opiniões. Houve inúmeras outras ocasiões em que o presidente, após atacar
ferozmente alguém e prometer que “ACABOU!”, invariavelmente voltava atrás.
Um
outro caso emblemático foi quando ele discursou nas comemorações do 7 de
setembro de 2021. Na ocasião xingou Alexandre de Moraes de canalha e
praticamente convocou seus seguidores para o golpe... que não veio porque não
foram reunidas as condições ideais, como o apoio das Forças Armadas.
Mas
os caminhoneiros e a população presente na Esplanada dos Ministérios e também
em São Paulo, imaginaram que o golpe, enfim, aconteceria, que o exército
implantaria a tão sonhada ditadura comandada por seu líder, que o STF seria
fechado e que viveriam felizes para sempre.
À
noitinha, apavorado com a possível prisão de seu filho Carluxo, que parecia
prestes a acontecer, recorreu a Michel Temer para que este escrevesse uma
cartinha a Moraes pedindo desculpas.
A
reação a esse cavalo de pau covarde foi de incredulidade num primeiro momento,
mas depois os seguidores conseguiram reunir todo tipo de desculpas para tentar
justificar o recuo. Seria um recuo tático, disseram eles. Mas na próxima... a
próxima, em 2022, não veio.
Lembram-se da ameaça que o presidente fez à Rede Globo? Concessão não seria renovada! Embora estivessem acompanhando a novela Pantanal, bolsonaristas ficaram exultantes com o prometido fim da Globolixo, como eles chamam. Deu no quê? Mais uma vez o capitão recuou. Na verdade, a ameaça pareceu ser muito infantil, algo de menino da 5ª série que não mede consequências. Foi um blefe, mas os bolsonaristas acreditaram.
Imagino
que, daqui a alguns anos, alguns poucos bolsonaristas colocarão a mão na
consciência e conseguirão avaliar o erro que cometeram e lembrarão quantas e
quantas vezes depositaram sua confiança em quem a traía invariavelmente logo no
momento seguinte. Quanto tempo perderam com quem nada valia.
Outra
parte dirá que não quer mais saber de política e fingirá que nunca apoiou seu
mito. E todos nós sabemos quem são.
Mas,
certamente o ovo da serpente foi chocado e o bolsonarismo, como uma espécie de
corrente de extrema-direita, prosseguirá, mesmo sem o seu chefe.
Infelizmente,
veio pra ficar.