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segunda-feira, 27 de maio de 2024

DILMA - A Sangria Estancada

Por Fernando Castilho

Capa: Fernando Castilho


        INTRODUÇÃO DE DILMA – A Sangria Estancada

 

“O Inferno está cheio de boas intenções”

Samuel Johnson

 

“Não quero o impeachment, quero ver a Dilma sangrar.”

Aloysio Nunes Ferreira

 

“Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.”

Romero Jucá

 

 

Um movimento contrário ao aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus na cidade de São Paulo deu início às chamadas jornadas de junho de 2013.

Começou aos poucos e foi crescendo até se espalhar por todo o Brasil enquanto, qual camaleão, ia assumindo nova identidade e novos propósitos.

Enquanto o Movimento Passe Livre, de origem proletária, reivindicava aquilo que lhe parecia justo na época, meu coração e minha mente naturalmente a ele se juntaram, sabedores das agruras com que as pessoas pobres deste país tão desigual, que necessitam de transporte público para trabalhar ou estudar, enfrentam todos os dias.

Mas, também aos poucos, fui percebendo com estranheza que, no espaço de alguns poucos dias, a grande mídia, grandes jornais e revistas impressos e as redes de televisão e rádio, que no início apressaram-se em criticar e condenar o movimento, através de colunistas e editoriais, começaram a mudar de opinião acrescentando ao caso uma conotação mais política e ampliando o foco que antes era localizado, para todo o país.

Surgiu a figura do gigante adormecido que acordou indignado, ao mesmo tempo simbologia e senha que tomou as redes sociais de maneira avassaladora, como a querer nos mostrar que estávamos errados em conferir aprovação de quase 60% ao governo Dilma Rousseff somente um mês antes, segundo pesquisa Datafolha.

A conclamação a protestar contra o governo era difusa e artificial, pois nos ordenava a, como zumbis, sair às ruas com pautas confusas e genéricas como maior liberdade, fim da corrupção, reforma política etc.

No governo Dilma a liberdade nunca deixou de existir porque é o cerne da democracia. Nenhuma manifestação foi reprimida pela presidente.

É justo exigir o fim da corrupção, mas Dilma nunca foi corrupta, como as intensas investigações, a imprensa e o tempo comprovaram. A Polícia Federal e o Ministério Público sempre tiveram por parte de Dilma a autonomia necessária para investigar quem quer que fosse, inclusive o ex-presidente Lula.

A reforma política estava no Congresso, o responsável por aprovar as leis.

Mas então, o que queriam?

Dilma chegou a se pronunciar em rede nacional de televisão se mostrando favorável às reivindicações e se colocando ao lado dos que protestavam, mas, mesmo assim, as panelas batiam ruidosas em protesto.

Mas quem era essa presidente que de uma hora para outra passou do paraíso para o inferno?

Nossa primeira presidente mulher é uma figura com personalidade complexa. Ainda jovem, insurgiu-se contra a ditadura militar, ingressando na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Passou quase três anos em reclusão, de 1970 a 1972, período em que foi brutalmente torturada.

Graduada em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ingressou no Partido Democrático Trabalhista (PDT) de Leonel Brizola.

Foi Secretária da Fazenda na Prefeitura de Porto Alegre, em seguida, Secretária de Energia, Minas e Comunicações do governo Alceu Collares, e mais tarde do governo Olívio Dutra, ambos no Rio Grande do Sul.

Durante o governo Lula foi ministra de Minas e Energia.

Como se vê, Dilma Rousseff não era nenhuma neófita quando foi escolhida para ser a sucessora de Lula e isso foi demonstrado em seu primeiro mandato considerado exitoso, de 2010 a 2014, mas isso não impediu que ela fosse chamada a partir de 2015 de ignorante, burra ou anta. Chegaram à grosseria de vaiá-la e xingá-la com palavrões em pleno Itaquerão lotado quando da abertura da Copa do Mundo, viabilizada por ela, contra todos os prognósticos negativos da mídia e dos partidos de oposição que já se articulavam para o golpe de estado que a derrubaria.

Dilma também errou. Dona de uma personalidade de característica mais técnica que política, não ouviu Lula e seus conselheiros mais próximos quando estes a alertaram do risco do golpe que se avizinhava, mantendo-se inflexível em sua postura republicana, acreditando que, por não ter cometido crime algum de responsabilidade e por não ser corrupta, o processo de impeachment que já se tramava não prosperaria na Câmara dos Deputados.

Foi no início de 2014, ano eleitoral em que a presidente e seu projeto de continuidade com os projetos sociais iriam ser postos a prova, que cerca de 380 textos analíticos, dos quais 89 compõem este livro, começaram a ser escritos. Esses textos foram publicados em blog próprio, em outros blogs de esquerda e também nas redes sociais.

Naturalmente, alguns geraram debates intensos e relativa repercussão.

Neles há análises que incluíram previsões que se realizaram e outras que não. A maioria sim. Por exemplo, quando já antes das eleições de 2014, este escriba era voz quase solitária a defender que haveria golpe de estado. Ou quando, muito antes de se aceitar o fato, falava da prisão de Lula num texto contestadíssimo pela esquerda republicana que confiava piamente nas instituições.

Em 2016 já aventava a possibilidade da eleição de Jair Bolsonaro em 2018, embora a descartasse como certa porque seu adversário seria Lula e este, naquele momento era imbatível. O tempo mostrou que com Lula preso e com um atentado a faca ainda nebuloso que provocou comoção nacional, o capitão aproveitou para ser eleito.

Os textos foram aqui reunidos sem artificialismos destinados a corrigir ou atualizar as análises feitas na época, portanto, a não ser por revisões de eventuais erros de português, são originais.

Logicamente, não compareço aqui como visionário, mas tão-somente como uma testemunha ocular de um período de nossa História cujos detalhes temos a tendência de esquecer. Em cada um deles houve empenho na pesquisa, olhar arguto e capacidade de análise.

O livro é quase um diário. Foi escrito quase que diariamente e se colocasse aqui todas as palavras, o número de páginas seria muito grande. Preferi, por isso, publicar apenas os textos mais significativos. Alguns poderão ser acessados através de leitura de QR Code.

Na maioria das análises acrescentei ao final comentários que remetem aos dias atuais a título de comparação, o que permite iniciar reflexões sobre os desdobramentos dos acontecimentos passados e explicitar a evolução surpreendente dos fatos iniciados naquele ano de 2014 que culminaram na eleição de um governo de características fascistas destinado a destruir todos os avanços civilizatórios construídos não sem esforço durante muitos anos, tentar um retrocesso de volta a ditadura e contribuir decisivamente para a morte de mais de 700 mil pessoas pela Covid-19.


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https://clubedeautores.com.br/livro/dilma



sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A utilidade e a ética da delação premiada

Por Fernando Castilho

Ilustração: Gustave Doré

Quando Mauro Cid delatar seus companheiros de crimes, os estará traindo. Na Divina Comédia de Dante Alighieri, vemos que está reservado o nono e último círculo do inferno aos traidores, portanto a traição seria o pecado mais grave de todos.


O tenente-coronel Mauro Cid decidiu, enfim, fazer delação premiada a ser avaliada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes.

A imprensa lavajatista agora nos alerta, cinicamente, para o risco de Moraes repetir as ações de Sergio Moro e Deltan Dallagnol.

Lembramos que Moro e Dallagnol espremiam prisioneiros até obterem a delação que almejavam. Foi assim com Leo Pinheiro, dono da OAS.

Pinheiro fora preso e, para poder sair precisava delatar Lula como proprietário do tríplex do Guarujá, porém, em seu depoimento, afirmou que o atual presidente não tinha nada a ver com o imóvel. Somente tinha ido visitá-lo, mas como não gostou, desistiu da intenção de compra.

Moro mandou Pinheiro para o xilindró de novo.

Meses depois, pressionado a delatar, Pinheiro, em novo depoimento, disse que Lula era o dono do apartamento sem apresentar uma única prova. Hoje sabemos que o empresário mentiu para sair do inferno da prisão.

Mas o que é, para nós, leigos em direito, o instituto da delação premiada?

Vamos começar pelos filósofos da corrente utilitarista, Jeremy Benthan e John Stuart Mill que pregavam que toda ação teria justificativa caso se destinassem ao bem-estar das partes afetadas, neste caso, a elucidação dos crimes.

Por este prisma, a delação premiada se justifica juridicamente porque pode ter o poder de jogar luz nos crimes praticados por uma quadrilha e prender seu possível líder, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Porém, na outra mão se encontra uma questão ética difícil de se aceitar.

Sempre ensinamos, ou devíamos ensinar, nossos filhos a serem éticos. Isso significa não ser dedo-duro, não trair a confiança de seus amigos. Muitos presos políticos dos tempos da ditadura, como Dilma Rousseff, por exemplo, sofreram torturas cruéis, mas nunca delataram seus companheiros. Isso é ser ético.

Quando Mauro Cid delatar seus companheiros de crimes, os estará traindo. Na Divina Comédia de Dante Alighieri, vemos que está reservado o nono e último círculo do inferno aos traidores, portanto a traição seria o pecado mais grave de todos.

Mas esse traidor será PREMIADO! Esta é a questão.

Alguém só delata seus companheiros se não for inocente, portanto, Cid é culpado. Portanto, Cid é bandido como os outros, mas poderá receber um prêmio: a redução de talvez dois terços de sua pena.

Uma sociedade que premia um bandido que ainda por cima trai seus companheiros de crime não pode ser dita como sã. Há problemas éticos insuperáveis nisso.

Mas voltemos a Benthan e Stuart Mill.

Embora antiética, essa delação, caso chegue ao mandante do crime e tenha o poder de puni-lo, será útil para toda a sociedade. Vamos dar o devido desconto a isso, então.

Porém, não será essa delação a condenar Jair Bolsonaro pelo seu crime maior, o de, por ação e omissão, ceifar as vidas de centenas de milhares de vítimas da Covid-19.

Para esse crime, como já afirmei antes, não há pena proporcional.

 

E você, o que acha?

Deixe sua opinião nos comentários.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


sábado, 29 de julho de 2023

E por que não um trem-bala brasileiro?

Por Fernando Castilho

Imagem: Forbes


É preciso lembrar que 2016 foi ano do golpe contra Dilma Rousseff e o início do período de trevas inaugurado por Michel Temer e aprofundado por Jair Bolsonaro. É coerente que o projeto de trem-bala tenha parado.


Por estes dias recebi um vídeo que mostra uma verdadeira revolução tecnológica em andamento na cidade de Shenzhen na China.

Toda a frota de ônibus urbanos foi substituída por novíssimos veículos movidos a energia elétrica. Não há mais aquele barulho dos motores a diesel nem a fumaça que era expelida por eles. Além disso, quase todos os carros agora são movidos a eletricidade.

Como Shenzhen consegue a energia elétrica para suprir suas novas demandas?

A resposta está na captação de energia solar com células fotovoltaicas espalhadas por tudo quanto é lugar onde elas possam ser instaladas. Há também captação de energia eólica em bom número. A cidade, que não é pequena (possui uma população de 12,59 milhões de pessoas), parece ser plenamente sustentável e serve atualmente como piloto para toda a China.

Também, no mesmo vídeo, vemos como a China com suas dimensões continentais está promovendo a largos passos a integração nacional através do trem-bala elétrico. É essa integração que permite ampliar de maneira significativa comércio e serviços, implementando o crescimento econômico.

É preciso lembrar que talvez o Japão seja hoje a grande potência que conhecemos devido à integração nacional por suas linhas ferroviárias normais cuja construção se iniciou no final do século 19 e que somam hoje incríveis 27.268 km, e pelo trem-bala, o shinkansen, ícone no país e motivo de orgulho nacional para o povo japonês, que começou a operar em 1964, cobrindo hoje todo o Japão.

É neste ponto que pergunto: e o Brasil?

Bem, o terceiro governo Lula começou a apenas quase 8 meses com o imenso desafio de reconstruir um país praticamente destroçado por um presidente totalmente desqualificado e mal-intencionado para o cargo. A missão de recolocar o país em pé, surpreendentemente, vem sendo cumprida em tempo recorde: os programas sociais que haviam sido extintos ou paralisados voltaram a funcionar, o prestígio do Brasil lá fora foi recuperado e coloca o país entre os grandes do planeta e a economia começa a ir de vento em popa com inflação controlada e queda no desemprego e no dólar. Quando a taxa de juros baixar para níveis aceitáveis, o país decolará.

Por que falo isso? Porque Lula tem a oportunidade histórica de não só ser o presidente que acabou com a fome dos brasileiros, desafio que ele mesmo impôs a si, mas de revolucionar o Brasil tecnologicamente como faz a China. Um verdadeiro up-grade no país!

É possível?

Vejamos, o Brasil tem dimensões continentais como a China. Porém, diferentemente dela, tem usinas hidrelétricas em bom número. Além disso, a captação de energia solar e eólica vem se ampliando muito e hoje representa 24% de toda matriz energética.

Portanto, temos capacidade de suprir uma frota de veículos em cidades-piloto, como, por exemplo, Campinas, para que depois possa se ampliar para todo o Brasil.

 E por que não o trem-bala?

Segundo o site Mobility Now, “Se as promessas feitas uma década atrás tivessem se concretizado, hoje seria possível entrar em um trem-bala na estação do Campo de Marte, zona norte de São Paulo, pagar R$ 400 numa passagem direto para o Rio de Janeiro (com escalas em Volta Redonda e São José dos Campos), viajar a 350 km/h e chegar em apenas uma hora e meia na estação Barão de Mauá, no centro da capital fluminense. Nada mal.”

Por que não deu certo?

Ainda, segundo o mesmo site, “Esse sonho, que hoje parece absurdamente distante, já esteve tão perto da realidade que foi quase possível tocá-lo. Grande promessa do governo Lula, o trem-bala deveria ficar pronto para a Copa do Mundo de 2014. Quando as primeiras datas se provaram impraticáveis, o projeto foi revisto e estimado para as Olimpíadas de 2016.”

Neste ponto é preciso lembrar que 2016 foi ano do golpe contra Dilma Rousseff e o início do período de trevas inaugurado por Michel Temer e aprofundado por Jair Bolsonaro. É coerente que um projeto tão inovador tenha parado.

Mas agora já é possível sonhar novamente.

A ótima notícia é que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) autorizou a construção dos trilhos no início deste ano, com a informação de que a empresa TAV Brasil prevê iniciar suas operações com o trem-bala interligando o eixo Rio-São Paulo.

Mas, em que pese o acerto de se implantar o primeiro trem-bala no país, a necessidade é que se construa uma rede ferroviária moderna para trens de carga e de passageiros que integre todo o país. Não é mais possível, em pleno século 21, que o escoamento da produção seja feito por milhares de poluentes caminhões.

Se o governo Lula compreender essa necessidade e ousar como fez com a transposição do Rio São Francisco obra majestosa que se estende por 477 quilômetros e tida como impossível por seus críticos, levando hoje água para milhões de brasileiros no Nordeste, será o presidente que integrou o país e que o elevou a um outro patamar tecnológico.

Quem sabe?


Link para o vídeo: (793) China: Revolução do Transporte: Trem Bala e os Carros Elétricos | Expresso Futuro com Ronaldo Lemos - YouTube



sábado, 3 de outubro de 2015

1954, 1964 e 2015, semelhanças e e diferenças

Por Fernando Castilho


Tanta gente ressaltando as semelhanças do momento político atual com os anos de 1954 e 1964 e muito, mas muito mais gente com deficiência no conhecimento de uma perspectiva histórica que não sabe, não viu e não conhece as semelhanças e as diferenças entre os três períodos, me motivaram a fazer esta tabela, uma espécie de infográfico.

Foram ressaltados os pontos principais, podendo haver outros que não lembrei ou não considerei expressivos.

No caso do governo Dilma, por não ter sido concretizado, ao menos até esta data, o golpe, pode haver um certo exercício de futurologia.


Convido o leitor a analisar o gráfico e fazer uma análise dos dados.

Se houver alguma imprecisão nos dados, por favor, me corrijam.